quarta-feira, 21 de maio de 2014

O sub-mundo da Agricultura em Portugal.

A integração num meio novo não é coisa fácil.

Quando chegamos a uma escola nova. A um emprego. Ou até quando nos mudamos para um prédio ou bairro novo.

Há sempre um período de descobrimento e adaptação. Um período em que andamos às apalpadelas a tentar perceber por que linhas se cosem as coisas. Uma entrada low profile é sempre aconselhada!

No caso da Agricultura não é diferente.

E apesar de ser um meio conservador, não tenho grandes razões de queixa. Tenho conhecido pessoas que me têm recebido bem e saúdam a chegada de gente jovem ao meio. Desde proprietários a tractoristas, passando por administrativos e jornalistas.

As pessoas são um pouco desconfiadas ao início e até há muitos velhos do Restelo! Mas no geral, são amáveis e simpáticas, o que também é reflexo do modo de vida menos stressante que vivem no campo. O ar livre faz bem às pessoas!

Mas apesar disso há também alguns problemas sociais como o isolamento ou o alcoolismo. Há muitos agricultores solitários por esse país fora, que por habitarem em regiões distantes ou semi-abandonadas, têm pouco contacto com outras pessoas. Os eventos sociais e culturais não abundam por estas bandas. O pico do ano são normalmente as festas de verão!

E quantas vezes não vi já por esse Alentejo fora, grupos de senhores de bigode a beberem o seu vinho tinto ou o café com cheirinho logo às 8 da manhã?


Mas pronto não se pode julgar ou avaliar. Em todo o lado, seja na cidade ou campo, há problemas e modos de vida diferentes!

Aquilo que tem sido de facto mais difícil é a busca de uma propriedade.

Há terra no mercado (mas nem toda considerada boa terra...). Há até preços acessíveis. Há oferta e procura. Mas também há muitas coisas estranhas a acontecer... aquilo que considero o sub-mundo da agricultura!

Com excepção de uma ou duas pessoas realmente sérias e integras, tenho apanhado de tudo nestas 18 propriedades que já visitei.

Quando faço o primeiro contacto a propriedade parece um vale encantado. Há água para dar e vender. O solo é o melhor. A localização é excelente. Há milhares de arrobas de cortiça.

Quando se chega ao local começa perceber-se como as coisas realmente são. Há propriedades hipotecadas. Há sociedades duvidosas a explorar as mesmas. A água não é assim tanta. A cortiça não é de boa qualidade e nem na quantidade que vinha no anúncio. Muitas nem electricidade têm!

E já para não falar nas pessoas que tenho encontrado. No outro dia visitei uma herdade, em que uma em que uma pessoa dizia que custava X e outra que contactei um dia depois dizia que custava o dobro. Ganância?

Outra que também visitei, o senhor mostrou-me a propriedade e enquanto andávamos a pé disse-me: " Você tem daqui até ao carro para me fazer uma proposta!" Quando eu disse que isso era impossível ficou chateado comigo...

Ali na zona do Cercal, visitei algumas propriedades e duas pessoas diferentes em dois locais diferentes disseram-me que o Figo já tinha andado ali a ver aquelas herdades para fazer campos de golfe... Será que pensam que isso valoriza a terra?

Outra que visitei, o senhor esqueceu-se de trazer a chave do monte. Isto era uma questão fundamental para mim e quando mostrei o meu desagrado por se ter esquecido da chave ele começou a bater às portas e janelas e ver se estava alguém lá dentro. Isto num sitio completamente abandonado... estaria à espera que um rato ou um fantasma lhe abrisse a porta?

Outra propriedade em que mostrei interesse pelo telefone, o proprietário recusou-se a dizer-me o preço. Disse-me ele "quando digo o preço tenho que olhar para os olhos das pessoas!"... e lá fui eu conhecê-lo. Depois não houve seguimento.

Outro contacto que fiz o senhor disse-me assim "olhe, só lhe mostro a propriedade se o senhor quiser realmente comprá-la...", ao que eu lhe respondi "tenho que vê-la antes de decidir isso"... e assim ficamos neste impasse, acabei por não ir lá!

Estas e mais histórias vão acontecendo. Nada que desanime. A propriedade que procuro anda por aí e em breve será descoberta!

Até lá... think about it!







Nenhum comentário:

Postar um comentário