segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Hospitalidade!

No dicionário de Português que encontrei na Internet, Hospitalidade significa "acção de acolher em casa por caridade ou cortesia".

Em termos de origem da palavra esta vem do latim hospes, que tanto significava “hóspede” como “hospedeiro“. No Latim medieval, hospitale queria dizer “de um hóspede, relativo a ele”, e gerou o Francês hospital (hoje hôpital). Apenas como nota de registo esta palavra também gerou outras palavras como hospicio e hotel, bastante curioso...

Na vida real, hospitalidade significa muito mais do que isso. Trata-se de uma das experiências humanas mais gratificantes quer sejamos o hospitaleiro ou o hospitalizado. Abrirmos a nossa casa para alguém e mostrarmos o nosso mundo, os nossos hábitos, os nossos cozinhados, a nossa poltrona, etc... Tem, na minha opinião um cariz muito maior daquele que à primeira vista possa parecer.

No fundo, significa aquilo que é a vida em sociedade e aquilo que somos enquanto seres humanos... aquilo que nos distingue dos animais... quando somos hospitaleiros ou hóspedes pomos em prática todas as nossas melhores qualidades como socializar, conversar, amar, cuidar, recordar, etc..

A vida tem-me dado algumas oportunidades de ser hospitaleiro, mas tem-me bafejado com a sorte de ser muito bem hospitalizado. Este post é uma pequena homenagem a todos esses momentos e pessoas. Lembrei-me de o escrever depois de ter passado o último mês fora de casa (neste caso, a residência universitária) e nunca me ter faltado um colchão ou um pequeno almoço ou água quente.

Mal cheguei a Portugal para o natal o meu caro compatriota António e sua esposa Margarida fizeram-me uma cama na sua sala de estar.

Ainda em Portugal, o Miguel, aka Viguels, deu-me um quarto em sua casa e não só... uma chave de um carro para eu poder utilizar à vontade e um frigorifico cheio de cervejas... nada mau!

Muitos outros já me acolheram em Portugal desde que vivo no estrangeiro... desde os meus pais até aos meus amigos, passando por hoteis nos dias em que não tinha sitio para ficar. Mas essas experiências são de facto muito importantes para alguém que vive fora e não tem tecto. Os meus agradecimentos a todos eles em especial ao João Valente que no ano passado emprestou-me não um quarto mas um apartamento inteiro!

Mas é de facto no estrangeiro que a experiência de hóspede atinge o seu expoente e sublinho mais uma vez que tenho tido muita sorte em viver experiências extraordinárias.

Á partida tudo parece simples... ficar em casa de um estrangeiro pode parecer igual a ficar em casa de um amigo em Portugal... mas tudo é diferente!!

Como sabemos se a àgua da torneira é potável? Como sabemos sequer onde estão os copos para beber àgua a meio da noite? Onde é e como é a casa de banho?

Em Jacarta, casa do Fauzan, não encontrei papel higiénico, apenas uma mangueira ligada ao autoclismo... gostava que tivessem filmado a minha cara a olhar para aquilo! As casas de banho são de facto dos momentos mais humoristicos e intrigantes. Uma vez em casa de um amigo dinamarquês não conseguia encontrar o duche, até ter percebido que este ficava no tecto no meio da casa de banho... ou seja tomava-se duche no meio da divisão e depois lavava-se as paredes com aqueles instrumentos de limpar janelas de automóveis! O que mais detesto são aquelas torneiras que não são quentes nem frias, são uns manipulos para controlar sabe-se lá o quê!! Entro em pânico quando isto acontece e normalmente já estou dentro do chuveiro quando noto esta situação! Não é fácil...

E a que horas nos devemos levantar? E podemos andar com os sapatos em casa? E se não comermos tudo o que nos sugerem, será uma ofensa? É preciso muito tacto para ultrapassar estas questões mas garanto que são as melhores experiências de vida que se pode viver!

Um grande obrigado ao Piort na Polónia, que me deu o seu quarto e foi dormir para a sala.... ao Christian na Dinamarca que também me deu o seu quarto e cozinhou todos os dias e me ofereceu refeições em restaurantes na cidade de Sondenborg! Á Rose Cooke e à sua familia que me mostraram o que é uma caçada à raposa em Inglaterra e que levavam no carro café e brownies de chocolate para comermos enquanto viamos os cavalos a saltar.

Ao Ferdinand e ao Jacob, Alemães de gema, orgulhosos do seu país e que nem por isso deixaram de receber um estudante Português, nas suas casas de familia em Schleswig-Holstein e Berlim respectivamente. Em casa do Ferdinand também vivi e presenciei os rituais relacionados com caçadas e o que mais me impressionou foi a homenagem aos animais, onde são entoadas canções em sua homenagem, em plena noite e com archotes a arder. Em casa do Jacob o seu Pai falou-me da queda do Muro de Berlim e como foram vividos esses dias... fico fascinado a ouvir estas experiências...
 
 
Ao Norm e Dawn na Austrália que me deram comida e um quarto durante um mês e me mostraram o que é ser um agricultor a sério!! Foram também eles que após muita insistência me mostraram o quão maravilhoso é um cobertor eléctrico... antes pensei que podia morrer electrocutado!

