segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Dicas para a Maratona.


No último ano dediquei-me de alma e coração a um novo hobbie: correr os 42,195 kms da maratona.

E foram três as maratonas efetuadas no ano de 2018: Tessalonica, Estocolmo e Porto.  Momentos tão épicos que deviam ter sido narrados pelo Morgan Freeman.

No mês passado, dia 4 de Novembro, corri a Maratona do Porto com um novo recorde pessoal: 3 horas, 20 minutos e 42 segundos. Ou seja, 42 kms a um ritmo de 4,43 minutos por quilometro. Já é uma marca muito interessante e mais perto daquele que é o meu novo sonho e objetivo: completar a Maratona em menos de 3 horas. Um dia lá chegarei.


E com tantos treinos efetuados em 2018, gostava de deixar aqui algumas considerações sobre a preparação para a maratona. Vi documentários, filmes, comprei revistas e li livros sobre a matéria. Mas acima de tudo treinei bastante… e estes conselhos e opiniões derivam sobretudo dessa experiência.


EQUIPAMENTO

Cada um deve escolher o equipamento com que se sente mais à vontade, mas sempre com 3 objetivos: melhorar a performance, aumentar o conforto e diminuir risco de lesões.

Começando de baixo para cima.

Recentemente, saiu um artigo na revista Runners World que comparava a melhoria de tempo na maratona usando diferentes tipos de ténis. Os Nike Vaporfly 4% lideravam a tabela com melhorias de tempo precisamente na ordem dos 4%. Eu comprei estes ténis e não gostei, acabando por voltar aos meus Asics Gel Nimbus 20. Não quer dizer que uns ténis sejam melhores que os outros, mas para o meu pé e estilo de corrida prefiro os Asics.

Nuns ténis, procuro sempre ter 1 ou 2 tamanhos acima pois já sei que os pés incham durante os treinos e na corrida. Procuro ténis que sejam confortáveis do ponto de vista do contacto com o pé (almofadados interiormente), e na manutenção da temperatura, ou seja que tenham algum canal para arejar os pés. O tipo de sola também é muito importante, e deve ser feito de algum tipo de espuma que permita absorver ao máximo o impacto com o solo e minimizar a possibilidade de lesões.

Cada corredor tem uma maneira diferente de colocar o pé no chão, a chamada pronação. Este aspeto deve ser tomado em conta no momento da compra. Ao adquirir os ténis falar com o vendedor ou consultar um ortopedista para saber se estão a adquirir o equipamento certo para o vosso tipo de pronação.

Sobre as meias. Antes costumava usar meias de algodão ou meias para desporto compradas ao acaso numa loja da especialidade. É essencial ter meias adaptadas para atletismo e que permitam aos pés respirar evitando a formação de bolhas. As meias de algodão mantêm a humidade no pé e provocam calor e fricção no mesmo. As melhores meias para correr são meias curtas feitas de fibras sintéticas. Há várias marcas que fornecem este tipo de equipamento.

Nas pernas. Quando está frio gosto de usar um género de “meias” que cobrem as pernas desde o tornozelo até ao joelho. São como uma espécie de mangas e também existem para os braços. É comum ver o recordista mundial da Maratona, Elyud Kipchoge a usar este equipamento nos braços. Para além da proteção térmica estas mangas nos braços e pernas melhoram a circulação e dão uma sensação de proteção como se estivéssemos a usar uma armadura.

Calções. Os atletas de alta competição usam calções tão curtos que quase parece roupa interior! O objetivo é obviamente aumentar a mobilidade. Na minha opinião, e dado que não sou atleta profissional, os calções devem ter as seguintes características: serem 100% polyester (nunca calções de pano ou algodão, para longas distâncias podem fazer irritações na pele), o comprimento deve ser metade do tamanho entre a cintura e o joelho, ter algum género de bolsos (para colocar headphones, gels de corrida ou uma pequena garrafa de água), ter um cordel para apertar na cintura. Alguns calções têm um forro interno que se assemelha a um fato de banho ou um género de roupa interior. Não tenho uma opinião definida sobre este forro, mas prefiro sem o mesmo. Debaixo dos calções apenas uso umas boxers.

