quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O empreendorismo é uma ciência?


No decurso do meu recente estudo de abrir uma empresa agrícola, a primeira questão que me surgiu é o que é isto de ser empreendedor? Quais são os factores a ter em conta quando decidimos ser patrões de nós próprios? Quais devem ser as características de um empreendedor e como é o ambiente que rodeia tal individuo? Fui à procura de algumas respostas e apresento-as aqui em directo no Blog dos Bosques.

O empreendorismo não é um bem divino que nasce com as pessoas. Pode ser ensinado como muitas outras áreas. Conhecimentos sobre a área em que se vai trabalhar, contactos, marketing, finanças, operações são algumas das competências a desenvolver.

O empreendorismo também não representa, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a implementação de uma ideia ou inovação radical. Se estivermos a fazer algo ligeiramente diferente dos outros, e ao mesmo tempo a gerar valor para o cliente já estamos a ser empreendedores. Mudar o horário de atendimento, alterar um preço ou atacar novos segmentos são formas de inovação que representam empreendorismo.

A meu ver, o ponto de partida para o empreendorismo, não deverá ser o ganhar dinheiro para as despesas do dia-a-dia. É importante que seja visto como uma forma de realização pessoal e profissional. Esta realização está directamente ligada à valorização pessoal e dos que nos rodeiam, à independência e ao interesse genuíno pelo que se faz.

Portugal é conhecido como um país de pouco empreendorismo. Somos um país com elevada aversão ao risco e níveis acentuados de colectivismo, (estudos culturais de Hofstede sobre cultura empresarial nos diferentes países).

A população tem medo de falhar e de ter insucesso. O grupo é privilegiado acima do individuo e o sucesso pessoal nem sempre é bem visto, sendo muitas vezes questionada a honestidade dos que vencem na vida…

Estes dois factores representam um grande obstáculo à actividade empreendedora no nosso país, pois há sempre um nível de risco no empreendorismo que não se consegue evitar. Para além disso há bloqueios psicológicos de cariz cultural quando se ganha ou perde. Se falhamos estamos condenados e perdidos, não haverá segundas oportunidades e ninguém se esquece. Se vencemos somos desonestos e tivemos sorte. Parece que mais vale ficar sossegado num canto e deixar a vida andar…

Felizmente o empreendorismo já tem vindo a ser melhor aceite e o reflexo disso, é a contribuição dos media para a divulgação de casos de sucesso. No entanto, a meu ver, ainda há um longo caminho cultural a percorrer para que se possam alterar mentalidades nesta área.

O primeiro passo de um empreendedor é a identificação de uma oportunidade presente ou futura. Esse trabalho parece mais difícil hoje em dia. A globalização trouxe grandes desenvolvimentos, principalmente nas áreas das tecnologias de informação e comunicação.

Este facto veio alterar o comportamento dos consumidores e das empresas e daí a dificuldade na identificação de oportunidades. Tudo parece mudar rapidamente. O consumidor tem uma grande diversidade de ofertas e às vezes até altera a sua decisão conforme o ambiente em que se encontra. Muitas empresas não conseguem acompanhar este ritmo competitivo e fracassam na capacidade de fazer face a ameaças ou aproveitar oportunidades.

Normalmente as oportunidades estão implícitas nas tendências e mudanças, sejam elas sociais, politicas, económicas ou culturais. Até as situações de crise podem representar uma oportunidade. Hoje em dia as grandes tendências passam valorização do eu, pelo sobressair dos outros através de posses e experiências, manter a jovialidade para sempre (complexo de Peter Pan do qual eu sofro abundantemente), procurar uma vida mais saudável, vidas muito ocupadas e com diversas frentes, o uso de redes sociais e novas tecnologias que poupem tempo na execução de tarefas, etc

Podem ser identificadas excelentes oportunidades ou ter-se excelentes ideias. O problema é passar à acção e transformar essas ideias em algo palpável. Para além dos nossos problemas culturais já mencionados, há também outros factores que determinam a falta de empreendorismo em Portugal.

Em primeiro lugar o difícil acesso a capitais ou desconhecimento dos meios de financiamento disponíveis no mercado. Em segundo a irregularidade das políticas governamentais e “danças” de governos. Por último, é algo que não nos é ensinado na escola. O programa escolar, deveria desafiar a mente das crianças a inovar, a criar e acima de tudo, a explicar quais são os passos necessários para concretizar uma ideia e passar à acção.

