quarta-feira, 16 de julho de 2014

Conferência Empreendorismo Agrícola

Realizou-se hoje, dia 16 de Julho, no Hotel Sheraton em Lisboa, a conferência de Empreendorismo Agrícola promovida pelo Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Millennium BCP.

Esta conferência foi o rematar de um conjunto de 6 conferências que se realizaram em diversas cidades portuguesas desde Fevereiro, entre as quais Porto, Vila Real e Santarém.

Ao todo, estiveram presentes 1200 pessoas nas diversas conferências, foram feitas 20 reportagens em quintas e participaram múltiplos players da agricultura desde cooperativas, empresas e os próprios agricultores. 

A Agricultura está na moda. Há cada vez mais gente a entrar e a desenvolver a sua actividade profissional no sector primário e de transformação.

Daí que é de saudar mais uma vez estas conferências que permitem aproximar as pessoas e diversos sectores da sociedade. Nestes fóruns são discutidas questões essenciais do presente e olha-se para o futuro.

O orador inicial, o Dr. Proença de Carvalho, em representação da Controlinveste, referiu esta questão e reforçou o facto de ter sido um orgão de comunicação social e um banco a organizar a iniciativa. 

Não há o hábito em Portugal de ver notícias sobre agricultura na comunicação social. Mas isso tem de mudar pois há muito boas empresas a actuar no sector, com bons modelos de gestão, inovação, renovação, competitividade e capacidade de exportação. Há que mostrar isso nos media.

Por outro lado o sector bancário. Um sector que desconhece a agricultura. Que desconhece os ciclos de produção e como tal não consegue fazer análises de risco exactas. A consequência é a falta de apoio nesta área, algo que o BANIF também já tinha admitido na conferência Agroin realizada em Abril no Casino Estoril.

Mas existe uma vontade da parte dos bancos em investir nesta área de tanto futuro para Portugal. 

Uma área que apesar de representar 4% do PIB, representa apenas 2% do crédito bancário atribuído. 

A balança agroalimentar em portugal tem um défice de 4 mil milhões de euros em valor e até 2020 o objectivo é zerar este indicador.

Sem o apoio dos bancos este objectivo não é possível. E foi dentro deste enquadramento que o Dr. Nuno Amado, presidente da comissão executiva do BCP fez a sua intervenção: o banco tem de conhecer melhor o sector e quer aumentar o crédito concedido aos agricultores.

A seguir, João Machado, presidente da CAP (Confederação de Agricultores de Portugal), fez uma intervenção de 30 minutos sobre os desafios da agricultura em Portugal. Entre os variadíssimas temáticas que abordou de forma clara e objectiva destaco:

- O investimento e o retorno na agricultura mede-se em décadas e não anos, porque o payback demora muito mais tempo.

- O ano de 2008 representou um ano de viragem na agricultura a nível mundial. A crise na produção de bens alimentares, nomeadamente nos cereais, fez disparar os preços e parece que despertou os agentes económicos e governos, para se prepararem para um futuro, onde em termos mundiais, será necessário duplicar a produção mundial de comida até 2050! 

- A nova PAC 2014-2020 assenta em dois pilares essenciais: produzir mais e quem não produz não recebe apoios! Em relação à antiga PAC vamos receber mais ou menos a mesma coisa, isto num contexto onde há mais estados membros a requisitar apoios.

- Esquecemos a agricultura durante muitos anos em Portugal mas já se começa a ver os primeiros sinais de recuperação.

- Há 3,1 milhões de hectares com potencial agrícola no país e actualmente apenas são utilizados 2,2 milhões. Portanto há 900.000 hectares com novo potencial de exploração.

- Há situações que ainda têm de ser trabalhadas em Portugal nomeadamente o custo dos factores de produção. A electricidade é das mais caras da Europa e a água vai pelo mesmo caminho. O exemplo do Alqueva, que tem actualmente 60.000 hectares em irrigação e mais 60.000 a caminho, tem um custo da água caríssimo. A partir de determinada altura do ciclo de produção não é viável usar a água do El Dorado português - nos primeiros anos existem descontos na utilização da água, descontos esse que vão diminuindo ao longo do tempo e desaparecem no ano 8.