T-shirt. 100% polyester e que tenha uma boa respiração e sensação de conforto. Quando está frio ou chuva devemos usar reforços. Ou seja, podemos colocar uma t-shirt de mangas compridas ou uma sweat-shirt por cima da t-shirt se estiver frio. Ou um casaco de chuva se estiver a chover. O mais importante a considerar é que devemos vestir algo que esteja de acordo com a temperatura. Em provas com mais de 12 graus uma t-shirt chega. Pode estar frio no início, mas rapidamente o corpo aquece. Se estiver chuva e calor o casaco de chuva deve ser leve. Se estiver mesmo muito frio, abaixo de 5 graus, proteção para as mãos e pescoço é fundamental, senão corre-se o risco de sofrer de hipotermia. Mas resumindo, o principal critério de escolha de roupa é sem dúvida a temperatura. Em dias de muito sol usar muito creme solar principalmente no rosto e pescoço.

Não concordo com várias pessoas no youtube ou em blogs mencionam nunca usar roupa nova numa prova. Claro que é um risco enorme haver uma costura qualquer a irritar a pele ou usar uns ténis novos que façam bolhas. Mas se for um corredor experiente e que conheça bem os equipamentos e sinta que esta ou aquela peça vai melhorar a performance, não tem mal nenhum avançar. Um equipamento velho também pode falhar a qualquer momento! Recomendo, no caso de comprar qualquer coisa nova, dar uma corrida de 1 km no dia antes da corrida e experimentar.

Outros equipamentos. Há alguns acessórios que não dispenso na corrida e contribuem para o bem-estar e o enriquecer da experiência. Seja nos treinos ou competição. Fita no cabelo de algodão ou polyester, para que o suor não escorra na cara. No pulso, um punho de algodão, género aqueles que os tenistas usam limpar o suor do rosto. Relógio para monitorizar performance. Comecei com o Apple Watch ligado à app da Nike. Depois mudei de app para o Strava. Depois mudei de relógio para o Suntoo. E agora voltei ao Apple Watch. Portanto a minha fórmula de sucesso é usar a App Strava no Apple Watch. Mas outros corredores usam Suntoo ou Garmim e estão satisfeitos. São escolhas pessoais. Eu escolho o Apple Watch porque nunca me deu problemas no GPS, a ligação com a app Strava é perfeita, consigo medir o VO2 na app saúde do Iphone e consigo ouvir música através do relógio, ou seja, NÃO preciso ter o telemóvel quando vou correr. O único problema que encontro no Apple Watch é que a medição do ritmo cardíaco por vezes vai abaixo! É um pouco frustrante e nesse campo a marca Suntoo é muito superior. Por fim, e como já indiquei não dispenso a música nos ouvidos. Tem sido uma verdadeira odisseia encontrar e usar uns headphones que não se estraguem devido ao suor. Já estraguei dois Beats da Apple, uns JBL e uns Soundsport da Bose. Marcas à parte, o importante nos phones é que estes sejam wireless com conexão Bluetooth ao relógio, sejam à prova de água e tenham um botão qualquer para regular o volume ou mudar de música.


TREINO E NUTRIÇÃO

Na minha modesta opinião, a paixão e a atitude são fundamentais em qualquer projeto nas nossas vidas. A forma como à partida encaramos os diversos desafios que se vão colocando no nosso caminho, fazem uma grande diferença no resultado final. Mas muitas vezes, não chega ter uma grande atitude e paixão. Não são suficientes.

É preciso preparação.

E no caso da maratona, a palavra PREPARAÇÃO assume contornos ainda mais importantes. Não é possível completar a maratona sem treino. Não é possível completar os 42,195 kms sem colocar muitos quilómetros nas pernas nas semanas anteriores à competição. Claro que se consegue chegar ao fim em 6 horas parando aqui e ali. Refiro-me a fazer uma maratona sem pausas e num tempo inferior a 4 horas. É preciso endurance. E para ter endurance é preciso treino.

Os primeiros 30 kms de uma maratona são só para aquecer! E sem a preparação devida, os últimos 12 kms tornam-se um autêntico inferno e podem assemelhar-se a 50 kms!!

Para as minhas maratonas, treino 5 vezes por semana durante as 8-10 semanas anteriores à prova. Um total de 40-50 treinos. Descanso dois dias por semana, normalmente terças e sextas-feiras. O descanso é tão ou mais importante que uma sessão de treinos. Os músculos e o corpo precisam de tempo para recuperar. Senão mais cedo ou mais tarde as lesões vão começar a bater à porta.


Semanalmente corro entre 40 a 60 kms. As distâncias percorridas vão aumentando à medida que a data da prova se aproxima. Um exemplo de um programa de treinos para mim seria o seguinte:

Domingo: 5-8 kms + treino de força pernas. Incluir 30 minutos num tapete no chão com 10 minutos para alongamentos, 10 minutos rolo de massagem e 10 minutos abdominais.

