segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O outro lado da Malfatta!

A música está sempre a tocar. Não é às vezes. É sempre. Tudo toca. Música Argentina, brasileira, italiana, americana, peruana, africana, clássicos, clássica, rock, Hip Hop, heavy metal, calminha, acelerada, volume alto ou baixo, tanto faz, agora neste momento passa Jonhy Cash. Os vários viajantes que aqui passaram foram deixando música ao Ivan e ele orgulha-se de ter 250 gigas de music files! É como estar num filme e haver sempre uma banda sonora, eu gosto! Às vezes quando vamos para a horta levo o IPad, e também ouvimos música enquanto trabalhamos.

Falamos e rimos muito. Falamos de ideias novas e de mudanças de vida. Todos os que aqui estamos viemos à procura de algo. Uns querem abrir o coração e a mente, outros viajam sem destino e acabam aqui. Mas a verdade é que há uma grande sensibilidade para assuntos de reflexão interna. O Ivan, sendo mais velho, dá os conselhos que pode. No fundo sabe sempre bem falar destas coisas que nos vão no pensamento e partilhar com os outros. No meu caso, a mudança operou-se no dia em que decidi mudar de carreira há dois anos. Embora a mudança física e de rotinas tenha sido imediata, na consciência as coisas não foram imediatas e nem o poderiam ser. Ainda sou muito apegado à cidade e às suas rotinas. Certo é que cada vez que tenho estas experiências de trabalho em quintas evoluo um pouco mais na direcção que escolhi. Uma vida mais calma no campo e na natureza, rodeado pelos animais e culturas. Vivendo com menos. Reciclando e reutilizando. Aprendendo a fazer coisas novas. Tocando nas coisas com as mãos e levando com o vento, sol e chuva na cara.

Mas não é fácil mudar assim. Todos os dias faço disparates. Seja no trabalho quando os porcos fogem ou na cozinha quando corto queijo ou cebolas e deixo bocados enormes colados à casca, sinal claro do desperdício citadino. Também em termos mentais estou sempre a planear as coisas de forma constante e com os olhos no próximo passo, hábitos do escritório. Já levei na cabeça aqui por isso... Aconselham me a viver mais devagar e a saber parar para apreciar os momentos, amando o que me rodeia... Sigue caminando, no sigas corriendo! Não é nada fácil mesmo, mas também não é algo que represente um esforço espartano para mim ou que me incomode. Aprecio esta vida mais lenta e ligada às pequenas coisas. O caminho pode ser longo mas já vai a meio!

A única coisa que não anda devagar é o cavalo Refucilo. Um cavalo selvagem que estava ai a pastar num campo e que galopa que nem uma seta de forma descontrolada. A sensação de galopar em cima dele não tem descrição possível. Antes de ontem mandou-me ao chão de forma um pouco violenta. Não houve lesões... mas pronto, um dia tinha de acontecer.

À noite na lareira também se fala do estado do mundo: do crescimento populacional, energia, água, comida e do que vai ser de nós no futuro com o actual estado das coisas. O crescimento exponencial e o capitalismo são criticados. Dizemos mal dos EUA. Falamos que tudo devia ser de todos. Às vezes parece que estou no "Diários de uma motocicleta" do Che Guevara ou a cantar o Imagine do John Lennon. Não concordo nem discordo de tudo mas é bom estar no meio deste espírito revolucionário Sul Americano. Também temos tido muitas visitas. O Ivan tem muitos amigos que aqui vêm comer e passar a noite. São todos impecáveis e simples... é bom conhecer estas pessoas.

Notícia de última hora: o meu irmão Miguel Queirós vem cá passar 3 dias a partir de quinta-feira. Estar com ele aqui vai ser especial.

A experiência na Malfatta soma e segue, agora é hora de ir preparar mais um petisco, esta quinta devia ter 2 estrelas Michellin!

Think about it!

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