quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Atenção vegetarianos... vcs estão a dar cabo do mundo!

Os vegetarianos são pessoas que admiro.

É uma admiração parecida aquela que tenho por um jogador de futebol ou um actor de cinema. É uma admiração por alguém que tem uma coragem imensa de fazer algo que eu nunca conseguiria fazer e que por isso merece todo o meu respeito.

Tudo o que se encontra por detrás do ser vegetariano também merece a minha admiração, especialmente a protecção dos animais. Na minha opinião, só estas pessoas podem verdadeiramente condenar as caçadas e matadouros por exemplo... pois todos os que comem carne contribuem para a indústria, embora a grande parte seja de forma passiva enquanto consumidores.

Mas nem tudo são rosas.

Neste momento, os vegetarianos estão a "alimentar" um mercado que está a destruir populações indigenas e a própria natureza. Vejamos alguns exemplos.

A quinoa é uma planta nativa da América do Sul, principalmente originária do Peru e Bolivia. Os seus grãos são, segundo as Nações Unidas, um dos alimentos mais completos do mundo podendo substituir o trigo na produção de farinha, a soja na produção de óleo, o milho no biodiesel e o arroz na alimentação.

Há pouco tempo tratava-se ainda de um cereal obscuro proveniente dos Andes, mas as suas características nutricionais tais como os baixos niveis de gordura, altos níveis de proteina (14-18%) e a presença de aminoácidos essenciais para o funcionamento do corpo humano, começaram a fazer deste alimento um excelente substituto para a carne e bastante procurado entre vegetarianos. As vendas dispararam e desde 2006 que os preços já triplicaram!

Em linguagem de marketing, a quinoa pode-se chamar "O grão miraculoso dos Andes", pois representa uma comida saudável e ética do ponto de vista de não matar animais.

Mas em tudo o que parece bom, há sempre um lado lunar, o chamado dark side. O apetite dos países desenvolvidos, principalmente situados no norte e ocidente do mundo, fizeram aumentar a procura deste grão, e como a oferta não conseguiu acompanhar da mesma maneira, os preços dispararam e neste momento, milhões de camponeses no Perú e na Bolivia já não conseguem comprar este alimento que antes era fundamental na sua alimentação. Importar comida de plástico dos Eua por exemplo é muito mais barato.

Segundo um artigo do The Guardian, neste momento, em Lima, Peru, é mais barato comprar frango do que quinoa! Para além disso a pressão para aumentar a produção, faz com que estas terras, que antes possuiam rotações de culturas e plantas bastante diversificadas, se transformem em monoculturas, o que aumenta o risco de doenças, erosão dos solos, falta de água, etc..

Outro bom exemplo de como esta "alimentação saudável" do norte está a criar desiquilibrios no sul são os espargos. Com o intuito de fornecer esta cultura durante 365 dias do ano aos países insaciáveis do norte, o Perú começou a produzi-los numa região àrida do seu país chamada Ica. Os espargos são plantas sedentas de água, e como tal esgotaram os recursos hidricos da região, conduzindo à emigração em massa!

A soja, um alimento adorado pelo lobby vegetariano, mas também pelos produtores de gado, é outra problemática que conduz à destruição ambiental. A plantação desta cultura já levou à destruição de milhares de hectares na América do Sul.

É engraçado ver como um cereal como a quinoa se torna mais caro no seu país de origem, apenas porque há uma série de estrangeiros interessados com a sáude, protecção animal e reduzirem a pegada ecológica.

Ser vegetariano é uma atitude de vida... na minha opinião uma boa atitude de vida, mas há que ter em atenção os fenómenos de destruição de culturas a milhares de kms e procurar consumir aquilo que se produz localmente.

A próxima vez que virem um vegetariano, think about it!!



10 comentários:

  1. 1º Não são SÓ os vegetarianos que comem quinoa.
    Eu, os meus pais, o CHUMBO não somos vegetarianos e consumimos.

    2º Toda esta questão é real, mas na minha opinião não passa de uma "má gestão" dos recursos, ou seja, as plantações de quinoa e a indústria que está por trás (que viu aqui uma grande oportunidade, ainda por cima tratando-se de países como a Bolívia e o Perú) não está a saber lidar da melhor maneira com as plantações vs. exportações deste cereal.

    3º Concordo a 100% que se deve consumir produtos produzidos localmente, faz todo o sentido e, por isso mesmo, a quinoa já está a ser produzida fora da região dos Andes, ainda que seja um cereal que se desenvolve em condições muito especiais (a grandes altitudes, etc).

    4º Não serão de certeza os omnívoros "mais correctos" em termos alimentares do que os vegetarianos :)

    Bom post!!
    Bjs Marta Lanita

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    1. Marta Lanita, antes de mais um bom ano para ti e para os teus, gostei muito de ver as fotos da tua familia no outro dia ai no Face!

      Como sabes ser vegetariano é muito in e muitas vezes confunde-se e presume-se que está associado com ser amigo da natureza e dos animais. Ora este texto pretende apenas ir contra esse conceito. Ser vegetariano, especialmente consumindo proteina que é originária noutros pontos do planeta tem um grande impacto ambiental e humanitário como se pode ver nos casos da quinoa e da soja!

