No decurso do meu recente estudo
de abrir uma empresa agrícola, a primeira questão que me surgiu é o que é isto
de ser empreendedor? Quais são os factores a ter em conta quando decidimos ser
patrões de nós próprios? Quais devem ser as características de um empreendedor
e como é o ambiente que rodeia tal individuo? Fui à procura de algumas
respostas e apresento-as aqui em directo no Blog dos Bosques.
O empreendorismo não é um bem
divino que nasce com as pessoas. Pode ser ensinado como muitas outras áreas.
Conhecimentos sobre a área em que se vai trabalhar, contactos, marketing,
finanças, operações são algumas das competências a desenvolver.
O empreendorismo também não
representa, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a implementação de uma
ideia ou inovação radical. Se estivermos a fazer algo ligeiramente diferente
dos outros, e ao mesmo tempo a gerar valor para o cliente já estamos a ser
empreendedores. Mudar o horário de atendimento, alterar um preço ou atacar
novos segmentos são formas de inovação que representam empreendorismo.
A meu ver, o ponto de partida
para o empreendorismo, não deverá ser o ganhar dinheiro para as despesas do dia-a-dia.
É importante que seja visto como uma forma de realização pessoal e
profissional. Esta realização está directamente ligada à valorização pessoal e
dos que nos rodeiam, à independência e ao interesse genuíno pelo que se faz.
Portugal é conhecido como um país
de pouco empreendorismo. Somos um país com elevada aversão ao risco e níveis
acentuados de colectivismo, (estudos culturais de Hofstede sobre cultura empresarial
nos diferentes países).
A população tem medo de falhar e
de ter insucesso. O grupo é privilegiado acima do individuo e o sucesso pessoal
nem sempre é bem visto, sendo muitas vezes questionada a honestidade dos que
vencem na vida…
Estes dois factores representam
um grande obstáculo à actividade empreendedora no nosso país, pois há sempre um
nível de risco no empreendorismo que não se consegue evitar. Para além disso há
bloqueios psicológicos de cariz cultural quando se ganha ou perde. Se falhamos
estamos condenados e perdidos, não haverá segundas oportunidades e ninguém se esquece.
Se vencemos somos desonestos e tivemos sorte. Parece que mais vale ficar
sossegado num canto e deixar a vida andar…
Felizmente o empreendorismo já
tem vindo a ser melhor aceite e o reflexo disso, é a contribuição dos media
para a divulgação de casos de sucesso. No entanto, a meu ver, ainda há um longo
caminho cultural a percorrer para que se possam alterar mentalidades nesta área.
O primeiro passo de um
empreendedor é a identificação de uma oportunidade presente ou futura. Esse
trabalho parece mais difícil hoje em dia. A globalização trouxe grandes
desenvolvimentos, principalmente nas áreas das tecnologias de informação e
comunicação.
Este facto veio alterar o
comportamento dos consumidores e das empresas e daí a dificuldade na
identificação de oportunidades. Tudo parece mudar rapidamente. O consumidor tem
uma grande diversidade de ofertas e às vezes até altera a sua decisão conforme
o ambiente em que se encontra. Muitas empresas não conseguem acompanhar este ritmo
competitivo e fracassam na capacidade de fazer face a ameaças ou aproveitar
oportunidades.
Normalmente as oportunidades
estão implícitas nas tendências e mudanças, sejam elas sociais, politicas, económicas
ou culturais. Até as situações de crise podem representar uma oportunidade.
Hoje em dia as grandes tendências passam valorização do eu, pelo sobressair dos
outros através de posses e experiências, manter a jovialidade para sempre
(complexo de Peter Pan do qual eu sofro abundantemente), procurar uma vida mais
saudável, vidas muito ocupadas e com diversas frentes, o uso de redes sociais e
novas tecnologias que poupem tempo na execução de tarefas, etc
Podem ser identificadas
excelentes oportunidades ou ter-se excelentes ideias. O problema é passar à acção e transformar essas ideias em algo palpável. Para além dos nossos
problemas culturais já mencionados, há também outros factores que determinam a
falta de empreendorismo em Portugal.
