sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Óleo - Para que te quero!!

O óleo é hoje em dia uma das commodities mais procuradas a nível mundial muito devido ao facto de poder ser usado para múltiplas funções: bio-diesel, óleo de cozinha, shampoos, gel de banho, fins industriais etc..

O seu preço está directamente ligado ao preço do petróleo, pois funciona como produto substituto para a produção de combustiveis. Com o aumento da escassez dos combustiveis fósseis e a consequente subida dos preços, esta tem sido uma colheita cada vez adoptada pelos agricultores nas suas quintas. No Reino Unido por exemplo, em apenas 20 anos as colheitas destinadas à produção de óleo já ocupam o segundo lugar com cerca de 600.000 hectares de terra, logo atrás do trigo!

Mas em termos alimentares o seu sucesso caminha lado a lado com o sucesso das batatas fritas e com o facto de as gorduras animais como a banha de porco terem passado de moda e serem consideradas nocivas para a saúde. Outra gordura de excelência é obviamente o azeite mas devido ao seu preço e escassez em algumas regiões do mundo, é essencialmente usado como tempero para muitos tipos de comida.

Durante as recentes visitas do meu Pai e do meu amigo Miguel Cal Ferreira demos alguns passeios no campo e uma das colheitas que mais captou a atenção e curiosidade destes visitantes atentos foi a Oilseed Rape. É principalmente nesta colheita que me vou focar mas também serão abordadas outras colheitas que permitem extrair óleo.

Em termos mundiais, os hectares destinados à produção de culturas de onde se extrai óleo, são dominados pelos grãos de soja. Dados de 2009 revelam que esta colheita ocupa 53% do total das plantações, 15% vem da Oilseed Rape, 10% da linhaça, 9% do amendoim, 8% de girassóis e 3% de palmeiras, sendo os restantes 1% de diversas origens como o recente óleo de jatropha que também será abordado neste texto.

O óleo também pode ser feito através do milho, mas esta origem não conta para as contas mencionadas acima pois o seu uso é principalmente para cereais. O óleo de palma, apesar de ocupar apenas 3% em termos de hectares é o óleo mais produzido no mundo com cerca de 33% do total da produção, logo seguido do óleo de soja com 30%.

Para os mais atentos, surge a questão, mas se a planta da soja é tão rica em proteinas e os vegetarianos a usam para o Tofu por exemplo, como podemos fazer óleo da mesma, sabendo que este é constituido por 100% gordura? A soja é de facto a colheita vegetal que produz mais proteinas por hectare e é também considerada a fonte alimentar mais rica em proteinas pois contém o maior número de aminoácidos essenciais para a nutrição humana. Mas estes grãos de soja são tão versáteis que contêm então 40% de proteinas e 20% de óleo e através do processamento e transformação pode-se extrair ambas as "substâncias".

O mix de outras colheitas em termos de proteinas/óleo é distinto. As sementes do girassol por exemplo têm 44% de óleo mas apenas 28% de proteina. As sementes da oilseed rape tem 42% de óleo e 35% de proteinas. A palmeira não produz proteinas.

Em termos nutricionais, o óleo é uma fonte importante de nutrientes benéficos para a saúde nomeadamente ácidos gordos ômega 3, ômega 6 ou mesmo ômega 9 consoante as misturas de sementes que se façam. O ômega auxilia na diminuição do colestrol mau ao mesmo tempo que favorece o desenvolvimento de colestrol bom. Para além disso é um bom anti-depressivo, ajuda na circulação e ajuda a combater determinados tipos de cancro. Ciêntistas na Gronelândia observaram uma incidência particularmente baixa de doenças cardiovasculares entre os esquimós, apesar da sua alimentação conter alto teor de gordura. O motivo é a sua alimentação que consiste em peixes ricos em ácidos gordos ômega 3.

Focando então na Oilseed Rape. O que é esta planta? A sua designação em Latim é Brassica Napus. Segundo uma pesquisa na internet o seu nome em Português é Colza.

