sábado, 1 de novembro de 2014

Estágio na Quinta da Abegoaria

A Quinta da Abegoaria, fica em situada em Canha, Vendas Novas.

Esta localidade de Portugal tem a particularidade de se encontrar na fronteira entre Alentejo, Ribatejo e Estremadura!

A paisagem da região reflecte isso mesmo. Diversidade. Num raio de 15 kms à volta da quinta encontramos fileiras de vinha, montado de sobro e azinho, bosques de pinheiros, olival, vacas a ruminar, ovelhas a pastar e consoante a época tomate, pivots de milho e searas de azevém, trigo e aveia.


A Quinta da Abegoaria tem 620 hectares. A propriedade produz bezerros para carne (vendidos ao desmame ou com mais umas semanas de engorda). O efectivo bovino maternal é constituído pela raça mertolenga. Já na linha paternal temos touros Limousine e Angus, sendo que por vezes, para novilhas de primeira e segunda barriga, é feita inseminação também com Angus.

O maneio diário do gado tem trazido grandes ensinamentos e tem sido nesta área que tenho passado a maior parte do tempo. Já vamos a meio da primeira época de parições na Abegoaria e há muito que fazer de modo a assegurar que as vacas andam bem nutridas e que os vitelos sobrevivem sãos e saudáveis.

Neste campo destacar mais uma vez algo que já tinha visto na Austrália e que é aplicado também nesta quinta: a parceria com um bom veterinário é fundamental para uma gestão pecuária de sucesso!! O veterinário não pode ser visto como um custo, mas assim como um parceiro e membro permanente da equipa. Aqui na quinta o Vasco Brito Paes tem feito um grande trabalho de acompanhamento, para além de definir em conjunto com o João, a estratégia a adoptar em termos de gestão da manada - nascimentos, saneamentos, parições, palpações, selecção animal, etc



Outra das facetas da propriedade é a produção de material forrageiro para os animais, uma das áreas que mais me fascina: o que plantar? Quando cortar? Feno ou feno silagem? Quando embalar? Por fim a gestão da pastagem e da parte florestal. A propriedade tem milhares de sobreiros e pinheiros mansos e como muitas vezes vem referido na imprensa e é do conhecimento geral, a floresta é das maiores riquezas de Portugal e há que saber potenciar este aspecto!

Numa das zonas da propriedade decorre inclusivamente um projecto inovador com regadio e enxertias de pinheiro manso. Um excelente trabalho de investigação que tenta saber mais sobre esta fileira que tem muito valor: as pinhas que têm os pinhões!


A Quinta da Abegoaria é um lugar especial do mundo. Por isso propus ao meu amigo e dono da propriedade, João Oliveira Soares, trabalhar durante dois meses, alguns dias por semana, a troco de comida e dormida.

Os 3 objectivos principais são:

- Aproximar-me cada vez mais da realidade agrícola portuguesa: vocabulário, estabelecer rede de contactos, perceber as condições endafoclimáticas (solos, clima, etc...),

- Perceber como é que o João elabora o seu processo de tomada de decisão diariamente, consoante a época que estamos e mediante os recursos à disposição como por exemplo o número de empregados e maquinaria disponível por exemplo.

- Desenvolver competências agrícolas no terreno. Esta é a área onde sinto mais dificuldades e quero aprender mais. Cresci numa cidade e coisas tão "simples" como usar ferramentas, cortar tubos de rega, abrir portões das cercas, guiar tractores, montar e desmontar atrelados, correr atrás de vitelos para lhes colocar brincos de identificação, cortar e apanhar lenha, dividir grupos de vacas, aplicar herbicida, gradar terrenos, etc... são coisas que não fazem parte da minha educação. Em baixo um tractor atolado pela minha pessoa.



Este último ponto tem sido aquele que tem exigido mais esforço.

Os 3 dias por semana que trabalho na propriedade são gastos na frente da batalha. Nas trincheiras.

Visto umas calças velhas. Umas botas bem usadas género Timberland. Coloco umas luvas e faço aquilo que me pedem e consigo fazer.

Nos primeiros dias andei um pouco perdido e executei diversas tarefas de forma bastante sofrida.

Quando acabava de dar os fardos de feno silagem às vacas pela manhã, parecia que tinha acabado de sair de uma piscina tal era o nível de suor. Na segunda semana, fracturei um dedo do pé quando espetei uma espécie de forquilha pela bota adentro. Não conseguia fazer marcha atrás no tractor quando este tinha um atrelado colocado. Não conhecia bem as diferentes cercas da quinta. Não sabia bem o que se estava a passar. Estava a tentar apanhar um comboio que circulava a grande velocidade.


Ainda não apanhei o comboio mas já o vejo mais perto.

O trabalho tem tantos pormenores e especificidades que também seria de estranhar se já tivesse apanhado o mesmo. Mas a cada semana que passa vou aumentando o conhecimento das tarefas e desenvolvendo técnicas que me permitem fazer as coisas de forma mais fácil e eficiente. Também já me encontro em melhor forma. Quando cheguei à quinta pesava uns belos 76 kgs e neste momento assentei nos 73 Kgs. O trabalho é bastante duro e exige muita concentração. Várias vezes por dia tenho de saltar de carrinhas ou tractores, fazer a máxima força ou correr à máxima velocidade.

Para que tudo isto esteja a correr desta forma positiva e com perspectiva de evolução muito têm contribuído o João, dono da quinta, a sua família e o responsável principal/vaqueiro Cláudio.



Não deve ser fácil para ninguém ter um "gajo" de 33 anos a fazer asneiras e sempre a fazer perguntas. Mas eles têm sido bastante pacientes e têm-me ensinado devagar e com vontade. Também sinto que o meu trabalho é valorizado e como me encontro feliz e motivado por esta oportunidade as coisas têm acontecido de uma forma natural. Não queria também deixar de mencionar o pai do João que me  recebeu bastante bem e me dá bons conselhos.

Outras pessoas como o vaqueiro Zé Manel, o romeno André, o Sérgio Fadista e o grande Baila também têm contribuído para a minha formação.

Trabalhamos no duro de forma séria e intensa. Mas também falamos e nos rimos. E por vezes também fazemos silêncio e assistimos ao espéctaculo diário que a natureza nos oferece.




À noite janto com a família do João na sua casa. A Mónica faz bons petiscos enquanto as filhas Carmo e Isabel, de 3 e 1 anos respectivamente, cantam, dançam, riem e choram. Às vezes o grupo é mais alargado e vem também a mãe do João, ou o Tio Zé, ou a Margarida. Na semana passada chegou um habitante novo: um cachorro bebé chamado Jake. Se já havia "confusão" agora ainda há mais! Mas uma confusão saudável, a confusão da vida, do crescimento e do convivo no campo.