Em primeiro lugar o difícil acesso a capitais
ou desconhecimento dos meios de financiamento disponíveis no mercado. Em
segundo a irregularidade das políticas governamentais e “danças” de governos. Por
último, é algo que não nos é ensinado na escola. O programa escolar, deveria
desafiar a mente das crianças a inovar, a criar e acima de tudo, a explicar quais
são os passos necessários para concretizar uma ideia e passar à acção.
Um estudo do Eurobarómetro,
indica que 37% dos Europeus gostaria de ser empreendedor mas que apenas 15% o
concretizam. Outro estudo realizado pela EOS Gallup Europe Institute, refere
que 71% dos Portugueses gostariam de ter o seu negócio próprio, a taxa mais
alta da Europa!! A pergunta era “ Será que devo ter o meu próprio negócio?”. Noutros
países de cultura Escandinava ou Anglo Saxónica, a resposta foi precisamente o
contrário, ou seja, preferem trabalhar por conta de outrém.
Portanto, as pessoas querem ser
empreendedoras para ter independência, dinheiro, satisfação pessoal, realização
e porque observam de uma boa oportunidade. Mas porque há tanta gente que se
fica pela intenção?
A resposta óbvia é que há muitas
pessoas que se sentem seguras e confortáveis no seu emprego, têm uma família estável
e um bom estilo de vida. E perante isso, não estão dispostas a arriscar serem
empreendedoras.
Mas na verdade há muitas pessoas
que até têm o capital ou conhecem os meios de chegar a ele, têm conhecimentos e
capacidade, já vislumbraram a oportunidade mas mesmo assim não arriscam. Afinal
o que distingue um empreendedor de um não empreendedor?
Segundo o livro “Ser Empreendedor”
das Edições Sílabo, os traços principais de um empreendedor são:
- É alguém que toma iniciativa
para criar algo novo e de valor para o próprio empreendedor e para os clientes,
- O empreendedor tem que
despender o seu tempo e esforço para realizar o empreendimento e garantir o seu
sucesso,
- O empreendedor recolhe as
recompensas sob a forma financeira, de independência, reconhecimento pessoal e
de realização pessoal,
- O empreendedor assume os riscos
de insucesso de empreendimento, quer sejam financeiros, sociais ou
psicológicos/emocionais.
Mas o que leva os indivíduos a
serem empreendedores? Este é definido em termos de comportamentos e atitudes.
Ninguém nasce assim porque não há genes de empreendedor. Há as motivações
próprias ou até uma situação de necessidade. Há também outros factores como o
ambiente educacional e familiar, se os pais também foram empreendedores, as
experiências passadas (se objectivos anteriores foram concretizados ou não), a experiência
profissional prévia e a idade.
De facto, a grande fatia de empreendedores são indivíduos entre os 25 e 45 anos que já tiveram pelo menos um emprego. Mas também não me parece que haja um critério de idade obrigatório, embora admita que a vitalidade física seja importante. Não se pode embarcar num novo projecto se nos sentirmos cansados ou em má forma física ou mental.
De facto, a grande fatia de empreendedores são indivíduos entre os 25 e 45 anos que já tiveram pelo menos um emprego. Mas também não me parece que haja um critério de idade obrigatório, embora admita que a vitalidade física seja importante. Não se pode embarcar num novo projecto se nos sentirmos cansados ou em má forma física ou mental.
Por fim termino com uma lista de
mitos e frases sobre o empreedorismo que encontrei. São apenas isso… mitos! A vontade,
o rigor, trabalho e o desejo de sonhar parecem-me bem mais importantes! Think about it!
- O empreendedor nasce, não se
faz.
- Qualquer um pode iniciar um
negócio.
- São jogadores/apostadores que
assumem riscos excessivos.
- Têm necessidade de
protagonismo.
- São patrões de si mesmo.
- Trabalham muito.
- Iniciam negócios de risco.
- Apenas para os ricos.
- Idade é uma barreira – apenas para
os jovens.
- São motivados apenas pelo
dinheiro.
- Procuram o poder e controlo
sobre os outros.
- Se tiverem talento, o sucesso
chega em 1, 2 anos.
- Qualquer pessoa com uma boa
ideia pode enriquecer.
- Tendo dinheiro é fácil falhar.
- Sofrem de stress.