Segunda-feira: Treino de intervalos. O treino de intervalos é fundamental para aumentarmos a força do coração. Neste género de treino, o ritmo cardíaco aumenta bastante e desta forma o coração habitua-se a trabalhar com cadências maiores e a transportar mais oxigénio para os músculos. Exemplos de intervalos: 20 vezes 100 metros com 1 minuto de intervalo. 10 vezes 200 metros com 2 minutos de intervalo. Incluir 20 minutos de alongamentos.

Quarta-feira: 10-12 kms + treino de força parte superior corpo (braços, costas, peito, core). Incluir 30 minutos num tapete no chão com 10 minutos para alongamentos, 10 minutos rolo de massagem e 10 minutos abdominais. Este treino é importante para as contas finais de uma maratona. Alguém que consiga correr 10 kms em menos de 45 minutos de uma forma regular, deverá conseguir fazer a maratona em menos de 3 horas e 30 minutos. O treino de core é fundamental para aumentar a performance e chegar ao fim de uma maratona. Abdominais, costas e glúteos fortes, permitem correr mais rápido e ter uma postura correta durante a corrida.

Quinta-feira: 5-8 kms + 30 minutos exercícios de força, exercícios dinâmicos (rotação braços, pernas e cintura) e alongamentos. O treino de força é essencial para aumentar a endurance. Não tenho base cientifica para sustentar esta informação e é necessário ter cuidado porque mais músculos, podem trazer mais peso. Mas mais força traz mais equilíbrio ao corpo e digamos mais capacidade de explosão e velocidade.

Sábado: Corrida longa. Todas as semanas devem ter um dia de corrida longa. Nas 2/3 semanas anteriores à prova é fundamental fazer uma corrida de 30-35 kms. Esta corrida é fundamental para a preparação final. Esta corrida é o bilhete de ouro para ganhar endurance e conseguir terminar a maratona.

A maratona é uma prova que requer uma grande capacidade aeróbica, ou seja é necessário que o corpo consiga absorver, processar, transportar e transformar em energia, grandes capacidades de oxigénio. Esta capacidade aeróbica desenvolve-se precisamente através de MUITO treino e sessões de recuperação. Sucesso = Treino + descanso. Esta é a fórmula mágica.

Em relação à nutrição, recomendo consultar um especialista ou alguém que tenha conhecimentos mais profundos sobre o assunto. Mas deixo aqui algumas dicas que têm funcionado para mim. Em primeiro lugar, relembrar que os suplementos nunca substituem os alimentos. Podem tomar-se vitaminas, proteínas, glutaminas ou cafés. Mas é necessário ter uma alimentação equilibrada e beber muita água. E o que significa uma alimentação equilibrada? Significa, enquanto indivíduos, ingerirmos as quantidades certas de hidratos de carbono, proteínas, gorduras boas, vitaminas e minerais! E tentar evitar a todo o custo fast food (rica em hidratos de carbono refinados), açucares, tabaco, álcool e as chamadas gorduras más. 

Os hidratos de carbono são fundamentais e podem ser adquiridos na forma de pão, esparguete e arroz por exemplo. Normalmente não como hidratos de carbono após as 17 horas, mas como bastantes ao pequeno almoço e almoço. Os hidratos de carbono são o melhor amigo do corredor. Se tiver à fome à noite antes de me deitar, bebo um copo de leite com chocolate e dois biscoitos de aveia sem açucar e ricos em hidratos. Jantar normalmente sopa, carnes brancas/peixe e uma salada. 3 dias antes de uma grande maratona é preciso comer muitos hidratos de carbono. O nosso corpo permite-nos “armazenar” até 2000 calorias em hidratos de carbono.

Cortei completamente o açúcar da minha alimentação. O açúcar fornece energia, mas obriga o coração a fazer um esforço muito maior para a utilizar, aumentando brutalmente a frequência cardíaca. Há outras formas de açúcar como a frutose nas frutas e se gostamos de algo doce podemos colocar mel no café. O consumo de sal também deve ser moderado, mas não esquecer que o sal é essencial para a produção de eletrólitos. Quanto às gorduras, elas são essenciais para um corredor pois também são uma fonte de energia, mas podemos consumir gorduras boas como as que encontramos no abacate ou salmão.

O consumo de proteínas é muito importante para o reforço muscular e dos ossos e deve ser feito na forma de carne, peixe, quinoa, ovos etc mas atenção à ingestão das mesmas antes de um treino ou da maratona. Isto porque as proteínas necessitam dos hidratos de carbonos para serem decompostas no organismo. E desta forma, corremos o risco de usar desnecessariamente os hidratos de carbono que acumulámos anteriormente.

