Com a queda do muro de Berlim em
Novembro de 1989, caia também a chamada cortina de ferro, assim apelidada por
Churchill a linha imaginária que dividiu a Europa no pós Segunda Guerra
Mundial. O Leste da Europa abria-se assim ao mundo, libertando-se das garras
comunistas da União Soviética. Passados 30 anos, ainda há muitas
infraestruturas por desenvolver e desigualdades sociais por colmatar, mas isso
não impediu que o turismo crescesse a olhos vistos na região.
Foi com este espírito de
descoberta de um novo mundo, que eu e Ghazal partimos por duas semanas rumo ao
Leste Europeu. As condições eram altamente favoráveis, já que estávamos em
pleno Agosto, e não tínhamos de enfrentar os rigores do inverno.
O primeiro destino foi a cidade
de Cracóvia, no Sul da Polónia. Apanhamos o comboio em Berlim e desde logo
sentimos que estávamos a abandonar o oeste civilizado pois houve um atraso de
várias horas e o conforto da carruagem deixava muitas dívidas. Estávamos também
a abandonar o território da moeda Euro e íamos ter de comprar zlotys. Para nós
era como se estivéssemos em África a comprar marfim para trocar por bananas.
Mas mal desembarcamos na estação
central de comboios de Cracóvia, qualquer sentimento de exotismo, distancia ou
desconforto, desapareceu de imediato. Aliás, sentimos precisamente o contrário.
Estávamos numa região hospitaleira e com boa energia no ar. Avançamos de
mochila às costas rumo ao centro e não podíamos ter ficado mais contentes. Ruas
pedestres bem iluminadas e cercadas por jardins e prédios de arquitetura histórica.
Artistas de rua enchiam-nos os olhos e os ouvidos enquanto víamos jovens a
comprar bebidas em lojas de conveniência. Mas o que mais nos surpreendeu, acima
de tudo, foi o espaço. Aquele espaço que cada vez mais falta em cidades como
Paris, Barcelona ou Londres. Espaço para respirar. Espaço para andar. Espaço
para apreciar. Mesas livres em restaurantes e museus com filas acessíveis. Este
cenário também se repetiu nas cidades de Praga, Budapeste e Viena. Afinal, e
depois de várias semanas a experienciar o pico do turismo do verão na Europa, íamos
poder “praticar” um turismo mais calmo.
O Leste da Europa revelou-se de
facto uma bela surpresa e foi com certeza a melhor parte da nossa lua-de-mel.
Na Polónia comemos Pierogi, um
género de empada deliciosa com múltiplos recheios. Visitamos o Palácio Real, um
edifício tirado de um conto de fadas e onde reza a lenda que vivia um dragão.
Vislumbramos a casa onde habitava Karol Wojtyla, mais conhecido por Papa João Paulo
II. Viajamos até Auschwitz e assistimos ao testemunho real do Holocausto nas
paredes, pedras, portas, cercas, candeeiros e ruinas do antigo campo de
concentração. As catedrais e igrejas mais bonitas que vi na minha vida foram
aqui na Polónia.
Na República Checa, mais
concretamente em Praga, atravessamos a Charles Bridge e instalamo-nos num hotel
junto à embaixada dos EUA. Fizemos um passeio de barco no rio e visitamos o Museu
Kafka e da Apple. Aventuramo-nos pelo bairro judaico e visitamos as antigas
sinagogas. Bebemos cerveja Checa e comemos o Gulash, uma mistura de batata e guisado de
vaca enfiado dentro de uma espécie de pão redondo. Alugamos bicicletas e
perdemo-nos pelas zonas ribeirinhas junto à “casa que dança”. Encontrámos a famosa parede John Lennon que continua a sobreviver apesar da polícia já a ter pintado de branco vezes sem conta!
Na Áustria, chegamos a Viena num
dia chuvoso mas nem isso apagou o sol que sentíamos brilhar a Leste. Ficamos de
queixo caído com a catedral de Viena, bebemos café numa esplanada de rua e fomos Palácio Belvedever ver o quadro "O Beijo" de Gustav Klimt.
Compramos bilhetes para um concerto de música clássica e, foi ali sentado
naquela sala, a ouvir o Danúbio Azul de Strauss, ao lado da mulher dos meus sonhos, que sabia ter feito as escolhas certas na minha vida. Apanhámos o
festival de cinema que decorria junto à universidade e deliciamo-nos com vinho
branco enquanto víamos filmes e concertos num ecrã gigante.
Por fim, a Hungria e Budapeste.
Ainda hoje não sei qual dos lados do rio é Buda e qual é Peste. Mas é uma
cidade a qual queremos voltar um dia. A visão da famosa ponte que atravessa o
rio e a vibe das ruas é algo inesquecível. Cansados de programas meramente turísticos,
fomos visitar o jardim zoológico e até andamos na roda gigante. Nunca antes
tinha andado numa, mas também acho que não voltarei a andar… Vestimos o
fato-de-banho e fomos para as piscinas de água quente típicas de Budapeste. Os
chamados Spas locais onde decorre toda a vida social dentro de água.
Basicamente é uma piscina pública onde a população se junta para passar o tempo
e descontrair.
Assim foi o Leste da Europa.
Diverso e inesquecível. Barato e espaçoso. Delicioso e com cerveja gelada.
Ficou a faltar a Roménia e a Eslováquia. Um dia voltaremos.
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