quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Cereais - A Remarkable Crop

Os cereais são uma das culturas mais comuns nos campos agricolas, independentemente do país em causa.

As razões do seu sucesso estão relacionadas com a sua multifuncionalidade (alimentar animais e humanos, indústria, combústiveis, produção de cerveja, etc...), são armazenáveis e duradouros (podem funcionar como reservas de comida), são negociáveis e transferíveis como commodities (o que lhes dá um papel de relevo na economia e política mundial), crescem e são colhidos facilmente e têm um excelente retorno em termos biológicos já que uma semente pode originar cerca de 40 grãos de cereais.

Antes de se pensar em plantar um campo de cereais, as questões que devem ser levadas em conta, e que podem variar segundo o tipo de cereal são: a precipitação, temperatura média da região, quantidade de luz solar, o tipo de solo, existência de armazéns, maquinaria à disposição, virús e doenças mais comuns, a necessidade de fertilizantes e pesticidas e a disponibilidade de vias de transporte que por sua vez dá o acesso aos mercados e aos traders que compram os cereais e os vendem às Multinacionais.

Os cereais mais comuns são o Trigo, Cevada, Aveia, Milho, Arroz, Centeio e a Oleaginosa que dá origem ao óleo de cozinha.

Cada um deles dá uma yield (ton/ha) diferente, têm preços distintos e obviamente tem necessidades de cultivo e objectivos de utilização variados. O trigo dá-se bem em solos ricos em Nitrogéneo, com um PH acima de 5,5 e que não seja nem muito seco nem húmido, como que um médio termo. O centeio por seu lado dá-se bem em solos pobres e secos com um PH ácido de 5. Isto não quer dizer que não se possa plantar cereais diferentes em solos pouco propicios mas as Yields vão ser mais baixas.

Hoje em dia o seu cultivo já não está apenas destinado aos ricos campos do sul de França ou aos bonitos campos dos EUA. Há cereais nos desertos de África, no México, nas montanhas do Quénia e noutros sitios inóspitos como a Mongólia. Através da modificação genética, um tema sensivel mas essencial para o futuro da alimentação, já se pode por exemplo produzir trigo em solos ácidos. Também através da genética pode-se alterar o nível de proteinas nos cereais o que pode revolucionar as rações animais em termos de eficiência e quantidades necessárias. Este é uma das principais tendências futuras desta àrea, mas tem que ser feita uma aproximação ponderada e realista aos mercados e consumidores em termos de segurança alimentar.

O mesmo tipo de cereal, o trigo por exemplo, pode ter diferentes tipos de utilizações devido à sua constituição em termos de proteinas, aminoácidos e gordura. O nível de proteina no trigo por exemplo, influencia a elasticidade da massa e a sua fermentação e por isso se diz que o pão nalguns países é uma bela porcaria! Noutros países por exemplo como no UK, o trigo produzido é rico em gordura o que é bom para os seus famosos biscoitos e bolachas. O trigo mediterrânico é bom para a produção de massa! Por este motivo os países têm que trocar entre si os "diferentes" tipos de trigo.

Em termos académicos outra das grandes facilidades dos cereais é a sua linguagem universal. A escala de crescimento de Zadoks (Zadoks et al, 1974) identifica as diferentes fases do crescimento dos cereais qualquer que seja a sua variedade. Isto permite tipificar em que fase se deve aplicar pesticidas e fertilizantes, em que altura é preciso mais àgua, em que altura se deve plantar ou colher e através da observação in vivo da planta e em laboratório, ver se o canapé está a ter um crescimento saudável e se é necessário actuar.

O mercado dos cereais funciona como qualquer outro mercado de commodities e está sujeito às regras da procura e da oferta. Os players, agricultores e traders, já não olham para o mercado pensando que o seu país tem poucos cereais ou mesmo que os 100 Ha do Sr. Manuel não vão dar tantas toneladas este ano.