- Por fim, João Machado abordou as importância da investigação dando o azeite como exemplo. Apesar de estarmos a fazer um excelente trabalho nesta fileira, estamos a usar variedades espanholas porque não fizemos investigação suficiente dentro de portas.

Após um coffee break, assistimos a uma mesa de redonda composta por diversas personalidades ligadas à agricultura e também Luís Pereira Coutinho do BCP.

Tivemos nada mais, nada menos que o Sevinate Pinto, ex-ministro de Agricultura, Nuno Russo, coordenador da bolsa de terra do Ministério da Agricultura e Joaquim Pedro Torres, presidente da Valinveste.

Esta mesa redonda foi coordenada pelo jornalista Peres Metêlo e decorreu num ambiente de excelente disposição.

As principais conclusões dos vários intervenientes foram:

- Não se pode considerar a agricultura apenas no sector primário, pois no caso dos subsídios por exemplo, a agro indústria já absorve metade do valor à disposição.

- Aprofundou-se a questão da investigação e foi-se um pouco mais longe falando do conhecimento. Segundo Sevinate Pinto, "Investimento sem conhecimento não funciona no médio longo prazo". É preciso fazer o transporte do conhecimento das universidades e centros de investigação para as pessoas e empresas que trabalham a terra. Trata-se sem dúvida de um grande desafio para Portugal, tendo em conta a nossa conhecida dificuldade cultural em partilhar conhecimento e nos associarmos.

- As condições de solos, clima, drenagens, etc em Portugal não são as mais favoráveis, as chamadas condições endafoclimáticas. O principal factor limitante é a água. Temos que ser mais eficientes na sua utilização. Para além disso os solos têm pouca matéria orgânica e são muito ácidos na sua grande maioria.

- A água do Alqueva é cara pois são necessários grandes custos energéticos para levar a água para os campos. Porquê? Porque a cota da água encontra-se a um desnível médio de 100 metros dos campos agrícolas!!

- Referindo-se à questão da necessidade de duplicar a produção mundial de comida, Sevinate Pinto referiu que se deve mudar o prisma de abordar o assunto pois existem 1,3 mil milhões de obesos no mundo e 30% de desperdício alimentar ao longo de toda a cadeia de valor... pois é... 

- Sobre a quantidade de terra disponível em Portugal foram revelados factos bastante interessantes. Há 125.000 hectares de terra em Portugal que já foram utilizados em Agricultura e já não são. Há 13.500 hectares de terras disponíveis na bolsa de terras (não será pouco face ao potencial de 900.000 hectares anunciado anteriormente?). 75% dos 300.000 agricultores existentes em Portugal têm explorações com menos de 5 hectares (é preciso desburocratizar os regimes de apoio e fiscal a estes produtores). 1% dos agricultores têm 12% da superfície agrícola útil (SAU).

A conferência terminou com uma intervenção entusiasmada da Ministra da Agricultura Assunção Cristas.


Agradeceu a todos os intervenientes e organizadores das diversas conferências. Reforçou o objectivo de equilibrar a balança agro alimentar em 2020. Os jovens agricultores e a ajuda que estes vão necessitar foi também abordada pela ministra. Afinal, apenas 2% dos agricultores em Portugal têm menos de 35 anos e tem que haver sangue novo se queremos renovação! 

Para terminar, falou dos quatro pilares de desenvolvimento da agricultura portuguesa. Os quatro is: investimento, industrialização, inovação e internacionalização.

Em conclusão, ficou reforçada a ideia de que a agricultura de facto está na moda. Mas há muitos desafios para quem quer entrar ou para quem já está na área. Desafios técnicos, de envolvente, de mercado, de criação de valor e muitos mais. 

É necessária uma grande preparação para vencer na agricultura mas também parece que há algumas condições reunidas: há terra disponível, os bancos querem apoiar, há subsídios e existem cada vez mais associações transportar conhecimento e a promover os produtos junto do mercado.

A ver vamos!

Think about it!