segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Matéria orgânica no solo!

Os solos são uma das àreas mais importantes na agricultura por razões óbvias. São também uma das àreas mais complexas que tenho estudado aqui no RAC por toda a componente cientifica que envolve esta temática. Não tendo um background de ciência é mais dificil, mas tudo se torna mais claro com a observação directa e experiências em laboratório que temos nas aulas.

O solo é normalmente constituido por 25% de àgua, 25% de ar, 45% de matéria mineral (argilas ou areias por exemplo) e 5% de matéria orgânica.

Mas afinal o que é isto da matéria orgânica?

No fundo são todos os restos de plantas ou animais que se encontram em decomposição ou já decompostos no solo. Esta decomposição é feita pelos microorganismos presentes no solo, no fundo as bactérias, fungos, minhocas, etc. Calcula-se que numa grama de solo haja mais de 1 milhão de bactérias! Quando estas bactérias e organimos vivos "atacam" estes restos, há uma parte que é libertada no ar em forma de dióxido de carbono. A outra parte permanece no solo naquilo a que chamamos de humus. Trata-se de uma camada escura, castanha ou preta, que se encontra na superficie do solo ou na sua primeira camada, o chamado top soil (primeiros 15 cm).

Em termos fisicos esta matéria orgânica é muito importante pois ela é responsável por agregar as particulas minerais do solo como as argilas ou a areia. É assim como uma espécie de cola. Para além disso facilita o crescimento das raizes, deixando o ar circular melhor, tendo ao mesmo tempo uma elevada capacidade de reter àgua, o que permite irrigar melhor os solos (menos desperdicio).

Em termos quimicos a matéria orgânica é uma fonte de nutrientes para as plantas, especialmente Nitrogénio (Azoto), mas também fosfatos e potássio. Esta capacidade de atrair e reter nutrientes é fundamental para o sucesso da chamada agricultura orgânica. Neste método de cultivo, e ao contrário da agricultura convencional, não se podem adicionar os chamados fertilizantes quimicos. A única fonte de nutrientes disponivel é esta matéria orgânica por isso a eficiência da sua gestão é fundamental.

O cultivo apenas baseado na matéria orgânica tem vindo a ter cada vez mais sucesso, pois o consumidor tem vindo a ganhar cada vez mais consciência das vantagens para o ambiente. De facto, este método não permite o uso de pesticidas e fertilizantes o que de certa forma evita a contaminação dos solos e a presença de elementos quimicos indesejados na comida. Mas por outro lado, e apesar da matéria orgânica tornar as plantas mais fortes em termos de defesas, não se consegue a mesma protecção para as plantas que se teria com um pesticida normal. Também em termos de retorno as diferenças são enormes. Um hectare de trigo convencional onde tenham sido aplicados fertlizantes consegue gerar 8 toneladas de grão (no Reino Unido), enquanto que contando apenas com a matéria organica para adubar se conseguem 3 toneladas na melhor das hipóteses. Para além de se ter menos retorno, trata-se de uma colheita mais frágil e menos previsivel.. nunca se sabe como vão ser os resultados.

Para os defensores e consumidores do orgânico, os meus parabéns, estão de facto a contribiur para um maior equilibrio ambiental nos campos. Apenas fica uma nota: não se iludam, não é possivel alimentar 7 biliões de pessoas ou os 9 biliões previstos para 2050 por este método... simplesmente não há terra suficiente para isso.

Uma das questões mais importantes na matéria orgânica é a sua gestão no terreno. Quando as plantas a absorvem ela tem de ser substituida, ou seja faz tudo parte de um ciclo. Algumas das práticas mais comuns passam por espalhar estrume nos campos, deixar a palha e o restolho (restos do milho ou sorgo por exemplo) após as colheitas, o plantio directo, etc, ou seja tudo práticas que permitam que mais residuos vegetais e animais fiquem no solo! Lavrar os terrenos, ou seja revirar o solo, é uma prática altamente desaconselhada nesta modalidade pois envia a matéria orgânica para baixo do solo e ela lá fica.

Termino com uma frase de Roosevelt proferida em 1937 "A nation that destroys its soil, destroys itself!"

É importante que os governos tenham planos e organizações que pensem nesta temática dos solos, pois trata-se de uma das maiores riquezas de um pais, mais que ter ouro ou diamantes. Desconheço a situação ao pormenor em Portugal, mas as cartas de solos são todas antiquissimas e a informação que existe é que os nossos solos são pobres em termos de matéria orgânica... o que está a ser feito para combater isto? É importante reforçar que tal como foi dito no inicio, parte da decomposição da matéria orgânica é enviada para atmosfera em forma de dióxido de carbono. Ou seja se não a soubermos reter, vamos não só ficar com solos mais pobres mas também com o ar mais poluido..

Think about it!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cabeças de cavalo e afins!


O bem-estar dos animais na pecuária e uma das áreas que mais me interessa no âmbito dos meus estudos agrícolas.

Trata-se de uma das áreas mais em foco no RAC, e nas aulas que temos sobre vacas, porcos e galinhas, metade do tempo e dedicado as técnicas de exploração efectivamente ditas dos animais (carne, leite, ovos, etc..) e a outra metade e dedicada ao chamado welfare dos mesmos.

Recentemente publiquei no Facebook uma fotografia da cabeça de um cavalo, cujo cérebro estivemos a dissecar numa aula sobre ciência animal. A fotografia em questão pode ser um pouco chocante para pessoas mais sensíveis mas levanta também um dos pontos principais que quero abordar neste texto: ate que ponto as pessoas realmente se preocupam com os animais?

Não tenho a resposta para esta questão mas dá-me a sensação que a sociedade em geral gosta de dizer que se preocupa com os animais, mas prefere não ver o que se passa na vida real... O que e isto então? Preocupam-se ou não se preocupam?

Não devemos julgar ninguem nesta área, pois são questões muito sensíveis e as pessoas podem não gostar de sangue ou sentirem-se enjoadas, etc... Mas queria deixar alguns pontos que julgo serem importantes para a sociedade reflectir, particularmente para que, no seu papel de consumidores, possam pensar neles.

Em primeiro lugar, qual e a moral que alguém pode ter em dizer que se preocupa com o bem-estar dos animais e depois come carne e outros produtos derivados dos animais? Quando se alimentam todos os dias, as pessoas preocupam-se com a origem da carne e com o bem-estar do animal de onde a mesma veio? Ou preocupam-se mais com o preço e com o sabor e aspecto da comida?

Penso que a resposta a esta pergunta e bastante clara: as pessoas gostam de ver a carne barata e bem embalada e com uma boa cor, mas não se preocupam com a origem da mesma. Apenas confiam que deve haver uma mão invisível... Talvez leis que protegem os animais nas quintas de origem... mas não se dão ao trabalho de investigar.

Porque mesmo que haja leis meus amigos, e mesmo que determinados pressupostos de bem-estar estejam garantidos para estes animais, eles são sempre alvo de grandes privações e sofrimento.

Isto leva-me a minha segunda questão. No contexto da PAC Europeia define-se que para garantir o bem-estar de um animal ele deve ter as chamadas 5 liberdades:

- Acesso a agua potável,

- Acesso a comida,

- Não deve ter medo,

- Conforto e abrigo,

- Oportunidade de expressar o seu comportamento normal,

A questão e então: São estes critérios suficientes para garantir o bem-estar dos animais? Na minha opinião, isto e uma falsa questão e nem sequer se devia colocar. Se realmente nos preocupamos com o bem-estar dos animais então não os deviamos comer, não os deviamos matar em matadouros bem desinfectados, não devíamos prende-los em estábulos e campos com cercas, não devíamos limitar o seu comportamento sexual, não devíamos interferir na alimentação, etc...

Para a maioria das vacas a única relação sexual que tem na vida e com uma palhinha... A chamada inseminação artificial, e depois quando o vitelo nasce e logo separado da mãe, para que esta nos possa dar o leite para os cereais de pequeno-almoço e fazer queijinho e manteiga... Meninas, gostavam que isto vos acontecesse? Que vos tirassem ano apos ano o vosso filho, para que pudessem ser exploradas e tirarem produtos dos vossos corpos?

E quanto ao transporte dos animais? Quantos de vocês gostavam de ser transportados em camiões apinhados, a suportar falta de água e temperaturas extremas de frio ou calor? Faz lembrar um pouco o holocausto quando havia pessoas a ser transportadas em condições desumanas para campos de concentração.

Mas o que interessa tudo isto, se o bife vier com um bom molho, batatas fritas e ainda um vinho delicioso a acompanhar?

Se realmente nos preocupamos com animais porque levamos os nossos filhos ao zoo e lhes mostramos o urso polar a apanhar sol?

Tal como referi, apenas queria levantar estes pontos, de forma um pouco extrema talvez, para que as pessoas possam pensar nas coisas de uma forma lucida e informada.

Na minha opinião há que aceitar sem falsos moralismos a estrutura da cadeia alimentar. As espécies desenvolvem-se e crescem porque são as mais fortes tal como Darwin estudou e comprovou. Desta forma, o ser humano vingou na terra porque foi mais forte que os outros e isso deve-nos permitir encarar a questão de comer animais de forma normal e sem preconceitos. Os animais são criados numa perspectiva de exploração, depois são mortos, tira-se a pele e corta-se a carcaça em partes para ser comida depois. Desde pequenos que devíamos conhecer esta realidade e na escola devia haver visitas de estudo a mostrar como tudo isto se faz.

Aliado a esta transparência de processos, penso que deveria haver um grande investimento na fiscalização do bem-estar dos animais, para que não haja produtores a fazer mal aos mesmos a priva-los das 5 liberdades mencionadas acima. Produtores que não respeitassem as leis deveriam ser severamente punidos.

Se houvesse mais abertura para mostrar as pessoas o que realmente se passa, ou seja se desde pequenos nas escolas, fossemos obrigados a ver o que se passa e mesmo participar no processo, as pessoas estariam mais informadas e o mercado seria menos corrupto e mais transparente. Os produtores que tem vacas apenas para receber subsídios mas que as deixam morrer a fome poderiam ser condenados. Leis como aumentar as gaiolas de galinhas de 450 cm para 750 cm cúbicos seriam uma anedota!