O jogo dos cereais é um jogo Global... e os seus intervenientes jogam com a informação que têm sobre as colheitas na Austrália, Russia, EUA e Europa de cada ano. Num ano em que as colheitas corram bem em todos os locais os preços vão-se manter estáveis. Se pelo contrário houver problemas na colheita Australiana os preços vão disparar e o consumidor bem como os países altamente dependentes de importações deste bem (como Portugal) vão pagar a factura!! Ganham os produtores agricolas que vêm as suas colheitas serem mais valorizadas depois de muitos anos a perder dinheiro.

Neste momento a tendência futura é de escalada de preços independentemente da oferta pois a procura de cereais, tal como já foi mencionado neste blog, está a aumentar devido ao aumento da população e ao crescente uso de cereais para rações animais e produção de combústiveis. Os produtores que têm grandes armazéns têm deste modo à sua disposição uma vantagem competitiva, pois podem libertar os cereais para o mercado em alturas em que os preços estão mais altos.

Em conclusão, os cereais são um dos grandes players no futuro em termos da alimentação. Eles vão ditar muitas decisões económicas e políticas. É importante para os países como Portugal que têm vindo a descer a sua auto-suficiência, reverem as suas políticas para o futuro em termos de produção, pois em hipotético cenário de falta de produto ou crescimento exponencial dos preços os mercados podem fechar-se e as consequências serão catastróficas.

A próxima vez que comerem Special K 750 grs ou Chocapic 375 grs ou mesmo beberem uma mini Sagres, think about this!!

Best regards,

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Colheitas que NÃO são destinadas à alimentação!

Na agricultura, mais concretamente na parte arável e das colheitas, a escolha daquilo que se faz nos terrenos depende de muitas condições e factores.

Antes de mais, o que se planta depende da localização geográfica do terreno pois isto influencia sempre as condições do solo, disponibilidade de água e temperatura. Depois existe sempre a questão da procura e do abastecimento dos mercados. O proprietário de um terreno, avalia aquilo que é mais rentável para ser produzido segundo as necessidades dos consumidores, procura dos retalhistas, custos de transporte, etc...

Mais recentemente, surgiu uma nova razão: a produção de cereais e oleaginosas destinados à produção de bio-combustiveis. O aumento massificado desta produção, tem a ver não só com questões de rentabilidade mas também com as obrigações e estratégias definidas pelo Quadro Europeu, no que diz respeito à quota de energias renováveis que tem de vigorar em cada país.

A grande controvérsia é que obviamente isto retira espaço para a produção de comida! Noutros países como o Brasil está a ser destruida a Floresta da Amazónia para a produção de óleo de palma e outros bio-fueis. O que é mais importante? A floresta? Ou produzir combustiveis que substituam aqueles baseados em petróleo e como tal menos poluentes?

Existem muitos produtos não alimentares que podem ser produzidos através da terra e como tal são amigos do ambiente e contribuem para a sustentabilidade do planeta.

É necessário no entanto educar e motivar os consumidores para a compras destes produtos. Tem que haver verbas Estatais para a pesquisa sobre " O quê e como produzir?" e também para a implementação dos resultados apurados. Também deveria ser da responsabilidade do Estado a implementação de estratégias regionais de disseminação deste género de informação. Um bom exemplo do que se faz no UK é que foram incentivadas as produções de colheitas destinadas à Biomassa: colocaram-se a falar na mesma mesa os agricultores/proprietários e os interessados nos residuos biológicos que interessam a estas centrais! Para além de reduzir os residuos, isto traz obviamente vantagens nos custos da energia e no impacto ambiental.

Mas que outros produtos podemos tirar da terra?

As chamadas plantas oleaginosas surgem no topo da tabela. Para além de fornecerem o óleo para as cozinhas e para os combustiveis podem ser usadas na produção de detergentes, plásticos, farmacêuticos, lubrificantes, cosméticos, tinteiros, solventes e tintas. Como exemplo destas plantas temos a Oilseed Rape que fornece o óleo normal, a Linhaça, a Crambe, a Calêndula e a Primula (pesquisar no google para ver imagens e definições).