Em relação a líquidos bebo pelo menos 1,5 litros de água por dia. Todos os dias! No dia da prova, bebo 1 litro 4 horas antes, para poder ir à casa de banho antes de começar e estar bem hidratado. Em relação a ir à casa de banho, normalmente é importante ir para a maratona de barriga vazia. Por isso como o jantar do dia anterior, 12 horas antes de acordar de modo a poder fazer um bom “número 2” ao despertar pela manhã…

Durante os treinos ou na maratona é fundamental ter uma boa hidratação. A minha regra de ouro é beber qualquer coisa a cada 30 minutos, seja água ou uma bebida desportiva.

Alguns alimentos que consumo quase diariamente/semanalmente e me têm ajudado nos meus treinos e maratonas: bananas, maçãs, nozes, amêndoas, pistachios, alface, tomate, cebola, alho, iogurte, cereais de aveia, quinoa, abacate, café, mel, galinha, salmão, pão de cereais (mais escuro), azeite, batata doce, biscoitos de aveia, leite com chocolate, doce de morango sem açúcar, arroz, esparguete, feijão verde, brócolos, lentilhas, beterraba, ovos e sumos de fruta naturais (laranja, maçã, romã, cenoura e ananás).

Durante a corrida procuro suplementar-me com géis de corrida, normalmente 5. Escolhi a marca Powerbar, mas há outras boas que vale a pena experimentar.

E assim ficam as dicas que achei mais importantes. Sinceramente há muito mais por dizer nomeadamente na questão do treino e suas variantes como a velocidade, a força, o core, o VO2, etc 

Mas são dicas gerais e têm funcionado comigo. O mais importante mesmo é divertirmo-nos e gostarmos do que fazemos.

Neste momento já estou a treinar para a Maratona de Barcelona a 10 de Março de 2019. O sonho continua vivo: fazer a maratona em menos de 3 horas!!
Think about it!

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Olá Vicente!

Olá Vicente,


Nasceste numa sexta-feira por volta das 8.30 da manhã, hora de Teerão, no Hospital de Laleh. A tua primeira fotografia foi o teu tio Amir que a tirou. As minhas mãos também aparecem na foto. Tinhas uma hora de vida aqui.


O parto foi feito de cesariana. A médica diz que o cordão umbilical dava duas voltas ao pescoço.

Acabei de ter ver pela primeira vez. És a coisa mais bonita que alguma vez vi na vida



A tua mãe Ghazal está bem e feliz. Tinha muito medo que lhe acontecesse alguma coisa durante o parto. 



A gravidez durou 39 semanas e correu tudo normalmente. Deste alguns pontapés ao longo do tempo... mas aquilo que a tua mãe mais sofreu foi com as dores de costas. És um malandro! 

Segundo as nossas contas, foste concebido na cidade de Marrakech em Marrocos, um pouco antes da passagem de ano de 2017 para 2018. Para além das raízes europeias e asiáticas, ficas também com uma costela africana.

Na barriga da tua mãe já viajaste a Marrocos, África do Sul, Moçambique, Grécia, Turquia, Nepal, Rússia e Portugal. E até assististe ao vivo no estádio, ao Portugal-Irão, jogo a contar para o Mundial 2018. 

O mundo em que nasces é um mundo global. Aproveita-o e conhece-o. Mas orgulha-te sempre de onde vens e quando puderes regressa às tuas raízes. Nas horas difíceis, é lá que encontrarás as tuas respostas.



A tua herança não é só a minha e da Ghazal. Antes de nós, os teus avós, bisavós, trisavós, etc todos lutaram arduamente por um lugar ao sol e por encontrar a felicidade no caminho que lhes foi colocado pela frente. Todos se tentaram superar e foram honestos no trabalho e com os outros.  



O destino dos nossos genes é viver tudo ao máximo, sempre a explorar com respeito e curiosidade, aquilo que nos rodeia. Os teus olhos verão sempre o copo meio cheio e o romantismo. Viverás as emoções como uma eterna noite de verão e a racionalidade como uma fria manhã de inverno. Cada qual com as suas belezas e armadilhas. Dificilmente negarás a ajuda ao próximo.



Foste desejado e imaginado. Serás amado e apoiado. Faz as tuas escolhas e segue o teu caminho. Cá estaremos para te ajudar no que pudermos.


Teerão, 21 de Setembro de 2018, 30 de Shahrivar de 1397.