Um estudo do Eurobarómetro, indica que 37% dos Europeus gostaria de ser empreendedor mas que apenas 15% o concretizam. Outro estudo realizado pela EOS Gallup Europe Institute, refere que 71% dos Portugueses gostariam de ter o seu negócio próprio, a taxa mais alta da Europa!! A pergunta era “ Será que devo ter o meu próprio negócio?”. Noutros países de cultura Escandinava ou Anglo Saxónica, a resposta foi precisamente o contrário, ou seja, preferem trabalhar por conta de outrém.

Portanto, as pessoas querem ser empreendedoras para ter independência, dinheiro, satisfação pessoal, realização e porque observam de uma boa oportunidade. Mas porque há tanta gente que se fica pela intenção?

A resposta óbvia é que há muitas pessoas que se sentem seguras e confortáveis no seu emprego, têm uma família estável e um bom estilo de vida. E perante isso, não estão dispostas a arriscar serem empreendedoras.

Mas na verdade há muitas pessoas que até têm o capital ou conhecem os meios de chegar a ele, têm conhecimentos e capacidade, já vislumbraram a oportunidade mas mesmo assim não arriscam. Afinal o que distingue um empreendedor de um não empreendedor?

Segundo o livro “Ser Empreendedor” das Edições Sílabo, os traços principais de um empreendedor são:

- É alguém que toma iniciativa para criar algo novo e de valor para o próprio empreendedor e para os clientes,

- O empreendedor tem que despender o seu tempo e esforço para realizar o empreendimento e garantir o seu sucesso,

- O empreendedor recolhe as recompensas sob a forma financeira, de independência, reconhecimento pessoal e de realização pessoal,

- O empreendedor assume os riscos de insucesso de empreendimento, quer sejam financeiros, sociais ou psicológicos/emocionais.

Mas o que leva os indivíduos a serem empreendedores? Este é definido em termos de comportamentos e atitudes. Ninguém nasce assim porque não há genes de empreendedor. Há as motivações próprias ou até uma situação de necessidade. Há também outros factores como o ambiente educacional e familiar, se os pais também foram empreendedores, as experiências passadas (se objectivos anteriores foram concretizados ou não), a experiência profissional prévia e a idade. 

De facto, a grande fatia de empreendedores são indivíduos entre os 25 e 45 anos que já tiveram pelo menos um emprego. Mas também não me parece que haja um critério de idade obrigatório, embora admita que a vitalidade física seja importante. Não se pode embarcar num novo projecto se nos sentirmos cansados ou em má forma física ou mental.
Antes de terminar, um pequeno paragráfo sobre a questão do risco. Normalmente pensa-se que quem começa um novo negócio assume grandes riscos. Esta frase não deixa de ser verdade mas são riscos controlados. Com um bom estudo de mercado, um bom modelo de negócio, um financiamento equilibrado, uma estratégia viável e com parceiros conhecedores da indústria e do mercado, reduz-se em grande escala os potenciais riscos de um novo negócio.

Por fim termino com uma lista de mitos e frases sobre o empreedorismo que encontrei. São apenas isso… mitos! A vontade, o rigor, trabalho e o desejo de sonhar parecem-me bem mais importantes! Think about it!

- O empreendedor nasce, não se faz.

- Qualquer um pode iniciar um negócio.

- São jogadores/apostadores que assumem riscos excessivos.

- Têm necessidade de protagonismo.

- São patrões de si mesmo.

- Trabalham muito.

- Iniciam negócios de risco.

- Apenas para os ricos.

- Idade é uma barreira – apenas para os jovens.

- São motivados apenas pelo dinheiro.

- Procuram o poder e controlo sobre os outros.

- Se tiverem talento, o sucesso chega em 1, 2 anos.

- Qualquer pessoa com uma boa ideia pode enriquecer.

- Tendo dinheiro é fácil falhar.

- Sofrem de stress.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A Colômbia e o final da aventura da America do Sul!

A Colômbia assinalou o destino final da nossa viagem. Percorremos o norte do país: Cartagena, Playa Blanca, Santa Marta, Taganga, Minca e a capital Bogotá.

Foi um dos melhores países que visitamos mas ao mesmo tempo um dos mais estranhos.

O primeiro choque foi a onda de calor em Cartagena, cerca de 35 graus. Esta cidade, que foi a primeira na America do Sul a ser colonizada pelos Espanhóis representa bem aquilo que é a Colômbia hoje em dia: turismo, crescimento, ebulição, pessoas, juventude e salsa... Muita salsa!