Temos também as plantas que originam colheitas de fibras. As principais plantas utilizadas são o Canhâmo e a Linhaça (que também servia para a produção de óleo). Estas fibras são usadas para a produção de textêis e muitas multinanacionais como a Mercedes por exemplo já as utilizam na produção dos estofos dos carros. Isto permite a reciclagem de materiais e uma aproximação mais ecológica aos mercados e ao consumidor. O canhâmo por ser da familia do cannabis necessita de autorizações especiais para ser plantado.

Até as Batatas e o Trigo podem ser usados na produção de papel, adesivos, plásticos e detergentes. Estes plásticos e detergentes são obviamente mais biodegradáveis do que os normalmente usados.

Alguns exemplos de negócios de sucesso aqui no Reino Unido:

- Strawsons Energy: Produzem/transformam 80% de toda a Biomassa do UK.

- EPR: utilizam 200.000 toneladas de palha por ano para a produção de energia e para outros fins agricolas. Oferecem contratos aos agricultores para a compra dos residuos dos seus campos.

- Green Fuels: esta foi aquela que me chamou mais a atenção: têm uma máquina que se coloca na quinta e  que misturando o óleo proveniente dos cereais e o methanol produz o diesel! Ver este link obrigatório: http://www.greenfuels.co.uk/product/fuelpod-4.aspx a imagem da máquina parece mesmo uma bomba de gasolina!

Conclusão: a terra tem mais para nos dar para além da comida. Pode-nos dar combustiveis, roupas, detergentes e cosméticos. O problema é que até 2050 temos de aumentar a produção mundial de comida em 75% para fazer face ao aumento da população e só há mais 5% de terra no mundo em condições de ser plantada... Conseguiremos aumentar as taxas de produtividade e chegar a estes valores?

O equilibrio está nos limites... mas Portugal por exemplo, podia focar-se na produção destas commodities porque no futuro serão bastante valiosas e poderão contribuir para as nossas exportações e para a diminuição da dependência externa!

Think about it!

Best regards,

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

If...

For all my friends!

"Se és capaz de manter a calma quando
Todos os outros ao teu redor já a perderam
Se ainda crês em ti , quando todos já duvidam
E para eles ainda tiveres compreensão
Se és capaz de esperar sem desesperares
E, quando enganado, não mentir ao mentiroso
E, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares
Sem pareces bom demais ou pretensioso

Se és capaz de sonhar, sem te renderes aos sonhos
Se és capaz de pensar mas ir além do pensamento
Se conseguires tratar do mesmo modo a desgraça e o sucesso
Afinal dois impostores de um momento
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em mentiras as verdades que disseste
Ou ver desfeitas as coisas porque deste na vida
E refazê-las com o pouco que te reste

Se és capaz de arriscar numa única jogada
Tudo quanto ganhaste em toda a vida
E, se perderes, fores capaz de aceitar a derrota
E, resignado, tornar ao ponto de partida,
Se fores capaz de encontrar a última força que resta
No coração, nos nervos e nos músculos, já exaustos
E de aguentar quando tudo parece perdido
E te resta apenas a vontade que te diz “Aguenta!”

Se és capaz de, no meio da multidão, manter a cabeça fria
E entre reis manter a simplicidade
E não te deixares corromper por amigos ou inimigos
Sem esperar nenhuma paga por um favor prestado
Se és capaz de preencher cada implacável minuto da vida
Com sessenta segundos de plenitude
Então a terra e tudo o que nela existe serão teus
E – acima de tudo – tu estarás no bom caminho!"

(Rudyard Kipling, ligeiramente adaptado por Pedro Queirós)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A Batata - todo um novo mundo!!

Uma das aulas mais importantes que me inscrevi aqui no RAC é Crop Production.

Neste módulo são leccionados as características dos diferentes tipos de culturas em termos da sua semente, época de cultivo e colheita, cuidados época de plantação, variedades e tamanhos da cultura em causa, doenças e virús mais comuns etc..

Esta cadeira aliada ao módulo Soil & Water Management dá uma grande bagagem aos alunos para porem em prática o cultivo destas colheitas no futuro.