      Eu admiro mesmo os vegetarianos, mas há que ter consciência destas questões que estão a acontecer neste preciso momento. Não se trata de má gestão, trata-se sim dos mercados a funcionar... as multinacionais compram os campos, e os locais não têm hipótese nenhuma de comprar as produções... vai tudo para fora, é o que acontece em áfrica e noutros paises do terceiro mundo, c'est la vie. E como dizes e bem é muito dificil reproduzir a quinoa noutros locais do mundo, está-se a tentar mas os Andes são um local muito especial e dificil de replicar!

      O mundo caminha a passos largos para grandes desiquilibrios e a globalização é uma das grandes culpadas disso! Acima de tudo fica o ponto mais importante: consumir local tem que se tornar cada vez mais uma tendência e é mesmo uma inevitabilidade!

      Beijinhos, cumprimentos ao esposo!

      Pedro Q

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  2. Eu nem bom dia nem boa tarde, entrei a matar... eheh
    BOM ANO e folgo em saber que gostaste das minhas fotografias :)

    Concordo totalmente com o 1º parágrafo da tua resposta.

    Com o 2º também concordo... eu fui muito resumida na minha resposta e não me expliquei bem. Era exactamente o que queria dizer sobre os campos e sim, a situação assemelha-se a África.
    Em relação a essa realidade deveria haver uma mudança, sobretudo para preservar o consumo das populações locais.

    Por fim, também concordo com o terceiro parágrafo.

    Basicamente queria mostrar-te que este não é um cereal apenas usado pelos vegetarianos. E que não se pode generalizar assim tanto.

    Por todas essas razões é que eu defendo um estilo de vida, muito para além do vegetariano, MACROBIÓTICO (se tiveres oportunidade, caso não conheças, investiga), em que, para além de um grande enfoque no equilíbrio como meio para chegar à saúde plena, é muito importante a questão do consumo de produtos produzidos localmente e também consoante as estações do ano (como os legumes e as frutas da época, etc).

    Bjs e serão entregues *

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    1. Vou explorar sim :-) já ouvi falar mas desconheço do que se trata! Beijos!

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  3. Pedro, bom texto, em linha com os anteriores.

    Deixa-me contribuir para a discussão com alguns comentários.

    1º - Estando vivo é inevitável causar um impacto negativo no ambiente (não considerando as acções que um individuo possa levar a cabo ao longo da vida para minimizar o impacto causado por outros).

    2º Factos:

    Índice de conversão (kg alimento/kg peso comestível)
    Carpa aquacultura - 2.3
    Ovos - 4.2
    Frango - 4.2
    Porco - 10.7
    Vaca - 31.7 (!!)

    Fonte: http://www.conservation.org/publications/Pages/blue_frontiers_aquaculture.aspx

    3º Conclusão: Assumindo que o alimento tem a mesma origem geográfica, ser vegetariano implica um menor impacto no ambiente simplesmente porque a conversão energética dos alimentos é bastante mais eficiente. O facto de consumir produtos produzidos localmente aumenta significativamente esta eficiência porque elimina a necessidade de transporte.

    Pessoalmente sou apologista de uma dieta essencialmente composta por vegetais e apenas ocasionalmente de carne, se possível produzida localmente. Uma questão que me surgiu ao ler o teu texto foi a seguinte:
    Em termos de impacto ambiental, e só do ponto de vista ambiental, o que será melhor? Consumir carne produzida localmente ou vegetais importados?
    Consegues responder?

    Abraço,
    João

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  4. Caro joao, nem sabia que lias o meu blogue! Este tema e muito interessante mas baseei muito do meu texto num artigo do The Guardian, n sei se consigo efectivamente responder a tua pergunta, mas vou tentar fazer alguma pesquisa, aquele abraço!

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  5. Leio sim Sr. e devo dizer que já aprendi um par de coisas. Quanto à minha pergunta não sei se será muito fácil encontrares a resposta, apenas "think about it!!" :P Abraço

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    1. Se tivesse que responder sem fazer qq pesquisa diria que qq coisa que seja local é sempre melhor, seja carne ou vegetais. A pegada ecológica vai ser sempre menor por isso acho que nem deve haver duvidas nesse aspecto. Fico mesmo contente que leias :-) e que possas aprender alguma coisa! Já agora, dos teus estudos de geologia, o que me aconselhas ler para estudar os solos de Portugal, gostava de saber os níveis de acidez, matéria orgânica, se são mais argilosos ou arenosos, etc quais são as melhores fontes para estudar isto? Há alguma coisa actualizada? Saudações benfiquistas!

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    2. Eheh confusão tua, sou o outro João Queiroz, do Carlos. Saudações benfiquistas de facto não para mim... e infelizmente também não te posso aconselhar nenhuma material de leitura.
      No entanto, apesar de a informação ser bastante antiga, deixo-te aqui um site que talvez te seja útil: http://eusoils.jrc.ec.europa.eu/library/maps/country_maps/metadata.cfm?mycountry=PT
      Abraço

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    3. Por acaso carreguei no teu profile e não havia foto, e na altura ainda pensei que fosses o João Alegre o que se confirma :-) devias mudar de clube urgentemente pah! Vou consultar isto que me envias, muito obrigado e grande abraço!

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