Tudo isto para que quando o consumidor chegasse ao supermercado pudesse ver na embalagem se aquele animal foi criado ao ar livre, como foi abatido, se foi criado com a mãe, etc..

Num contexto em que Portugal tem de aumentar a sua produção de comida, prevejo que haja muitas oportunidades no mercado para mostrar aos consumidores que determinada comida e melhor que outra pelo simples motivo que este ou aquele animal foi tratado com mais respeito que outro. O respeito pelos animais pode e dever ser encarado como uma vantagem competitiva de mercado e no fundo e uma situação win win: os produtos são melhores e o consumidor fica mais satisfeito por saber que se esta a respeitar a natureza!

Concluindo, a meu ver, apenas os vegetaríamos podem ter moral para criticar qualquer foto de um animal abatido, pois de facto os animais que são explorados para proveito dos humanos, sofrem bastante e tem bastantes privações. Se a nossa moral nos permitir aceitar isso apenas temos que os respeitar então e assegurar que ninguém passa os limites e que todos os animais têm direito as 5 liberdades. Os consumidores devem também procurar informar-se mais e não enfiar o assunto debaixo do tapete... Fingir que não acontece e o mesmo que negar educação aos nossos filhos e não resolve o problema.

Think about it!

 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Back on Campus!

O verão já lá vai... o maior da minha vida até hoje! 4 meses!! 120 dias de férias não acontecem todos os anos... mas na minha cabeça faz-se um sentido de justiça depois de 7 anos de trabalho e verões na universidade passados em estágios para alimentar o CV com mais umas linhas.

Destes 120 dias, cerca de 45 foram passados na Austrália a trabalhar numa quinta. Foi uma das experiências mais humildes e enriquecedoras da minha vida. Acordar às 5 da manhã com a geada, ir buscar as vacas ao campo, ordenhá-las, cortar o pescoço a galinhas, alimentar porcos, guiar o tractor, etc.. foram tudo experiências que me mostraram aquilo que é a vida numa quinta e talvez o que me espera no futuro.

Acima de tudo serviu-me para perceber que quero enveredar por esta àrea. Os turnos de 12-14 horas diários ao ar livre não são nada comparados com uma manhã sentado num escritório a falar ao telefone e a escrever mails!! Trabalhar na natureza é um sonho tornado realidade e é tão instintivo como comer ou dormir.

O homem vive na natureza há 50.000 anos, porque que é que de repente, nos útimos 200 anos, decidiu enfiar-se em fábricas e escritórios??

Com o passar dos dias na Austrália já começava a olhar para a evolução do crescimento das plantas, os padrões metereológicos, procurava pegadas de predadores no chão, enfim, comecei a desenvolver um conjunto de skills que auxiliavam na gestão diária da quinta e que na cidade não existem certamente. Certamente que passado 1 mês e meio sobre essa experiência já estou a perder essas habilidades... é preciso uma prática constante e a aprendizagem é diária!

Agora mais um ano em Inglaterra, um ano para começar a planear como gostaria fazer a minha entrada neste meio agricola. Há que avaliar várias hipóteses... trabalhar para outros ao inicio, em Portugal ou no estrangeiro, com animais ou com cereais, com frutas ou vegetais, com capital próprio ou alheio, etc.. um conjunto de escolhas que podem significar caminhos completamente diferentes. Acima de tudo com a consciência que é um meio bastante dificil, técnico e competitivo e só com muita seriedade poderei ter algum sucesso. Com o passar do tempo até o significado da palavra sucesso se vai moldando na minha cabeça. Acho que vai ser importante ser competente em duas ou três àreas, dado que a rotação é fundamental na agricultura, mas acima de tudo gostava de ter um bocado de terra e sobreviver disso.. este é o meu novo conceito de sucesso!

O primeiro ano foi introdutório, não sabia nada de agricultura ou pecuária e ainda por cima a aprendizagem era em Inglês! Já absorvi algumas coisas básicas mas ainda há um longo caminho a percorrer. Escolhi para este ano cadeiras relacionadas com a elaboração de Forragens (fundamentais para a alimentação dos animais no inverno), Gestão dos Solos, Água e Irrigação, Maquinaria, Edificios Agrícolas e Produção Animal Avançada. A pecuária é a àrea que me chama mais atenção neste momento, mas ainda ontem lia um artigo sobre um produtor de vinhos que há 10 anos odiava vinhas, por isso vamos ver como será o futuro!

O RAC continua igual a si mesmo... frio, chuvoso e com uma população que vai desde os Ingleses que só se preocupam em beber cerveja até aos mais estudiosos que só vivem para o seu PHD. Eu encontro-me algures no meio e este ano com a responsabilidade da equipa de futebol, a vertente desportiva fica reforçada. Inscrevi-me também na natação esta semana... a primeira sessão foi ontem e sem dúvida que gostava de manter esta saudavel actividade.

Durante esta primeira semana no RAC, também conhecemos o Ministro da Agricultura de Inglaterra. Reunimos com ele cerca de 25 estudantes de agricultura e conversamos de forma informal e descontraida. Sem pressas e distâncias hierarquicas, David Heath falou-nos sobre as suas visões da agricultura mundial e as suas maiores preocupações. Todos tivemos a oportunidade de falar e expôr os nossos pontos de vista. Foi de facto uma excelente experiência. Dúvido que semelhante acontecimento pudesse desenrolar-se em Portugal com o mesmo à vontade e interesse por parte de uma figura política.

Enfim, a vida continua, 1 ano já lá vai e outro está para vir. As saudades este ano são maiores que no ano passado. Familia e amigos são a coisa mais importante que temos no mundo e custa estar longe deles, especialmente no meio da chuva e frio! Mas são opções de vida e daqui a 5 minutos já é 2020!

Blog dos Bosques is back!

Think about it!!







 

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Uma quinta na Austrália!

3 cães, 4 gatos, 12 vitelos, 9 porcos, 2 pavões, 1 pelicano, 1 cavalo e inúmeras galinhas e patos… são estes os animais que habitam no jardim da quinta onde estou a trabalhar na Austrália. Todos vivem em equilíbrio uns com uns outros, mas muitos também acabam no prato do Norm e da Dawn que se orgulham de não ir a um talho há bastante tempo

Este casal que anda na casa dos 60`s é aquilo a que se pode chamar um casal adorável. Têm dois filhos que já não vivem na quinta, mas cuja presença em fotografias e outros pequenos detalhes ainda se encontra dentro destas paredes. Também esses filhos já têm filhos hoje em dia, e foram viver para a cidade… não quiseram ficar no campo. Um deles mudou-se para Sidney, o que diga-se não é uma má cidade para se viver. Os poucos dias que lá passei mostraram-me uma das cidades mais bonitas e funcionais do mundo, sinal mais! Vale a pena visitar os seus monumentos, parques e ruas com gente jovem e bandas a atuar.

Quando cá cheguei, ao ler um guia turístico, fui relembrado de algo que a primeira vista parece não ter grande importância, mas que faz toda a diferença na cultura de um país: a Austrália só existe há 200 anos! Pelo menos enquanto país e com este nome. Nos últimos 50.000 anos foi habitada pelo povo aborígene que caçava, dançava, cozinhava, pintava e fazia amor durante o dia e depois no dia seguinte… voltava a fazer o mesmo! Até que o Diabo Branco chegou e alterou tudo isto… hoje em dia os aborígenes são uma raça marginalizada dentro da sociedade Aussie e estão associados a problemas de prostituição, crime e drogas. Alguns deles são também os melhores desportistas e artistas do pais, mas é impressionante verificar o que os povos colonizadores fizeram a estes povos.. Portugal também estragou a vida a muita gente nas Áfricas e Américas, mas gostamos de nos lembrar que inventámos o compasso marítimo e fomos brilhantes ao dividir o mundo em Tordesilhas.

São também um dos países mais ricos em minérios do mundo! Têm tudo e mais alguma coisa e oportunidades não faltam para quem quiser trabalhar nesta área. Sendo uma das profissões mais perigosas do mundo as empresas Australianas pagam cerca de 20.000 euros/mês (sim por mês!!)para quem quiser fazer turnos de 16 horas/dia a 300 metros de profundidade sem seguro de vida. Se queres fazer 240.000 euros por ano e não te importas com estas condições, vem para a Austrália jovem!!

E assim temos este jovem país, que inicialmente foi habitado pelos expatriados e condenados britânicos e depois por outros imigrantes de diversas nacionalidades. Nota-se no entanto que foi um país que evoluiu influenciado pela esfera da commonwealth: bebem chá, guiam à esquerda e gostam de cerveja. Os desportos nacionais são o cricket, rugby e futebol australiano, que embora não se compare ao nosso futebol é muito interessante também. Mas apesar das semelhanças, e depois de ter vivido um ano no UK, posso também dizer com alguma segurança que os Australianos já souberam criar a sua identidade e parecem-me mais descontraídos, sociáveis e amigáveis que os Ingleses.

A quinta onde estou a trabalhar fica em Stanhope, no estado de Victoria, berço da nação Agrícola Australiana. Stanhope fica a 36 graus sul do equador, a mesma distância a que Portugal fica do equador, mas a norte. Esta questão está a ser bastante boa para a minha aprendizagem agrícola pois as características meteorológicas são bastante semelhantes com as nossas. A última coisa do mundo que pretendia era ter sido colocado numa quinta de produção super intensiva cheia de maquinaria pesada e relações complexas com clientes e fornecedores. Ou seja, até podia ter acontecido ter calhado numa situação dessas pois quando vim não sabia bem para o que vinha. Mas em vez de uma quinta virada para o mercado e para o lucro, o que encontrei foi um lugar virado para a natureza e com pessoas amigáveis, o que me deixou bastante satisfeito. Obviamente que uma quinta precisa de fazer dinheiro e ninguém pode viver sem isso, mas é preferível e possível fazê-lo respeitando o ambiente e os animais que nele habitam.

