sábado, 27 de janeiro de 2018

África nossa!


Neste primeiro mês do ano de 2018, eu e a Ghazal decidimos ir explorar África.

Até hoje não tinha sentido qualquer chamamento ou atração por este continente. Comparado a outras paragens do mundo, como a Ásia ou a América do Sul, África não representava qualquer desafio. Na minha cabeça, África pode passar bem sem mim e eu também consigo dormir à noite se não tiver que lá ir. É verdade que há as pirâmides no Egipto, o Deserto do Sahara, as ilhas de São Tomé e Príncipe, o Monte Kilimanjaro, animais selvagens, selvas, praias e até alguma gastronomia que tenho experimentado aqui e ali. Mas depois há a fome, as violações dos direitos humanos, o problema da água potável, guerras intermináveis, a epidemia da Sida, a proliferação de doenças, a falta de transportes e segurança. Tudo isto acontece na tal África…

Na verdade, esta parece ser a primeira lição sobre África: não há uma só África, há muitas Áfricas e todas têm coisas boas e menos boas. Não vale a pena tentar meter tudo no mesmo saco. A diversidade existe e para a compreender e conhecer nada como ir visitar.

Hoje em dia estima-se que a população Africana ande à volta do 1 bilião de pessoas. Mas as Nações Unidas estimam que este número possa duplicar em apenas 30 anos. Em 2050, África terá cerca de 2 biliões de pessoas!! Para quem gosta de matemática estamos perante uma bonita função exponencial. A pergunta é: então será que daqui a 60 anos já serão 4 biliões de pessoas? Certamente que não, pois os recursos como comida, água e terra á disposição, não são suficientes… mas vão lá dizer isso a uma família africana a viver na selva em Moçambique? Planeamento familiar? Preservativos? Educação? O que é isso?

70% de toda a população mundial infetada com HIV vive em África, e em países como a África do Sul, Botswana, Lesoto, Malawi, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabwe, pelo menos 10% da população sofre do vírus da Sida. Há conflitos armados em quase todos os países e quem sofre é a população civil que constantemente é obrigada a deslocar-se. Sendo um território rico em matérias primas, os países ocidentais que antes colonizavam a maior parte do continente, ou as grandes empresas petrolíferas ou de minérios, exploram indiscriminadamente a terra e as pessoas, sem qualquer consideração com o ambiente ou o desenvolvimento social. Um relatório da UNICEF, estima que em 2017, 1,4 milhões de crianças morreram à fome em países como a Nigéria, Somália ou Sudão do Sul.

Enfim, também há muitos problemas noutros continentes, mas dá sensação que África está condenada. Não parece haver solução para estes números alarmantes, e que no limite, só irão agravar-se no futuro com o crescimento demográfico.

Mesmo assim decidimos lá ir e na verdade passamos uns dias maravilhosos. O nosso trajeto levou-nos durante 4 dias a Marrocos, 10 dias a Moçambique e 5 dias a África do Sul.

Em Marrocos conhecemos as maravilhas da cidade de Marraquexe. Uma cidade espantosa cuja palpitação se compreende melhor nas artérias desordenadas da sua medina. Ruas e mais ruas, umas estreitinhas e outras bastante mais largas. Milhares e milhares de bancas de comércio e marroquinos a negociar desenfreadamente como se tratasse do último negócio da sua vida. E a praça Jemaa El-Fna com as suas bancas de comida às cores, cobras amestradas restaurantes a cheirar a couscous. Uma bela surpresa foi o museu Yves Saint Laurent e os jardins que o rodeiam. 






Em Moçambique visitamos a capital Maputo e a ilha paradísica do Bazaruto mais a norte. Mal aterrámos, a humidade colou a roupa aos nossos corpos e ficamos uma hora a tentar fazer o visto de entrada. No final, a senhora da alfândega trocou a minha fotografia com o senhor que estava atrás de mim, e tivemos de começar tudo de novo… Welcome to Africa! Em Maputo fomos recebidos como reis pela Filipa Manoel e pelo meu grande meu amigo Kiko Freitas. Visitámos os mercados, restaurantes e atrações da cidade como o antigo forte português e algumas igrejas. Interagimos com a comunidade portuguesa e comemos frango com piri-piri, a grande delicia da gastronomia nacional. As pessoas são muito afáveis e simpáticas. São pobres mas ao mesmo tempo dignas e honestas. Partiu-nos o coração ver centenas de pessoas a tentar entrar nos autocarros apinhados em hora de ponta… a mesma rotina todos os dias… não é justo… Em Bazaruto não há palavras para descrever a beleza natural. Águas transparentes e pássaros e animais selvagens por todo o lado. Agora que já voltamos parece que foi um sonho...






Na África do Sul visitámos Cape Town e descobrimos que há uma montanha que parece uma mesa. E por acaso até se chama Table Mountain. E há uma prisão onde um senhor chamado Nelson Mandela, passou 27 anos preso, à espera de ser Presidente de um país chamado África do Sul. E também há um Cabo da Boa Esperança, dobrado pela primeira vez em 1488, por um português chamado Bartolomeu Dias. Há focas, avestruzes e pinguins a andar por aqui e por ali. E há montanhas, baías e praias onde tudo acontece desde surf até ataques de tubarões. A tensão racista no ar ainda existe, mas o Apartheid já foi. Num país com 60 milhões de habitantes, apenas 5 milhões são de raça branca e as oportunidades para esta minoria até começam a escassear... Há uma seca vigente que obriga as pessoas a cortar nos duches, autoclismos e lavagens de carros. Só há reservas de água potável até Maio de 2018, o que irá acontecer depois? Estaremos atentos.O que mais gostamos foi dos mercados de rua, a arte a palpitar em cores fortes e vibrantes e claro, as  vinhas infindáveis nas colinas a norte da cidade. Quem disse que o paraíso não existe? Cape Town é um destino de sonho.






África é todo um mundo por descobrir.

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