Para além de ser uma planta cada vez mais atractiva em termos de mercado, em termos agronómicos também se tornou um sucesso pois é uma excelente cultura de "quebra". Na agricultura a rotação de culturas é essencial para enriquecer os solos e acabar com determinadas pragas num certo terreno. Numa cultura intensiva de cereais por exemplo, os agricultores faziam rotação entre os diversos tipos de cereais e muitas vezes isto esgotava os solos e não permitia a extinção e o tratamento de determinadas pragas. Com o aumento da rentabilidade desta planta oleaginosa, já se torna rentável não produzir apenas cereais e contribui-se para o melhoramento dos solos e tratamento de doenças. Para além disso quando se volta a plantar os cereais consegue-se mais toneladas por Hectare!


Fig 1- Fases de crescimento da Colza.


Fig 2 - Fase 4 na Primavera, quando a planta já está em flor e os campos ficam amarelos.

Existem diferentes variedades deste tipo de planta que dão origem a diferentes tipos de óleo. Consoante a quantidade de ácido erúcico nas sementes, o óleo é usado para fins alimentares, combustiveis ou fins industriais. Quanto menor a quantidade deste ácido, melhor para a alimentação humana. As variedades mais comuns são o Double Low (00) ou o HOLL ( High Oleic + Low Linolenic), que é usado actualmente pelo Macdonald's para fritar batatas e nuggets, devido ao facto de poder ser usado mais vezes e manter as suas caratcteristicas intactas.

Em termos de plantação propriamente dita, as sementes deverão ser colocadas 2 cm debaixo da terra e deverão ser cultivadas entre agosto e setembro. A sua colheita faz-se em Julho do ano seguinte e é muito importante que as sementes não tenham um nível de humidade superior a 9%. Muitas vezes tem que se secar as colheitas para atingir o valor ideal. O número de sementes a colocar é de 80 a 120 por metro quadrado. Precisa de bastante fertilizante, nomeadamente Nitrogénio. O montante depende da quantidade deste que já se encontra no solo mas em média serão necessários entre 150-200 kgs, metade a ser aplicado no final de Fevereiro e metade no inicio de Abril.

Duas das variedades de óleo mais badaladas actualemente são o óleo de palma e de jatropha. Estes dois tipos de óleo, vêm do fruto de àrvores plantadas em regiões tropicais, sendo que o primeiro vem das palmeiras como o nome indica. Sendo um tipo de óleo muito eficiente em termos de plantação, ou seja dá bastantes toneladas por hectare, grandes polémicas têm surgido devido à destruição massiva de florestas tropicais. Os maiores produtores mundiais são a Indonésia e a Malásia, logo seguido da região da América do Sul. Grandes multinacionais como a Unilever tem milhares de hectares contratados nestas zonas para produzir o óleo de palma essencial para a produção de cosméticos, além de financiarem a abertura de estradas e de fábricas de transformação locais. É necessário alertar os consumidores para estas questões e obrigar estas empresas a práticas mais sustentáveis.

Aqui surge mais uma vez o dilema... A China Airlines por exemplo já usa óleo de palma nos seus combustiveis e orgulha-se do facto de não usar combustiveis fósseis para levantar os seus aviões e ser assim mais amiga do ambiente. Mas a outra face revela que para tal está a destruir as florestas tropicais que são essenciais para o equilibrio dos ecosistemas, produção de água através da chuva e muito importante: estamos a destruir organismos nas florestas que ainda não foram explorados e poderiam contribuir para medicamentos ou novas formas de alimentação humana.

Em conclusão, o óleo já é uma das indústrias mais importantes a nível mundial, principalmente no campo alimentar, produção de energia, medicamentos e artigos de higiene pessoal e caseira. Há várias formas de obter o óleo mas deveria haver mais preocupações ambientais sobretudo nas zonas tropicais onde se produz óleo de palma sem escrúpulos. Segundo um estudo da Unilever realizado em 2011 a procura dos diferentes tipos de óleo em 2008 foi de 38 milhões de toneladas, em 2020 será de 44 milhões e em 2050 de 80 milhões!! Como vamos suportar esta procura sabendo que precisamos da terra para alimentar uma população em crescimento?

Think about it!!

Best regards,

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Bifes de Vaca - com batatas fritas de preferência!