Digamos que estou a trabalhar numa quinta “Free Range”.

Stanhope foi alvo de milhões e milhões de dólares de investimento no seculo XX, cujo objetivo foi a construção de canais que permitissem fazer a rega dos campos. Talvez Portugal pudesse ter aproveitado os fundos Europeus para fazer algo de semelhante em vez de andar a alimentar o bolso de políticos corruptos ou a fazer quilómetros de alcatrão. Ao todo estes canais irrigam uma área que tem uma extensão de 150 km de altura por 300 kms de comprimento. A coisa é tão fácil como isto: quando o Norm quer regar os campos, basta abrir o canal que está ao fundo do seu terreno e a água vem deslizando suavemente pelos campos. Obviamente que o terreno é ligeiramente inclinado por milímetros para permitir que a água escorra. Trata-se de uma zona de criação de gado bovino, ovelhas e também de cereais. Na região onde me encontro, há muitas unidades de produção de carne e também de leite.

Aqui na quinta temos também 96 vacas leiteiras que têm de ser ordenhadas 2 vezes por dia, às 5 da manhã e às 16 da tarde. Nas primeiras duas semanas estive a ajudar o jovem Dylan que já trabalha aqui há uns meses. Na sexta passada já fiz o processo todo sozinho o que envolveu algum grau de responsabilidade e autonomia. Estava com algum receio mas correu tudo bem, à exceção que nos primeiros minutos tinha um filtro mal ligado e perdi alguns 30 litros de leite para o cano de esgoto…

Na quinta fui muito bem recebido pelo casal Norm e Dawn. Não recebo ordenado mas tenho um quarto confortável, comida caseira com fartura e até me “deram” uma moto 4 para o meu trabalho diário e para me deslocar. Não há vida social nas redondezas mas o trabalho ocupa-me grande parte do dia. Faço de tudo desde a ordenha das vacas, arranjar cercas, guiar o trator, semear solos, alimentar os animais e muitas outras coisas do dia a dia de uma quinta! Às vezes os animais fogem e tem que se andar atrás deles, quem disse que uma vaca não consegue correr? Em campo aberto correm mais que nós, pelo que já me apercebi. Também vou tendo outras experiências engraçadas, hoje por exemplo o responsável pela inseminação artificial das vacas veio à quinta e, no meio do processo, desafiou-me a por uma luva até ao ombro e a enfiar o braço dentro da vaca até sentir os ovários da sra., muito didático. Mais tarde tínhamos que dar um remédio a uma vaca e tive que lhe agarrar na cabeça e por os dedos no nariz com toda a força para a obrigar a abrir a boca, enfim, coisas do dia a dia.

No meio disto tudo o Norm acompanha-me em tudo. Que sorte ter encontrado uma pessoa como ele. Já tem cerca de 64 anos mas tem um espirito de um jovem de 20 anos. Diria que é um homem que devia ter vivido na altura do Renascimento. Nunca viajou mas lê livros sobre tudo e mais alguma coisa. Está sempre a receber livros pelo correio que compra em segunda mão na internet e diz-me todo contente “ O que me interessa se estas palavras são em segunda mão?”, interessa-se por arte e por física. Adora cozinhar, antecipa a meteorologia, e sabe sempre quando vai fazer geada. Arranja tudo o que estiver estragado e não desiste até resolver um problema com a maior calma e paciência do mundo. Em duas semanas já criei uma relação de amizade com ele bastante boa. Para além de ser um senhor bastante interessante também tem um elevado sentido de humor. Às vezes levanto-me e digo-lhe que não me apetece ir trabalhar e ele ri-se que nem um perdido. Às vezes quando ele cozinha eu digo-lhe que não gosto da comida e ele diz-me que eu posso então enfiá-la por um sítio acima haha. Resumindo, é bastante bem disposto e passamos o dia alegres enquanto trabalhamos! Entretanto, ele também foi durante vários anos professor de agricultura numa universidade da Austrália e explica-me todas as dúvidas que eu tenho. Ainda esta semana vamos ao Mercado vender uns porcos e vamos matar umas galinhas para comer… ele diz que tenho de ser eu a fazê-lo… Vai ser giro! Acima de tudo ele confia em mim e vai-me propondo vários desafios. Acho que esta é a melhor maneira de trabalhar com pessoas: confiando nelas para se poder aproveitar o potencial.

Melhor que isto acho que seria difícil, tive bastante sorte em encontrar um local assim. Claro que já tenho muitas saudades de Portugal e quando penso que estou enfiado no inverno australiano enquanto é verão no nosso pais, custa bastante. Mas ao mesmo tempo está a ser uma experiência enriquecedora e inesquecível. Mais umas semanas e já poderei comer marisco em Portugal e estar com os amigos e família.

Muitas saudades e abraços do outro lado do mundo, e não se esqueçam…Think about it!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Animais que falam!

Os animais que habitualmente encontramos nas quintas são de facto engraçados e geram em nós sentimentos de ternura e de regresso à infância. Produtividade e empresas à parte, quem não gosta de ver as vacas pachorrentas a pastar nos campos, as ovelhas aos saltos ou os porcos a escavar raízes e a rebolar na lama?
Temos também patos, cavalos, galinhas, coelhos, veados, javalis, etc todo um conjunto de personagens, cada qual com as suas manias e características.
Muitos destes animais já são inclusivamente estrelas de Hollywood! Quem não se lembra de Um Porquinho Chamado Babe, ou de filmes em que estas espécies falam entre si, quando os humanos não estão presentes? Será que isto acontece mesmo? Será que eles comunicam entre eles e combinam estratégias e resolvem problemas? Como os brinquedos no filme Toy Story?
Eu gosto de imaginar que sim. Que apesar de os sujeitarmos à vontade humana ainda há um espaço só deles em que os humanos não conseguem entrar. Não é como acreditar no Pai Natal, é apenas achar que eles interagem de forma independente à sua maneira, e que os humanos não conseguem lá chegar!
Aqui nas quintas do colégio, há registo de algumas histórias interessantes. Desde vacas que dão mais leite quando ouvem música clássica até uma história de porcos verdadeiramente inacreditável. Uma das técnicas mais comuns de alimentar porcos de forma automática é colocar-lhes umas coleiras electrónicas à volta do pescoço. Consoante a cor, os porcos passam na zona de alimentação, e a respectiva ração cai. Ora, estes senhores descobriram, que a coleira azul dava mais comida durante o dia, e então começaram a trocar as coleiras entre si!! Fantástico!!
Obviamente que estou a fantasiar um pouco em relação à verdadeira inteligência destes animais. Parece estar tudo muito mais relacionado com uma questão de estímulos. Uma questão de prémio ou castigo. Quando a águia Vitória chega ao meio campo do estádio da luz tem lá um bifinho à espera. Quando queremos ensinar um cão a sentar podemos dar-lhe um biscoito para o premiar. Quando se põe vedações eléctricas à volta dos campos de vacas é para elas perceberem que há ali uma dor associada se passarem daquele perímetro.
É a chamada Law of Effect para os animais: uma resposta voluntária associada a uma recompensa é mais provável de se repetir do que uma resposta associada a um castigo.
Mas voltando a Hollywood e ao imaginário de que os animais falam entre si, sempre me questionei qual a proveniência de determinados animais em alguns filmes ou como é que eles eram treinados? Quando o Mel Gibson fez o Braveheart ou quando o Ridley Scott fez o Robin Hood, os animais que vamos vendo nos filmes são contemporâneos daquela época. A verdade é que, com a perspectiva empresarial associada à criação de animais, muitas foram as espécies de animais que foram desaparecendo ao longo dos séculos em prol daquelas mais rentáveis.
Em relação às vacas por exemplo, hoje em dia já quase só se vê Fresian-Holsteins (as malhadas a preto e branco) ou Aberdeen Angus (todas pretas) e outras mais como Limousin ou Hereford. Mas as vacas e os porcos do século XIII ou XIV eram diferentes, por isso onde será que os realizadores arranjam estes animais? Existe em Inglaterra uma grande preocupação com esta questão e há muitos produtores apenas dedicados à criação de espécies raras. Estas espécies são depois rentabilizadas através da venda de carne para restaurantes de luxo em Londres ou através da criação de parques temáticos, tais como mini zoos de animais onde as famílias levam os filhos no verão.
Quando por exemplo o Pai do William Wallace, no filme Braveheart, chega ferido a casa da batalha, transportado por uma junta de bois, tratam-se de facto de bois daquela altura, e dos quatro homens que acompanham a carroça, os dois detrás são criadores e especialistas no tratamento destes animais. E pela informação que recolhi não é nada fácil levar ovelhas, porcos e bois para os cenários de filmagem. Tem que se transportar os animais, levar comida, etc e muitas vezes os animais ficam stressados com a espera. Podem chegar ao local das filmagens às 6 da manhã e apenas filmar passadas 12 horas!
Encontrei também referência a um porco que foi treinado para o filme dos 101 dalmatas, supostamente um que faz cair a Glenn Close (Cruella de Vil) no final do filme. Este porco que tinha de estar sentado para esta cena foi treinado durante semanas para o fazer… porque quem se senta são os cães e fazer um porco sentar-se é quase impossível! Tratam-se de animais bastante inteligentes e só fazem aquilo que querem. Neste caso foi possível fazê-lo com o recurso à Law of effect, premiando repetidamente o animal com maçãs quando ele se sentava correctamente.
Estes animais são de facto fascinantes mas a sua inteligência está longe da nossa. Em termos de emoções já não digo mesmo, podem sentir afecto e sentem sem dúvida a maternidade ou se o dono é bom para eles ou não. Mas no caso das vacas, porcos e ovelhas por exemplo, estes animais não sabem por exemplo o que é a morte. Não têm uma ideia de morte. Enquanto os humanos sabem que vão morrer e sabem as consequências de determinados actos, estes animais não têm essa ideia. Embora seja proibido nos matadouros matar um animal em frente a outro, vários estudos demonstram que estes animais não reagem a esta questão.
São espécies que regem os seus comportamentos devido a questões mais hormonais e menos cerebrais, pois este não se encontra tão desenvolvido. Quando têm fome procuram comida, quando estão com o cio procuram reproduzir-se e quando a hormona do stress (cortisol) actua, podem tornar-se mais violentos ou esperneiam.
 A ciência de facto permitiu-nos conhecer melhor estes animais e trata-los melhor. Por exemplo, em Inglaterra, apenas no século XVIII, terminaram os julgamentos contra animais. Várias vezes havia ratazanas a ir a julgamento por terem comido os cereais num celeiro, ou cavalos que deram um coice a alguém… a pena de morte era muitas vezes aplicada!
Mas enfim, apesar de tudo isto, continuo a gostar de imaginar que os animais falam entre si quando os humanos não estão lá! Da próxima vez que virem um Porquinho Chamado Babe, o BraveHeart ou o Robin Hood, já sabem…
Think about it!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Pingo Doce ou Pingo Amargo?

