quinta-feira, 25 de abril de 2013

Arrotos de vacas!


O aumento da concentração de gases de estufa na atmosfera é uma causa directa do aquecimento global. Este fenómeno, que se traduz pelo aumento das temperaturas, tende a piorar. Alguns cenários para o seculo XXI, indicam aumentos médios de temperaturas entre 1 a 6 graus, o que ira aumentar a incidência de acontecimentos extremos como secas, cheias, tempestades, fogos, erosão dos solos, etc..

Estes acontecimentos podem revelar-se catastróficos para o ambiente e para a produção de comida a nível global. Num cenário de crescimento populacional, em que se esperam cerca de 9 biliões de pessoas em 2050, e como tal a produção de comida deveria duplicar, é dificil compreender como a sociedade aceita e nao actua de modo a reduzir estas emissões.

O gas de estufa mais comum é o dióxido de carbono. Fala-se muito deste gás e no conceito de pegada ecológica, no fundo a quantidade de dióxido de carbono produzida por determinado acontecimento versus um acontecimento alternativo. Desde o século XVIII que a concentração deste gás na atmosfera aumentou 30%, sendo a principal causa a combustão de combustíveis fósseis.

Mas um dos gases de estufa mais nocivos é o metano. O metano (CH4), é responsavel por 16% do total de emissões de gases estufa na atmosfera, e destes 16%, cerca de 40% deve-se à agricultura, em particular a produção animal. Tendo em conta que o metano tem um potencial de aquecimento global 20 vezes maior que o dióxido de carbono, a situação é preocupante.

O metano é formado por duas fontes: eructação animal (arrotos) e estrume, sendo o peso de cada um deles para o total das emissões de 85% e 15%, respectivamente.

Parace que a melhor maneira de parar o aquecimento global é então impedir as vacas e as ovelhas de arrotar!

Este gás e formado no estômago dos animais ruminantes (vacas e ovelhas) através do processo de fermentação. As bactérias presentes no estômago destes animais (o rumen), actuam sobre a comida e enquanto uma das partes é transformada em ácidos gordos (usados como fonte de energia e proteinas para o animal), outra parte transforma-se em Hidrogénio (H2), que por sua vez vai ser originar metano através da acção dos organismos metanogénicos. O metano é depois lançado na atmosfera atraves do esófago pelos “arrotos” dos animais.

Nos animais monogástricos, como o porco, a galinha ou o homem, não existem tantos processos de fermentação no estômago, o que faz com que não haja tanta produção de metano. Nestes animais, a flatulência (puns), é o veículo de lançamento do metano produzido para a atmosfera.

Para se reduzir os “arrotos” das vacas é necessario minimizar a parte da comida que é transformada em hidrogénio. É preciso encontrar rações que aproveitem melhor as proteinas e a energia inserida. Estima-se que cerca de 70% das proteinas (nitrogénio) ingeridas pelos animais não são aproveitadas, saindo dos animais através da urina e das fezes. Esta é uma das principais razões porque se diz que produzir gado bovino é altamente ineficiente. A urina e as fezes voltam para os solos através da adubação, mas a verdade é que este processo também contribui para a produção de outro gás de estufa: o óxido nítrico (N2O), que tem um potencial de aquecimento global de 310 vezes mais que o dióxido de carbono!

Ja existe muita investigação a ser desenvolvida para aumentar os níveis de proteína retidos pelos animais ruminantes. O desafio agora é transmitir e motivar os agricultores para aplicarem estas medidas. Uma das medidas passa por diminuir o nível de proteínas nas rações, substituindo-as por ácidos gordos e outros aditivos como taninos. Mas será que diminuindo o nível de proteínas que damos aos animais estamos a comprometer a produção de leite e carne? O que é mais importante: o ambiente ou a produção (lucro)?

Este é um dos grandes desafios ambientais para o futuro… quando virem uma vaca a arrotar...think about it!

 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Uma Quinta no Alentejo!

No passado mês de Março estive cerca de duas semanas a trabalhar numa Quinta no Alentejo, na zona de Vendas Novas. Não se pode dizer que tenha sido um trabalho propriamente dito. Ao contrário de outras situações em que tive de guiar tractores ou carregar coisas, aqui estive mais a acompanhar o responsável da exploração e a ver como se fazem as coisas.

E que boa experiência foi! Que bonito é o Alentejo no fim do Inverno! Todo verdinho!

