quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Ushuaia, El calafate e Bariloche!

Olho para o relógio e ainda são 10 da manhã. O autocarro partiu de El calafate às 4 da tarde do dia anterior e só vai chegar às 21 horas. São 29 horas até chegar a Bariloche. A Argentina continua gigante!! Depois dos 5000 kilómetros que fizemos no norte do pais, a imensidão continua no Sul, e entre cada lugar temos de percorrer centenas de kilómetros e muitas horas de viagem.

A primeira viagem no Sul da Argentina foi para Ushuaia, Terra do Fogo. A cidade mais a Sul do mundo, porta da Antárctida e muitos mais adjectivos para um lugar que sem dúvida é longe de tudo! O cenário mudou em relação ao norte da Argentina. Ficou frio e o topo das montanhas ganhou como que um cabelo branco, restos das neves de inverno. 

Se um dia prometerem a uma pessoa que vão com ela até ao fim do mundo basta vir aqui e depois livram-se da promessa! É mesmo o fim do mundo! A distância e mística do lugar reflectem-se nos preços. A comida e o alojamento são mais caros. A roupa custa fortunas mas lá consegui arranjar um casaco por 12 euros. Se calhar não foi assim tão boa ideia ter trazido apenas duas camisolas... A excursão ao farol do fim do mundo, através do Beagle Channel ficou em 30 euros, caro para o nosso Budget e para um pais como a Argentina. Mas valeu cada cêntimo. Sempre tive o sonho de navegar perto deste farol e fazê-lo numa mini embarcação rodeados de pássaros e leões marinhos foi mágico. Que lugar fenomenal!

Ficamos hospedados no Hostel Cruz del Sur, o melhor até agora na América do Sul. Os donos, Tio e Ana, eram meio doidos mas receberam-nos muito bem. O pequeno almoço era fantástico com pão bem fresquinho. O resto dos hóspedes também eram simpáticos e conhecemos uns brasileiros que estavam a viajar pelo mundo inteiro, o Marcos e a Cau, boa gente. Visitamos a antiga prisão e conhecemos a sua história. Ushuaia era como a Sibéria da Argentina: no início do século XX, muitos presos eram desterrados para aqui de modo a cumprir pena e trabalhos forçados. Conhecer a história de alguns presos famosos foi muito interessante.

Após Ushuaia seguimos para El Calafate, a terra do glaciar Perito Moreno, mais um dos locais míticos que sempre quis visitar. E não desiludiu! Um glaciar imenso enfiado no meio de um vale com vários tons de branco e azul. Fizemos a viagem de barco até à parede do glaciar e andamos nas passadeiras que tinham uma vista sem igual. O glaciar avança um metro por dia e vai-se desmoronando aos poucos para a água. O barulho do gelo a estalar e a cair para a água é estrondoso! A vila de El Calafate em si não é nada de especial. Casas baixas feitas em zinco e uma ventania a fazer lembrar a Nazaré em dias de festa!

Quando bateram as 21 horas o autocarro chegou finalmente a Bariloche, norte da Patagónia. No chão do Bus havia lixo, o ar cheirava a pessoas mas tínhamos sobrevivido! Serviram-nos refeições manhosas mas que até deu para comer e vimos alguns filmes. O pior foi quando puseram o Piratas das Caraíbas 4 pela segunda vez. O martelo de quebrar vidros que estava afixado ao meu lado e para o qual já tinha olhado 127 vezes durante a viagem tornou-se apetecível...

Na chegada a Bariloche a paisagem mudou. Depois de muitas horas e muitos kilómetros onde a vista era apenas a aridez da Patagónia com estepes planas cheias de ovelhas e poços de petróleo, chegamos a uma Suíça ou Áustria. Montanhas brancas com lagos lindos e pinheiros nas bordas. Challets de estilo Suíço feitos em madeira com jardins e relvados. No pós segunda guerra mundial houve muitos alemães que se refugiaram aqui e a herança germânica está bem presente. No inverno este lugar é também uma estância de ski. Os chocolates também são famosos! 

Para conhecer a vila e arredores fizemos um passeio de bicicleta de 27 kilómetros. As descidas eram feitas a mil à hora com a bicicleta completamente descontrolada e o vento a bater na cara. As subidas enfim... É melhor nem falar sobre isso, um sofrimento autêntico! Mas as vistas valeram a pena. Os lagos azuis com as montanhas ao fundo cobertas de branco são uma paisagem de cortar a respiração. 