Refugiado no campo em Inglaterra, segui com bastante atenção aquilo que se passou no Pingo Doce no último feriado 1 de Maio. Uma promoção de 50% de desconto directo em factura para compras superiores a 100 € não é todos os dias que acontece.
Como apaixonado pela Grande Distribuição que sou não queria deixar passar ao lado a oportunidade de comentar esta situação de diversos pontos de vista.
Em primeiro lugar, o Grupo Jerónimo Martins é um grande grupo. Fiz a minha formação profissional neste grupo e por isso posso ser suspeito ao fazer esta afirmação mas os factos comprovam-no. É um grupo familiar que foi superando as dificuldades que se lhe depararam ao longo dos anos de forma corajosa e exemplar.
Quando tirei o curso de Gestão na Universidade Católica diversos professores usavam o grupo JM como o exemplo daquilo que não se devia fazer. Na altura estávamos no início do século, entre 2000 e 2004. Nestes tempos foram vários os erros estratégicos do grupo, nomeadamente a questão da internacionalização para o Brasil, que aliada a desvalorização de 75% da moeda Brasileira, quase levou o grupo à bancarrota. O grupo perdeu crédito junto dos investidores e especula-se que apenas a acção da banca, nomeadamente do BES e BCP ajudaram o grupo a sobreviver. Nesta altura o Pingo Doce era ainda aquele supermercado caro direccionado para as elites, o Feira Nova era um Hiper com um posicionamento estranho quando comprado com o Continente ou o Carrefour e o Recheio apanhava pancada da Makro e de outros grossistas no Norte.
O que aconteceu então para que passados 10 anos o Grupo esteja onde está? Porque cresce 2 dígitos em vendas e resultados ano após ano? Porque tem a maior capitalização bolsista dos últimos anos em Portugal contrariando o ciclo negativo do PSI 20? E porque continuam a inovar e a abrir novos mercados e portas como nenhum outro grupo Português? Porque não vendem tudo ao Tesco ou à Wall Mart e vão descansar para uma ilha?
Para mim a resposta, que estive lá dentro, passa pela equipa de Gestão do grupo. O presidente do conselho de administração, o presidente da comissão executiva, os seus filhos, os directores financeiros, marketing, comerciais, etc.. são pessoas com uma grande visão. Uma visão preconizada por Soares dos Santos e ajudada a pôr em prática por pessoas competentes como Luís Palha da Silva e outros consultores externos como Borges de Assunção. Os directores das unidades de negócio conhecem as lojas todas de Portugal e as pessoas que lá trabalham pelo nome próprio. Desde o topo da hierarquia até ao caixa de supermercado, existe uma motivação enorme e um grande orgulho em pertencer a este grupo.
Não são permitidos atrasos nas reuniões. O consumidor é REI. Há uma revista interna no grupo que exalta os feitos pessoais dos trabalhadores do grupo, sejam eles das lojas ou dos escritórios. Lançaram máquinas de cafés e têm uma marca própria que em termos de qualidade pode ser comparada a muitas marcas líder mas muitas vezes quatro vezes mais barata. Têm uma escola de Recursos humanos, onde ensinam as competências que cada funcionário necessita ter para executar a sua função. Acabaram com o Feira Nova e conseguiram mudar o posicionamento de preço do Pingo Doce para um quase Hard Discount, mas possuem lojas com aparência agradável e que em nada se compara ao LIDL e Minipreço. São líderes de mercado no Polónia. Têm excelentes frescos (fruta, pão, carne, etc..),  etc  etc etc etc  julgo que por todos estes motivos e muitos que faltam aqui mencionar são de facto um excelente grupo e um exemplo de gestão para as empresas Portuguesas.
Relativamente a esta acção, devo no entanto dizer que fiquei um bocado surpreendido. A grande distribuição tem vindo a surpreender ao longo dos últimos anos com todos os instrumentos e mais alguns para captar o máximo de consumidores possível, mas nada do que se tinha passado até aqui supera isto. O Pingo Doce mais uma vez inovou mas aqui apareceu uma primeira contradição: esta insígnia tem vindo a comunicar que não faz promoções, nem cartões, nem talões, mas isto é claramente uma promoção, e mais do que isso, é a MAIOR promoção de sempre.
Aqui surge-me a questão: quem vai pagar a acção? Para termos uma ideia do que pode custar uma acção deste género podemos construir alguns pressupostos:
- A insígnia tem neste momento 396 lojas.
- Quanto ao valor gasto, vamos considerar uma compra média de 120 € , porque muitas pessoas não se limitaram a comprar 100 €, e com certeza houve muitas mercearias e pequenos retalhistas que foram lá abastecer e não compraram menos de 500 € em produto.
- As lojas abriram às 9 da manhã e fecharam às 18, mas vamos considerar o período de compras até às 19 horas porque muitos consumidores ainda se encontravam na loja quando as portas fecharam. Foram portanto 10 horas de abertura.
- Para cada acto de compra vamos considerar 15 minutos. Ou seja para passar os produtos na caixa registadora e pagar vamos considerar 15 minutos por consumidor. Portanto, ao longo do dia, cada caixa registadora teve 40 actos de compra (600 minutos/15 minutos). Se fizermos uma média de 10 caixas registadoras por loja (algumas têm 2, outras têm 30) temos então um total de 400 actos de compra por loja.
Fazendo então as contas temos: 120 € x 50% de desconto x 396 lojas x 400 actos de compra =
9.504.000 €!

Trata-se então de uma oferta total aos consumidores de quase 10 milhões de euros. Com alguma margem de erro nos pressupostos, acredito que o custo real desta promoção se encontre entre os 8 e os 12 milhões de euros
De acordo com o relatório de contas de 2011, o Grupo teve um resultado líquido de 340 milhões euros, sendo que mais de metade deste valor vem da Polónia. Poderá então o Pingo Doce sacrificar à volta de 10% do seu resultado liquido num único dia do ano?
A JM está então disposta a ajudar os portugueses, como afirmou esta semana, mas com os custos saídos do seu bolso? Estará disposta a dar estes 10 milhões de euros e sacrificar a sua margem?
Não me parece que isto vá acontecer. As marcas vão ser pressionadas até à morte para financiarem esta operação e não vão poder fazer grande coisa se não pagar… Primeiro vão dizer que não sabiam da acção e não tinham nada combinado em relação a pagamentos... mas de certeza que receberam encomendas fora do normal na semana anterior e não se importaram muito esse facto quando estavam a fazer os números de Abril.
Muita imprensa informou que o Pingo Doce fez dumping mas também já foi referido que vai ser muito complicado provar isso.
Por isso agora é aguardar pela autoridade da concorrência e também pela reacção do mercado, nomeadamente da Sonae. Estes senhores são os líderes de mercado em Portugal e não se vão deixar ficar assim... Para além disso se os fornecedores pagarem a acção do Pingo Doce é certinho que também vão ter de pagar uma à Sonae. O departamento de Marketing e Comercial da Sonae não fica nada atrás do Pingo Doce em termos de competência e por isso vamos aguardar pela resposta… quem sabe um 60% de desconto? Ou fazer 50% de novo mas desta vez com guarda-costas garantido para zelar pela segurança de quem está nas lojas?
Quanto ao dia da acção ser o feriado do trabalhador ou a confusão que foi gerada nas lojas só tenho a dizer que de facto a JM poderia ter reforçado a segurança nas lojas para evitar acidentes. Muitas das lojas têm corredores estreitos, parques de estacionamento pequenos e era de prever que animos pudessem exaltar. De resto todos os dias são dias e cada um faz o que lhe apetece. O simbolismo de determinados feriados pode significar muito para alguns e menos para outros. Por isso considero descabido qualquer questão face ao facto de as lojas estarem abertas neste dia ou mesmo criticas aos consumidores que lá foram aproveitar boas oportunidades.
Acabo este artigo com o mote que encontrei no relatório de contas da JM:
A certeza de um bom caminho nasce
do rigor do seu planeamento,
da disciplina na sua execução,
do controlo dos resultados atingidos.
Think about it!

quarta-feira, 28 de março de 2012

O Velho e o Mar!

O Amor, esse sentimento complicado de explicar e de dificil conjugação com a vida! Sei muito pouco sobre esta área... mas uma vez ouvi uma história no nordeste Brasileiro, que pelo menos me deu uma luz sobre os timings do amor!

À falta de assuntos agrícolas, gostava de imortalizar essa história no meu Blog dos Bosques durante esta tarde solarenga em Portugal:

Fax muito muito teimpo... esperem... é melhor escrever em Português... Há muito muito tempo atrás, os sentimentos viviam todos em ilhas. Cada um vivia na sua ilha e assim decorria a vida em paz.

Um dia o nível do mar começou a subir e os sentimentos começaram a fugir das suas ilhas. Mas o amor, que vivia em paz e harmonia na sua ilha, não tinha um barco para escapar...

Ao lado da sua ilha iam passando os outros sentimentos ao leme dos seus barcos mas ninguém o ajudava...