No meu imaginário este era o país de Pablo Escobar e dos cartéis de cocaína. E também de Valderrama claro, o jogador de futebol com o melhor penteado de sempre (para quem não conhece o seu cabelo parecia uma palmeira).

A imagem das drogas, milícias, raptos e assassinatos que muita gente tem da Colômbia é um erro e faz parte do passado. Na zona da selva ainda há locais controladas pelas FARC, mas neste momento a grande maioria do pais está virada para o exterior e para o século XXI.

Há tantas oportunidades e tanto por fazer que apetece ficar ali e tentar a sorte. Nunca tinha visto um El Dorado assim, um sítio com tanto potencial... Mas pronto, também já sei que provavelmente será uma bolha, e que daqui a uns anos, depois de alguns crescimentos a dois dígitos, o pais entrará no comum ciclo do crescimento infinitesimal e novas crises sociais e políticas surgirão! Tomara que esteja errado!!

Mas há muito por fazer no país: o poder de compra está a aumentar, há uma nova classe média nas grandes urbes e muita juventude! O novo Brasil ou Angola para quem quiser investir!

Percorremos o norte da Colômbia, na chamada zona do Caribe! Ficamos em praias paradisíacas, dormimos em redes, bebemos sumos de fruta, comemos peixe e marisco, vimos aranhas do tamanho de bolas de ténis e caminhamos na selva ao estilo do filme "Em busca da Esmeralda Perdida"! Foi bom terminar a viagem assim, com algum descanso e calor. A pior parte foram os mosquitos. Fomos atacados sem dó nem piedade. As nossas pernas e braços pareciam bifes do lombo numa aldeia da Etiópia.

No fim ainda fizemos Bogotá, a capital da Colômbia com 12 milhões de habitantes. Há 15 anos esta era a cidade mais perigosa do mundo, com o maior número de assassinatos. Hoje é uma cidade cosmopolita e moderna, com milhares de pessoas a passear na rua e a rebentar de energia. Ficamos na zona cultural da cidade, a plaza Chorron e vimos muitos espectáculos de rua. Um deles, o contador de histórias, ficará nas nossas memórias para sempre. Também visitamos o museu Botero, o museu do ouro e fizemos as últimas compras de Natal em feiras de artesanato gigantescas!

No dia 22 de dezembro partimos para o aeroporto. Por certo cada um de nós falou com os seus botões e se perguntou se queria mesmo voltar já. A resposta foi sim. Há timings para tudo e esta experiência já ninguém nos tira. Para além disso eu estava com uma dor de dentes horrível e apesar de estar em Bogotá, só pensava no meu querido dentista ali na rotunda da Estefânia!

Para trás ficaram quase 4 meses de experiências incríveis. Espero que se tenham divertido tanto como eu nos relatos do Blog dos Bosques e nas fotos que fomos colocando no Facebook e Instagram.

É uma viagem que toda a gente devia fazer e aquele que volta não fica indiferente. A America do Sul é um local com uma energia muito especial e onde ainda acontecem daquelas coisas que ouvimos nas histórias ou vemos nos filmes. 

Agora em Portugal, olho para trás e nem acredito nas coisas que vi e locais onde estive. A experiência na quinta da Malfatta, o Iguazu, Ushuaia, os Andes, os animais que vimos, o glaciar do Perito Moreno, Machu Picchu, as pessoas que conhecemos... Muitas delas nativas dos próprios países e a viver com muito menos do que qualquer um de nós alguma vez imaginou...

E agora? O futuro?

A pergunta mais importante para mim é: como se regressa de uma viagem destas depois de tudo o que se fez e viu? Como se aproveita a experiência para ser melhor? Estamos mais vazios ou mais cheios? Mais completos?

Se calhar, há 15 anos atrás, iria ficar cheio de nostalgia e saudades depois das experiências que tivemos.

Hoje com 30 e poucos anos, sei que não há tempo para isso. Devemos sim, aproveitar esta oportunidade da melhor maneira possível e potência-la para o futuro, juntado aquilo que vivemos com aquilo que já éramos anteriormente!

Tivemos tempo para reflectir no passado, presente e futuro. Tempo para aprofundar pensamentos e tomar decisões. Ganhar novas referências. Melhorar enquanto pessoa. Decidir o caminho.

A principal conclusão é que o futuro é uma folha branca por escrever e só depende de nós o que fazemos com ele! Vamos a isso!

Think about it!