Pedro Queirós












sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Mundial da Rússia 2018


Entre os dias 14 de Junho e 16 de Julho de 2018, realizou-se na Rússia, a grande festa do Mundial de Futebol.

De 4 em 4 anos, as 32 seleções mais fortes do mundo reúnem-se para disputar entre si o título da equipa campeã mundo. Infelizmente Portugal nunca ganhou… essa honra até hoje cabe apenas a poucos países como o Brasil, Alemanha, Itália, Uruguai, Argentina, Espanha, França e Inglaterra.

Mas o Mundial de Futebol é muito mais que uma competição desportiva. Para além de ser o evento com mais audiências a nível global, é aqui que os grandes jogadores e equipas se tornam imortais.

Neste evento são criadas lendas. Como o caso de Maradona no México 86. Beckenbauer e Cruyf no Alemanha 74. Ou o escândalo criado pela derrota brasileira em pleno Maracanã em 1950. Momentos únicos na carreira dos jogadores e na memória dos adeptos.

Com o passar dos anos, a competição tornou-se num reflexo do profissionalismo e milhões que giram à volta do desporto rei. A FIFA não anda a brincar… com estádios novos e tecnologia de ponta nas transmissões, os adeptos mergulham na febre do futebol durante um mês. Seja ao vivo nos estádios ou nas ruas dos seus países, os adeptos vestem-se e pintam-se a rigor. Em muitos países à hora do jogo não se trabalha. Cada jogada é vivida como se fosse um caso de vida ou morte. E no final uns riem e os outros choram.  

Este ano tive a sorte de viajar com a minha família do Irão até ao Mundial da Rússia e foi simplesmente ESPETACULAR!! Durante 15 dias, assistimos à festa do futebol nas ruas de Moscovo e São Petersburgo, com milhares de adeptos a celebrar, cantar e dançar. Assistimos ao vivo a 3 jogos (Marrocos-Irão, Portugal- Marrocos e Portugal-Irão), e as expetativas não saíram defraudadas. Nos dias de jogo, os níveis de adrenalina e excitação sobem tão alto que praticamente não há palavras para descrever os sentimentos vividos.

Sendo português de gema, também torci pelo Irão e fiquei contente com o empate entre ambas as equipas a 1-1. Há que viver as coisas com desportivismo e sem extremismos. Portugal é muito superior enquanto equipa mas o Irão está no bom caminho e os adeptos vivem o jogo com muita paixão e intensidade!

O povo Russo recebeu bem os adeptos do Mundial e está de parabéns pela excelente organização que proporcionou. Tudo correu bem e ainda aproveitámos para fazer passeios culturais como ir ao Museu Hermitage em São Petesburgo, ou à Praça Vermelha em Moscovo. O nosso filho viu tudo na barriga da Ghazal e gostou muito!

Foi uma grande emoção estar presente nesta grande festa do Futebol. Na final, a França ganhou com justiça e mérito a uma Croácia aguerrida! Venha o próximo Mundial daqui a 4 anos!












sexta-feira, 8 de junho de 2018

O dia em que eu coxeei durante 32 kms em Estocolmo.



Na linha de partida estavam 30.000 atletas. Eu era um deles. Um total de 102 nações representadas.
Mais que fazer uma corrida, parecia que íamos para a guerra. Olhares concentrados e aguerridos. Músculos tensos e respiração curta. Um silêncio de cortar a respiração.

Quando faltavam três minutos para o tiro de partida, uma qualquer diva sueca dirigiu-se a um palanque no alto de uma ponte, e cantou o hino da Suécia. Ao meu lado havia pessoas a chorar. Quando o hino terminou, 5 aviões da força aérea em formação triangular, passaram rente às nossas cabeças em alta velocidade, deixando atrás de si um rasto de fumo branco.

Foi então que se ouviu um estridente “PUM”!!
Estava dada a ordem para atacar os 42 quilómetros e 195 metros da Maratona de Estocolmo.


O primeiro quilómetro de uma maratona é tão incaracterístico que se torna quase cómico. Milhares de pessoas com um ritmo diferente a tentar conquistar o seu espaço. Uns tentam passar pelo meio, outros pelos lados. Não há como evitar encontrões ou algumas rasteiras. Só posso descrever o processo com uma palavra: caos.

Mas após 5 ou 10 minutos, como que por força divina, o espaço aparece e o foco na corrida começa.

Naquele sábado, 2 de Junho de 2018, eu ainda não sabia bem no que me estava a meter. Ou melhor, saber sabia, mas não podia prever as dificuldades com que me ia deparar.
A minha confiança estava em alta. Apenas dois meses antes, a 1 de Abril de 2018, corri uma maratona na Grécia com o fantástico tempo de 3 horas e 33 minutos.