A viagem soma e segue. Ontem foi o meu dia 50 em viagem e os locais continuam-me a surpreender muito, particularmente aqueles na natureza. Todos deveriam fazer esta viagem. O companheirismo continua bom no grupo e o orçamento cada vez mais apertado. O atum e as pizzas parecem caviar. A água potável é mel. Roupa lavada é o equivalente a vestir um pijama de seda. 

Próxima paragem já depois de amanhã: Chile! 

Até lá, think about it!

domingo, 20 de outubro de 2013

Iguazu, Salta, Purmamarca, Cafayate e Cordoba!

5000 kilómetros em 10 dias. São estes os grandes números da nossa viagem pelo norte da Argentina.

Passámos em Iguazu, Salta, Purmamarca, Cafayate e Cordoba. Amanhã voltamos a Buenos Aires directos para o Aeroporto de onde voamos rumo à Patagónia, mais concretamente Ushuaia, a cidade mais a Sul do planeta.

A Argentina é gigante. Não há outra palavra ou adjectivo para descrever a magnitude deste país. E a diversidade é tão grande que parece que estamos a viajar em países diferentes.

A caminho do Iguazu, cerca de 1400 kms a norte de Buenos Aires, viajávamos no nosso carro alugado através de uma paisagem típica da pampa Argentina. Planícies verdejantes, com vacas e cavalos a pastar. De um momento para o outro a terra foi ficando vermelha tom de tijolo e as primeiras palmeiras surgiram no horizonte. O ar tornou se mais húmido e pássaros coloridos apareceram no ar. Tudo isto num espaço de muitos poucos kilómetros!!

Parece banal falar de mudanças de paisagem mas foi mesmo impressionante a quantidade de lugares que vimos nestes dias. Em termos de comparação, uma pesquisa rápida no Google diz-me que a distancia entre Lisboa e Moscovo são 4500 kms. Ora, nós fizemos 5000 kms por isso dá para perceber o quão diferentes foram os lugares que estivemos.

Em Iguazu parecia que estávamos numa selva tropical. E quando se chega às cataratas o espectáculo é sublime. Trombas de água de milhares de metros cúbicos por segundo caindo pelas montanhas abaixo e fazendo um barulho estrondoso. Com o estrondo da queda, muitas gotas se elevam no ar como formando um nevoeiro de água. E quando aparecem os raios de sol e se cruzam com estas gotas... junta-se 2 ovos, 500 gramas de farinha, leva-se ao forno durante 15 minutos e... temos vários arco íris. Uma receita fácil!! Na América do Sul, adoram nomes marcantes e fortes, por isso não admira que a maior queda de água em Iguazu se chame Garganta del Diablo!

Em Salta entrámos no sopé dos Andes e vimos as primeiras cordilheiras. A grandes altitudes, a aridez toma conta da paisagem e enquanto subíamos parecia que estávamos a ir da Covilhã para a Serra da Estrela. Antes de chegarmos às montanhas fizemos uma estrada em linha recta de 800 kms (???). Por favor não me falem mais da recta "gigante" de 20 kms que liga Catanhede a Mira!

Em Purmamarca, 200 kms a norte de Salta, a vista era semelhante a um Grand Canyon misturado com um deserto mexicano. Montanhas e desfiladeiros com várias cores e formas. Rios secos e cactos estrondosos, alguns com 4 metros de altura e várias ramificações. Diz-se que um cacto cresce apenas 2 cms por ano por isso algumas destas plantas deviam ter centenas de anos.

Em Cafayate a aridez continuou e o espectáculo das montanhas coloridas prosseguiu durante 50 kms. Tudo isto enquanto guiávamos no meio de um vale que parecia encantado. Nesta região também se faz muita vinha, mas aqui não dou o braço a torcer... O nosso Douro vinhateiro é 1000 vezes mais bonito! A descer das montanhas para Cordoba, apareceu de novo a vegetação verdejante e os rios com a água que descia das cordilheiras. Parecia que estávamos numa Áustria misturada com o countryside inglês. Animais a pastar, campos de cereais, tudo rodeado por colinas e montanhas.