Depois de tudo isto vou para o meu anexo. Um quarto tipicamente alentejano caiado de branco com muitas criaturas a habitar lá dentro desde aranhas, lagartixas e mais recentemente um pombo! Deito-me na cama, aponto o que aprendi e durmo que nem uma pedra. Não há barulho de carros ou aviões. Apenas o barulho da felicidade.

Think about it!



quarta-feira, 16 de julho de 2014

Conferência Empreendorismo Agrícola

Realizou-se hoje, dia 16 de Julho, no Hotel Sheraton em Lisboa, a conferência de Empreendorismo Agrícola promovida pelo Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Millennium BCP.

Esta conferência foi o rematar de um conjunto de 6 conferências que se realizaram em diversas cidades portuguesas desde Fevereiro, entre as quais Porto, Vila Real e Santarém.

Ao todo, estiveram presentes 1200 pessoas nas diversas conferências, foram feitas 20 reportagens em quintas e participaram múltiplos players da agricultura desde cooperativas, empresas e os próprios agricultores. 

A Agricultura está na moda. Há cada vez mais gente a entrar e a desenvolver a sua actividade profissional no sector primário e de transformação.

Daí que é de saudar mais uma vez estas conferências que permitem aproximar as pessoas e diversos sectores da sociedade. Nestes fóruns são discutidas questões essenciais do presente e olha-se para o futuro.

O orador inicial, o Dr. Proença de Carvalho, em representação da Controlinveste, referiu esta questão e reforçou o facto de ter sido um orgão de comunicação social e um banco a organizar a iniciativa. 

Não há o hábito em Portugal de ver notícias sobre agricultura na comunicação social. Mas isso tem de mudar pois há muito boas empresas a actuar no sector, com bons modelos de gestão, inovação, renovação, competitividade e capacidade de exportação. Há que mostrar isso nos media.

Por outro lado o sector bancário. Um sector que desconhece a agricultura. Que desconhece os ciclos de produção e como tal não consegue fazer análises de risco exactas. A consequência é a falta de apoio nesta área, algo que o BANIF também já tinha admitido na conferência Agroin realizada em Abril no Casino Estoril.

Mas existe uma vontade da parte dos bancos em investir nesta área de tanto futuro para Portugal. 

Uma área que apesar de representar 4% do PIB, representa apenas 2% do crédito bancário atribuído. 

A balança agroalimentar em portugal tem um défice de 4 mil milhões de euros em valor e até 2020 o objectivo é zerar este indicador.

Sem o apoio dos bancos este objectivo não é possível. E foi dentro deste enquadramento que o Dr. Nuno Amado, presidente da comissão executiva do BCP fez a sua intervenção: o banco tem de conhecer melhor o sector e quer aumentar o crédito concedido aos agricultores.

A seguir, João Machado, presidente da CAP (Confederação de Agricultores de Portugal), fez uma intervenção de 30 minutos sobre os desafios da agricultura em Portugal. Entre os variadíssimas temáticas que abordou de forma clara e objectiva destaco:

- O investimento e o retorno na agricultura mede-se em décadas e não anos, porque o payback demora muito mais tempo.

- O ano de 2008 representou um ano de viragem na agricultura a nível mundial. A crise na produção de bens alimentares, nomeadamente nos cereais, fez disparar os preços e parece que despertou os agentes económicos e governos, para se prepararem para um futuro, onde em termos mundiais, será necessário duplicar a produção mundial de comida até 2050! 

- A nova PAC 2014-2020 assenta em dois pilares essenciais: produzir mais e quem não produz não recebe apoios! Em relação à antiga PAC vamos receber mais ou menos a mesma coisa, isto num contexto onde há mais estados membros a requisitar apoios.

- Esquecemos a agricultura durante muitos anos em Portugal mas já se começa a ver os primeiros sinais de recuperação.

- Há 3,1 milhões de hectares com potencial agrícola no país e actualmente apenas são utilizados 2,2 milhões. Portanto há 900.000 hectares com novo potencial de exploração.

- Há situações que ainda têm de ser trabalhadas em Portugal nomeadamente o custo dos factores de produção. A electricidade é das mais caras da Europa e a água vai pelo mesmo caminho. O exemplo do Alqueva, que tem actualmente 60.000 hectares em irrigação e mais 60.000 a caminho, tem um custo da água caríssimo. A partir de determinada altura do ciclo de produção não é viável usar a água do El Dorado português - nos primeiros anos existem descontos na utilização da água, descontos esse que vão diminuindo ao longo do tempo e desaparecem no ano 8.

- Por fim, João Machado abordou as importância da investigação dando o azeite como exemplo. Apesar de estarmos a fazer um excelente trabalho nesta fileira, estamos a usar variedades espanholas porque não fizemos investigação suficiente dentro de portas.

Após um coffee break, assistimos a uma mesa de redonda composta por diversas personalidades ligadas à agricultura e também Luís Pereira Coutinho do BCP.

Tivemos nada mais, nada menos que o Sevinate Pinto, ex-ministro de Agricultura, Nuno Russo, coordenador da bolsa de terra do Ministério da Agricultura e Joaquim Pedro Torres, presidente da Valinveste.

Esta mesa redonda foi coordenada pelo jornalista Peres Metêlo e decorreu num ambiente de excelente disposição.

As principais conclusões dos vários intervenientes foram:

- Não se pode considerar a agricultura apenas no sector primário, pois no caso dos subsídios por exemplo, a agro indústria já absorve metade do valor à disposição.

- Aprofundou-se a questão da investigação e foi-se um pouco mais longe falando do conhecimento. Segundo Sevinate Pinto, "Investimento sem conhecimento não funciona no médio longo prazo". É preciso fazer o transporte do conhecimento das universidades e centros de investigação para as pessoas e empresas que trabalham a terra. Trata-se sem dúvida de um grande desafio para Portugal, tendo em conta a nossa conhecida dificuldade cultural em partilhar conhecimento e nos associarmos.

- As condições de solos, clima, drenagens, etc em Portugal não são as mais favoráveis, as chamadas condições endafoclimáticas. O principal factor limitante é a água. Temos que ser mais eficientes na sua utilização. Para além disso os solos têm pouca matéria orgânica e são muito ácidos na sua grande maioria.