Chamou a Alegria mas esta não ouviu... chamou a Saudade mas esta não ouviu... chamou a Inveja mas esta também não ouviu...

Quase condenado à morte, com àgua a transbordar na sua ilha, eis que chegou um velhinho num barco e salvou o Amor!

Durante a viagem o velhinho não disse nenhuma palavra... mas quando chegou à ilha onde os sentimentos se tinham então reunido, o Amor foi perguntar à Sabedoria quem era aquele senhor?

A Sabedoria sorriu e respondeu: " Aquele velhinho é o tempo, pois só o tempo consegue encontrar um grande Amor!"


E assim foi a história que me ficou até hoje e acho que tem algum fundamento, especialmente nestes tempos de crise e descrença no futuro!

O Amor deve ser vivido com os nossos amigos, familia, e tudo aquilo que nos rodeia.. se o tempo ajuda ... acho que sou levado a concordar que sim. Deve ser praticado todos os dias (não esse amor que estão a pensar)... e devemos aplicá-lo ao próximo e a tudo o que fazemos na nossa vida como o trabalho ou os estudos!

A próxima vez que virem um velhinho num barco...think about it!

quarta-feira, 14 de março de 2012

O mundo como eu o vejo no RAC!

Terminados os exames deste trimestre, tempo para um pouco de descanso, ir a Londres e também Portugal passar a páscoa! Altura para escrever sobre a maneira como vejo as pessoas e a sociedade que me rodeiam aqui em Inglaterra, um tema que já queria escrever há algum tempo.

Inglaterra é um dos países mais poderosos do mundo em todas as esferas. Foi aqui que se iniciou a revolução industrial e foi também aqui que nasceram alguns dos mais brilhantes cientistas, escritores, desportistas, pensadores e artistas da nossa história. Em tempos foram um império e sobreviveram de forma corajosa aos ataques alemães na Segunda Guerra Mundial.



Todo o trajecto histórico deste país está patente no dia a dia. Há um orgulho em ser Inglês inexplicável, o chamado orgulho nas origens e no passado.

Em Portugal temos orgulho no Vasco da Gama, Viriato, Afonso Henriques e noutras façanhas passadas como as protagonizadas por Eusébio. Temos orgulho nas nossas praias, comida e alguns casos de sucesso empresarial. Mas lá no fundo sabemos que podemos ser melhores e temos capacidades para o ser, basta olhar para Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Saramago, Durão Barroso, António Damásio e outras personagens que através do seu trabalho, esforço e personalidade conseguiram uma projecção e uma recompensa  que não seria possivel apenas em Portugal.

Quando estive na Argentina em 2008, lembro-me que todos os dias na televisão, passavam imagens do Maradona quando este conquistou o campeonato do mundo em 1986 no México, motivo de grande orgulho para todos os Argentinos juntamente com Eva Péron, Carlos Gardel e Che Guevara.

Tal como os Argentinos porque há esta sensação de que Portugal e os Portugueses vivem no passado? E no fundo, qual é a utilidade disto?

Em Inglaterra evoca-se o passado para viver o presente e reforçar o futuro. A memória não serve apenas para vaidade e a história e os ensinamentos dai retirados estão enraizados de forma profunda neste povo. Em Portugal, apenas nos lembramos das coisas boas e mesmo assim temos muita dificuldade em aprender com elas.

Mas esta vaidade pode ser vista muitas vezes de forma arrogante. Os Ingleses pensam que são óptimos em tudo, no desporto, na economia, na pompa e circunstância, na agricultura, nas tradições, na história, etc.. mas que mal é que isto tem se tiver um impacto positivo no bem estar das pessoas e na sociedade? Que mal é que isto tem se as coisas de facto funcionam e andam para a frente?

Mas a minha questão vai mais além disto...Como é que este país funciona na prática? Como é que é possivel? Quem vive aqui tem que se perguntar isto...

O alcool é um dos pilares da sociedade. Aqui no RAC e mesmo em Londres, é tradição sair do trabalho e ir beber cerveja nos pubs. Nas gerações mais jovens o alcool é o catalizador para comportamentos que não se podem ter durante o dia. É uma forma de se libertarem e terem conversas que não conseguem ter de forma sóbria. Os Ingleses são timidos e bem comportados durante o dia... e a disparidade a que se assiste quando consomem alcool é impressionante!

Apesar de estarmos a falar de pessoas novas, entre os 20 e os 30 anos, as coisas que acontecem aqui no RAC são extraordinárias. Adoram pôr-se nus em locais publicos., aliás o nudismo nos bares é claramente uma tendência. Adoram cair para o chão e rebolar e não há noite em que saia que não fique encharcado em cerveja.

Gostam de ir ao WC na rua (pensavam que eramos só nós?), no outro dia vi dois miudos a fazê-lo na porta de uma igreja. Gostam de gritar e falar alto. Elas vivem para maquilhagem e para os bronzeados falsos. Será que não se apercebem que a cor do pescoço é diferente da cor da cara? Mas depois vestem-se horrivelmente mal com calças de fatos de treino e meias de cor berrantes. Não sou nenhum critico de moda mas há conjuntos que não fazem sentido! A melhor parte na roupa é mesmo a falta dela. Quando estão temperaturas negativas e se vê pessoal de t-shirt e elas com vestidos curtos e saltos altos, a andar desordenadamente como se estivessem a pisar uvas, está tudo explicado, como é possivel?



Neste momento estão a ser as corridas de cavalos em Cheltenham, as mais famosas do mundo. Ontem recebemos um mail da universidade a incentivar para irmos a correr para as casas de apostas e meter dinheiro nos cavalos!! Sim, recordo que estamos em Inglaterra.

Esta mesmo universidade envia mails a dizer que há surtos de doenças sexuais no campus e que os jovens devem usar persevativos. Gosto desta frontalidade mas não deixa de ser estranho, imaginem o que seria isto acontecer na Universidade Católica ou no ISCTE?

Nesta semana está também a decorrer a campanha para a Associação de Estudantes do próximo ano. Pensaria eu que para além do habitual barulho e posters, pudesse haver de facto algumas promessas políticas como música nos intervalos e um campeonato de futebol. Nada disso! O segredo da campanha são posters com o máximo de nudismo possível!




Noutros sitios como nos subúrbios das cidades, floresce uma classe adolescente criminosa e deliquente, como ficou patente nos distrúrbios causados no verão passado em Londres e noutras cidades.

Nas cidades Inglesas, vivem pessoas de todos os cantos do mundo: desde Chineses a Africanos passando por Paquistaneses a Brasileiros, todos tentando integrar-se na sociedade e educando os filhos da melhor maneira possível.

Na Europa, querem-se proteger do Euro e das políticas comuns, com medo de entrar num barco que  parece que se está a afundar!

Daqui a minha pergunta: como pode isto funcionar?

Como pode um povo ser tão extremo e bárbaro nos seus comportamentos e ao mesmo tempo ser tão civilizado e funcionar? Como pode a minha universidade ser tão selvagem e ao mesmo tempo ser uma escola com tudo TOP desde as instalações e professores até às actividades desportivas? E o que é que se passa aqui que faz com que estas pessoas se tornem adultos civilizados e integrem uma das sociedades mais fortes do mundo em termos de identidade e cultura?

A minha resposta é aquela que dei no inicio deste texto: Em Inglaterra evoca-se o passado para viver o presente e reforçar o futuro. Há um sentimento de confiança em algo invisivel. Algo que diz aos jovens e às pessoas que tudo vai correr bem e funcionar com base nas referências que têm e nas instituições que os regem. Os jovens sabem que há um tempo para se divertir, um tempo para viajar, um tempo para os copos e também um tempo para trabalharem e terem uma familia. Sabem que fazem parte de um todo e que há um espaço para eles nesse todo.

Eu acredito neste sistema e identifico-me apesar de haver muita coisas que estão erradas claro. Há loucura e coisas más, mas há produtividade e orgulho nas tradições. E esse sentimento de que as coisas vão FUNCIONAR e correr bem existe de facto... isto anda no ar! É como se o departamento de Marketing de Deus para Inglaterra tivesse um bom gestor e o de Portugal nem por isso!

Para além de me rir e muito com tudo o que se passa, e de já ter feito bons amigos, estou inserido num sistema de ensino muito eficiente e profissional. Os professores são claros e objectivos. Não faltam e não chegam tarde às aulas. Também não ficam a debitar matéria para além do toque como se alguém ainda estivesse a ouvir. A iteracção entre as aulas práticas e teóricas é extraordinária. Enfim, um sistema de ensino pragmático que motiva e prepara para o futuro.

Noutras àreas também se vê este bom funcionamento: os policias andam sem pistolas, os transportes púbicos chegam a horas, eliminaram o hooliganismo, lutam contra o racismo e nos estádios há avisos a dizer que quem disser asneiras será convidado a abandonar as instalações.



Quando vemos uma foto do Big Ben, para além de vermos as horas, pensamos em civismo, força, confiança, resistência, democracia, oportunidades e muitos outros sentimentos que formam a tal força invisivel do funcionamento eficaz e eficiente de Inglaterra!


O que podemos nós fazer para que as pessoas olhem para uma foto da Torre de Belém e pensem assim também?

Think about it...

Best regards, 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Lê um livro, planta uma àrvore, mata um bófia!

Ler é como ver um filme na nossa cabeça. Quando estamos a ler um livro, a maneira como imaginamos os espaços ou as personagens é algo muito individual. Muitas vezes o livro até se transforma em filme.. o que nos permite visualizar numa tela daquilo que antes eram apenas palavras.

Há 5 meses vim para Inglaterra morar para uma residência que não tem televisão. Em Lisboa tinha tv na sala e no quarto e sentia-me feliz e realizado quando pegava e deambulava para cima e para baixo na minha box da Meo em busca de algo que me trouxesse ocupação para os momentos que se seguiam. Tinha tudo (excepto canais obscenos claro), desde a Sport Tv até aos filmes, passando pelos directos do Biggest Looser e Casa dos Segredos. Depois de um dia de trabalho ou num fim-de-semana de mau tempo o que podia ser melhor que isto?