Agora estamos em Córdoba e não há muito a assinalar. É uma cidade com 2 milhões de pessoas, a segunda maior da Argentina e semelhante a Buenos Aires. A única diferença é o calor. Estão 35 graus neste momento. Ontem fomos sair aqui, e eu levava uma t shirt do clube futebol Boca Juniors. Foi sem querer que levei esta tshirt mas ao início não me deixaram entrar num bar porque o porteiro não gostava desse clube. Depois acabamos por conhecer imensa gente devido à t shirt, inclusive um dos líderes da claque do Belgrano, o clube local de Cordoba. O futebol é mesmo um grande veículo cultural e de comunicação.

Assim continua a viagem, mas já estamos desejosos de ir para Sul, rumo à Patagónia. A paisagem vai alterar-se de novo e as temperaturas também. Estamos a contar com zero graus.

Temos conhecido imensas pessoas e sentimo-nos seguros em todo o lado. Andamos com um Budget apertadíssimo e não gastamos mais de 15 euros ao todo, por dia, em alimentação e dormida. Se ultrapassar estes valores simplesmente saímos dos sítios. É hilariante quando nos sentamos num restaurante, o Jiggie olha para os preços do menu e diz "bem pessoal vamos embora?" E arranca porta fora!

Nos hostels partilhamos quartos com outros viajantes, alguns mais limpos que outros. Já tivemos algumas situações onde a higiene ultrapassou os mínimos olímpicos. Eu por exemplo recuso-me a partilhar o meu sabonete com outras pessoas, os meus companheiros não concordam e usam. Alguns locais não apetece tocar em nada e quando pouso a escova de dentes num lavatório tem que estar sempre virada com os filamentos para cima para não tocar nos germes da porcelana. Não me lixem pah!! Nunca temos qualquer conforto e por vezes alimentamo-nos mal e andamos cansadíssimos, com isso não me importo, faz parte do espírito do viajante e até gosto para ser sincero. Mas manter a higiene em viagem é fundamental!! Enfim, parece que na Bolívia e no Peru esta situação ainda vai piorar, vou tentar manter actualizações sobre este tema!

Próximo post no blog dos bosques: Patagónia!

Até já and..

Think about it!

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Aires Buenos!

Passámos 5 dias em Ameghino, na quinta do Felipe Harrison ( o meu colega do RAC), e depois regressámos para Buenos Aires.

Na quinta fomos recebidos como família. O Juan Harrison, irmão do Felipe, mostrou-nos a quinta toda e como funcionava o sistema. Uma propriedade de 5000 hectares na melhor terra da pampa Argentina, com vacas para carne, pastagem e cereais. Trabalhámos no duro e aprendi bastantes coisas. Tivemos também momentos bastante idílicos e que nunca esquecerei quando me recordar desta viagem.

Um final de tarde, a voltar do trabalho com as vacas, cavalgamos na pampa Argentina. Eu, o Miguel Queirós mais dois gaúchos, o Marcos e o Manuel. A paisagem era deslumbrante. A pradaria verde estendia-se por kilometros, o céu azul com algumas nuvens reflectia-se nalgumas pequenas lagoas e grupos de cavalos selvagens corriam curiosos ao nosso lado.

Naquele momento perguntei ao Marcos:

- Hombre que se piensa en un tan perfecto momento como esse?

Resposta do Marcos: no si piensa en nada, sigue tranquilo.

É engraçado que a mensagem de muitas pessoas em locais diferentes da América do Sul é a mesma... Segue devagar, com menos e sem pressas!

Fomos convidados para jogar futebol no Clube de Polo Media Luna, o clube de polo mais antigo da Argentina. Um jogo que acontece todos os domingos há 20 anos entre as pessoas do Pueblo de Ameghino. A relva estava perfeita, a temperatura estava quente. O ritmo não era alto, mas como não me encontrava em forma foi bastante duro. Com o resultado em 1-1 e a poder pender para qualquer lado marquei um golo de fora da área ao ângulo! A glória futebolística finalmente a chegar aos 32 anos, um momento inesquecível.

As refeições foram excelentes mais uma vez. Estufado de carne com scones, tartes de leite condensado, merengue, vitela na grelha, pizzas caseiras, etc.. Tudo com pessoas que nos recebiam com um sorriso e interessadas no nosso percurso de viagem e de vida. Um destaque especial para o Avô do Felipe e do Juan, Peter. Com 87 anos continua a dirigir os destinos da quinta, tem um grande sentido de humor e revelou uma paciência sem limites para nos contar dezenas de histórias. Obrigado.