- A água do Alqueva é cara pois são necessários grandes custos energéticos para levar a água para os campos. Porquê? Porque a cota da água encontra-se a um desnível médio de 100 metros dos campos agrícolas!!

- Referindo-se à questão da necessidade de duplicar a produção mundial de comida, Sevinate Pinto referiu que se deve mudar o prisma de abordar o assunto pois existem 1,3 mil milhões de obesos no mundo e 30% de desperdício alimentar ao longo de toda a cadeia de valor... pois é... 

- Sobre a quantidade de terra disponível em Portugal foram revelados factos bastante interessantes. Há 125.000 hectares de terra em Portugal que já foram utilizados em Agricultura e já não são. Há 13.500 hectares de terras disponíveis na bolsa de terras (não será pouco face ao potencial de 900.000 hectares anunciado anteriormente?). 75% dos 300.000 agricultores existentes em Portugal têm explorações com menos de 5 hectares (é preciso desburocratizar os regimes de apoio e fiscal a estes produtores). 1% dos agricultores têm 12% da superfície agrícola útil (SAU).

A conferência terminou com uma intervenção entusiasmada da Ministra da Agricultura Assunção Cristas.


Agradeceu a todos os intervenientes e organizadores das diversas conferências. Reforçou o objectivo de equilibrar a balança agro alimentar em 2020. Os jovens agricultores e a ajuda que estes vão necessitar foi também abordada pela ministra. Afinal, apenas 2% dos agricultores em Portugal têm menos de 35 anos e tem que haver sangue novo se queremos renovação! 

Para terminar, falou dos quatro pilares de desenvolvimento da agricultura portuguesa. Os quatro is: investimento, industrialização, inovação e internacionalização.

Em conclusão, ficou reforçada a ideia de que a agricultura de facto está na moda. Mas há muitos desafios para quem quer entrar ou para quem já está na área. Desafios técnicos, de envolvente, de mercado, de criação de valor e muitos mais. 

É necessária uma grande preparação para vencer na agricultura mas também parece que há algumas condições reunidas: há terra disponível, os bancos querem apoiar, há subsídios e existem cada vez mais associações transportar conhecimento e a promover os produtos junto do mercado.

A ver vamos!

Think about it!








quarta-feira, 21 de maio de 2014

O sub-mundo da Agricultura em Portugal.

A integração num meio novo não é coisa fácil.

Quando chegamos a uma escola nova. A um emprego. Ou até quando nos mudamos para um prédio ou bairro novo.

Há sempre um período de descobrimento e adaptação. Um período em que andamos às apalpadelas a tentar perceber por que linhas se cosem as coisas. Uma entrada low profile é sempre aconselhada!

No caso da Agricultura não é diferente.

E apesar de ser um meio conservador, não tenho grandes razões de queixa. Tenho conhecido pessoas que me têm recebido bem e saúdam a chegada de gente jovem ao meio. Desde proprietários a tractoristas, passando por administrativos e jornalistas.

As pessoas são um pouco desconfiadas ao início e até há muitos velhos do Restelo! Mas no geral, são amáveis e simpáticas, o que também é reflexo do modo de vida menos stressante que vivem no campo. O ar livre faz bem às pessoas!

Mas apesar disso há também alguns problemas sociais como o isolamento ou o alcoolismo. Há muitos agricultores solitários por esse país fora, que por habitarem em regiões distantes ou semi-abandonadas, têm pouco contacto com outras pessoas. Os eventos sociais e culturais não abundam por estas bandas. O pico do ano são normalmente as festas de verão!

E quantas vezes não vi já por esse Alentejo fora, grupos de senhores de bigode a beberem o seu vinho tinto ou o café com cheirinho logo às 8 da manhã?


Mas pronto não se pode julgar ou avaliar. Em todo o lado, seja na cidade ou campo, há problemas e modos de vida diferentes!

Aquilo que tem sido de facto mais difícil é a busca de uma propriedade.

Há terra no mercado (mas nem toda considerada boa terra...). Há até preços acessíveis. Há oferta e procura. Mas também há muitas coisas estranhas a acontecer... aquilo que considero o sub-mundo da agricultura!

Com excepção de uma ou duas pessoas realmente sérias e integras, tenho apanhado de tudo nestas 18 propriedades que já visitei.

Quando faço o primeiro contacto a propriedade parece um vale encantado. Há água para dar e vender. O solo é o melhor. A localização é excelente. Há milhares de arrobas de cortiça.

Quando se chega ao local começa perceber-se como as coisas realmente são. Há propriedades hipotecadas. Há sociedades duvidosas a explorar as mesmas. A água não é assim tanta. A cortiça não é de boa qualidade e nem na quantidade que vinha no anúncio. Muitas nem electricidade têm!

E já para não falar nas pessoas que tenho encontrado. No outro dia visitei uma herdade, em que uma em que uma pessoa dizia que custava X e outra que contactei um dia depois dizia que custava o dobro. Ganância?

Outra que também visitei, o senhor mostrou-me a propriedade e enquanto andávamos a pé disse-me: " Você tem daqui até ao carro para me fazer uma proposta!" Quando eu disse que isso era impossível ficou chateado comigo...

Ali na zona do Cercal, visitei algumas propriedades e duas pessoas diferentes em dois locais diferentes disseram-me que o Figo já tinha andado ali a ver aquelas herdades para fazer campos de golfe... Será que pensam que isso valoriza a terra?

Outra que visitei, o senhor esqueceu-se de trazer a chave do monte. Isto era uma questão fundamental para mim e quando mostrei o meu desagrado por se ter esquecido da chave ele começou a bater às portas e janelas e ver se estava alguém lá dentro. Isto num sitio completamente abandonado... estaria à espera que um rato ou um fantasma lhe abrisse a porta?

Outra propriedade em que mostrei interesse pelo telefone, o proprietário recusou-se a dizer-me o preço. Disse-me ele "quando digo o preço tenho que olhar para os olhos das pessoas!"... e lá fui eu conhecê-lo. Depois não houve seguimento.

Outro contacto que fiz o senhor disse-me assim "olhe, só lhe mostro a propriedade se o senhor quiser realmente comprá-la...", ao que eu lhe respondi "tenho que vê-la antes de decidir isso"... e assim ficamos neste impasse, acabei por não ir lá!

Estas e mais histórias vão acontecendo. Nada que desanime. A propriedade que procuro anda por aí e em breve será descoberta!