A verdade é que nos últimos meses recuperei o velho hábito da leitura e estou muito entusiasmado com isso. Em criança lia e ficava fascinado com as histórias de jovens aventureiros como "Uma Aventura", "Clube das Chaves", "Triangulo Jota" e as "Viagens no Tempo" de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, ilustrações de Arlindo Fagundes (haha lembram-se do anúncio da tv?). A minha mãe levava-me às Amoreiras aos fins-de-semanas e não saiamos de lá sem um livro destes que custava à volta de 650 escudos. E aquela sensação de colocar na prateira mais um volume no armário já colorido e contribuir para o aumentar da colecção era tudo!

Também lia Patinhas, Tintim, Asterix, Mafalda e Lucky Luck. A banda desenhada que depois evoluiu para o Calvin & Hobbes e outros do género também faziam parte das prateleiras coloridas. Tinha também aqueles livros verdes de aventuras que se jogavam com dados e nos davam ordens do género: "Se queres lutar contra o monstro de 3 cabeças vai para a página 397, se queres entrar na porta do castelo de Zion vai para a 408". Muitas vezes morria mas voltava sempre atrás claro!

Depois na escola obrigaram-nos a ler certas e determinadas obras com o argumento fascista de que "faz parte do programa nacional de leitura do ensino secundário proclamado pelo ministério da educação". Adorei os Maias por exemplo mas não tinha maturidade para ler a história de Anne Frank ou a Mensagem de Fernando Pessoa. Foram livros que de facto desanimaram o meu gosto pela leitura.

Mas lá continuava a ler qualquer coisa que encontrava no escritório do meu Pai ou que comprava na livraria do Fonte Nova. Acho que é muito importante para os pais que queiram estimular a mente das crianças ter livros em casa. Livros de viagens, livros grandes, livros pequenos, enciclopédias, romances, aventuras, policiais, o que fôr, mas é importante para que os filhos possam desenvolver os seus próprios gostos e quem sabe até destruir um ou outro pintando-os com lápis de cera.

Durante os últimos 10 anos, comecei a gostar de biografias personagens da história, romances de familias numerosas da América de Sul, livros sobre a história do Séc. XX policiais, romances e mesmo do grande Harry Potter!

Mas apesar de me considerar um leitor assiduo em relação à minha geração por exemplo, dentro de mim perguntava-me como é que certas pessoas conseguem ler tanto? Onde arranjem tempo ou paciência e será que já leram todos aqueles livros que têm em casa? Em Portugal quando as pessoas dizem que já leram isto ou aquilo cria-se um desconforto e desconfiância face a veracidade ou mesmo nível intelectual da pessoa. Sou apenas eu que sinto isto? Também me perguntava como é que ao domingo o Professor Marcelo Rebelo de Sousa tinha lido todos aqueles livros apenas numa semana??

Enfim, não me tornei um rato de biblioteca mas gosto de olhar para a minha mesa de cabeceira e ter em aberto a opção de à noite ler um ou mesmo vários livros e embarcar numa nova aventura. Desde que cheguei em setembro já li várias obras e só em 2012 já li "Os Irmãos Karamazov" de Dostoievski, "Crónica de uma morte anunciada" de Gabriel Garcia Marquez e o "Caso Rembrandt" de Daniel Silva, recomendo todos!!

Foi precisamente este último livro que me fez escrever esta mensagem no blog de hoje. Comecei o livro na quarta-feira passada e acabei ontem, domingo, as suas 444 páginas. Não é nenhum clássico ou obra prima mas é um livro emocionante, com muitas referências históricas e que até me fez ficar emocionado no fim com uma situação que nem sequer estava relacionada com lamechices de amor... apenas me deixei envolver! Quantos livros já vos fizeram chorar ou quase chorar? Pois é, os livros também podem ter este poder!

Muitos livros começamos a ler e parece que não entramos neles... que a coisa não anda para a frente! Pode ser que ainda não estejamos preparados para aquele livro ou que nunca vamos estar mesmo!! Não tem mal nenhum, também há filmes que não gostamos por exemplo!

O importante é não perder este hábito que tanto contribuiu para a evolução da nossa espécie!

Ler aumenta o nosso conhecimento e permite-nos viajar ao mesmo tempo que imaginamos coisas novas. É uma das artes mais acessiveis a toda a gente e pode fazer a diferença na construção de quem somos. Por isso recomendo.. leiam à noite na cama ou nos transportes públicos. Ajuda a passar o tempo e só nos enriquece! Somos nós que gerimos o nosso tempo e só depende da vontade de cada um.

A próxima vez que forem à Fnac... think about it! (ou melhor...comprem nas livrarias mais pequenas para salvar os pequenos comerciantes).

Best regards,

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Trigo em Portugal - what are we doing??

O trigo é o cereal mais produzido em todo o mundo. De acordo com dados da FAO de 2006, a produção mundial foi de 600 milhões de Toneladas, obtidos através de 220 milhões de hectares, o que dá um retorno de aproximadamente 3 toneladas por hectare. A importância deste cereal deve-se em grande parte à sua adaptabilidade agronómica a diferentes condições, facilidade de armazenamento, níveis nutricionais e a capacidade de elaborar diversos produtos através da farinha produzida dos seus grãos.

A massa que é produzida que através da farinha de trigo possui a capacidade única de levedar e fazer, entre outros produtos, o pão, que é a base da alimentação mundial desde há muitos séculos. Para além do pão podem ser feitos produtos através do trigo, tais como noodles, esparguete, bolachas, biscoitos, cereais e papas de pequeno almoço, croissants, pizzas e comida animal.

Existem dois tipos de trigo:

- Triticum Aestivum ou trigo mole,

- Triticum Durum ou trigo duro.

A caracteristica mais importante quando o trigo é colhido é o seu nível de proteina. O trigo duro é usado somente para fazer esparguete e o seu nível de proteína é bastante alto, à volta dos 15%.

O trigo mole pode ter diversos níveis de proteina e dependendo desses niveis, irão ser efectuados diferentes produtos. Se tiver um nível de proteina abaixo dos 8% é usado como comida animal. Se fôr à volta dos 9% vai para as áreas de pastelaria, bolachas e biscoitos. Para fazer pão é necessário um nivel á volta dos 12%.

Mas podemos controlar estes níveis enquanto produzimos este cereal?

A quantidade final de proteina no trigo é influenciada pelas condições de crescimento tais como a fertilidade do solo, a chuva, a temperatura e as condições de armazenamento e transporte dos grãos de cereal.

Obviamente que há variedades de trigo mole mais propensas para obter determinados níveis de proteina, mas no geral estas são afectadas pelas condições de crescimento da planta, que por sua vez também podem ser influenciadas, com um custo associado claro. Mas no geral, até colherem o trigo, os produtores ainda não sabem ao certo qual vai ser o output em termos de proteina.

É por este motivo que os diferentes países trocam entre si diferentes tipos de trigo: porque o seu clima não lhes permite atingir determinados tipos de proteina e como tal precisam de importar. O trigo inglês é muito bom para fazer bolos e especialmente bolachas (quem nunca comeu as famosas Walkers), enquanto em Itália por exemplo estão reunidas as condições perfeitas para fazer um trigo próprio para esparguete, daí esta comida ser bastante famosa na região.

Tal como outro cereal qualquer, seja ele cevada, arroz ou aveia, o trigo é produzido através de sementes que são embriões transformados para resistir a doenças e proporcionar um determinado nível de produção. Ou seja, o produtor selecciona a variedade que quer crescer, e escolhe-a segundo o seu potencial e condições do seu terreno em termos de solo, temperaturas e irrigação.

Por exemplo, um produtor pode escolher a variedade X de trigo mole e sabe que em laboratório o seu potencial são 15 toneladas por hectare. Mas para chegar a estas 15 toneladas é necessário determinada quantidade de àgua ou fertilizante que tem um custo obviamente. Ou seja, o segredo da produção deste cereal não é atingir o potencial máximo da variedade a qualquer custo, mas sim controlar a conta de exploração para obter o máximo proveito marginal. Quando o produtor pensa em colocar mais um 1 kg de fertilizante ou pesticida, ou 1 litro de água, ou mais 1 saco de sementes, deve ter em conta se esse custo lhe vai trazer mais proveitos marginais ou não. Se não trouxer não vale a pena colocar.

Nesta lógica de inputs vs outputs os países com maiores toneladas por hectare são a Inglaterra, Holanda, Bélgica e Suécia com cerca de 9, enquanto Portugal, Grécia, Espanha e Marrocos anda à volta das 2, isto devido às condições de crescimento.

De facto em Portugal as condições de crescimento parecem não estar reunidas, embora isso também não seja desculpa para a nossa fraca produtividade num cereal desta importância. É um facto que os nossos solos são na sua maioria ácidos e possuem pouca matéria orgânica. Para além disso a chuva não cai em quantidade suficiente nas alturas mais criticas para a planta. Mas para um país que pretendia ser o celeiro da Europa, penso que neste momento somos mais a vergonha da Europa.

Em 2010 produzimos cerca de 80.000 toneladas de cereais segundo dados do Eurostat. Só para se ter uma noção este número foi igual à produção do Luxemburgo no mesmo período!! Também no mesmo ano, Espanha, um país com condições agronómicas semelhantes às de Portugal, embora em algumas àreas bastante melhor, produziu 6.000.000 de toneladas, ou seja 75 vezes mais..

Em termos de consumo, precisamos de 1.100.000 toneladas por ano em Portugal, o que significa que estamos neste momento com um grau de dependência externa de mais de 90%.

Precisamos plantar mais hectares deste cereal vital para a alimentação e reduzir a nossa dependência das exportações, pois com o aumento dos preços que se têm verificado nos últimos anos, para além de se tornar mais rentavel produzir internamente, torna-se mais caro importar. Com o aumento da procura deste cereal para alimentar animais (que por sua vez vão alimentar as classes médias dos paises em desenvolvimento como a China), temos de ter um maior grau de autosuficiência pois vai haver muitos paises a guardar as colheitas para consumo interno.