Desta vez o meu objetivo eram as 3 horas e 15 minutos. Para isso preparei-me com afinco durante 8 semanas. Por exemplo, duas semanas antes da maratona em Estocolmo, corri a meia maratona em Teerão com o tempo de 1 hora e 37 minutos. Uma boa performance tendo em conta que a capital do Irão se situa a 1500 metros de altitude.
No entanto, durante essas 8 semanas, uma pequena lesão na virilha começou a atormentar-me… de repente vinha e depois ia… depois voltava… os sintomas eram basicamente uma dor excruciante e sensação de fraqueza na perna. Alguns dias antes da corrida não havia sinais da lesão, por isso estava motivado e confiante para o meu objetivo.

Mas voltando à corrida… após o tal primeiro quilómetro confuso, pus os olhos na estrada e concentrei-me na minha missão. Estava um dia espetacular numa cidade espetacular!

Aconselho toda a gente a visitar Estocolmo, em particular no verão quando está menos frio. A organização marcou a maratona para o meio dia com medo do possível frio matinal que por vezes se faz sentir na Escandinávia. Nos dias anteriores à corrida, ouvi vários relatos da mítica corrida de 2012 em que as temperaturas chegaram aos 4 graus! Mas as previsões saíram ao contrário e por volta do meio dia os termómetros marcavam 30 graus!

Mas nem isso me ia parar. Sou português do sul da Europa, não tenho medo do calor e com a hidratação certa não vou ter problemas… pensava eu!
Portanto tudo estava bem encaminhado. Tinha o equipamento certo, banda sonora perfeita nos ouvidos e estava motivado! Era só correr e cumprir o objetivo!

Fiz os primeiros 5 kms em 23 minutos, ou seja, uma cadência de 4 mins e 35 segundos por quilometro. Tudo a correr bem.

Mas foi então que aconteceu… o fado que de certa forma eu já previa… ao km 8, a lesão na virilha atacou mais forte que nunca… e apesar de ter tomado comprimidos para as dores, a sensação de dor era quase insuportável. Continuei durante uns 2 kms a ver se passava. Tinha dores, mas o corpo estava quente e conseguia correr.
Mas não dava. Tinha que parar e tomar uma decisão. Sentei-me na estrada e pus as mãos na cabeça.

Faltavam 32 kms e não conseguia mais.

O natural era desistir.
Mas não podia. Quando desistimos uma vez torna-se um hábito. E não podia dizer ao meu filho que vem a caminho que tinha desistido a meio de uma maratona!

Por isso decidi continuar. A coxear. A chorar. Num esforço brutal como nunca antes tinha feito na vida. Fazendo cada metro com muito sacrifício. Devido à forma como corria, novas dores em novos locais começaram a aparecer como os joelhos e músculos das pernas.
Com o calor e o sofrimento, comecei a sentir devaneios de loucura. A música nos meus ouvidos parecia mais lenta e enrolada. O controlo emocional estava a escapar-se. E como não? Lembro-me de passar no Km 30 e já não tinha nada para dar… como ia fazer os 12 kms e 195 metros que faltavam?


Nas estações de abastecimento de água, sedento e desidratado, atirava-me contra as bancas e apanhava dois ou três copos que continham o precioso líquido. Na mesma altura, dezenas de corredores tentavam ocupar o mesmo espaço e íamos uns contra os outros, roçando os braços e pernas molhadas uns nos outros, como se estivéssemos numa qualquer orgia ou algo semelhante. Durante o percurso, havia uma espécie de mangueiras a jorrar água, com o objetivo de refrescar os participantes. Tenho a vaga memória, de passar nestes duches e sentir a água gelada a bater na minha pele quente e a dizer “acorda, acorda, vamos para a frente!!”.

Mas com tantas adversidades eu não era o único a sofrer. Havia pessoas no chão a ser assistidas por médicos. Outros foram para o hospital devido a lesões ou desidratação. Muitos desistiram a meio.

Mas depois via idosos a correr com um enorme sofrimento estampado no rosto. E via também cegos e pessoas em cadeira de rodas. E aí sentia-me inspirado e com força para continuar.

Ao final de 4 horas e 39 minutos, entrei no Estádio olímpico de Estocolmo e completei a maratona! 