Até lá... think about it!







sexta-feira, 11 de abril de 2014

Congresso Agroin - 9 de Abril de 2014

Realizou-se na passada quarta-feira, dia 9 de Abril, no Centro de Congressos do Casino Estoril, o fórum Agroin. O fórum era direccionando para profissionais do sector agro-alimentar e a temática era "Re-inventar para Crescer". A organização esteve a cargo da revista "Vida Rural".

Como já havia mencionado nas publicações anteriores do Blog dos Bosques, é muito importante a presença em congressos, fóruns, workshops, acções de formação, etc e digo isto não só para a agricultura! Quando queremos entrar numa nova área de negócio é preciso sentirmos o pulso ao mercado, conhecer os principais players, quais as temáticas que se estão a discutir, que tendências estão a ser projectadas, perceber as dificuldades do sector e criar redes de contactos. Estes são apenas alguns exemplos das vantagens em estar presentes nestes eventos. 

No meu caso, que sou um principiante na área, a experiência não podia ser mais enriquecedora! Estar cerca de 10 horas a ouvir discutir o passado, presente e futuro do sector alimentar em Portugal é um privilégio. O objectivo é ouvir, ouvir e ouvir. Aprender, aprender e aprender. Sinto-me como uma esponja a absorver informação. E claro que não se deve acreditar em tudo o que se ouve ou ficar "encantado" com boas oratórias e ideias que parecem fantásticas. Mas é bom estar envolvido e ganhar novos insights para pensar e mais tarde explorar. É como lançar mais lenha para uma fogueira. 

As principais palavras mencionadas no congresso foram inovação, conhecimento, cooperativismo, desenvolvimento, futuro, exportação, criar valor, made in Portugal, profissionalização, dimensão e sustentabilidade. Todos os oradores e mesas de trabalho abordaram estes assuntos de uma forma directa ou indirecta.

A sessão de abertura ficou a cargo do ex-ministro Augusto Mateus. Com o auditório a encher-se de forma gradual (diga-se que esteve praticamente cheio, embora no final do dia já houvessem menos resistentes), o dia não podia ter começado da melhor forma pois os cérebros de toda a plateia ainda estavam frescos e ávidos de informação. A propósito de sustentabilidade, Augusto Mateus teve, na minha opinião, uma tirada bastante simbólica, engraçada e verdadeira: " Usar a palavra sustentabilidade como palavra de acção e não como chantilly para decorar conferências!". So true!!

O ex-ministro fez uma excelente palestra e focou-se na questão de que o país não deve repetir os erros do passado, deve ganhar posições para o futuro, tem que pensar em investir e não apenas em consumir, tem que incentivar as PME's do mundo rural e pensar muito bem a questão dos subsídios: não dar apenas por dar! Sobre a questão de aprender com os erros do passado, mencionou que as principais lições que devemos aprender enquanto empresários agrícolas são: vivemos num mundo global, não há empresas isoladas, não há sectores (há cadeias de valor!) e que o papel do ser humano é fundamental no ambiente competitivo dos dias de hoje. Deve-se desenvolver as pessoas e as suas competências. Trabalhar o capital humano!

As apresentações seguintes ficaram a cargo de Eduardo Vasconcelos da Bel e de Mauro Cardoso da Monliz. Ambas as apresentações focaram-se na parceria entre marcas e produtores. Quais são os principais desafios e como se pode desenvolver uma parceria que seja win win e diminua o risco para os dois lados. A principal conclusão é que todos têm que participar na criação de valor ao longo da cadeia de produção. Não pode haver pontas soltas, tem que haver entreajuda e tem que se trabalhar com seriedade e responsabilidade.

A mesa redonda que se seguiu foi composta por Luis Pinheiro da Lusomorango, Manuel Évora do Grupo Luis Vicente, Pedro Atalaya da ANPOC e José Manuel Gomes da Casa Prisca. A moderação esteve a cargo de Isabel Martins, directora da "Vida Rural", que teve sempre a capacidade de fazer perguntas desafiantes não só nesta mesa, mas ao longo de todo o dia. Por vezes não é fácil ser jornalista e colocar o dedo na ferida, mas esta publicação tem-se esforçado por discutir os assuntos realmente importantes e deve ser congratulada por isso. 

Esta mesa redonda falou da aposta na qualidade em nichos de mercado como forma de criar valor, aumentar as receitas e diminuir o risco. Foi excelente ouvir os casos da fruta desidratada ou dos cereais BTP. Bons exemplos de como se pode olhar para os mercados e para a produção de novas maneiras e não competir apenas na commodity.

Depois da pausa para o café, o GPP através de Luis Ramos, apresentou a estrutura das principais contas cultura em Portugal, desde a parte agrícola até à pecuária. Foi talvez a parte mais extensa do congresso, e podiam ter-se tirado mais conclusões, pois foi muito factual. Mas mesmo assim, deu para compreender as diferenças nos custos das diferentes actividades. A seguir, Pedro Avillez explicou como a Agroges trabalha em termos de metodologia com os seus clientes na questão de prever as rentabilidades agrícolas. A questão da criação de cenários alternativos que podem ocorrer consoante o comportamento das diferentes variáveis que afectam a rentabilidade, teve bastante enfoque.

Uma das apresentação mais esperadas (pelo menos para mim), era a de Jorge Tomé, Presidente da Comissão Executiva do BANIF. Após uma análise da conjuntura económica em Portugal ficaram 4 conclusões principais: os bancos têm crédito para atribuir, nenhum sector cresce sem o apoio dos bancos, a agricultura é um sector pojante e os bancos não sabem nada sobre o sector agrícola!! Gostei da frontalidade com que este Director do BANIF apresentou este desconhecimento do mercado agrícola, pois sinto que não foi dito com o intuito de mostrar uma fraqueza. Pareceu-me que afirmação foi feita com a vontade de aproveitar uma oportunidade e trabalhar em conjunto com os produtores agrícolas de Portugal. É esperar para ver!

Antes de almoço, ainda tivemos a oportunidade de ouvir Jorge Soares da Campotec falar sobre práticas vencedoras na produção de pêra rocha e que têm tido um grande impacto nos custos variáveis. Falou-se no pagamento aos apanhadores da fruta ser feito ao quilo e não à hora. E também da aplicação de fito fármacos nas árvores de fruto de uma forma mais eficiente, apropriada e taylor made. Ambas as medidas reduziram custos variáveis e tiveram grandes impactos na eficiência. Não é isto que todos queremos?