A carne de vaca faz parte da dieta regular do mundo ocidental desde que esta foi domesticada no período neólítico, há cerca de 10.000 anos atrás. O que faz  uma carne ser boa está directamente relacionado com a espécie da vaca que estamos a falar, a alimentação que esta teve, a quantidade de gordura, o tratamento que teve no matadouro, as condições de refrigeração a que a carcaça do animal esteve sujeita, entre muitas outras.

O estudo de todas as condições que influenciam a qualidade da carne tem sido aperfeiçoado numa óptica de produção, geração de valor acrescentado e rentabilização do lucro. Tenho sempre um bocado de receio de misturar as expressões "maximização do lucro" e "qualidade" quando estamos a falar de animais e plantas.

No entanto, nos últimos anos, o caminho tem sido no sentido de proporcionar aos animais o máximo bem estar possivel desde o momento em que este é apenas um feto até ao momento em que está no prato do consumidor!

Nos mercados mais evoluidos, ou mais ocidentalizados digamos, a legislação condena más condições de manuseamento ou higiene dos animais, falta de refrigeração nos camiões ou supermercados, etc... tudo numa óptica de proteger os animais e os consumidores. Basta referir para este efeito a nossa tão badalada ASAE, que quer queiramos quer não, já detectou situações que prejudicavam bastante os consumidores. Estas garantias de qualidade na produção são um dos principios essenciais para se poder exportar produtos também. Nenhum país que queira entrar com os seus produtos nos EUA, França, Espanha, Reino Unido, etc... pode ambicionar fazê-lo sem boas práticas de alojamento, higiene, manutenção, abate e transporte.

Para além disso, hoje em dia todos os produtos são registados e seguidos desde o produtor até ao supermercado mesmo que este fique do outro lado do mundo, por isso o compromisso com a qualidade é fundamental para não arruinar o negócio!

Mas o que é um bife com qualidade?

Escusado será dizer que a qualidade varia consoante o gosto de cada um. Aqui entramos mais uma vez no chavão: o consumidor é rei!! Os produtores e todos os players de mercado sejam eles restaurantes, talhos ou supermercados têm de ouvir os gostos do consumidor, segmentar a oferta de mercado e disponibilizar um conjunto de produtos e sortido a determinado preço que permitam satisfazer as necessidades do consumidor (frase aprendida na Universidade Católica Portuguesa).

Julgo que há um factor comum na definição de qualidade para todos nós: a garantia de satisfação equivalente quando repetimos uma experiência. Ou seja sabermos que aquela carne que estamos a adquirir vai corresponder a determinada experiência gastronómica e equivale a um determinado conjunto de nutrientes e bem estar para o nosso corpo.

Porque vamos à Portugália? Ou aos Bifes do Império ou Café de São Bento? Porque sabemos que existe uma qualidade associada aquele produto e estamos dispostos a pagar um preço premium para a ter. E se não estiver bom podemos sempre mandar para trás!!

Mas e no supermercado? Como detectamos um bife de qualidade?

A verdade é que quando compramos uma caixa cons uns bifes crus lá dentro, não fazemos a minima ideia ao que aquilo vai saber!!

Olhamos em primeiro lugar para o aspecto da carne. Uma carne com uma boa cor é essencial para abrir o apetite e conduzir ao acto de compra. A cor depende da idade do animal, quanto mais novo mais clara será a carne. Os animais que são destinados ao abate têm normalmente à volta de 20 meses. É nesta altura que atingem o seu auge em termos de constituição fisica e saúde. É como um ser humano entre os 16 e 18 anos. Nesta altura as proporções entre ossos, musculos e gordura é a ideal, ou seja o animal atinge o plateaux da sua existência e as rentabilidades são as mais altas possíveis.

Outro dos factores muito importantes que influencia a cor da carne é o seu nível de PH. Quando uma vaca está viva ou mesmo um ser humano o PH dos seus músculos é neutro, ou seja apresenta um valor de 7. Nos músculos existe uma molécula chamada Glicogénio. Trata-se de uma das principais fontes de energia dos nossos músculos, ajudando à coesão entre células e também no fortalecimento das articulações e ossos. Esta molécula é constituida por átomos de Carbono, Hidrogénio e Oxigénio. Ora quando fazemos um grande esforço ao qual não estamos habituados retiramos o Oxigénio ao Glicogénio nos músculos e este transforma-se em ácido lácteo. Todos já sentimos a sensação de musculos doridos depois de um esforço a que não estamos habituados.