O responsável e dono da exploração, João Soares, recebeu-me de braços abertos em sua casa e respondeu-me de forma incansável a todas as minhas perguntas, muitas das quais bastante idiotas.

Mais uma vez fui alvo de grande hospitalidade e só tenho a agradecer por isso.

Foi o meu primeiro contacto com a Agricultura Portuguesa. Já estava a precisar de ter um contacto com a nossa realidade e ouvir as coisas em Português foi um alivio! Aprender tudo em Inglês é cansativo e processar a informação na minha mente na nossa lingua foi como uma esponja a absorver a informação!

Algumas coisas que dizem sobre a Agricultura Portuguesa são um mito, outras são ainda piores do que se dizem.. Duas semanas não deu para aprender tudo, mas deu para ter um primeiro contacto e para perceber como o João toma as suas decisões.

O total da exploração estava dividido em 3 propriedades, totalizando cerca de 1700 Ha.

As produções da exploração são vacas para carne, pinheiro manso, sobreiros, cereais (trigo e milho) e azevém para forragens.

Não me parece bem estar aqui a expor no blogue a estratégia, os problemas ou as vantagens competitivas da exploração do João mas foi bastante interessante perceber como são tomadas as decisões:

- Maquinaria: sub-contratar ou adquirir maquinaria nova? New Holland ou John Deere? Quantos cavalos? Quais os outros equipamentos necessários? Comprar em segunda mão?

- Sementeiras: Usar sementeira directa? Qual o impacto de diferentes técnicas de semear nos níveis de matéria orgânica do solo? Quando semear? Deve-se mobilizar os solos ou não?

- Adubações e Herbicidas: O glifosato faz mal às plantas? Quando adubar as pastagens? Em que quantidades? Com que condições metereológicas?

- Solos: Qual a importância dos solos na estratégia da quinta? Quais as vantagens do solos argilosos ou arenosos? Como incorporar e manter matéria orgânica no solo? Qual a utilidade de correcções calcáreas?

- Pessoas: Quais as dificuldades que se têm com as pessoas que trabalham na quinta? Qual o papel do veterinário na estratégia da quinta? Deverá ser um custo ou um parceiro?

- Mercados: para quem se vende? Quem oferece contratos? Como funciona o mercado de Montemor? Quem são os grande players no mercado de cereais em Portugal e como funciona?

- Estado e outros agentes: Quais são os subsidios à disposição dos agricultores? Qual o enquadramento legal e fiscal do panorama agricola português? Os bancos ajudam a agricultura em Portugal? Quanto custa um Ha de boa terra?

- Animais: Qual a importância da genética nos animais? Qual a estratégia de reprodução? Qual a estratégia de alimentação? Que raças utilizar e porquê?

- Cereais: fazer ou não fazer cereais? Como planear a irrigação? Fazer cereais para grão ou para forragens?

- Edificios: Ter edificios agricolas? Para quê? Que tipo e em que condições? Estabular os animais ou deixá-los lá fora 365 dias por ano? Qual a capacidade de armazenagem que uma quinta deve ter?


Todas estas áreas e muitas outras foram abordadas nas minhas conversas com o João e sobre elas aprendi coisas novas. Até aprendi qual é a diferença entre uma Azinheira e um Sobreiro ou entre um Pinheiro Bravo e Pinheiro Manso!

Para cada pergunta existem várias respostas, pois determinados acontecimentos podem depender de vários factores. Acima de tudo há que perceber que a agricultura não é estanque e depende de várias variáveis, que combinadas entre si de diferentes maneiras podem ter diferentes resultados.

Ou seja, não há uma fórmula de sucesso!

Percebi que apesar do que se diz, há muitas coisas boas a serem feitas em Portugal neste momento!

Há bons produtores com boas práticas que estão a contribuir para o desenvolvimento do mercado. Não é um mercado morto como muitos pensam e não há muita terra boa ao desbarato para dar e vender! Mas apesar de tudo isto há muitas oportunidades. Há tecnologias e metodologias que podem ser implementadas em Portugal e trazer vantagens competitivas a quem queira trabalhar de forma séria e responsável.

O caminho ainda é longo, mas com o interesse das novas gerações, com o apoio da sociedade e com uma grande força de vontade e profissionalismo é possivel a Portugal recuperar e modernizar as suas estruturas agrárias, aumentando os nossos níveis de auto-sustentabilidade e contribuindo para as exportações.

Força Portugal.... Think about it!!