sexta-feira, 11 de abril de 2014

Congresso Agroin - 9 de Abril de 2014

Realizou-se na passada quarta-feira, dia 9 de Abril, no Centro de Congressos do Casino Estoril, o fórum Agroin. O fórum era direccionando para profissionais do sector agro-alimentar e a temática era "Re-inventar para Crescer". A organização esteve a cargo da revista "Vida Rural".

Como já havia mencionado nas publicações anteriores do Blog dos Bosques, é muito importante a presença em congressos, fóruns, workshops, acções de formação, etc e digo isto não só para a agricultura! Quando queremos entrar numa nova área de negócio é preciso sentirmos o pulso ao mercado, conhecer os principais players, quais as temáticas que se estão a discutir, que tendências estão a ser projectadas, perceber as dificuldades do sector e criar redes de contactos. Estes são apenas alguns exemplos das vantagens em estar presentes nestes eventos. 

No meu caso, que sou um principiante na área, a experiência não podia ser mais enriquecedora! Estar cerca de 10 horas a ouvir discutir o passado, presente e futuro do sector alimentar em Portugal é um privilégio. O objectivo é ouvir, ouvir e ouvir. Aprender, aprender e aprender. Sinto-me como uma esponja a absorver informação. E claro que não se deve acreditar em tudo o que se ouve ou ficar "encantado" com boas oratórias e ideias que parecem fantásticas. Mas é bom estar envolvido e ganhar novos insights para pensar e mais tarde explorar. É como lançar mais lenha para uma fogueira. 

As principais palavras mencionadas no congresso foram inovação, conhecimento, cooperativismo, desenvolvimento, futuro, exportação, criar valor, made in Portugal, profissionalização, dimensão e sustentabilidade. Todos os oradores e mesas de trabalho abordaram estes assuntos de uma forma directa ou indirecta.

A sessão de abertura ficou a cargo do ex-ministro Augusto Mateus. Com o auditório a encher-se de forma gradual (diga-se que esteve praticamente cheio, embora no final do dia já houvessem menos resistentes), o dia não podia ter começado da melhor forma pois os cérebros de toda a plateia ainda estavam frescos e ávidos de informação. A propósito de sustentabilidade, Augusto Mateus teve, na minha opinião, uma tirada bastante simbólica, engraçada e verdadeira: " Usar a palavra sustentabilidade como palavra de acção e não como chantilly para decorar conferências!". So true!!

O ex-ministro fez uma excelente palestra e focou-se na questão de que o país não deve repetir os erros do passado, deve ganhar posições para o futuro, tem que pensar em investir e não apenas em consumir, tem que incentivar as PME's do mundo rural e pensar muito bem a questão dos subsídios: não dar apenas por dar! Sobre a questão de aprender com os erros do passado, mencionou que as principais lições que devemos aprender enquanto empresários agrícolas são: vivemos num mundo global, não há empresas isoladas, não há sectores (há cadeias de valor!) e que o papel do ser humano é fundamental no ambiente competitivo dos dias de hoje. Deve-se desenvolver as pessoas e as suas competências. Trabalhar o capital humano!

As apresentações seguintes ficaram a cargo de Eduardo Vasconcelos da Bel e de Mauro Cardoso da Monliz. Ambas as apresentações focaram-se na parceria entre marcas e produtores. Quais são os principais desafios e como se pode desenvolver uma parceria que seja win win e diminua o risco para os dois lados. A principal conclusão é que todos têm que participar na criação de valor ao longo da cadeia de produção. Não pode haver pontas soltas, tem que haver entreajuda e tem que se trabalhar com seriedade e responsabilidade.

A mesa redonda que se seguiu foi composta por Luis Pinheiro da Lusomorango, Manuel Évora do Grupo Luis Vicente, Pedro Atalaya da ANPOC e José Manuel Gomes da Casa Prisca. A moderação esteve a cargo de Isabel Martins, directora da "Vida Rural", que teve sempre a capacidade de fazer perguntas desafiantes não só nesta mesa, mas ao longo de todo o dia. Por vezes não é fácil ser jornalista e colocar o dedo na ferida, mas esta publicação tem-se esforçado por discutir os assuntos realmente importantes e deve ser congratulada por isso. 

Esta mesa redonda falou da aposta na qualidade em nichos de mercado como forma de criar valor, aumentar as receitas e diminuir o risco. Foi excelente ouvir os casos da fruta desidratada ou dos cereais BTP. Bons exemplos de como se pode olhar para os mercados e para a produção de novas maneiras e não competir apenas na commodity.

Depois da pausa para o café, o GPP através de Luis Ramos, apresentou a estrutura das principais contas cultura em Portugal, desde a parte agrícola até à pecuária. Foi talvez a parte mais extensa do congresso, e podiam ter-se tirado mais conclusões, pois foi muito factual. Mas mesmo assim, deu para compreender as diferenças nos custos das diferentes actividades. A seguir, Pedro Avillez explicou como a Agroges trabalha em termos de metodologia com os seus clientes na questão de prever as rentabilidades agrícolas. A questão da criação de cenários alternativos que podem ocorrer consoante o comportamento das diferentes variáveis que afectam a rentabilidade, teve bastante enfoque.