Já foi aqui referido que o bem estar dos animais é muito importante para a qualidade da sua carne e esta é uma das principais razões: na altura de abater o animal, se for causado um stress excessivo no seu transporte, ou nas horas antes do abate pelas condições de alojamento ou actos violentos na pesagem  ou ainda outros factores a que ele não esteja habituado, todo o o trabalho que se teve até aquele momento em termos de "construir" um animal de qualidade vai ser desperdiçado!

Isto porque um animal em stress vai ter de usar as suas reservas de Glicogénio para combater o esforço a que foi sujeito!

Para uma carne ter qualidade é necessário que quando o animal morra, ou seja quando o seu coração e cérebro parem, ainda hajam suficientes reservas de Glicogénio nos seus músculos para que desta forma e através da sua respiração anaeróbica possam baixar o PH para 5,5. Ou seja a carne boa para consumo humano é ácida e se o animal não tiver Gliocogénio nos músculos quando é abatido este processo não de acidez não se concretiza!! A acidez torna a carne mais tenra e evita a formação de bactérias que gostam do PH 7.

Uma carne mais avermelhada e já a tender para o castanho, pode significar entre outros motivos, (como já foi mencionado acima ser de um animal mais velho), que o animal não tenha sido bem tratado e não tenha um bom nível de acidez, ou seja propicio à instalação de bactérias! Atenção à aquisição destas carnes!

O frio e refrigeração são fundamentais na gestão da qualidade da carne precisamente porque ajudam o PH a descer e a manter-se nos níveis ácidos necessários para consumo. Se deixarmos a carne exposta ao ar ela vai ficar castanha e o seu PH sobe ficando apetecivel para os mosquitos e bactérias. O modo como cozinhamos a carne na nossa cozinha também pode destruir a qualidade de uma carne. A capacidade de reter àgua numa carne é muito importante e se esta se libertar pode entrar em Hidrólise e destruir as moléculas que a constituem assim como as suas proteinas. A refrigeração é importante no supermercado mas também nas nossas casas. Quando pomos carne no frigorifico devemos colocá-la o mais abaixo possivel mas longe da fruta ou legumes.

Uma carne com um bom nível de gordura também é importante para a definição da compra. A gordura traz o sabor à carne, dai que nos EUA por exemplo, as carcaças de bovino mais valiosas são aquelas que têm mais gordura. Tudo depende dos gostos mais uma vez. A carne de vaca pode ser feita através de vitelas, vitelos castrados ou não castrados. Tal como nos seres humanos, as fêmeas também têm mais tendência para acumular gordura enquanto os machos tendem a acumular musculo, consoante o exercicio e a alimentação claro. Mas a verdade é que cada consumidor procura sempre um equilibrio entre carne, gordura e sabor mas poderá optar por comer vitelos ou vitelas para procurar esse tal equilibrio no que come.

Toda esta informação mencionada até agora deverá estar contida nas etiquetas das embalagens de carne ou nas placas do talho. Outra informação muito procurada hoje em dia é a origem, que também deverá estar discrminada na caixa. No entanto,e à semelhança de muitos outros produtos, se o processamento ou a embalagem for efectuada em Portugal por exemplo, isso já garante ao produto um código de barras nacional 560, embora a carne possa vir da América do Sul. É importante vir discriminado em que país viveu o animal!

Hoje em dia estudam-se novas técnicas para melhorar a qualidade da carne. Há vacas no Japão que são massajadas (Kobe), há produtores que em vez de pendurarem a carcaça pela pata (onde está o calcanhar de aquiles), penduram pelo rabo afirmando que deste modo os musculos das patas e coxas não ficam tão "esticados" e têm uma qualidade superior. Também já existem scanners que determinam e verificam ao detalhe as constituições das carcaças em termos de gordura, ossos e músculos permitindo aos distribuidores comprar carne com mais confiança. Outra das grandes tendências é a carne orgânica, que basicamente se caracteriza pelos animais comerem apenas rações orgânicas (que não foram sujeitas a fertlizantes e pesticidas) e não poderem levar antibióticos até x dias antes de serem abatidos. Este tipo de carne até poderá à partida ter um um aspecto mais magro, mas é mais saudável do ponto de vista dos nutrientes, sendo por isso mais cara também.

