segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cabeças de cavalo e afins!


O bem-estar dos animais na pecuária e uma das áreas que mais me interessa no âmbito dos meus estudos agrícolas.

Trata-se de uma das áreas mais em foco no RAC, e nas aulas que temos sobre vacas, porcos e galinhas, metade do tempo e dedicado as técnicas de exploração efectivamente ditas dos animais (carne, leite, ovos, etc..) e a outra metade e dedicada ao chamado welfare dos mesmos.

Recentemente publiquei no Facebook uma fotografia da cabeça de um cavalo, cujo cérebro estivemos a dissecar numa aula sobre ciência animal. A fotografia em questão pode ser um pouco chocante para pessoas mais sensíveis mas levanta também um dos pontos principais que quero abordar neste texto: ate que ponto as pessoas realmente se preocupam com os animais?

Não tenho a resposta para esta questão mas dá-me a sensação que a sociedade em geral gosta de dizer que se preocupa com os animais, mas prefere não ver o que se passa na vida real... O que e isto então? Preocupam-se ou não se preocupam?

Não devemos julgar ninguem nesta área, pois são questões muito sensíveis e as pessoas podem não gostar de sangue ou sentirem-se enjoadas, etc... Mas queria deixar alguns pontos que julgo serem importantes para a sociedade reflectir, particularmente para que, no seu papel de consumidores, possam pensar neles.

Em primeiro lugar, qual e a moral que alguém pode ter em dizer que se preocupa com o bem-estar dos animais e depois come carne e outros produtos derivados dos animais? Quando se alimentam todos os dias, as pessoas preocupam-se com a origem da carne e com o bem-estar do animal de onde a mesma veio? Ou preocupam-se mais com o preço e com o sabor e aspecto da comida?

Penso que a resposta a esta pergunta e bastante clara: as pessoas gostam de ver a carne barata e bem embalada e com uma boa cor, mas não se preocupam com a origem da mesma. Apenas confiam que deve haver uma mão invisível... Talvez leis que protegem os animais nas quintas de origem... mas não se dão ao trabalho de investigar.

Porque mesmo que haja leis meus amigos, e mesmo que determinados pressupostos de bem-estar estejam garantidos para estes animais, eles são sempre alvo de grandes privações e sofrimento.

Isto leva-me a minha segunda questão. No contexto da PAC Europeia define-se que para garantir o bem-estar de um animal ele deve ter as chamadas 5 liberdades:

- Acesso a agua potável,

- Acesso a comida,

- Não deve ter medo,

- Conforto e abrigo,

- Oportunidade de expressar o seu comportamento normal,

A questão e então: São estes critérios suficientes para garantir o bem-estar dos animais? Na minha opinião, isto e uma falsa questão e nem sequer se devia colocar. Se realmente nos preocupamos com o bem-estar dos animais então não os deviamos comer, não os deviamos matar em matadouros bem desinfectados, não devíamos prende-los em estábulos e campos com cercas, não devíamos limitar o seu comportamento sexual, não devíamos interferir na alimentação, etc...

Para a maioria das vacas a única relação sexual que tem na vida e com uma palhinha... A chamada inseminação artificial, e depois quando o vitelo nasce e logo separado da mãe, para que esta nos possa dar o leite para os cereais de pequeno-almoço e fazer queijinho e manteiga... Meninas, gostavam que isto vos acontecesse? Que vos tirassem ano apos ano o vosso filho, para que pudessem ser exploradas e tirarem produtos dos vossos corpos?

E quanto ao transporte dos animais? Quantos de vocês gostavam de ser transportados em camiões apinhados, a suportar falta de água e temperaturas extremas de frio ou calor? Faz lembrar um pouco o holocausto quando havia pessoas a ser transportadas em condições desumanas para campos de concentração.

Mas o que interessa tudo isto, se o bife vier com um bom molho, batatas fritas e ainda um vinho delicioso a acompanhar?

Se realmente nos preocupamos com animais porque levamos os nossos filhos ao zoo e lhes mostramos o urso polar a apanhar sol?

Tal como referi, apenas queria levantar estes pontos, de forma um pouco extrema talvez, para que as pessoas possam pensar nas coisas de uma forma lucida e informada.

Na minha opinião há que aceitar sem falsos moralismos a estrutura da cadeia alimentar. As espécies desenvolvem-se e crescem porque são as mais fortes tal como Darwin estudou e comprovou. Desta forma, o ser humano vingou na terra porque foi mais forte que os outros e isso deve-nos permitir encarar a questão de comer animais de forma normal e sem preconceitos. Os animais são criados numa perspectiva de exploração, depois são mortos, tira-se a pele e corta-se a carcaça em partes para ser comida depois. Desde pequenos que devíamos conhecer esta realidade e na escola devia haver visitas de estudo a mostrar como tudo isto se faz.

Aliado a esta transparência de processos, penso que deveria haver um grande investimento na fiscalização do bem-estar dos animais, para que não haja produtores a fazer mal aos mesmos a priva-los das 5 liberdades mencionadas acima. Produtores que não respeitassem as leis deveriam ser severamente punidos.

Se houvesse mais abertura para mostrar as pessoas o que realmente se passa, ou seja se desde pequenos nas escolas, fossemos obrigados a ver o que se passa e mesmo participar no processo, as pessoas estariam mais informadas e o mercado seria menos corrupto e mais transparente. Os produtores que tem vacas apenas para receber subsídios mas que as deixam morrer a fome poderiam ser condenados. Leis como aumentar as gaiolas de galinhas de 450 cm para 750 cm cúbicos seriam uma anedota!

Tudo isto para que quando o consumidor chegasse ao supermercado pudesse ver na embalagem se aquele animal foi criado ao ar livre, como foi abatido, se foi criado com a mãe, etc..

Num contexto em que Portugal tem de aumentar a sua produção de comida, prevejo que haja muitas oportunidades no mercado para mostrar aos consumidores que determinada comida e melhor que outra pelo simples motivo que este ou aquele animal foi tratado com mais respeito que outro. O respeito pelos animais pode e dever ser encarado como uma vantagem competitiva de mercado e no fundo e uma situação win win: os produtos são melhores e o consumidor fica mais satisfeito por saber que se esta a respeitar a natureza!

Concluindo, a meu ver, apenas os vegetaríamos podem ter moral para criticar qualquer foto de um animal abatido, pois de facto os animais que são explorados para proveito dos humanos, sofrem bastante e tem bastantes privações. Se a nossa moral nos permitir aceitar isso apenas temos que os respeitar então e assegurar que ninguém passa os limites e que todos os animais têm direito as 5 liberdades. Os consumidores devem também procurar informar-se mais e não enfiar o assunto debaixo do tapete... Fingir que não acontece e o mesmo que negar educação aos nossos filhos e não resolve o problema.

Think about it!