Uma das apresentação mais esperadas (pelo menos para mim), era a de Jorge Tomé, Presidente da Comissão Executiva do BANIF. Após uma análise da conjuntura económica em Portugal ficaram 4 conclusões principais: os bancos têm crédito para atribuir, nenhum sector cresce sem o apoio dos bancos, a agricultura é um sector pojante e os bancos não sabem nada sobre o sector agrícola!! Gostei da frontalidade com que este Director do BANIF apresentou este desconhecimento do mercado agrícola, pois sinto que não foi dito com o intuito de mostrar uma fraqueza. Pareceu-me que afirmação foi feita com a vontade de aproveitar uma oportunidade e trabalhar em conjunto com os produtores agrícolas de Portugal. É esperar para ver!

Antes de almoço, ainda tivemos a oportunidade de ouvir Jorge Soares da Campotec falar sobre práticas vencedoras na produção de pêra rocha e que têm tido um grande impacto nos custos variáveis. Falou-se no pagamento aos apanhadores da fruta ser feito ao quilo e não à hora. E também da aplicação de fito fármacos nas árvores de fruto de uma forma mais eficiente, apropriada e taylor made. Ambas as medidas reduziram custos variáveis e tiveram grandes impactos na eficiência. Não é isto que todos queremos?

Após o almoço Carlos Gonçalves, da Mendes Gonçalves, fez uma excelente apresentação sobre a internacionalização da marca Paladim. Foi como um bom digestivo após o fantástico almoço que organização ofereceu aos participantes. De forma clara e transparente, falou das várias vertentes que se devem equacionar quando se internacionaliza uma marca: do estudo exaustivo do mercado de destino, da investigação e desenvolvimento necessários, da adaptação aos mercados locais (fiquei particularmente impressionado com o facto de terem packaging próprio para cada mercado e não porem etiquetas em cada embalagem a traduzirem os ingredientes) e do orgulho em ser Português e produzir em Portugal. Parabéns Paladim!

Para finalizar o congresso houve duas mesas redondas. As duas foram bastante acesas, o que é de congratular mais uma vez, pois discutiam-se assuntos importantes e é necessário falar nas coisas com frontalidade.

A primeira mesa, moderada por Luis Mira da INOVISA, contou com a presença Aristides Sécio, presidente da ANP (Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha), João Miranda, CEO da Frulact e Manuel Rocha, CEO da Adega de Borba. Todos falaram sobre os projectos das organizações que representam e dos desafios que têm pela frente. A mesa era suposto girar à volta da temática dos pontos fortes de Portugal na altura de abordar novos mercados. Mas a discussão acabou por ser outra, também bastante proveitosa a meu ver. Discutiu-se mais uma vez a necessidade do corporativismo, algo que tem sido transversal a todos os congressos a que tenho assistido. E também da necessidade da profissionalização das organizações de produtores. Só assim haverá dimensão, massa critica, poder negocial e criação de valor nas diversas fileiras de um mercado pequeno como é o de Portugal.

A segunda mesa, que girou à volta da temática da relação dos produtores com a Grande Distribuição, foi moderada de novo por Isabel Martins e contou com a presença de Domingos Santos da FNOP e Frutoeste, Duarte Xarepe da SRS Advogados, Francisco Mendes da Telles de Abreu, Joaquim Candeias do Intermarché e Pedro Pimentel da Centromarca. Estava em pulgas para este debate. Como ex membro da Distribuição Moderna e seguidor activo deste mercado queria ouvir o que tinham para dizer. 

Falou-se da nova lei anti dumping, na qual não fiquei muito esclarecido. Parece-me que os retalhistas vão conseguir continuar a disfarçar as rubricas que entram para a formação do preço de custo como bem lhes convier. A questão dos novos limites da multa ficar ao critério da ASAE também me parece polémica. Perdeu-se uma boa oportunidade de se fazer um diploma sério e que de facto protegesse produtores, retalhistas e acima de tudo consumidores. Durante a discussão ficou também patente alguma tensão entre a Centromarca e o Intermarché. Cada um a puxar a brasa para o seu lado através de frases bonitas e que têm significados e consequências muito mais profundas. Julgo que enquanto as marcas, produtores e retalhistas não equilibrarem os seus poderes negociais, não forem mais transparentes nas suas práticas e tentarem entender e ouvir o outro lado, vai ser muito difícil chegar a consensos. O fosso apenas vai continuar a aumentar!

O dia terminou por volta das 19 horas com umas pequenas palavras de Nuno Vieira Brito, secretário de estado da alimentação e da investigação agro alimentar. Falou do incentivo à inovação e do conhecimento como base para o futuro da agricultura! Isabel Martins ainda tirou algumas conclusões sobre o congresso e deu as boas vindas a todos os jovens agricultores. Senti-me bem acolhido neste novo meio que culturalmente tem fama de ser um pouco fechado. É bom que as pessoas percebam que nós, os jovens agricultores, estamos aqui para ficar e que não somos apenas o nome de um subsidio. Muitos vão entrar e sair porque não estão preparados, mas os que ficarem vão ser o futuro do sector em Portugal, por isso precisamos do máximo de ajuda possível!

Foi muito bom ter estado presente neste congresso. A Sociedade Agrícola Queirós, através do seu único trabalhador (eu!!) continuará a marcar presença nas vários eventos da área que forem ocorrendo por Portugal e com os objectivos muito bem definidos: ouvir, ouvir e ouvir. Aprender, aprender e aprender!

Think about it!