Em conclusão a carne de vaca quer-se com qualidade mas devemos estar atentos à sua cor, textura, gordura, se é tenrinha e olhar muito bem para as etiquetas das embalagens. Como já foi dito neste blog as características da qualidade da carne encontram-se localizadas nos genes dos animais dentro dos cromossomas. Se dermos aos animais um ambiente sem stress, com bons cuidados e nutrição vamos estar a maximizar a qualidade, (não interferindo com o funcionamento desses genes) e também o lucro. É uma situação win-win pois representa um compromisso sério com a qualidade, uma permissa fundamental em qualquer negócio!

Peço desculpa aos vegetarianos por tanta informação sobre bifes!

A próxima vez que forem ao Pingo Doce comprar carne... Think about it!

Best Regards,

domingo, 6 de novembro de 2011

Vacas - Esse animal fantástico!

Uma das aulas que tenho aqui no curso de Agricultura é Animal Production.

Apenas hoje faço a primeira abordagem pois é de facto a àrea mais complexa que estou a estudar e requer um estudo bastante detalhado. Neste texto será feita uma abordagem simples e superficial, pois em cada tópico mencionado há muitos pormenores e variáveis a ter em conta.

Enjoy!

O Gado Bovino começou por ser domesticado pelo homem durante o período neolítico, ou seja há cerca de 5.000-11.000 anos atrás. A sua domesticação, bem como de outros animais como os porcos, ovelhas e galinhas mudou a história e o destino da humanidade. O facto de constituir uma fonte de proteina regular permitiu o crescimento e desenvolvimento da espécie humana em termos fisiológicos e constituiu um forte incentivo à sedentarização.

Focando no Gado Bovino, tratam-se mamíferos, artiodáctilos (têm um número par de dedos nas patas) e ruminantes (têm 4 estomâgos e conseguem ingerir comida que mais tarde retorna à boca para ser mastigada).

O seu nome Binomial é Bos Taurus que por sua vez se divide em duas sub-espécies: O Bos Taurus Taurus, que são de origem Europeia e o Bos Taurus Indicus de origem Asiática.


    Fig 1 - Uma Holstein, tipico exemplar de Bos Taurus Taurus


Fig 2- Bos Taurus Indicus, uma tipica vaca de origem asiática


Têm cornos, e não chifres, pois são ósseos, em par, ocos, permanentes e não se ramificam como os veados por exemplo.

E já agora, para quem não sabe a diferença entre um boi e um touro, é que o primeiro é castrado, enquanto o segundo mantém os seus testiculos intactos e como tal em condições de se reproduzir.

O Gado Bovino tem uma grande importância económica na Agricultura e Pecuária. Os objectivos da sua produção são para carne, leite e derivados e reprodução. Existem outros fins como a Tourada em Portugal e Espanha ou a veneração em algumas regiões da India.

A ligação entre os animais e as colheitas numa quinta pode ser vista de um ponto de vista de eficiência. É que os animais produzem os dejectos que são utilizados para fertilizar os campos e enriquecê-los de Nitrogénio (poupança na compra de fertilizantes), enquanto que uma colheita de cereais pode servir para alimentar os animais, poupando-se deste modo na compra de rações.

A sua criação é hoje em dia alvo das técnicas mais modernas e especializadas. Em alguns paises como o UK as vacas são criadas em pastagens de relva. Noutros como os EUA, as vacas passam o tempo todo da sua vida dentro de armazéns onde são alimentadas e dadas à luz. Estudos comprovam que ambas as soluções são pacificas no que diz respeito à saude e bem-estar dos animais e não produzem efeitos secundários na constituição ou sabor dos produtos que consumimos nas nossas mesas. Uma dieta de erva é supostamente mais barata para o gado bovino e chega para as suas necessidades em termos de nutrientes. Mas em países onde as pastagens de erva não abundam, pois é necessário um clima bastante húmido, a alimentação é feita à base de cereais.

Mas voltando à sua importância económica, o gado bovino, tornou-se com o passar dos anos, e como em qualquer outro produto ou negócio, alvo das melhores práticas de gestão com o objectivo de identificar os factores criticos de sucesso que posssam levar às rentabilidades mais elevadas.