Quando passei a linha da meta, o meu nome e a bandeira de Portugal apareceram no placar eletrónico. Acabei nos 9000 primeiros e recebi uma medalha. Foi um feito simplesmente épico e que nunca mais esquecerei. Apesar de todas as contrariedades, a felicidade de completar mais uma maratona justificou o sacrifício!
E assim foi o dia em que coxeei durante 32 kms em Estocolmo.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Nepal 2018 - Estamos em casa.


Mais uma vez consegui ver o Monte Evereste antes de aterrar em Kathmandu.
Olhar para os Himalaias, através da janela do avião, e tentar identificar as diferentes montanhas da cordilheira mais alta do mundo, já se tornou um dos meus passatempos preferidos.

No meio de tantos picos nevados, descobrir o Evereste é fácil. Para além de ser a montanha mais alta do mundo, a sua proximidade com Lothse e o vale côncavo que se forma entre ambos, fazem desta zona um alvo fácil de identificar. E a partir daí, é olhar para lados, e descobrir outros picos famosos: Nuptse, Cho Oyu, Makalu ou Kangchenjunga. Arrepia-me ver estas montanhas ao vivo. Locais de aventuras, glória e tragédia.  

No passado dia 17 de Maio de 2018, viajei com a Ghazal para Kathmandu. Foi a primeira viagem ao Nepal do nosso filhote! Ainda na barriga da mãe, mas já com 22 semanas!


Para mim, no entanto, foi a 13ª vez que aterrei em Kathmandu nos últimos 3 anos, contando claro, com uma vez que cheguei a pé.
Sempre que o avião toca a pista do aeroporto de Tribhuvan, uma sensação de euforia percorre-me a espinha. 
Estamos em casa.
O objetivo principal da nossa viagem é continuar a acompanhar os projetos solidários em que estamos envolvidos. O nosso movimento Dreams of Kathmandu, está mais ativo que nunca e este ano de 2018, planeamos distribuir cerca de 15.000 € nas diversas áreas em que estamos envolvidos. 
Não deixem de visitar todos os pormenores em https://dreamsofkathmandu.blogspot.com/
Dreams of Kathmandu é a nossa visão de apoio sustentável ao Nepal e o motivo para continuarmos a visitar o país até ao fim das nossas vidas. Não queremos virar as costas aos nossos amigos. Queremos vê-los crescer e crescer com eles. Para nós, Pedro e Ghazal, é também um legado que queremos deixar aos nossos descendentes. 
Dreams of Kathmandu é olhar as pessoas olhos nos olhos e com amizade. É não ter medo de fazer e cumprir promessas. É aplicar 100% dos donativos recolhidos, sempre com transparência, honestidade e detalhe. Não somos nenhuma ONG nem temos parcerias institucionais. Tudo o que fazemos é pelo bem-estar das pessoas. A nossa dedicação é incondicional e a verdade não é negociável.
Ficamos instalados no Hotel Dwarikas, o nosso "ninho" no Nepal. 
Sempre que entro neste local, não consigo afastar do meu espírito, uma sensação de humildade e estupefação. É como se estivesse a entrar noutra dimensão, onde o espaço e o tempo têm vontade própria. 
Desde logo somos recebidos de forma calorosa pelo staff que nos oferece um khada, o cachecol nepalês, símbolo de boas vindas. No Hotel Dwarikas o ar cheira a flores, velas e gengibre. As paredes, janelas e o chão são feitos de tijolo vermelho, madeiras negras e granitos. Há arvores, arbustos e plantas de várias espécies, muitas enroladas em estátuas e edifícios do hotel, como se estivéssemos numa cidade perdida da América do Sul. Há lianas, macacos e pássaros. Há água fresca a jorrar de fontes e nenúfares verde esmeralda. Há tributos a várias religiões na forma de símbolos, janelas ou altares, principalmente Budistas e Hindus. Hóspedes de várias nacionalidades convivem de forma calma e pacífica. Os empregados sorriem e vestem trajes das várias regiões do Nepal. Há reuniões de embaixadores e agentes de trekking vêm ao hotel encontrar-se com clientes. Sacos gigantes de várias cores, da marca North Face, acumulam-se na entrada, provavelmente acabados de chegar de uma expedição dos Himalaias.






Numa mesa do canto, quase impercetível, Sangita Shreshta bebe um chá e fuma um cigarro Karelia slim de menthol.
Ela é a arquiteta e visionária deste espaço. Cruelmente bela, elegante e sempre vestida de acordo com as cores ditadas pelos astros, ela coordena a orquestra do seu império familiar. Um império assente em princípios e valores, mais que nos prédios que a rodeiam. À sua frente está um isqueiro, um telefone portátil e alguns papeis para assinar. À volta da mesa, empregados de vários departamentos do hotel, fazem fila de forma reverente à espera da sua vez para falar. Ninguém se atreve a interromper. Um misto de medo e respeito impera no ar. Sangita é a Cleópatra num país onde os homens ainda dominam.




