quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Regresso ao Nepal e Treking ao Base Camp Evereste.


Em Outubro de 2017, há cerca de um mês e meio, voltámos ao Nepal. Voltámos para ver os nossos amigos. Voltámos para ver a nossa família Nepalesa. Voltamos para ver aquele que é sem dúvida um dos países mais bonitos do mundo.


Nos últimos dois anos e meio da minha vida, cerca de 30 meses, passei seguramente cerca de 15 meses, ou seja cerca de metade do tempo, neste país plantado à beira dos Himalaias. E apesar de todo esse tempo, nunca tive tempo, disponibilidade e até vontade de passar essa experiência para o papel ou fazer prosas neste magnífico Blog dos Bosques. São tantas experiências e vivências que não consigo organizar toda a informação na minha mente e transformá-las em palavras. São muitas alegrias e tristezas. Muitas emoções e aprendizagens. Muitas pessoas e muita exigência.


Com o tempo, e no futuro, penso que as palavras começarão a sair com mais facilidade e conseguirei falar com mais clarividência sobre os fatos sucedidos. Desde o dia do terramoto a 25 de Abril de 2015, até à criação do movimento Obrigado Portugal e mais recentemente a nova aventura humanitária que dá por nome de Dreams of Kathmandu.


Mas enquanto isso não acontece, continuarei a visitar o país e a ajudar como posso. E esta última visita foi uma das melhores de sempre. Como habitualmente, ficamos hospedados no Hotel Dwarikas, um dos melhores hotéis de Kathmandu, onde eu e a Ghazal somos recebidos como filhos. A dona do Hotel, Sangita Shreshta, é como uma mãe para nós e tanto ela como a sua mãe Ambika, ou os filhos Sean e Vijay recebem-nos com amizade, afeto e carinho. Sentimentos espelhados na sinceridade com que nos abraçamos e olhares frontais olhos nos olhos. Eles sabem que nós vamos ajudar o Nepal até ao final da nossa vida e por isso recebem-nos de braços abertos. 


O nosso grande objetivo é sempre ajudar o Campo Esperança. O Campo original já não existe, mas cerca de 70 crianças estão agora hospedadas num “Hostel” localizado a 2 minutos da antiga localização. Desta forma, os miúdos podem continuar a frequentar a escola e não lhes perdermos o rasto. A construção das suas casas nos Himalaias, no vale de Duguna, continua a ser a grande prioridade e tanto este projeto como a gestão do “novo” Campo Esperança, estão a cargo da Fundação Dwarikas e da sua diretora, a grande e inspiradora Sangita Shreshta.



Mas para além do Campo, também decidimos envolver-nos noutros projetos como ajudar orfanatos e famílias carenciadas no Vale de Kathmandu. A palavra de ordem é fazer as coisas acontecer e intervir nas áreas da educação, nutrição, saúde e habitação. No fundo manter uma ligação ao Nepal para o resto da vida. Veremos onde este caminho da vida nos levará. Mas tanto eu como a Ghazal estamos felizes, empenhados e motivados com este novo projeto: Dreams of Kathmandu.


Mas esta viagem ao Nepal fica também marcada pelo concretizar de um sonho antigo: o trekking ao Campo Base do Monte Evereste localizado a 5364 metros de altitude. A porta para a montanha mais alta do mundo. Um desafio físico, mental e espiritual de grande exigência. 12 dias de trekking, 150 kms de caminhada com uma mochila às costas, pelas montanhas mais altas do mundo, os Himalaias.


A partida para esta aventura deu-se no terminal de voos internos de Kathmandu. Para se aceder ao Vale de Khumbu, onde se encontra o Monte Evereste, há que fazê-lo através de uma vila perdida nas montanhas nepalesas chamada Lukla. E para se chegar a Lukla há duas opções: um trekking de 7 dias ou então um voo para o aeroporto local, considerado um dos mais perigosos do mundo.

Escolhi a segunda opção. Acompanhado do meu guia e amigo Ramesh, seguimos numa avioneta de 15 lugares até à remota povoação de Lukla. E foi já banhado em adrenalina e suor que aterrei em segurança naquela pista de dimensões mínimas. Que alivio quando o avião parou… ufa!

E aí começou a grande jornada: caminhar montanha acima até ao Campo Base Evereste. Através das vilas de etnia Sherpa de Pakhding, Namche Bazar ou Tengboche, rodeado de Yaks e atravessando pontes suspensas de cortar a respiração. Sem palavras para descrever a magnitude da visão de montanhas como Ama Damblan, Pumori, Lothse e o próprio Evereste. Picos nevados que parecem deuses de barbas brancas sentados a ver o tempo passar. Locais de conquistas e glória ou heróis improváveis como Edmund Hillary e Tenzing Norgay Sherpa. Mas também locais de tragédia onde muitas vidas já foram colhidas. A taxa de morte daqueles que tentam escalar o Evereste é de cerca de 5%. Ou seja, 1 em cada 20 montanhistas morrem. Posso afirmar com segurança que há locais mais atrativos para fazer turismo…




Foi uma experiência única e que nunca irei esquecer. E certamente para repetir. Na minha mente, gostava agora de escalar algo acima dos 6.000 metros. É o próximo objetivo. Houve momentos em que tive algumas dificuldades na aclimatização e respiração. Algumas dores de cabeça, fadiga e falta de sono. Ao todo perdi 7 kgs em 12 dias. Mas verdade seja dita, rapidamente o corpo se habituou e até parecia que estava em casa! Portugal é um país de mar e marinheiros… mas não sei porquê sinto-me mais à vontade nas montanhas. Quando era criança sempre gostei mais de ir à Serra da Estrela do que ao Algarve.


Por isso… até já Himalaias e até já Nepal, vemo-nos para o ano!