sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Visita a Buenos Aires e o regresso ao campo!

Depois de 5 dias em Buenos Aires partimos.

Buenos Aires não deixa ninguém indiferente. Com 12 milhões de pessoas é uma das grandes metrópoles mundiais. A Argentina tem 40 milhões de habitantes e é um dos maiores países do mundo... Porque se concentra aqui tanta gente?

A pátria Argentina vive no imaginário de todos nós. As grandes referências são Diego Maradona, os bifes tenros do gado de pasto, a sensualidade do tango, o azul claro da sua bandeira e a pampa... terra plana sem fim onde os gaúchos conduzem as manadas.

Mas tenho más notícias a dar aos mal informados. A Argentina também é um país com graves desequilíbrios.

Para além da disparidade na concentração populacional, existem graves problemas sociais, muita diferença entre ricos e pobres e corrupção nas altas estâncias governamentais. Circulam as histórias de malas cheias de dólares onde o dinheiro nem é contado, apenas pesado. 4 kilos para um milhão de dólares, 8 kilos para dois milhões e por ai fora.

Cristina Kirchner, a presidente que subiu ao poder a seguir ao seu marido Nestor, fechou o pais ao exterior, género Salazar. Neste momento a Argentina não pode exportar carne (?), a população não pode comprar moeda estrangeira e não há Apple à venda por exemplo.

Em Buenos Aires há milhares de sem abrigos, as ruas estão sujas e tudo é um bocado caótico. Como pode um pais com tantos recursos e deste tamanho viver uma situação destas?? A verdade é que existe um historial de sucessivos governos que não funcionam... Tudo feito com muito coração e pouca cabeça, clássico do género sul americano. Quando vêm os governos de esquerda roubam aos ricos para dar aos pobres e o país pára. Quando vira à direita as desigualdades acentuam-se e as malas com dólares circulam como castanhas assadas no outono à porta das Amoreiras.

Esta ditadura económica conjugada com a liberdade de expressão e de imprensa cria novas sociedades e maneiras de pensar. A Argentina não é excepção. As pessoas são informadas e educadas mas sentem-se incapazes de lutar contra o sistema. Por onde começar? O voto já não é suficiente para mudar as coisas e o futuro é incerto... apenas há a certeza que vai ser pior.

Mas depois há o lado positivo.

As pessoas falam de novas formas de viver... Viver com menos e com mais justiça. As novas gerações preocupam-se com a natureza e o ambiente. Nas grandes metrópoles como Buenos Aires respira-se cultura. Surgem novas tendências, a música reinventa-se e novas formas de arte aparecem. O que salta mais à vista são as paredes cheias de Street Art, género Banksy, e que no futuro vão ter que ser vistas como as melhores colecções de arte pública.

Tudo isto faz com que Buenos Aires não nos seja indiferente. A cidade simplesmente invade-nos os sentidos. Passamos 5 dias onde visitamos muita coisa: museus, parques, concertos e praças. Ainda falta ver muito. Para a semana vamos lá passar mais 5 dias com o Jiggie das arábias e espero conhecer ainda mais realidades.

Para já voltei ao campo. Desta vez o Miguel Queirós veio comigo. E que bem sabe respirar o ar puro!! Viemos para a quinta onde era suposto vir desde o início, a do meu amigo Felipe Harrison, colega do RAC, situada em Ameghino, 500 kms a oeste de Buenos Aires.

Uma quinta diferente da Malfatta. Na Argentina diz-se que ter uma quinta como modo de vida é um mau negócio. Mas ter uma quinta como um negócio é um grande modo de vida. Na Malfatta  aprendi muito sobre manejo de ferramentas, animais, fazer cercas eléctricas, matar porcos, cozinhar pão, reutilizar recursos, andar a cavalo, etc mas a quinta não tinha registos de nada, tudo se ia degradando e não havia um plano ou um caminho. Num dia contávamos 19 porcos e no outro já só eram 13, o dono não se preocupava muito com isso...

Aqui nesta quinta, a vida também corre devagar e respeita-se a natureza e o meio ambiente. Mas a quinta é gerida como uma unidade de negócio. Sem uma rentabilidade, podemos ter as melhores ideias e uma vida maravilhosa no campo, mas no fim onde estará o ganho para comer e sustentarmos uma família por exemplo? O equilíbrio será sempre a palavra a reter. Ir para a agricultura para se ficar rico parece-me impossível mas é necessário pagar o investimento. Sem rigor, responsabilidade e planeamento não se consegue chegar lá.

Para já fomos muito bem recebidos e já conhecemos algumas das pessoas que aqui trabalham, a família do Felipe e o sistema de produção implementado. Felizmente o pai do Felipe já está melhor e em recuperação do acidente de carro que teve, mas o nosso guia tem sido o Juan, irmão do Felipe, um muy bueno xico. Quase 5000 hectares, divididos entre vários membros da família e dedicados à produção de vacas para carne (Hereford e Angus) e culturas como milho, trigo, soja, cevada, triticale e aveia. Hoje já conhecemos os meandros da quinta e até vimos uma sementeira de milho a ser feita.

Só vamos aqui ficar 5 dias mas espero aprender muito! Quem sabe um dia mais tarde, volto com mais tempo. Hoje jantámos uma milaneza com puré. Em português, bifes panados com puré. A Argentina é um petisco! Tudo é bom e não há dia que passe sem carne e dulce de leche para sobremesa. Agora a lareira crepita, vou terminar este texto e descansar que amanhã é um dia duro de análises a touros e vacas!

Think about it!

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