A primeira aula foi totalmente focada na Batata, uma cultura muito comum em Portugal, daí a expressão "Olha, e se fosses plantar batatas??!!"

A batata é considerada uma New World Crop tal como o tabaco ou o feijão. Foi trazida das estepes dos Andes pelos Impérios Português e Espanhol durante o Séc. XVI. Actualmente, ainda é nos Andes que se encontra a maior variedade de espécies, tamanhos e formas de batatas.

Trata-se de um legume único e estranho, que cresce debaixo da terra e que ficará verde se fôr exposta à luz do sol. Trata-se portanto de um tubérculo cuja constituição é principalmente água. A sua semente será uma batata, que consoante a espécie que tivermos a falar dará origem a mais n tubérculos. A escolha do "Tubérculo-Mãe" é bastante importante pois influenciará todos as batatas que dai crescerem. Se tiver alguma doença poderá afectar toda a colheita. Nas batatas, as doenças passam dos "pais para os filhos", ou seja de uma geração para a outra. Hoje em dia, tal como para outras culturas, já há fornecedores especializados de sementes cheias de energia e potencial para darem bons frutos.

É uma cultura que precisa de água, mas não gosta de estar empapada na água, pois isso potencia o risco de doenças, já que água + terra são a "feira popular" das bactérias! Mas precisa de bastante humidade. Quanto à planta em si, não tem uma raiz muito forte e longa. O tronco e as folhas que crescem acima da terra são venenosos e não deverão ser ingeridos à semelhança da planta do tabaco ou o tomateiro. Ás vezes as folhas acima da terra podem parecer muito bonitas e a colheita debaixo do solo estar toda estragada!! É um legune que não tem proteina mas é bastante rico em Vitaminas, nomeadamente B e C e em Ferro e Zinco.

O seu cultivo pode ser "manipulado" enganando a semente. Ou seja, antes de se colocar na terra pode-se pôr as sementes em caixas num ambiente que simule as condições do solo em termos de temperatura, luz e àgua. Desta forma o "Tubérculo-mãe" começará a desenvolver os tubérculos ainda fora da terra. Esta técnica tem a vantagem que permite detectar problemas de doenças e sementes mortas à partida.

Em termos da plantação propriamente dita, as batatas são uma cultura com "Fome" precisando de muitos nutrientes para além da água, nomeadamente N (Nitrogénio), P (Fosfato) e K (Potássio) que se encontram nos fertlizantes mais comuns. As suas sementes não podem ser atiradas de forma aleatória para os campos como se faz com os cereais, é preciso respeitar uma distância entre as mesmas. São, em conjunto com o chá, a cultura mais resistente a solos ácidos, aguentando bem um PH de nível 5 ou 6 (PH neutro = 7).

As batatas podem ser plantadas e recolhidas em diferentes alturas do ano. Podem-se plantar em Janeiro-Março e estar nos supermercados em Maio-Julho. Estas batatas são no entanto mais pequenas, são recolhidas menos toneladas por Hectare mas são mais caras obviamente. Há outras que depois podem ser plantadas entre Fevereiro e Maio e ser colhidas entre Julho e Outubro consoante as chuvas. Estas batatas no entanto têm pouca validade porque ainda não atingiram a total maturidade. O principal tipo de batatas ou o mais comum, é plantado entre Março e Maio e a colheita é feita entre Setembro e Outubro. Esta última colheita tem um largo período de validade pois é mais resistente. São retiradas mais toneladas por hectare mas o preço é mais reduzido nos supermercados e mercearias.

A batata é hoje em dia uma cultura altamente técnica e especializada. É necessário ter muito know how. O investimento numa plantação desde género é grande por isso quanto maior fôr a área de cultivo melhor, para se poder espalhar os custos fixos. Devido a este factor o mercado está a tornar-se mais concentrado, ou seja, menos produtores mas com yelds (taxs de retorno, toneladas por Hectare) cada vez maiores.