O custo mais elevado para manter uma manada é a alimentação. A nutrição de um animal depende da fase de vida em que o animal se encontra. Se uma vaca está grávida, se está em crescimento ou se é um vitelo destinado para o matadouro.. é importante ter em conta estas questões quando se está a delinear a estratégia de nutrição. Neste último caso em particular, quanto menos dias se mantiver o vitelo na manada melhor, pois vai consumir menos comida e poupa-se nos custos. Mas para um vitelo atingir o peso ideal em digamos um ano, e ir para o matadouro, tem que ter um bom rácio de conversão de comida em músculo e aqui entramos no campo das caracteristicas genéticas.

O estudo e a aplicação da genética nos animais, veio revolucionar o mercado alimentar da carne e do leite em termos dos seus pressupostos e características, pois hoje em dia consegue-se aumentar as taxas de retorno (litros de leite, manteiga, queijo ou kgs de carne por animal), se houver uma selecção ponderada dos animais para reprodução, baseada nas suas características genéticas.

Se o objectivo da nossa manada fôr a produção de carne, é importante escolher um touro para reprodução que tenha um peso aos 200 e 400 dias mais elevado que a média da manada, uma grande àrea do Eye Muscle (aquela parte que vai do pescoço até ao rabo da vaca e onde se encontra a melhor carne, o lombo por exemplo) e uma boa constituição muscular em oposição à gordura. No gado bovino estes são os traços hereditários mais fortes. Em contrapartida, a fertilidade, por exemplo, não é hereditária, ou seja um filho de um bom touro reprodutor não vai necessariamente herdar esta característica.

Na genética dos mamíferos, os pais passam cada um 50% das suas características aos filhos e em média 50% são machos e o resto fêmeas. Fazendo então um simples exemplo. Consideremos que dentro da mesma manada da mesma espécie cresceram 100 vitelos num ano e a sua média de peso aos 400 dias foi de 350 kgs. Se tivermos um vitelo com 380 kgs, ou seja, mais 30 kgs é provável que os seus filhos tenham mais 15 kgs aos 400 dias, pois temos que dividir por 2. Isto pode-se aplicar às diversas características do animal e como tal aumentar a sua produtividade.

Um animal que atinga um peso mais elevado mais cedo pode significar elevados ganhos de custos em termos de alimentação como já foi mencionado. Aqui estamos a usar como exemplo o peso aos 400 dias, mas hoje em dia já se estudam características mais complexas de cada animal como a qualidade da carne. Através da identificação dos genes que ditam se os musculos são tenros, vermelhos ou têm gordura consegue-se reproduzir animais menos "defeituosos", mais saudáveis e em conformidade com as necessidades do mercado.

É importante referir que há cerca de 50 anos estas técnicas começaram a ser aplicadas com o objectivo puramente económico de aumentar as taxas de retorno. Hoje em dia com a legislação existente e as preocupações dos consumidores, a máxima a utilizar é fazer uso dos recursos genéticos existentes para beneficiar os animais, as pessoas e o planeta de forma mais sustentável. A selecção dos animais para reprodução e o estudo da sua genética pode reduzir os seus problemas de abortos, dificuldades de partos, artrites, ossos frágeis, dificuldades de locomoção, temperamento, etc.. bastando para isso cruzar os animais com outros que tenham esta ou aquela característica mais positiva. Ou seja, nem sempre a selecção é efectuada para se aumentar a produtividade, muitas das vezes faz-se a escolha baseada em critérios de melhorar o bem estar e saúde dos animais.

Numa vaca leiteira por exemplo, é muito importante a observação do tamanho das pernas. Se tiverem pernas pequenas, quando as tetas crescerem muito ao final de alguns anos, já não se consegue tirar mais leite das vacas pois aquelas vão bater no chão. É importante também ver os ligamentos das tetas e convém terem os mamilos grandes e virados para fora de forma a que as máquinas de tirar o leite consigam fazer o seu trabalho sem entrarem bolsas de ar e os vitelos consigam mamar melhor.

É importante referir também que a genética é cumulativa e permanente, ou seja as características melhoradas numa geração vêm-se juntar aquelas que já vinham detrás e mantêm-se durante toda a vida do animal.

