Neste primeiro mês do ano de 2018, eu e a Ghazal decidimos
ir explorar África.
Até hoje não tinha sentido qualquer chamamento ou atração
por este continente. Comparado a outras paragens do mundo, como a Ásia ou a
América do Sul, África não representava qualquer desafio. Na minha cabeça, África
pode passar bem sem mim e eu também consigo dormir à noite se não tiver que lá
ir. É verdade que há as pirâmides no Egipto, o Deserto do Sahara, as ilhas de
São Tomé e Príncipe, o Monte Kilimanjaro, animais selvagens, selvas, praias e até
alguma gastronomia que tenho experimentado aqui e ali. Mas depois há a fome, as
violações dos direitos humanos, o problema da água potável, guerras
intermináveis, a epidemia da Sida, a proliferação de doenças, a falta de
transportes e segurança. Tudo isto acontece na tal África…
Na verdade, esta parece ser a primeira lição sobre África:
não há uma só África, há muitas Áfricas e todas têm coisas boas e menos boas.
Não vale a pena tentar meter tudo no mesmo saco. A diversidade existe e para a
compreender e conhecer nada como ir visitar.
Hoje em dia estima-se que a população Africana ande à volta
do 1 bilião de pessoas. Mas as Nações Unidas estimam que este número possa duplicar
em apenas 30 anos. Em 2050, África terá cerca de 2 biliões de pessoas!! Para quem
gosta de matemática estamos perante uma bonita função exponencial. A pergunta é:
então será que daqui a 60 anos já serão 4 biliões de pessoas? Certamente que
não, pois os recursos como comida, água e terra á disposição, não são suficientes…
mas vão lá dizer isso a uma família africana a viver na selva em Moçambique? Planeamento
familiar? Preservativos? Educação? O que é isso?
70% de toda a população mundial infetada com HIV vive em
África, e em países como a África do Sul, Botswana, Lesoto, Malawi, Moçambique,
Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabwe, pelo menos 10% da população sofre do vírus da Sida. Há conflitos armados em quase todos os países e quem sofre é a
população civil que constantemente é obrigada a deslocar-se. Sendo um território
rico em matérias primas, os países ocidentais que antes colonizavam a maior
parte do continente, ou as grandes empresas petrolíferas ou de minérios,
exploram indiscriminadamente a terra e as pessoas, sem qualquer consideração
com o ambiente ou o desenvolvimento social. Um relatório da UNICEF, estima que
em 2017, 1,4 milhões de crianças morreram à fome em países como a Nigéria, Somália
ou Sudão do Sul.
Enfim, também há muitos problemas noutros continentes, mas dá
sensação que África está condenada. Não parece haver solução para estes números
alarmantes, e que no limite, só irão agravar-se no futuro com o crescimento demográfico.
Mesmo assim decidimos lá ir e na verdade passamos uns dias
maravilhosos. O nosso trajeto levou-nos durante 4 dias a Marrocos, 10 dias a
Moçambique e 5 dias a África do Sul.
Em Marrocos conhecemos as maravilhas da cidade de Marraquexe.
Uma cidade espantosa cuja palpitação se compreende melhor nas artérias
desordenadas da sua medina. Ruas e mais ruas, umas estreitinhas e outras
bastante mais largas. Milhares e milhares de bancas de comércio e marroquinos a
negociar desenfreadamente como se tratasse do último negócio da sua vida. E a
praça Jemaa El-Fna com as suas bancas de comida às cores, cobras amestradas restaurantes
a cheirar a couscous. Uma bela surpresa foi o museu Yves Saint Laurent e os
jardins que o rodeiam.
Em Moçambique visitamos a capital Maputo e a ilha paradísica
do Bazaruto mais a norte. Mal aterrámos, a humidade colou a roupa aos nossos
corpos e ficamos uma hora a tentar fazer o visto de entrada. No final, a
senhora da alfândega trocou a minha fotografia com o senhor que estava atrás de
mim, e tivemos de começar tudo de novo… Welcome to Africa! Em Maputo fomos
recebidos como reis pela Filipa Manoel e pelo meu grande meu amigo Kiko Freitas.
Visitámos os mercados, restaurantes e atrações da cidade como o antigo forte
português e algumas igrejas. Interagimos com a comunidade portuguesa e comemos
frango com piri-piri, a grande delicia da gastronomia nacional. As pessoas são
muito afáveis e simpáticas. São pobres mas ao mesmo tempo dignas e honestas.
Partiu-nos o coração ver centenas de pessoas a tentar entrar nos autocarros
apinhados em hora de ponta… a mesma rotina todos os dias… não é justo… Em Bazaruto
não há palavras para descrever a beleza natural. Águas transparentes e pássaros
e animais selvagens por todo o lado. Agora que já voltamos parece que foi um
sonho...
Na África do Sul visitámos Cape Town e descobrimos que há uma montanha que parece uma mesa. E por
acaso até se chama Table Mountain. E há uma prisão onde um senhor chamado
Nelson Mandela, passou 27 anos preso, à espera de ser Presidente de um país
chamado África do Sul. E também há um Cabo da Boa Esperança, dobrado pela
primeira vez em 1488, por um português chamado Bartolomeu Dias. Há focas,
avestruzes e pinguins a andar por aqui e por ali. E há montanhas, baías e
praias onde tudo acontece desde surf até ataques de tubarões. A tensão racista
no ar ainda existe, mas o Apartheid já foi. Num país com 60 milhões de
habitantes, apenas 5 milhões são de raça branca e as oportunidades para esta
minoria até começam a escassear... Há uma seca vigente que obriga as pessoas a
cortar nos duches, autoclismos e lavagens de carros. Só há reservas de água
potável até Maio de 2018, o que irá acontecer depois? Estaremos atentos.O que
mais gostamos foi dos mercados de rua, a arte a palpitar em cores fortes e
vibrantes e claro, as vinhas infindáveis
nas colinas a norte da cidade. Quem disse que o paraíso não existe? Cape Town é
um destino de sonho.
África é todo um mundo por descobrir.