Em termos de mercado o maior produtor mundial é a China, à semelhança do que acontece com o Trigo e o Arroz. As batatas mais consumidas são as batatas frescas que encontramos normalmente no supermercado, com cerca de 35% da produção a ser destinada para este fim. Depois temos as batatas congeladas com cerca de 20% e as batatas de pacote com 15%. O resto é utilzado para outros fins, entre os quais a produção de Vodka e medicamentos por exemplo!

Trata-se de um mercado que ainda tem muito potencial no futuro, devido às suas características nutricionais e de utilização. Existem mais de 200 variedades de batatas e muitas funcionalidades por explorar. Novos produtos e segmentos poderão ser criados isoladamente ou em conjunto com outras culturas.

A próxima vez que comerem uma batata pensem nisto!

Best regards,

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O problema da Alimentação

Um dos grandes problemas com que a nossa geração se vai deparar no futuro é o problema Alimentar.

Escolhi um módulo para estudar aqui no RAC chamado "Food Chains", que espero que me dê algumas respostas.

Os grandes problemas relacionados com a alimentação nos nossos dias e que se vão agravar no futuro são:

a) População: todos os dias há em média 200 mil novas pessoas para alimentar no mundo, o que corresponde a aproximandamente 80 milhões por ano. Nos países com elevadas taxas de crescimento populacional como a India, China e outros há cerca de 3 biliões de pessoas a querer entrar na classe média e a querer comer melhor! Essencialmente, comer melhor, significa passar de uma dieta baseada em cereais para uma dieta baseada em proteinas como Carne, Leite e Ovos. Para se alimentar o gado necessário para esta crescente procura, é necessário produzir mais cereais e proteina animal. Para se produzir um kilo de carne de vaca são necessários 9 kgs de cereais. Neste momento, o UK importa cerca de 80% da proteina animal que usa para alimentar os seus animais.

b) Terra: Não há mais terra no mundo... é um recurso limitado aparte de alguns pedaços que possam surgir devido a erupções de vulcões na Islândia (era uma piada)... O que alguns países estão a fazer, especialmente a China, é comprar quantidades massivas de terra em África em países como o Sudão e o Niger. Estes países, cujas populações sofrem de problemas de fome, vêm assim as suas terras serem invadidas por estrangeiros ao preço da chuva, muitas vezes 1 dólar por ano por acre (0,4 hectares). São decisões políticas imcompreensiveis porque para além das populações serem afastadas das terras onde vivem há gerações e não poderem produzir, os Chineses colocam em prática técnicas agricolas que destroem as reservas de água, a qualidade dos solos e a vida animal em redor. A utilização intensiva dos solos também está a criar novas àreas desertificadas como está a acontecer no centro de África e Norte da China.

c) Água: a água, ou a falta dela, será um dos primeiros problemas com que a humanidade se terá que se deparar num futuro próximo. Os chamados lençóis freáticos, bolsas de água existentes nos solos entre as particulas de terra e as rochas estão a ser bombados de forma desordenada para a irrigação de culturas, sem tempo para que haja uma reposição adequada das águas através das chuvas. Países como a Arábia Saudita ou a India experimentaram nos ultimos anos produções altissimas de cereais devido à exploração massificada destes lençóis. Neste momento eles já atingiram o pico e os campos não poderão ser irrigados como outrora.

d) Alterações climáticas: Por cada grau centigrado que a temperatura média aumentar, os produtores agricolas deverão esperar uma descida de 10% nas quantidades das colheitas desse ano, para além do factor óbvio que secam os poços. Este dado é verdadeiramente supreendente e tendo em conta o aquecimento global verificado nas últimas décadas o cenário não é o mais favorável. Por outro lado há paises com secas onde antes havia chuvas regulares, e outros com cheias catastróficas onde também nunca tinham acontecido. A falta de uma monção na India ou uma onda de calor nos EUA pode neste momento significar uma total ruptura e pânico nos mercados mundiais.