Para além de tudo isto, conseguir maiores retornos e produtividades dos animais poderia significar uma redução nas manadas e consequentemente diminuir os gases metano e dióxido de carbono que emanam das suas fezes. Mas com o crescente aumento da população mundial, será bastante dificil conseguir fazê-lo e é muito provável que o número de animais continue a aumentar.

As espécies mais comuns de vacas ocidentais são as Angus, as Charolais, Holstein e as Hereford. Todas têm origens e características diferentes. Umas são melhores para a produção de leite como as Holstein e outras para carne como as Angus. Todas têm tamanhos, pesos, temperamentos e necessidades específicas mas qualquer uma delas requer um cuidado e acompanhamento diários em termos de alimentação e bem estar.

Em conclusão, as vacas são um animal fantástico. Fazem parte da vida e da paisagem pacata do campo e são uma grande fonte de rendimento e de alimentação para o homem. O melhoramento das espécies, através do estudo da genética, é bastante benéfico para a economia, para a saúde dos animais, pessoas e também para um mundo mais sustentável. No entanto, e tal como já foi referido neste blog é necessário que haja uma grande sensibilidade para transmitir estas questões aos consumidores. É também necessário que haja muita legislação para travar investigadores ou organizações sem escrúpulos que não respeitem as regras do jogo da produção e da natureza.

Da próxima vez que comerem um bife na Portugália... Think about it!!

Best Regards,

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Agricultura - Um negócio como qualquer outro!

Ter um negócio agrícola é um negócio como outro qualquer em termos dos pressupostos básicos da Gestão Moderna.

Os chavões da eficácia (atingir os objectivos), e da eficiência (utilização óptima de recursos), aplicam-se a esta área da mesma forma que se aplicam a uma fábrica de automóveis ou a uma loja de sapatos.

Em termos de estratégia o objectivo é, como em qualquer negócio, ganhar vantagens competitivas de longo prazo que permitam que o negócio seja sustentável. Neste campo convém referir que os produtores agrícolas não olham uns para os outros como concorrentes a abater como vemos nas empresas de serviços ou nas marcas que estão nas prateleiras dos supermercados. A cooperação, colaboração e a partilha de resultados, técnicas e recursos é vista na maioria dos casos com bons olhos e pode significar grandes ganhos de eficiência.

Os resultados medem-se em termos do retorno proporcionado pelo investimento. Na agricultura existem os custos fixos associados à maquinaria e recursos humanos e depois temos os variáveis associados à compra de sementes, fertilizantes, pesticidas, água, combustíveis para transporte e por fim os custos de armazenamento. A lógica é a mesma: minimizar custos e tentar obter o máximo retorno possível em termos de quantidades produzidas. Os preços são estabelecidos pelo mercado segundo os mecanismos normais de procura e oferta. E tal como já foi referido neste blog a tendência do aumento da procura de comida vai fazer aumentar os preços e tornar o mercado mais atractivo.

O know how e as técnicas implementadas na agricultura influenciam em grande escala o retorno proporcionado pelos recursos utilizados. A conjugação de vários factores tecnológicos com a experiência do produtor significa níveis de competitividade superiores e determina a sobrevivência futura no negócio.

O clima e as doenças são dois factores que não se podem esquecer na agricultura e representam as maiores ameaças. O clima é o grande responsável pelo crescimento das plantas e determina se o ano vai ter boas ou más colheitas. O estudo desta área em termos históricos de precipitação ou geadas por exemplo, o uso de seguros, a escolha de colheitas e sementes mais resistentes, a monitorização constante dos campos e escolher os timings certos para plantar e colher são essenciais para minimizar os riscos associados a esta área.

E tal como em todos os negócios existe uma envolvente composta pelo Estado que limita e regula a acção dos produtores. No caso da Europa temos também a PAC – Política Agrícola Comum, que no futuro será estudada ao pormenor neste blog. Temos também os concorrentes que estimulam melhores práticas, fornecedores, uns mais baratos que outros, produtos complementares ou substitutos e consumidores que tal como em qualquer mercado devem ser ouvidos e estudados.