Voltamos para Buenos Aires na segunda-feira, na carreira da meia noite. Uma viagem de 7 horas num autocarro colorido de dois andares, numa cadeira meio cama, e mais ou menos confortável. Uma amostra daquilo que vamos ter nos próximos meses. Pus os tampões nos ouvidos, agarrei-me ao passaporte e ao IPad e adormeci.

Já em Buenos Aires com o trio completo ( o Jiggie das Arábias chegou são e salvo), a exploração da cidade continua. Já é a terceira vez que aqui estou!

Desta vez estamos num Hostel mais internacional, com pessoas mais jovens e cheio de pinturas estilo grafittis pela parede. De manhã temos um pequeno almoço que não é nada mau... Cereais, leite, pão, manteiga e sumo. O Hostel chama-se Art Factory e fica em San Telmo, calle Piedras 545. Estamos a partilhar um quarto triplo que nos custa 8 euros por noite a cada um. Comparado ao Tanguera Hostel onde ficamos a semana passada estamos num condomínio de luxo. A higiene era precária, a maioria das pessoas eram residentes permanentes que bebiam bastante e por vezes, quando chegávamos à noite, podia acontecer que não nos abriam a porta porque o porteiro adormecia.. Um excelente Client Service portanto!

Mas aquilo que mais me tem surpreendido nesta cidade são os eventos culturais.

Os museus (Malba, Mamba e Centro Cultural Recoletta), apresentam exposições cheias de cor, desafio e genialidade. Fiquei particularmente intrigado com os trabalhos de José Guervich, Liliana Porter e Antonio Berni.

As milongas de tango (maldita, calle Peru 540), casas de tango vadio onde a sensualidade impera e bandas com acordeões e violinos rasgam o ar.

Os espéctaculos bomba del tiempo (todas as segundas centro konex) e fuerza bruta (centro cultural recolletta de quarta a sábado) são simplesmente inesquecíveis, contemporâneos e invasivos de todos os sentidos. Água, luzes, tambores, barulho, gritos e dança. O estabelecimento de uma ordem no meio do caos total.

A arquitectura por todas as ruas é imponente. Prédios de vários estilos, apresentando pormenores nas janelas, portas e varandas, alguns a fazer lembrar aquelas villas italianas à beira de lagos paradisíacos. Existem também muitos prédios degradados cheios de betão, ferro e tijolo à mostra... mas até isso parece fazer parte.

É impossível não nos sentirmos tocados por esta realidade tão humana, verdadeira e actual.

Hoje à noite jantamos com os pais do Jiggie para comemorar o seu aniversário. O restaurante escolhido foi o La Cabrera (calle Cabrera em Palermo). Devo ter comido mais de 500 grs. de carne, neste que é considerado um dos dois melhores restaurantes de Buenos Aires. Obrigado.

Agora é hora de ir dormir, o Jiggie já ressona alto e bom som, e o Miguel lê o seu livro "A Revolução de uma palha" de um autor Japonês que tem uma perspectiva bastante interessante sobre a agricultura orgânica. Temos discutido bastante este autor, um livro a reter sem dúvida.

Amanhã é o nosso ultimo dia em Buenos Aires e sábado começa a aventura na estrada, destino Iguazu no norte da Argentina, fronteira com o Brasil e Paraguai!

Faz hoje um mês que cheguei a América do Sul, que ricas experiências me tem proporcionado este continente!

Até já!

Think about it!

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Visita a Buenos Aires e o regresso ao campo!

Depois de 5 dias em Buenos Aires partimos.

Buenos Aires não deixa ninguém indiferente. Com 12 milhões de pessoas é uma das grandes metrópoles mundiais. A Argentina tem 40 milhões de habitantes e é um dos maiores países do mundo... Porque se concentra aqui tanta gente?

A pátria Argentina vive no imaginário de todos nós. As grandes referências são Diego Maradona, os bifes tenros do gado de pasto, a sensualidade do tango, o azul claro da sua bandeira e a pampa... terra plana sem fim onde os gaúchos conduzem as manadas.

Mas tenho más notícias a dar aos mal informados. A Argentina também é um país com graves desequilíbrios.

Para além da disparidade na concentração populacional, existem graves problemas sociais, muita diferença entre ricos e pobres e corrupção nas altas estâncias governamentais. Circulam as histórias de malas cheias de dólares onde o dinheiro nem é contado, apenas pesado. 4 kilos para um milhão de dólares, 8 kilos para dois milhões e por ai fora.

