segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Matéria orgânica no solo!

Os solos são uma das àreas mais importantes na agricultura por razões óbvias. São também uma das àreas mais complexas que tenho estudado aqui no RAC por toda a componente cientifica que envolve esta temática. Não tendo um background de ciência é mais dificil, mas tudo se torna mais claro com a observação directa e experiências em laboratório que temos nas aulas.

O solo é normalmente constituido por 25% de àgua, 25% de ar, 45% de matéria mineral (argilas ou areias por exemplo) e 5% de matéria orgânica.

Mas afinal o que é isto da matéria orgânica?

No fundo são todos os restos de plantas ou animais que se encontram em decomposição ou já decompostos no solo. Esta decomposição é feita pelos microorganismos presentes no solo, no fundo as bactérias, fungos, minhocas, etc. Calcula-se que numa grama de solo haja mais de 1 milhão de bactérias! Quando estas bactérias e organimos vivos "atacam" estes restos, há uma parte que é libertada no ar em forma de dióxido de carbono. A outra parte permanece no solo naquilo a que chamamos de humus. Trata-se de uma camada escura, castanha ou preta, que se encontra na superficie do solo ou na sua primeira camada, o chamado top soil (primeiros 15 cm).

Em termos fisicos esta matéria orgânica é muito importante pois ela é responsável por agregar as particulas minerais do solo como as argilas ou a areia. É assim como uma espécie de cola. Para além disso facilita o crescimento das raizes, deixando o ar circular melhor, tendo ao mesmo tempo uma elevada capacidade de reter àgua, o que permite irrigar melhor os solos (menos desperdicio).

Em termos quimicos a matéria orgânica é uma fonte de nutrientes para as plantas, especialmente Nitrogénio (Azoto), mas também fosfatos e potássio. Esta capacidade de atrair e reter nutrientes é fundamental para o sucesso da chamada agricultura orgânica. Neste método de cultivo, e ao contrário da agricultura convencional, não se podem adicionar os chamados fertilizantes quimicos. A única fonte de nutrientes disponivel é esta matéria orgânica por isso a eficiência da sua gestão é fundamental.

O cultivo apenas baseado na matéria orgânica tem vindo a ter cada vez mais sucesso, pois o consumidor tem vindo a ganhar cada vez mais consciência das vantagens para o ambiente. De facto, este método não permite o uso de pesticidas e fertilizantes o que de certa forma evita a contaminação dos solos e a presença de elementos quimicos indesejados na comida. Mas por outro lado, e apesar da matéria orgânica tornar as plantas mais fortes em termos de defesas, não se consegue a mesma protecção para as plantas que se teria com um pesticida normal. Também em termos de retorno as diferenças são enormes. Um hectare de trigo convencional onde tenham sido aplicados fertlizantes consegue gerar 8 toneladas de grão (no Reino Unido), enquanto que contando apenas com a matéria organica para adubar se conseguem 3 toneladas na melhor das hipóteses. Para além de se ter menos retorno, trata-se de uma colheita mais frágil e menos previsivel.. nunca se sabe como vão ser os resultados.

Para os defensores e consumidores do orgânico, os meus parabéns, estão de facto a contribiur para um maior equilibrio ambiental nos campos. Apenas fica uma nota: não se iludam, não é possivel alimentar 7 biliões de pessoas ou os 9 biliões previstos para 2050 por este método... simplesmente não há terra suficiente para isso.

Uma das questões mais importantes na matéria orgânica é a sua gestão no terreno. Quando as plantas a absorvem ela tem de ser substituida, ou seja faz tudo parte de um ciclo. Algumas das práticas mais comuns passam por espalhar estrume nos campos, deixar a palha e o restolho (restos do milho ou sorgo por exemplo) após as colheitas, o plantio directo, etc, ou seja tudo práticas que permitam que mais residuos vegetais e animais fiquem no solo! Lavrar os terrenos, ou seja revirar o solo, é uma prática altamente desaconselhada nesta modalidade pois envia a matéria orgânica para baixo do solo e ela lá fica.

Termino com uma frase de Roosevelt proferida em 1937 "A nation that destroys its soil, destroys itself!"

É importante que os governos tenham planos e organizações que pensem nesta temática dos solos, pois trata-se de uma das maiores riquezas de um pais, mais que ter ouro ou diamantes. Desconheço a situação ao pormenor em Portugal, mas as cartas de solos são todas antiquissimas e a informação que existe é que os nossos solos são pobres em termos de matéria orgânica... o que está a ser feito para combater isto? É importante reforçar que tal como foi dito no inicio, parte da decomposição da matéria orgânica é enviada para atmosfera em forma de dióxido de carbono. Ou seja se não a soubermos reter, vamos não só ficar com solos mais pobres mas também com o ar mais poluido..

Think about it!