Após o almoço Carlos Gonçalves, da Mendes Gonçalves, fez uma excelente apresentação sobre a internacionalização da marca Paladim. Foi como um bom digestivo após o fantástico almoço que organização ofereceu aos participantes. De forma clara e transparente, falou das várias vertentes que se devem equacionar quando se internacionaliza uma marca: do estudo exaustivo do mercado de destino, da investigação e desenvolvimento necessários, da adaptação aos mercados locais (fiquei particularmente impressionado com o facto de terem packaging próprio para cada mercado e não porem etiquetas em cada embalagem a traduzirem os ingredientes) e do orgulho em ser Português e produzir em Portugal. Parabéns Paladim!

Para finalizar o congresso houve duas mesas redondas. As duas foram bastante acesas, o que é de congratular mais uma vez, pois discutiam-se assuntos importantes e é necessário falar nas coisas com frontalidade.

A primeira mesa, moderada por Luis Mira da INOVISA, contou com a presença Aristides Sécio, presidente da ANP (Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha), João Miranda, CEO da Frulact e Manuel Rocha, CEO da Adega de Borba. Todos falaram sobre os projectos das organizações que representam e dos desafios que têm pela frente. A mesa era suposto girar à volta da temática dos pontos fortes de Portugal na altura de abordar novos mercados. Mas a discussão acabou por ser outra, também bastante proveitosa a meu ver. Discutiu-se mais uma vez a necessidade do corporativismo, algo que tem sido transversal a todos os congressos a que tenho assistido. E também da necessidade da profissionalização das organizações de produtores. Só assim haverá dimensão, massa critica, poder negocial e criação de valor nas diversas fileiras de um mercado pequeno como é o de Portugal.

A segunda mesa, que girou à volta da temática da relação dos produtores com a Grande Distribuição, foi moderada de novo por Isabel Martins e contou com a presença de Domingos Santos da FNOP e Frutoeste, Duarte Xarepe da SRS Advogados, Francisco Mendes da Telles de Abreu, Joaquim Candeias do Intermarché e Pedro Pimentel da Centromarca. Estava em pulgas para este debate. Como ex membro da Distribuição Moderna e seguidor activo deste mercado queria ouvir o que tinham para dizer. 

Falou-se da nova lei anti dumping, na qual não fiquei muito esclarecido. Parece-me que os retalhistas vão conseguir continuar a disfarçar as rubricas que entram para a formação do preço de custo como bem lhes convier. A questão dos novos limites da multa ficar ao critério da ASAE também me parece polémica. Perdeu-se uma boa oportunidade de se fazer um diploma sério e que de facto protegesse produtores, retalhistas e acima de tudo consumidores. Durante a discussão ficou também patente alguma tensão entre a Centromarca e o Intermarché. Cada um a puxar a brasa para o seu lado através de frases bonitas e que têm significados e consequências muito mais profundas. Julgo que enquanto as marcas, produtores e retalhistas não equilibrarem os seus poderes negociais, não forem mais transparentes nas suas práticas e tentarem entender e ouvir o outro lado, vai ser muito difícil chegar a consensos. O fosso apenas vai continuar a aumentar!

O dia terminou por volta das 19 horas com umas pequenas palavras de Nuno Vieira Brito, secretário de estado da alimentação e da investigação agro alimentar. Falou do incentivo à inovação e do conhecimento como base para o futuro da agricultura! Isabel Martins ainda tirou algumas conclusões sobre o congresso e deu as boas vindas a todos os jovens agricultores. Senti-me bem acolhido neste novo meio que culturalmente tem fama de ser um pouco fechado. É bom que as pessoas percebam que nós, os jovens agricultores, estamos aqui para ficar e que não somos apenas o nome de um subsidio. Muitos vão entrar e sair porque não estão preparados, mas os que ficarem vão ser o futuro do sector em Portugal, por isso precisamos do máximo de ajuda possível!

Foi muito bom ter estado presente neste congresso. A Sociedade Agrícola Queirós, através do seu único trabalhador (eu!!) continuará a marcar presença nas vários eventos da área que forem ocorrendo por Portugal e com os objectivos muito bem definidos: ouvir, ouvir e ouvir. Aprender, aprender e aprender!

Think about it!



segunda-feira, 31 de março de 2014

Indiana Jones 5: Em busca da Propriedade Perdida!

Criada que está a Sociedade Agrícola Queirós (SAQ para os amigos), chegou a altura de procurar o epicentro deste projecto, o coração de toda esta epopeia, a menina dos meus olhos: a terra onde inicialmente me vou estabelecer! Um bocado de Portugal só para mim e onde poderei exercer essa nobre actividade conhecida como agricultura.

Hoje estamos a 31 de Março e desde que comecei a visitar propriedades, já lá vai um mês e meio. Ao todo visitei mais de dez, e já estão agendadas mais quatro.

O foco tem sido o Alentejo. Embora já tenha ido ao Ribatejo e a minha família tenha origem nas Beiras, é ali que me sinto bem e é também onde existe a necessária dinâmica agrícola para exercer as actividades que até agora mais me entusiasmaram: pecuária (vacas e porcos) e cereais (para grão ou forragens). No Alentejo é também onde os preços por hectare mais se adequam às minhas possibilidades... a região do Ribatejo tem melhores solos e mais água mas é tudo muito mais caro!!

Para além de todos estes factores há outros dois que também pesam: a distância a Lisboa (não me quero tornar um eremita solitário de barbas grandes que renegou a sociedade citadina) e o chamamento do montado Alentejano... em todas as minhas viagens pelo mundo raramente encontrei um local tão bonito e que me traga tanta paz interior... há alguma coisa mais bonita que um velho sobreiro ao pôr-do-sol?

Em termos de contactos, estes têm sido feitos através de amigos, gente da agricultura, anúncios de jornal, imobiliárias, etc tenho conhecido gente bastante diversa e interessante.

De mencionar que depois de tantas visitas, até já ganhei interesse em novas áreas, nomeadamente a vinha e o olival! Duas culturas bastante "nativas" de Portugal e que aqui são plantadas desde o tempo dos Romanos. Há dois anos não tinha o mínimo interesse nestas áreas, mas se há coisa que aprendi é que não devemos renegar aquilo a que a terra é propícia! Para quê andar à tareia com os solos e com as condições climatéricas? Para quê tentar fazer crescer ananases no Alentejo?

Através do Pai da minha amiga Joana Torres também tive alguns insights sobre abóboras, pimentos e courgettes. Também fui a um congresso sobre Milho em Beja e aprendi mais sobre esta cultura. Nesse evento o regadio do Alqueva foi colocado em destaque. O maior lago artificial da Europa. O El Dorado da agricultura. Já lá fui fazer uma visita e gostei. Há terra para arrendar e comprar, mas a água é bastante cara e as produções demasiado intensivas para o meu gosto. A ver vamos...