Os estudos de mercado podem ter um papel importante nesta área e influenciar aquilo que se faz nos campos. Nos últimos anos tem-se assistido por exemplo, a uma proliferação do segmento orgânico, isto é, plantações que não usam fertilizantes nem pesticidas. O orgânico produz menos toneladas por hectare mas como o seu valor é superior aos olhos do consumidor, este paga mais por estes produtos e muitos agricultores optaram por se envolver nesta área.

Quais são então alguns exemplos dos riscos do negócio e os factores a ter em conta, para além do clima, das doenças e outros já mencionados? E como podemos superá-los e torná-los em vantagens competitivas?

Se tivermos como objectivo produzir 50 toneladas de cereais por ano ou de um vegetal como brócolos, temos de reunir à nossa volta os recursos necessários para o fazer. Podemos optar por comprar sementes mais baratas ou usar o grão da colheita anterior. Mas sabemos que se comprarmos sementes a um fornecedor especializado estas vêm livres de doenças e terão com certeza um potencial de germinação superior. Uma semente má pode danificar a colheita à partida.

Em relação aos solos, podemos plantar as sementes e fertilizá-los consoante o crescimento e observação dos mesmos. Mas se contratarmos um especialista em análise de solos ou tivermos um laboratório instalado na quinta, podemos recolher amostras dos diversos tipos de solo no mesmo terreno. Muitas vezes o mesmo terreno pode ter 4 ou 5 diferentes tipos de solo e pode haver uns cantos mais pobres que outros.

Com um tractor ou uma moto 4 que tenha incorporado um sistema de GPS, podemos mapear os terrenos em termos de nutrientes que se encontram depositados em cada metro quadrado do solo. Isto permite usar os recursos de forma eficiente e com margens de erro muito reduzidas. Em determinada zona do terreno podem ser necessárias 100 sementes e noutra cerca de 350. Noutro espaço do terreno pode ser necessário colocar 150 kgs de fertilizante e noutro pode não ser preciso nada! Este tipo de gestão do terreno permite cortar nos custos, obter mais quantidade e qualidade de produto e gerir os solos de forma mais sustentável pois o impacto ambiental do uso de fertilizantes é mais controlado.

Algo muito na moda também hoje em dia, é o uso de empresas de outsourcing para fazer as plantações e as colheitas. Se outros o podem fazer mais barato porque não contratar estas empresas e evitar custos de mão-de-obra e maquinaria? O proprietário é apenas responsável pela compra das sementes, fertilizantes e pesticidas.

A diversificação também deverá ser objecto de análise por parte de um gestor agrícola. Nos negócios a especialização e a máxima “foca-te naquilo que sabes fazer” é muito importante, mas na agricultura convém diversificar para não se colocar todos os ovos no mesmo cesto. Diferentes tipos de cultura, alguns animais e mesmo opções de lazer como o tiro ou turismo rural deverão ser rentabilizadas para maximizar os ganhos.

Por fim a dimensão. Termos um terreno maior ou mais árvores de fruto, etc.. permite espalhar os custos fixos e isto traz vantagens competitivas em termos de resultados, poder negocial e de investimento no futuro.

Muitos outros exemplos de minimização de risco e maximização de lucro poderiam ser aqui mencionados em relação aos negócios agrícolas. Todos os dias novas lições e best practices podem ser assimiladas e implementadas. Á semelhança de outras áreas de negócio é um mundo em constante mudança. Acima de tudo é necessário ter em conta a utilização de técnicas sustentáveis para os solos e a aquisição de equipamentos e know how que permitam diminuir custos.

Em conclusão, o conceito de risco está presente na agricultura como em todos os negócios e o conhecimento dos mercados e técnicas mais inovadoras pode significar melhores resultados e mais sustentabilidade no longo prazo. Um dos grandes desafios para os gestores agrícolas é sem dúvida gerar mais valor acrescentado para os seus negócios com a subida na cadeia de valor. Isto pode ser feito incorporando equipamentos de embalagem e transformação nas suas quintas e evoluir de um puro conceito de produção para um pensamento de Marketing e Comercialização. Alguns bons exemplos em Portugal são a Vitacress ou a Carnalentejana!

Para começar um negócio basta ter a terra e a vontade. Nos primeiros tempos, é aconselhável fazer investimentos pequenos para ver se tudo corre bem e depois sim começar a crescer!

Think about it!!

Best regards,