Quando nos vê, levanta-se e trata-nos com carinho e afeto. Para mim é uma grande lição lidar com uma pessoa que tanto conquistou, mas sabe manter a sua humildade. Em breve juntam-se a nós, a sua mãe, Ambica Shreshta e o filho mais velho, o meu bom amigo Vijay Einhaus. Mais duas gerações que marcam presença nos corredores do hotel. Nos próximos dias vamos rir, comer e conviver. 
Estamos em casa.
Sempre que vamos ao Nepal não temos mãos a medir. Desta vez deveríamos ter algum cuidado devido à gravidez da Ghazal, mas até isso foi impossível. Desde manhã à noite desdobramo-nos em encontros, visitas, reuniões ou compras de bens para os nossos projetos.
A nossa rotina diária começa com o pequeno almoço. Depois voltamos ao quarto e enchemos a mochila com aquilo que vamos precisar para o resto do dia: água, comida, casacos de chuva, carteira e máquina fotográfica. 
Kathmandu é uma cidade dura. Os dias são longos e cansativos. Há muito pó e humidade no ar. A pele e o cabelo rapidamente ficam oleosos. O frio alterna com o calor. O trânsito é caótico. As estradas estão cheias de buracos. As casas de banho são um simples buraco no chão e cheiram muito mal. Há cães e vacas por todo o lado.
Apesar de todos estes obstáculos, próprios de um país do terceiro mundo, a experiência fala mais alto e sabemos movimentar-nos. Obviamente que no final do dia estamos estoirados, mas sempre felizes e com o sentimento de missão cumprida. Temos amigos por todo o lado desde Bakhtapur até Patan, Jorpati, Thaiba, Thamel ou Changun. Toda a gente nos cumprimenta com um sorriso. Conhecemos taxistas de confiança, bons sítios para comer e as melhores estradas para circular. Em Kathmandu até já tenho o meu barbeiro, médico ou local onde troco dinheiro com taxas mais favoráveis. 
Estamos em casa.
Passamos os dias a visitar os nossos projetos.
Vamos a Bistagaon e passamos tempo com a Babita, Bablu, Ruska, o General e o Sameer. As crianças estão tão grandes! Estamos a ajudar algumas famílias na construção de casas permanentes e a pagar bolsas de estudo a crianças.






Visitamos os nossos amigos do Campo Esperança. O campo já não existe, mas as crianças continuam a ir à escola em Kathmandu ou nas vilas em Tatopani. Este ano estamos a pagar bolsas de estudo, despesas médicas e alimentação.






Visitamos as vilas na região de Tatopani onde as casas do projeto Our Dream Village já começaram a ser construídas! Com a caminhada que fiz pela India, estamos a pagar uma destas casas e através de Fundação Vox Populi vamos financiar mais 12.








Visitamos as 14 crianças que estamos a apoiar na Sharadas Shelter em Patan. Em 2018 ajudámos a arranjar camas, colchões, sapatos, mochilas e uniformes escolares.








Vamos a Thaiba e visitamos as 7 crianças orfãs que o Tej e a sua esposa acolhem em casa. Estamos a ajudar com material e escolar e mobília nova como armários, mesas e cadeiras.





E por fim também ajudamos os funcionários do Grupo Dwarikas. O staff do grupo são como família para nós e muitos precisam de um “empurrão”, principalmente no que toca à construção da sua habitação.



Mais uma vez, tudo está relatado no site https://dreamsofkathmandu.blogspot.com/
Registem-se recebam as novidades!
Foi mais uma grande aventura no Nepal e já estamos com saudades. Voltamos de coração cheio e com a certeza de estar no bom caminho. Para o ano estaremos de volta, mas mantemos o contacto semanal, muitas vezes diário, com os nossos amigos e projetos. Na minha cabeça, novas aventuras também se vão formando na área do trekking. Fui mordido pelo bicho do montanhismo! A Ghazal também gostava de visitar o sul do país, nomeadamente o parque natural de Chitwan onde há tigres, elefantes e rinocerontes. Tanto por fazer neste país plantado à beira dos Himalaias. You will not change Nepal, but Nepal will change you!

P.S. No Nepal para se levar uma injeção é só ir a uma farmácia e o processo desenrola-se ali mesmo a céu aberto!!

Estamos em casa.