Em termos de check list em cada propriedade é preciso olhar para diversos factores. Tamanho, preço por hectare, solos, vedações, água (CRUCIAL), electricidade, distância à estrada, monte para habitação, edifícios agrícolas, se vem com alguns equipamentos, se já tem alguns apoios, arrobas de cortiça, número de azinheiras ou pinheiros, culturas anteriores, estruturas de rega (bomba e pivots), etc, ou seja um grande número de variáveis!

Trata-se de um investimento considerável e que por isso requer um grande envolvimento. Há que estar o melhor informado possível para tomar a melhor decisão possível.

No fim do dia, e segundo a minha maneira de olhar para as coisas vai tudo estar dependente de duas coisas: o facto de ser viável (ninguém quer fazer um mau investimento) e o sentir-me bem no local em questão... terá de haver com certeza alguns sobreiros no pôr-do-sol...

Think about it!



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A criação da Sociedade Agrícola Queirós.

Ninguém sabe explicar porquê. Talvez seja porque fomos feitos para isto. Talvez a finalidade do ser humano seja criar. Uns criam filhos. Uns criam espaços. Uns criam objectos. Até há uns, cuja especialidade, é criar problemas.

Eu aqui ando há algumas semanas a criar uma empresa e um projecto agrícola. Na verdade o projecto já começou há cerca de dois anos e meio, mas só agora começa a tomar as suas primeiras formas.

Ninguém sabe explicar porquê. O processo de criação e entrega a qualquer coisa é, sem dúvida, das melhores coisas que podemos ter na vida. A responsabilidade de fazer nascer algo e tratarmos dela desde os primeiros passos até à maturidade. Saber que podemos aproveitar um conjunto de circunstâncias, conhecimentos, saberes, experiências de vida, redes de contactos para desenvolver algo. Sentir o medo e a adrenalina ao mesmo tempo. Ganhar noções de risco. Atirarmo-nos para a piscina, tentando obviamente que ela tenha o máximo de água possivel!

É preciso ter uma visão. Um sonho. Olhar para o futuro e projectar algo. Imaginar qualquer coisa. Fazer cenários. E depois implementá-los com um grande jogo de cintura. As circunstância podem mudar e temos que nos adaptar a elas.

A minha maior dificuldade na criação deste projecto agrícola, que ainda está nos seus primeiros passos, ou seja numa fase muito embrionária, é a gestão de expectativas. À medida que vou compreendendo os modelos de negócio das várias àreas agrícolas e percebendo como as coisas funcionam, tenho a tendência para projectar na minha cabeça coisas grandes para o futuro.

Sendo uma àrea com muitas oportunidades em Portugal e onde os custos do capital ainda são baixos comparativamente a outros países, facilmente caio na armadilha de pensar em ter muita terra, muita produção, marcas associadas, mudar o mundo!!

Mas pronto, rapidamente volto a colocar os pés na terra... Há que ter humildade quando se entra numa área nova. Como ouvi dizer no outro dia, a agricultura está na moda. Muitas pessoas não se apercebem que é das àreas mais técnicas, cientificas e dificeis para trabalhar. Se queremos ser competitivos na agricultura é preciso muito trabalho e conhecimento. Também são necessários grandes quantidades de capital para entrar neste àrea, coisa que não disponho. Por isso aquilo que pretendo montar é apenas uma pequena unidade produtiva, desenvolvê-la e ver, com o tempo, onde o caminho leva.

Defini alguns objectivos para entrar nesta àrea: desenvolver o país, inovar, interagir com a natureza, sair da azafama da cidade e ter um retorno sobre os capitais investidos. Não pretendo ficar rico com a agricultura mas também não há necessidade de perder dinheiro!

Defini 21 passos para a criação deste projecto. Alguns mais técnicos, outros mais conceptuais. Mas é o caminho que foi escolhido.

Uma das boas notícias sobre a criação deste projecto recebi-a ontem à noite: o certificado de admissibilidade da "Sociedade Agrícola Queirós, Unipessoal, Lda" já foi emitido. A empresa já existe. Falta assinar o contrato de sociedade e o pacto social mas as coisas começam a tomar forma!

A small step for man, a giant leap for mankind :-)

Aqui ficam os 21 passos, descritos de forma generalizada... think about it!!

1- Estudo da legislação aplicável ao sector agrícola, nomeadamente os apoios ao jovem agricultor.

2- Ter assegurado o financiamento para iniciar a actividade, atenção a custos inesperados, garantir o fundo de maneio até ao surgimento de receitas.

3- Estudo das diversas actividades agrícolas, pecuárias e florestais.

4- Estabelecimento de uma rede de contactos com agricultores + experientes, cuidado com os velhos do restelo.

5- Escolha do local de instalação: terra (solos, condições climatéricas, água, biodiversidade, acessos, mercados, etc..)

6- Estudo do mercado seleccionado: procura, oferta, preços, importações, exportações, etc..

7- Descrição do processo técnico de forma detalhada e rigorosa (ex: cereais desde a semente até ao comprador).

8- Atribuir um valor de mercado a cada uma das actividades descritas no ponto 7. Plano de vendas e custos para 10 anos. Incluir análises de sensibilidade.

9- Outsourcing de serviços vs compra de maquinaria própria.

10- Verificar disponibilidade de mão-de-obra nas região escolhida.

11- Arranjar empresa de contabilidade agrícola.

12- Criação de sociedade de suporte ao negócio. Sociedade Agrícola Queirós.

13- Abrir conta em nome da sociedade.

14- Assegurar serviços jurídicos.

15- Telemovel, via verde, seguros.

16- Viatura de trabalho. Perceber as necessidades do dia-a-dia bem como custos (portagens, consumos, imposto sobre veiculos, etc..)

17- Passar à implementação do projecto. Prioridade às coisas mais imediatas.

18- Construir mapas de controlo internos.

19- Planear com rigor a sequência de execução/pagamento/reembolso no caso dos subsídios agrícolas.

20- Ser um membro activo de instituições agrícolas, cooperativas e na comunidade local. Ter relações cordiais com colegas de profissão, clientes e fornecedores.

21- PRUDÊNCIA NOS GASTOS!


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O empreendorismo é uma ciência?