Cristina Kirchner, a presidente que subiu ao poder a seguir ao seu marido Nestor, fechou o pais ao exterior, género Salazar. Neste momento a Argentina não pode exportar carne (?), a população não pode comprar moeda estrangeira e não há Apple à venda por exemplo.

Em Buenos Aires há milhares de sem abrigos, as ruas estão sujas e tudo é um bocado caótico. Como pode um pais com tantos recursos e deste tamanho viver uma situação destas?? A verdade é que existe um historial de sucessivos governos que não funcionam... Tudo feito com muito coração e pouca cabeça, clássico do género sul americano. Quando vêm os governos de esquerda roubam aos ricos para dar aos pobres e o país pára. Quando vira à direita as desigualdades acentuam-se e as malas com dólares circulam como castanhas assadas no outono à porta das Amoreiras.

Esta ditadura económica conjugada com a liberdade de expressão e de imprensa cria novas sociedades e maneiras de pensar. A Argentina não é excepção. As pessoas são informadas e educadas mas sentem-se incapazes de lutar contra o sistema. Por onde começar? O voto já não é suficiente para mudar as coisas e o futuro é incerto... apenas há a certeza que vai ser pior.

Mas depois há o lado positivo.

As pessoas falam de novas formas de viver... Viver com menos e com mais justiça. As novas gerações preocupam-se com a natureza e o ambiente. Nas grandes metrópoles como Buenos Aires respira-se cultura. Surgem novas tendências, a música reinventa-se e novas formas de arte aparecem. O que salta mais à vista são as paredes cheias de Street Art, género Banksy, e que no futuro vão ter que ser vistas como as melhores colecções de arte pública.

Tudo isto faz com que Buenos Aires não nos seja indiferente. A cidade simplesmente invade-nos os sentidos. Passamos 5 dias onde visitamos muita coisa: museus, parques, concertos e praças. Ainda falta ver muito. Para a semana vamos lá passar mais 5 dias com o Jiggie das arábias e espero conhecer ainda mais realidades.

Para já voltei ao campo. Desta vez o Miguel Queirós veio comigo. E que bem sabe respirar o ar puro!! Viemos para a quinta onde era suposto vir desde o início, a do meu amigo Felipe Harrison, colega do RAC, situada em Ameghino, 500 kms a oeste de Buenos Aires.

Uma quinta diferente da Malfatta. Na Argentina diz-se que ter uma quinta como modo de vida é um mau negócio. Mas ter uma quinta como um negócio é um grande modo de vida. Na Malfatta  aprendi muito sobre manejo de ferramentas, animais, fazer cercas eléctricas, matar porcos, cozinhar pão, reutilizar recursos, andar a cavalo, etc mas a quinta não tinha registos de nada, tudo se ia degradando e não havia um plano ou um caminho. Num dia contávamos 19 porcos e no outro já só eram 13, o dono não se preocupava muito com isso...

Aqui nesta quinta, a vida também corre devagar e respeita-se a natureza e o meio ambiente. Mas a quinta é gerida como uma unidade de negócio. Sem uma rentabilidade, podemos ter as melhores ideias e uma vida maravilhosa no campo, mas no fim onde estará o ganho para comer e sustentarmos uma família por exemplo? O equilíbrio será sempre a palavra a reter. Ir para a agricultura para se ficar rico parece-me impossível mas é necessário pagar o investimento. Sem rigor, responsabilidade e planeamento não se consegue chegar lá.

Para já fomos muito bem recebidos e já conhecemos algumas das pessoas que aqui trabalham, a família do Felipe e o sistema de produção implementado. Felizmente o pai do Felipe já está melhor e em recuperação do acidente de carro que teve, mas o nosso guia tem sido o Juan, irmão do Felipe, um muy bueno xico. Quase 5000 hectares, divididos entre vários membros da família e dedicados à produção de vacas para carne (Hereford e Angus) e culturas como milho, trigo, soja, cevada, triticale e aveia. Hoje já conhecemos os meandros da quinta e até vimos uma sementeira de milho a ser feita.

Só vamos aqui ficar 5 dias mas espero aprender muito! Quem sabe um dia mais tarde, volto com mais tempo. Hoje jantámos uma milaneza com puré. Em português, bifes panados com puré. A Argentina é um petisco! Tudo é bom e não há dia que passe sem carne e dulce de leche para sobremesa. Agora a lareira crepita, vou terminar este texto e descansar que amanhã é um dia duro de análises a touros e vacas!

Think about it!