Para além destes temas globais há outras questões a levantar: Porque desperdiçamos 30% da comida que compramos? Porque há pessoas a morrer de fome e outras obesas? Não haverá aqui uma questão moral que deveria ser analisada mais ao pormenor? Porque é que os EUA, o maior produtor de cereais do mundo já destina 25% das suas colheitas para a produção de bio-combustiveis? Devemos usar a terra para a produção de comida ou combustiveis? A organização mundial do comércio fomenta a livre circulação de mercadorias e capitais, mas isto é benéfico para quem? Para as populações de África e do Extremo Oriente ou para as multinacionais?

A minha visão após a aula de hoje é de verdadeira catastrofe. Num futuro próximo provavelmente não vamos poder comer como comiamos até agora. Os preços dos alimentos vão aumentar devido à procura crescente e isto pode gerar conflitos e desigualdades sociais muito graves.

Na Universidade Católica e na Jerónimo Martins ensinaram-me que as empresas existem para satisfazer as necessidades dos consumidores. Mas será que os consumidores sabem o que querem? Ou será que vão ter esse poder no futuro?

Perante estes dados o primeiro passo será com certeza o racionamento da alimentação das pessoas.

Por outro lado, os países mais pobres em termos alimentares, e Portugal inclui-se neles, deverão começar a desenvolver infraestruturas e tecnologias para auto-sustentabilidade no futuro.

Para além de tudo isto as empresas e o Estado deveriam ter um papel cada vez mais activo na consciencialização destas questões alimentares e não estarem apenas preocupados com o deficit e os juros da divida pública.. Perante os dados que já existem hoje esta consciencialização devia acontecer de forma RADICAL.

Best regards, vou jantar..

sábado, 8 de outubro de 2011

A New Beginning!

Este é o blog que pretende retratar a minha experiência no Royal Agricultural College no United Kingdom. Esta aventura começou no dia 23 de Setembro de 2011 e terá a duração de 2 anos!

Estava um bocado reticente em fazer este blog por falta de tempo, paciência ou mesmo por achar que é uma aventura minha e não existiria qualquer necessidade de partilhar. Mas agora que escrevo estas primeiras linhas o meu coração palpita. Haverá algo melhor que um diário para manter a familia e os amigos actualizados? E poder ler no futuro tudo aquilo que passei? Para já parece-me uma excelente ideia e vou tentar empenhar-me nela com regularidade.

Outro dos motivos que me impedia de fazer o Blog era o total desconhecimento sobre como se fazia ou acedia a este género de plataformas e portais. Ora... cá estou! E uma das coisas que mais me tem entusiasmado nestes primeiros dias no Reino Unido e na Universidade, é o renascer desse sentimento de querer aprender e fazer coisas novas sem qualquer tipo de receio de arriscar e errar. Quando chegamos a uma fase da nossa vida com a nossa casa, emprego e habilitações definidas, no fundo os nossos hábitos, torna-se dificil mudarmos... não por teimosia ou por velhice como alguns proclamam... mas por conforto e experimentação daquilo em que somos bons ou não!

Daqui deriva o tema deste post: A New Beginning! Uma nova oportunidade em Terras de Sua Majestade, numa das mais reconhecidas universidades de Agricultura do mundo (http://www.rac.ac.uk/), dentro de uma àrea que acredito que será fundamental no futuro não só para Portugal mas para o mundo inteiro. Temas como a cadeia de alimentação, a sustentabilidade ambiental, a gestão dos solos e da água estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia. A gestão destes recursos será crítica no futuro e é já hoje em dia um dos motores escondidos da política e economia mundiais.

Para além disso uma oportunidade de viver na natureza, aprender sobre ela, desenvolver novos skills e pôr as mãos na massa, algo que tenho sentido que tem bastante a ver comigo! Como dizia o recentemente falecido Steve Jobs, temos de lutar para fazer algo que gostamos!

O conteúdo do blog será diverso: cultura inglesa, questões técnicas agricolas, a minha experiência pessoal, etc..

Best regards,

P.S. O tema do blog deriva obviamente da paisagem dominante aqui no countryside do UK mas também é uma analogia ao Robin dos Bosques.. roubar aos ricos para dar aos pobres!!