No decurso do meu recente estudo de abrir uma empresa agrícola, a primeira questão que me surgiu é o que é isto de ser empreendedor? Quais são os factores a ter em conta quando decidimos ser patrões de nós próprios? Quais devem ser as características de um empreendedor e como é o ambiente que rodeia tal individuo? Fui à procura de algumas respostas e apresento-as aqui em directo no Blog dos Bosques.

O empreendorismo não é um bem divino que nasce com as pessoas. Pode ser ensinado como muitas outras áreas. Conhecimentos sobre a área em que se vai trabalhar, contactos, marketing, finanças, operações são algumas das competências a desenvolver.

O empreendorismo também não representa, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a implementação de uma ideia ou inovação radical. Se estivermos a fazer algo ligeiramente diferente dos outros, e ao mesmo tempo a gerar valor para o cliente já estamos a ser empreendedores. Mudar o horário de atendimento, alterar um preço ou atacar novos segmentos são formas de inovação que representam empreendorismo.

A meu ver, o ponto de partida para o empreendorismo, não deverá ser o ganhar dinheiro para as despesas do dia-a-dia. É importante que seja visto como uma forma de realização pessoal e profissional. Esta realização está directamente ligada à valorização pessoal e dos que nos rodeiam, à independência e ao interesse genuíno pelo que se faz.

Portugal é conhecido como um país de pouco empreendorismo. Somos um país com elevada aversão ao risco e níveis acentuados de colectivismo, (estudos culturais de Hofstede sobre cultura empresarial nos diferentes países).

A população tem medo de falhar e de ter insucesso. O grupo é privilegiado acima do individuo e o sucesso pessoal nem sempre é bem visto, sendo muitas vezes questionada a honestidade dos que vencem na vida…

Estes dois factores representam um grande obstáculo à actividade empreendedora no nosso país, pois há sempre um nível de risco no empreendorismo que não se consegue evitar. Para além disso há bloqueios psicológicos de cariz cultural quando se ganha ou perde. Se falhamos estamos condenados e perdidos, não haverá segundas oportunidades e ninguém se esquece. Se vencemos somos desonestos e tivemos sorte. Parece que mais vale ficar sossegado num canto e deixar a vida andar…

Felizmente o empreendorismo já tem vindo a ser melhor aceite e o reflexo disso, é a contribuição dos media para a divulgação de casos de sucesso. No entanto, a meu ver, ainda há um longo caminho cultural a percorrer para que se possam alterar mentalidades nesta área.

O primeiro passo de um empreendedor é a identificação de uma oportunidade presente ou futura. Esse trabalho parece mais difícil hoje em dia. A globalização trouxe grandes desenvolvimentos, principalmente nas áreas das tecnologias de informação e comunicação.

Este facto veio alterar o comportamento dos consumidores e das empresas e daí a dificuldade na identificação de oportunidades. Tudo parece mudar rapidamente. O consumidor tem uma grande diversidade de ofertas e às vezes até altera a sua decisão conforme o ambiente em que se encontra. Muitas empresas não conseguem acompanhar este ritmo competitivo e fracassam na capacidade de fazer face a ameaças ou aproveitar oportunidades.

Normalmente as oportunidades estão implícitas nas tendências e mudanças, sejam elas sociais, politicas, económicas ou culturais. Até as situações de crise podem representar uma oportunidade. Hoje em dia as grandes tendências passam valorização do eu, pelo sobressair dos outros através de posses e experiências, manter a jovialidade para sempre (complexo de Peter Pan do qual eu sofro abundantemente), procurar uma vida mais saudável, vidas muito ocupadas e com diversas frentes, o uso de redes sociais e novas tecnologias que poupem tempo na execução de tarefas, etc

Podem ser identificadas excelentes oportunidades ou ter-se excelentes ideias. O problema é passar à acção e transformar essas ideias em algo palpável. Para além dos nossos problemas culturais já mencionados, há também outros factores que determinam a falta de empreendorismo em Portugal.

Em primeiro lugar o difícil acesso a capitais ou desconhecimento dos meios de financiamento disponíveis no mercado. Em segundo a irregularidade das políticas governamentais e “danças” de governos. Por último, é algo que não nos é ensinado na escola. O programa escolar, deveria desafiar a mente das crianças a inovar, a criar e acima de tudo, a explicar quais são os passos necessários para concretizar uma ideia e passar à acção.

Um estudo do Eurobarómetro, indica que 37% dos Europeus gostaria de ser empreendedor mas que apenas 15% o concretizam. Outro estudo realizado pela EOS Gallup Europe Institute, refere que 71% dos Portugueses gostariam de ter o seu negócio próprio, a taxa mais alta da Europa!! A pergunta era “ Será que devo ter o meu próprio negócio?”. Noutros países de cultura Escandinava ou Anglo Saxónica, a resposta foi precisamente o contrário, ou seja, preferem trabalhar por conta de outrém.

Portanto, as pessoas querem ser empreendedoras para ter independência, dinheiro, satisfação pessoal, realização e porque observam de uma boa oportunidade. Mas porque há tanta gente que se fica pela intenção?

A resposta óbvia é que há muitas pessoas que se sentem seguras e confortáveis no seu emprego, têm uma família estável e um bom estilo de vida. E perante isso, não estão dispostas a arriscar serem empreendedoras.

Mas na verdade há muitas pessoas que até têm o capital ou conhecem os meios de chegar a ele, têm conhecimentos e capacidade, já vislumbraram a oportunidade mas mesmo assim não arriscam. Afinal o que distingue um empreendedor de um não empreendedor?

Segundo o livro “Ser Empreendedor” das Edições Sílabo, os traços principais de um empreendedor são:

- É alguém que toma iniciativa para criar algo novo e de valor para o próprio empreendedor e para os clientes,

- O empreendedor tem que despender o seu tempo e esforço para realizar o empreendimento e garantir o seu sucesso,

- O empreendedor recolhe as recompensas sob a forma financeira, de independência, reconhecimento pessoal e de realização pessoal,

- O empreendedor assume os riscos de insucesso de empreendimento, quer sejam financeiros, sociais ou psicológicos/emocionais.

Mas o que leva os indivíduos a serem empreendedores? Este é definido em termos de comportamentos e atitudes. Ninguém nasce assim porque não há genes de empreendedor. Há as motivações próprias ou até uma situação de necessidade. Há também outros factores como o ambiente educacional e familiar, se os pais também foram empreendedores, as experiências passadas (se objectivos anteriores foram concretizados ou não), a experiência profissional prévia e a idade. 