Porque não há um plano interno para se produzir estas 1.100.000 toneladas dando incentivos aos produtores e garantido emprego e uma produção nacional?

Porque não existe (pelo menos não encontrei nas minhas pesquisas), uma associação nacional que estimule as boas práticas de produção, discuta estes números, exponha novas técnicas agronómicas (variedades a cultivar, nitrogénio a aplicar, etc..) e envolva ao mesmo tempo retalhistas, traders e agricultores? Será que o Pingo Doce ou a Nestlé não ficariam mais satisfeitos em comprar algo que é produzido em Portugal e onde até poderiam visitar os campos? Mas se for mais barato comprar à China qual é o incentivo?

Em conclusão, o trigo é uma fonte de comida bastante importante por causa das suas características únicas e nível de nutrientes. Portugal deve incrementar a sua produção interna de forma a tornar-se mais autosuficiente e deste modo evitar a incerteza futura dos mercados em termos de preço e produção. No entanto este é um grande desafio para o país pois parece que as condições naturais não estão reunidas.

A próxima vez que comerem um pão com queijo... think about it!!

Regards,

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Galinhas - como funciona a produção e o mercado?

A carne proveniente das aves é muito apreciada nos diversos países espalhados pelos cinco continentes. Refiro-me concretamente a galinhas, patos, perús, gansos, etc.. ou seja aquelas espécies que foram domesticadas pelo homem com vista ao aproveitamento da carne, ovos ou penas para as almofadas ou casacos Duffy!

A carne destes animais é mais barata, fácil de cozinhar, há muitas receitas para aplicar, existem também bastantes espécies e partes distintas dos animais e para além disso têm um elevado valor nutritivo com baixos níveis de gordura e colestrol associados.

Em termos de produção mundial o maior produtor são os EUA com cerca de 32% da produção total, logo seguido da China com 24% e UE com 16%. Na União Europeia a produção tem estabilizado ao longo dos últimos 40 anos e trata-se de uma àrea auto-suficiente. No entanto, em termos mundiais, a produção passou de 15 milhões de toneladas em 1960 para cerca de 70 milhões no início deste século. Este salto na produção, bastante impulsionado pela India e China, foi superior às taxas de crescimento verificadas na carne de porco e vaca. Na Europa os maiores produtores são o França, o Reino Unido e Itália, contabilizando entre si mais de 50% da produção Europeia.

A produção de ovos ou carne de galinha está normalmente associada a sistemas bastantes intensivos, à semelhança do porco. São àreas não subsidiadas, o que traz à palavra eficiência um significado ainda mais importante. Trata-se de um mercado tão eficiente que normalmente a cadeia de valor está debaixo da alçada de uma só organização: desde o nascimento, criação, abate, processamento, embalamento dos animais passando pela criação de marcas, estratégia de marketing e negociação com os retalhistas, há muitas empresas que tratam de tudo, o que não é normal nos mercados actuais, pois com a crescente especialização e globalização há àreas que compesa mais serem operadas por terceiros, muitas vezes a milhares de kilometros.

Mas o que são estes sistemas intensivos de produção?

São sistemas onde se procura maximizar a rentabilidade do animal. Tratam-se de instalações indoor, onde através do agrupamento dos animais pela fase de produção (idade, peso, gravidez, regime alimentar), é possível uma gestão mais eficaz da alimentação, cuidados veterinários e transporte dos animais. Normalmente os animais encontram-se em gaiolas se estivermos a falar de produção de ovos, ou então se fôr produção de carne, estamos a falar de àreas circunscritas onde se encontram centenas de animais em contacto uns com os outros mas onde tem de haver um minimo de espaço por animal, é como que uma jaula mas maior. Na cabeça do consumidor estes regimes intensivos estão mais associados aos porcos e às galinhas do que às vacas e às ovelhas. Também na cabeça do consumidor, tais aglomerados de animais, são significado de problemas de bem estar para os animais e facilitam a propagação de doenças, como por exemplo a recente gripe das aves, que na Ásia ainda não está totalmente erradicada.

Nestes sistemas intensivos, e isto funciona para qualquer espécie de carne que consumimos, o objectivo é que o animal cresça o mais rapidamente possível para que tenha o mínimo de custos associados. Tal como nas outras espécies animais que já vimos neste blog, a alimentação é sempre o custo mais elevado, portanto quanto menos tempo eles permanecerem vivos, mais barato será o custo de produção. Nas galinhas têm-se feito avanços monumentais em termos da eficiência.

Através de uma alimentação baseada em cereais e concentrados e através do progresso no conhecimento genético dos animais, é possivel hoje em dia mandar-se uma galinha para o matadouro 34 dias após o seu nascimento. Em 1950 falavamos de 85 dias. Ou seja, para uma galinha atingir os 1,80 kgs necessários para estar em conformidade com os gostos do consumidor e exigências dos retalhistas, é necessário pouco mais que um mês...

Até na produção de ovos, os avanços foram extraordinários. Em 1960, a produção nestes sistemas intensivos, era de 208 ovos por galinha/ano. Hoje em dia, já estamos a falar de 311 ovos por galinha/ano, o que significa quase 1 ovo por dia! E em termos de inputs a gestão também evoluiu bastante: há 50 anos atrás eram necessários 3,4 kgs de comida para fazer um ovo, sendo que hoje em dia este valor baixou para 2,2kgs.

Mas voltando ao bem estar dos animais, o que está a ser feito nesta àrea?

A nova legislação da UE para os sistemas intensivos tem estado bastante em foco pois em 2012 entrou em vigor uma nova lei que obriga os produtores de ovos a substituirem as antigas gaiolas de produção de ovos, que tinham 450 cm2 (o espaço de uma folha A4), por gaiolas maiores com 750 cm2, onde exista espaço para um ninho e onde as galinhas possam de certa forma expressar melhor os seus comportamentos naturais. Muitos países ainda não adoptaram estas novas medidas e poderão ser penalizados por isso, Portugal é um exemplo. Alguns produtores serão forçados a abandonar o negócio porque a aquisição de novos equipamentos não será comportável do ponto de vista financeiro. Isto também poderá trazer penalizações em termos de competitividade nas exportações europeias, pois nos EUA por exemplo, continuam a existir as antigas gaiolas e cerca de 80 a 90% dos animais habitam neste sistema.

Mas será isto suficiente para o bem estar dos animais?

As associações de defesa dos animais encaram estas mudanças como pura demagogia. Aumentar o espaço em 300 cm2 não é de perto nem de longe suficiente para garantir a saúde e bem estar dos animais.

Mas o mercado tem estado atento a este facto, e prova disso é o sucesso do segmento free range. Tratam-se de galinhas que têm uma capoeira e acesso livre aos campos. No UK os ovos deste segmento já atingiram uma quota de mercado de 50%. Trata-se de uma maneira de aumentar o welfare dos animais e muitos supermercados como o Sainsburys e Marks & Spencer já só vendem ovos deste género. O preço a pagar é no entanto alto. Com este sistema chamado extensivo (ao invés do intensivo), os animais crescem de forma mais lenta, tendo por isso mais custos de alimentação e para além disso a sua gestão diária exige mais recursos humanos. Todos estes custos são passados para o consumidor que paga um premium por estes produtos. Em consulta ao site do Continente, encontrei diferenças por Kilo que chegam aos 2,5 € entre o frango de campo e o convencional. Muitos consumidores afirmarão que o frango free range é com certeza mais saboroso mas será que as suas carteiras comportam este esforço?

Muitos produtores contestam esta forma de criar as galinhas. Alguns afirmam que é um desperdicio de espaço que podia estar a ser semeado e alguns estudos até já demonstraram que em muitos casos as galinhas passam a maior parte do tempo dentro das capoeiras. De qualquer maneira, este é claramente um caso em que os produtores vão ter que adaptar os standarts da indústria aos requisitos dos mercados e dos retalhistas, pois o free range é um segmento em crescimento, precisamente devido à maior atenção por parte do consumidor no bem estar dos animais.

Em conclusão, mais uma vez o mercado mostrou-nos que o bem estar dos animais não é negociável! O segmento das aves está a crescer na alimentação mundial e é necessário aprender a melhorar o bem estar dos mesmos. Tem que se arranjar formas de baixar os custos no free range para que não haja uma grande penalização na carteira dos consumidores. Desta forma, haverá mais produtores interessados em entrar no negócio e de forma mais sustentável.

Da próxima vez que comerem um ovo estrelado...think about it!

Regards,

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Porco - um animal fascinante... também do ponto de vista económico!

A carne de porco, ou outras partes deste animal fascinante, é uma das grandes bases da alimentação mundial. Aqui no Royal Agricultural College possuimos uma quinta com 320 porcos onde temos o privilégio de aprender tudo sobre este animal desde a sua reprodução, passando pela alimentação até ao seu bem estar em termos de alojamento.

Segundo o Eurostat, a produção de carne em termos mundiais é liderada pelo porco com 42% do total de volume produzido, seguido da vaca com 27% e depois a galinha com 25%. Em termos de tendências observam-se cada vez menos quintas a criar porcos, mas com um número de animais cada vez maior. Com o aumento do consumo a nível mundial a competitividade também aumentou e só sobrevivem os produtores que conseguem encontrar escalas interessantes e custos de produção equilibrados.

A Europa é a região do mundo que consome mais kilos de porco por habitante com cerca de 45,1 kgs/ano. Em termos comparativos cada Chinês consome em média 29,2 kgs, um Norte Americano 31,3 kgs e um Japonês 16,7. Os nossos irmãos Brasileiros consomem "apenas" 9,5 kgs de carne de porco por habitante, o que também se deve à dificuldade em criar porcos neste país devido às altas temperaturas.

Portugal está dentro da média do consumo Europeia com aproximadamente 44 kgs por pessoa/ano, mas ao contrário de muitos países Europeus que são auto-suficientes nesta àrea, produzimos 87% do que consumimos, tendo que ir buscar o resto a outros mercados. Em termos absolutos isto significa uma produção de aproximadamente 375.000 toneladas ano, ao passo que Espanha por exemplo produz 3.409.000 toneladas ano tendo um grau de auto-suficiência de 106% (mas consomem mais por habitante que em Portugal, quase o dobro).