Ao Fauzan na Indonésia, onde havia cozinhados maravilhosos e onde observei os costumes muçulmanos mais de perto como o ramadão. Até me senti mal em comer uma sandes durante o dia enquanto eles jejuavam mas lá teve que ser!

Á Henrietta, minha amiga Inglesa que me mostrou as lindas colinas de Sussex com as suas ovelhas a pastar! Ao também Inglês Nick Bramer, que me acolheu em sua casa em Ross on Ewy, Hereford, e que me deixou pernoitar no quarto onde o Lord Nelson viveu durante uns tempos!

E a todos os outros que sempre me receberam bem como o meu primo Pedro em Sidney, o Rocha em Londres e Mira, o Fred em Melides, o Jiggie na Arrifana, o Pedro Casimiro em Bruxelas, o Gonçalo em Barcelona, a Maria Van Grichen em Amesterdão e até à minha sogra que sempre que vou lá a casa me faz baba de camelo, isto é priceless!! etc.. Estou mesmo agradecido a toda a gente que já me recebeu mesmo se não estiver aqui mencionado.
 
Ser um cidadão do mundo é viver estas histórias, que são pequenas e parecem desinteressantes mas são as melhores que existem! Não devemos nunca tomar esta hospitalidade como algo garantido... devemos agradecer profundamente sempre que nos convidam para jantar ou pernoitar e retribuir com toda a nossa energia... faz parte da experiência humana!

 A próxima vez que forem hospitaleiros ou sejam hóspedes... think about it!!

 



 
 

 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Atenção vegetarianos... vcs estão a dar cabo do mundo!

Os vegetarianos são pessoas que admiro.

É uma admiração parecida aquela que tenho por um jogador de futebol ou um actor de cinema. É uma admiração por alguém que tem uma coragem imensa de fazer algo que eu nunca conseguiria fazer e que por isso merece todo o meu respeito.

Tudo o que se encontra por detrás do ser vegetariano também merece a minha admiração, especialmente a protecção dos animais. Na minha opinião, só estas pessoas podem verdadeiramente condenar as caçadas e matadouros por exemplo... pois todos os que comem carne contribuem para a indústria, embora a grande parte seja de forma passiva enquanto consumidores.

Mas nem tudo são rosas.

Neste momento, os vegetarianos estão a "alimentar" um mercado que está a destruir populações indigenas e a própria natureza. Vejamos alguns exemplos.

A quinoa é uma planta nativa da América do Sul, principalmente originária do Peru e Bolivia. Os seus grãos são, segundo as Nações Unidas, um dos alimentos mais completos do mundo podendo substituir o trigo na produção de farinha, a soja na produção de óleo, o milho no biodiesel e o arroz na alimentação.

Há pouco tempo tratava-se ainda de um cereal obscuro proveniente dos Andes, mas as suas características nutricionais tais como os baixos niveis de gordura, altos níveis de proteina (14-18%) e a presença de aminoácidos essenciais para o funcionamento do corpo humano, começaram a fazer deste alimento um excelente substituto para a carne e bastante procurado entre vegetarianos. As vendas dispararam e desde 2006 que os preços já triplicaram!

Em linguagem de marketing, a quinoa pode-se chamar "O grão miraculoso dos Andes", pois representa uma comida saudável e ética do ponto de vista de não matar animais.

Mas em tudo o que parece bom, há sempre um lado lunar, o chamado dark side. O apetite dos países desenvolvidos, principalmente situados no norte e ocidente do mundo, fizeram aumentar a procura deste grão, e como a oferta não conseguiu acompanhar da mesma maneira, os preços dispararam e neste momento, milhões de camponeses no Perú e na Bolivia já não conseguem comprar este alimento que antes era fundamental na sua alimentação. Importar comida de plástico dos Eua por exemplo é muito mais barato.

Segundo um artigo do The Guardian, neste momento, em Lima, Peru, é mais barato comprar frango do que quinoa! Para além disso a pressão para aumentar a produção, faz com que estas terras, que antes possuiam rotações de culturas e plantas bastante diversificadas, se transformem em monoculturas, o que aumenta o risco de doenças, erosão dos solos, falta de água, etc..

Outro bom exemplo de como esta "alimentação saudável" do norte está a criar desiquilibrios no sul são os espargos. Com o intuito de fornecer esta cultura durante 365 dias do ano aos países insaciáveis do norte, o Perú começou a produzi-los numa região àrida do seu país chamada Ica. Os espargos são plantas sedentas de água, e como tal esgotaram os recursos hidricos da região, conduzindo à emigração em massa!

A soja, um alimento adorado pelo lobby vegetariano, mas também pelos produtores de gado, é outra problemática que conduz à destruição ambiental. A plantação desta cultura já levou à destruição de milhares de hectares na América do Sul.

É engraçado ver como um cereal como a quinoa se torna mais caro no seu país de origem, apenas porque há uma série de estrangeiros interessados com a sáude, protecção animal e reduzirem a pegada ecológica.

Ser vegetariano é uma atitude de vida... na minha opinião uma boa atitude de vida, mas há que ter em atenção os fenómenos de destruição de culturas a milhares de kms e procurar consumir aquilo que se produz localmente.

A próxima vez que virem um vegetariano, think about it!!