De facto, a grande fatia de empreendedores são indivíduos entre os 25 e 45 anos que já tiveram pelo menos um emprego. Mas também não me parece que haja um critério de idade obrigatório, embora admita que a vitalidade física seja importante. Não se pode embarcar num novo projecto se nos sentirmos cansados ou em má forma física ou mental.
Antes de terminar, um pequeno paragráfo sobre a questão do risco. Normalmente pensa-se que quem começa um novo negócio assume grandes riscos. Esta frase não deixa de ser verdade mas são riscos controlados. Com um bom estudo de mercado, um bom modelo de negócio, um financiamento equilibrado, uma estratégia viável e com parceiros conhecedores da indústria e do mercado, reduz-se em grande escala os potenciais riscos de um novo negócio.

Por fim termino com uma lista de mitos e frases sobre o empreedorismo que encontrei. São apenas isso… mitos! A vontade, o rigor, trabalho e o desejo de sonhar parecem-me bem mais importantes! Think about it!

- O empreendedor nasce, não se faz.

- Qualquer um pode iniciar um negócio.

- São jogadores/apostadores que assumem riscos excessivos.

- Têm necessidade de protagonismo.

- São patrões de si mesmo.

- Trabalham muito.

- Iniciam negócios de risco.

- Apenas para os ricos.

- Idade é uma barreira – apenas para os jovens.

- São motivados apenas pelo dinheiro.

- Procuram o poder e controlo sobre os outros.

- Se tiverem talento, o sucesso chega em 1, 2 anos.

- Qualquer pessoa com uma boa ideia pode enriquecer.

- Tendo dinheiro é fácil falhar.

- Sofrem de stress.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A Colômbia e o final da aventura da America do Sul!

A Colômbia assinalou o destino final da nossa viagem. Percorremos o norte do país: Cartagena, Playa Blanca, Santa Marta, Taganga, Minca e a capital Bogotá.

Foi um dos melhores países que visitamos mas ao mesmo tempo um dos mais estranhos.

O primeiro choque foi a onda de calor em Cartagena, cerca de 35 graus. Esta cidade, que foi a primeira na America do Sul a ser colonizada pelos Espanhóis representa bem aquilo que é a Colômbia hoje em dia: turismo, crescimento, ebulição, pessoas, juventude e salsa... Muita salsa!

No meu imaginário este era o país de Pablo Escobar e dos cartéis de cocaína. E também de Valderrama claro, o jogador de futebol com o melhor penteado de sempre (para quem não conhece o seu cabelo parecia uma palmeira).

A imagem das drogas, milícias, raptos e assassinatos que muita gente tem da Colômbia é um erro e faz parte do passado. Na zona da selva ainda há locais controladas pelas FARC, mas neste momento a grande maioria do pais está virada para o exterior e para o século XXI.

Há tantas oportunidades e tanto por fazer que apetece ficar ali e tentar a sorte. Nunca tinha visto um El Dorado assim, um sítio com tanto potencial... Mas pronto, também já sei que provavelmente será uma bolha, e que daqui a uns anos, depois de alguns crescimentos a dois dígitos, o pais entrará no comum ciclo do crescimento infinitesimal e novas crises sociais e políticas surgirão! Tomara que esteja errado!!

Mas há muito por fazer no país: o poder de compra está a aumentar, há uma nova classe média nas grandes urbes e muita juventude! O novo Brasil ou Angola para quem quiser investir!

Percorremos o norte da Colômbia, na chamada zona do Caribe! Ficamos em praias paradisíacas, dormimos em redes, bebemos sumos de fruta, comemos peixe e marisco, vimos aranhas do tamanho de bolas de ténis e caminhamos na selva ao estilo do filme "Em busca da Esmeralda Perdida"! Foi bom terminar a viagem assim, com algum descanso e calor. A pior parte foram os mosquitos. Fomos atacados sem dó nem piedade. As nossas pernas e braços pareciam bifes do lombo numa aldeia da Etiópia.

No fim ainda fizemos Bogotá, a capital da Colômbia com 12 milhões de habitantes. Há 15 anos esta era a cidade mais perigosa do mundo, com o maior número de assassinatos. Hoje é uma cidade cosmopolita e moderna, com milhares de pessoas a passear na rua e a rebentar de energia. Ficamos na zona cultural da cidade, a plaza Chorron e vimos muitos espectáculos de rua. Um deles, o contador de histórias, ficará nas nossas memórias para sempre. Também visitamos o museu Botero, o museu do ouro e fizemos as últimas compras de Natal em feiras de artesanato gigantescas!

No dia 22 de dezembro partimos para o aeroporto. Por certo cada um de nós falou com os seus botões e se perguntou se queria mesmo voltar já. A resposta foi sim. Há timings para tudo e esta experiência já ninguém nos tira. Para além disso eu estava com uma dor de dentes horrível e apesar de estar em Bogotá, só pensava no meu querido dentista ali na rotunda da Estefânia!

Para trás ficaram quase 4 meses de experiências incríveis. Espero que se tenham divertido tanto como eu nos relatos do Blog dos Bosques e nas fotos que fomos colocando no Facebook e Instagram.

É uma viagem que toda a gente devia fazer e aquele que volta não fica indiferente. A America do Sul é um local com uma energia muito especial e onde ainda acontecem daquelas coisas que ouvimos nas histórias ou vemos nos filmes. 

Agora em Portugal, olho para trás e nem acredito nas coisas que vi e locais onde estive. A experiência na quinta da Malfatta, o Iguazu, Ushuaia, os Andes, os animais que vimos, o glaciar do Perito Moreno, Machu Picchu, as pessoas que conhecemos... Muitas delas nativas dos próprios países e a viver com muito menos do que qualquer um de nós alguma vez imaginou...

E agora? O futuro?

A pergunta mais importante para mim é: como se regressa de uma viagem destas depois de tudo o que se fez e viu? Como se aproveita a experiência para ser melhor? Estamos mais vazios ou mais cheios? Mais completos?

Se calhar, há 15 anos atrás, iria ficar cheio de nostalgia e saudades depois das experiências que tivemos.

Hoje com 30 e poucos anos, sei que não há tempo para isso. Devemos sim, aproveitar esta oportunidade da melhor maneira possível e potência-la para o futuro, juntado aquilo que vivemos com aquilo que já éramos anteriormente!

Tivemos tempo para reflectir no passado, presente e futuro. Tempo para aprofundar pensamentos e tomar decisões. Ganhar novas referências. Melhorar enquanto pessoa. Decidir o caminho.

A principal conclusão é que o futuro é uma folha branca por escrever e só depende de nós o que fazemos com ele! Vamos a isso!

Think about it!