Tal como os bovinos, trata-se de uma espécie bastante complementar com a produção de cereais. Um produtor que tenha porcos e cereais consegue retirar palha e alimentação para a gestão diária dos animais ao mesmo tempo que produz estrume para enriquecer os campos. Isto é uma das maneiras mais eficazes de gerir uma vara de porcos pois permite elevadas poupanças de custos. Basta dizer que a alimentação nos porcos é feita à base de cereais e que este custo representa entre 60% a 80% do custo total de criar um porco.

A criação de porcos tem então que seguir parâmetros e procedimentos eficientes para que se consiga fazer dinheiro do negócio, ou seja ir de encontro aos objectivos comerciais ou financeiros. Esta questão já foi mencionada neste blog mas nunca deverá ser deixada de lado: a eficiência (utilização de recursos) é fundamental na agricultura ou na pecuária tal como em qualquer negócio e deve sempre caminhar lado a lado com a sustentabilidade do animal e dos recursos utilizados tais como os solo, àgua ou alimentação.

Como se cria então uma vara de porcos de maneira eficiente para se poder ter lucro?

Para responder a esta pergunta seria necessário um livro inteiro obviamente, mas serão aqui relatados alguns aspectos fundamentais que podem também variar consoante a região, raça do porco, se é uma produção indoor ou outdoor, etc..

As fêmeas podem começar a engravidar aos 8 meses e o período gravidez dura normalmente 115 dias, que é o mesmo que dizer 3 meses, 3 semanas e 3 dias, muito fácil de decorar! Os machos podem começar a produzir filhos a partir dos 9 meses. O número médio de leitões por ninhada é 10 e a partir do momento em que um filho escolhe uma teta da mãe nunca mais muda. Costuma-se dizer que os porcos mais fortes e que crescem mais depressa são aqueles que ficam com a teta que está localizada mais perto da cabeça da mãe.

Os animais que são seleccionados para reprodução funcionam a partir daqui como uma autêntica fábrica. A partir do momento em que dão à luz, as fêmeas amamentam os filhos durante um período de 21 dias. A seguir a este período, os filhos são separados da mãe e o objectivo é que ela engravide o mais rapidamente possivel, normalmente consegue-se em 10 dias. Para isso tem que entrar no "ciclo" de novo. Este ciclo que acontece de 21 em 21 dias em média, tem a duração de 3 dias e representa o período em que a fêmea tem os óvulos prontos para reprodução. Para estimular este processo normalmente coloca-se um macho reprodutor perto de uma fêmea, mas mesmo assim separados por uma grade ou portão. Depois quando ela está pronta utilizam-se métodos naturais de reprodução ou a inseminação artificial, muito popular nos porcos.

A partir deste momento, o processo repete-se, normalmente até um máximo de 7 ninhadas, sendo que as fêmeas que conseguem atingir este número de ninhadas são as campeãs da fertilidade! Ou seja a partir dos 8 meses (240 dias), engravidam. Depois ficam grávidas 115 dias. Depois amamentam 21 dias e depois ficam grávidas de novo em 10 dias repetindo todo o processo desde o início. A razão porque já não se usa mais estas fêmeas para dar à luz a partir da 7ª ninhada é porque o número de filhos por ninhada começa a diminuir a partir da 5ª ninhada. Estas fêmeas vão depois para a produção de carne, normalmente salsichas, pois já é um animal mais velho, e como tal com menos qualidade na carne. Os macho deixam de reproduzir por volta dos 4 anos e têm o mesmo destino das fêmeas.

Fazendo uma conta básica, uma fêmea consegue então dar à luz uma média de 25 filhos por ano = (365 dias/ (115 dias de gravidez + 21 dias de amamentação + 10 dias para voltar ao ciclo e engravidar)) x 10 (número médio de filhos). É assim que se fazem as contas num negócio de porcos!!

Estes porcos são depois alimentados e vão para os matadouros com a idade de 6 meses, quando atingem um peso total à volta de 65 kilos, sendo que deste peso cerca de 70% da carcaça é carne.

Considerando o preço actual da carne de porco num matadouro de porcos no Reino Unido, 1,5 £ por kilo, o rendimento anual que uma fêmea pode dar é o seguinte:

25 leitões x 65 kilos x 70% carne x 1,5 £ = 1706 £. Se tivermos 100 fêmeas já estamos a falar de 170.000 £ o que é bastante interessante. Em termos de custos, estes variam consoante o preço dos cereais para alimentar os animais, etc.. mas aos preços de hoje em dia e com uma estrutura minima de 100 fêmeas, os produtores no Reino Unido estão a trabalhar com uma margem grossa de 10% (excluindo custos fixos).

Com a procura de carne a aumentar a nivel mundial estes preços podem tornar-se ainda mais atractivos. Para além da carne existem muitas outras maneiras de rentabilizar este animal. As partes que não são utilizadas para carne como os ossos, os orgãos, o sangue, a gordura, a pele ou o pelo já são são utilizadas no fabrico de shampoos, velas, balas, pinceis, gelados, fertilizantes, insulina, iogurtes, electricidade, comida animal, cosméticos, etc... Em alguns destes produtos são utilizados como ingredientes principais, embora noutros só participem no processo.

Em conclusão, a carne de porco está a tornar-se num negócio mais actrativo como o demonstra a produção mundial. Um negócio gerido de forma eficiente pode dar lucros ao seu produtor e não é uma industria que tenha subsidios como muitas outras. No entanto devemos ter sempre em atenção aquilo que tem sido a máxima da produção animal nos últimos anos: para se maximizar a qualidade da carne deve-se maximizar o bem estar do mesmo, e isto não é negociável!

Da próxima vez que comerem uma costoleta ou virem alguém que não toma banho... Think about it!!

Regards,

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Svalbard - A nova Arca de Noé

Depois de uma pausa motivada pelos primeiros trabalhos e pelas férias de natal o Blog dos Bosques volta a atacar!

Foi maravilhoso voltar a rever os amigos e a familia em Portugal. Apesar de me sentir um bocado deslocado da vida normal e apesar de não ter carro nem casa fixos.. a nossa pátria é sempre o local onde nos sentimos como peixe na água! A comida, os cheiros e os hábitos com que crescemos fazem parte do nosso organismo e da nossa identidade.... e estar em Portugal foi como voltar ao meu habitat natural.

Este sentimento de pertença também pode ser transportado para a agricultura: há plantas e animais que se dão bem em diversos locais mas é no sitio onde primeiro se desenvolveram e segundo Darwin, lutaram pela existência, que se vão dar sempre melhor!

Muitas espécies de animais e plantas viajaram de país para país e de continente para continente transportadas pelo homem. Muitas delas já se encontram em vias de extinção ou desapareceram dos seus locais de origem, mais uma vez devido à acção do homem.

Nos últimos 50 anos e devido a muitos factores como o crescimento de população, o aquecimento global, a destruição das florestas tropicais, o aumento do consumo de combustiveis fósseis, entre outros, extinguiram-se cerca de 300.000 espécies dos 10 milhões que se calcula existirem no planeta. Todos os anos desaparecem entre 3.000 a 30.000 espécies, um recorde sem precedentes nos últimos 65 milhões de anos.

Segundo James Howard Kunstler, no seu livro "O Fim do Petróleo", dentro de 100 anos ter-se-ão perdido entre um a dois terços de todas as aves, animais e plantas do planeta! Esta perda de bio-diversidade pode ter consequências nefastas para a espécie humana, bem piores que uma crise financeira... mas parece que por enquanto caminhamos de forma cega para um precipicio, sem que as lições aprendidas em muitas alturas da história sirvam para alguma coisa.

No entanto, parece que algumas histórias ainda nos vão ficando na cabeça e quem não se lembra da Arca da Noé? Avisado previamente por Deus de um diluvio que aniquiliaria a vida na terra, Noé reuniu numa arca um macho e uma fêmea de cada espécie para que a sobrevivência das mesmas ficasse garantida.

Em pleno Século XXI, uma experiência semelhante está a ser conduzida em Svalbard, na Noruega, onde estão a ser guardadas sementes em larga escala para prevenir uma eventual catástrofe ambiental ou climatérica.

Trata-se de um silo gigante cujo objectivo é salvaguardar as espécies de plantas que servem como alimento às populações dos mais diversos países. O silo de Svalbard preserva cerca 90% das sementes conhecidas no mundo inteiro e foram doadas pelos países produtores.

O silo foi construído no Monte Spitsein, em Svalbard e é uma estrutura inteiramente subterrânea. Trata-se de um arquipélago situado 1.000 km a norte da Noruega, e foi escolhido por ser um lugar a salvo das possíveis alterações climatéricas causadas pelo aquecimento global e/ou quaisquer outras causas.


Figura 1 - Silo de Sementes de Svalbard.

O silo tem capacidade para abrigar 2,5 biliões de sementes, ou seja aproximadamente 500 sementes de 4,5 milhões de espécies. As câmaras onde estão guardadas as sementes estão a uma temperatura de -18 °C, e se por alguma razão o sistema de refrigeração falhar, o montante de terra e pedras congeladas que naturalmente cobre o silo, o chamado permafrost, mantém as sementes entre -4 e -6 °C.

Em conclusão, nos últimos 200 anos, a expansão da população humana que passou de mil para 7 mil milhões, tem sido muitas vezes feita sem escrúpulos e à custa da natureza. A extinção de espécies animais e vegetais representa a perda de bio-diversidade inexplorada pelo homem. Estas espécies que se estão a perder, até poderiam representar uma fonte de novos recursos energéticos ou de cura para doenças humanas. A experiência de Svalbard é bem vinda pois garante a segurança das espécies vegetais em caso de catástrofe. Mais experiências semelhantes serão bem vindas!

Esperemos nunca vir a precisar deste silo... isso significa que algo correu mal.... think about it!

Best regards,