Em Outubro de 2017, há cerca de um mês e meio, voltámos ao Nepal. Voltámos para ver os nossos amigos. Voltámos para ver a
nossa família Nepalesa. Voltamos para ver aquele que é sem dúvida um dos países
mais bonitos do mundo.
Com o tempo, e no futuro, penso que as palavras começarão a
sair com mais facilidade e conseguirei falar com mais clarividência sobre os fatos
sucedidos. Desde o dia do terramoto a 25 de Abril de 2015, até à criação do
movimento Obrigado Portugal e mais recentemente a nova aventura humanitária que
dá por nome de Dreams of Kathmandu.
Mas enquanto isso não acontece, continuarei a visitar o país
e a ajudar como posso. E esta última visita foi uma das melhores de sempre.
Como habitualmente, ficamos hospedados no Hotel Dwarikas, um dos melhores
hotéis de Kathmandu, onde eu e a Ghazal somos recebidos como filhos. A dona do
Hotel, Sangita Shreshta, é como uma mãe para nós e tanto ela como a sua mãe
Ambika, ou os filhos Sean e Vijay recebem-nos com amizade, afeto e carinho.
Sentimentos espelhados na sinceridade com que nos abraçamos e olhares frontais
olhos nos olhos. Eles sabem que nós vamos ajudar o Nepal até ao final da nossa
vida e por isso recebem-nos de braços abertos.
O nosso grande objetivo é sempre ajudar o Campo Esperança. O
Campo original já não existe, mas cerca de 70 crianças estão agora hospedadas
num “Hostel” localizado a 2 minutos da antiga localização. Desta forma, os miúdos
podem continuar a frequentar a escola e não lhes perdermos o rasto. A
construção das suas casas nos Himalaias, no vale de Duguna, continua a ser a
grande prioridade e tanto este projeto como a gestão do “novo” Campo Esperança,
estão a cargo da Fundação Dwarikas e da sua diretora, a grande e inspiradora
Sangita Shreshta.
Mas para além do Campo, também decidimos envolver-nos
noutros projetos como ajudar orfanatos e famílias carenciadas no Vale de Kathmandu.
A palavra de ordem é fazer as coisas acontecer e intervir nas áreas da educação,
nutrição, saúde e habitação. No fundo manter uma ligação ao Nepal para o resto
da vida. Veremos onde este caminho da vida nos levará. Mas tanto eu como a
Ghazal estamos felizes, empenhados e motivados com este novo projeto: Dreams of
Kathmandu.
Mas esta viagem ao Nepal fica também marcada pelo
concretizar de um sonho antigo: o trekking ao Campo Base do Monte Evereste
localizado a 5364 metros de altitude. A porta para a montanha mais alta do mundo.
Um desafio físico, mental e espiritual de grande exigência. 12 dias de trekking,
150 kms de caminhada com uma mochila às costas, pelas montanhas mais altas do
mundo, os Himalaias.
A partida para esta aventura deu-se no terminal de voos
internos de Kathmandu. Para se aceder ao Vale de Khumbu, onde se encontra o Monte
Evereste, há que fazê-lo através de uma vila perdida nas montanhas nepalesas
chamada Lukla. E para se chegar a Lukla há duas opções: um trekking de 7 dias
ou então um voo para o aeroporto local, considerado um dos mais perigosos do
mundo.
Escolhi a segunda opção. Acompanhado do meu guia e amigo
Ramesh, seguimos numa avioneta de 15 lugares até à remota povoação de Lukla. E
foi já banhado em adrenalina e suor que aterrei em segurança naquela pista de
dimensões mínimas. Que alivio quando o avião parou… ufa!
E aí começou a grande jornada: caminhar montanha acima até
ao Campo Base Evereste. Através das vilas de etnia Sherpa de Pakhding, Namche Bazar
ou Tengboche, rodeado de Yaks e atravessando pontes suspensas de cortar a
respiração. Sem palavras para descrever a magnitude da visão de montanhas como
Ama Damblan, Pumori, Lothse e o próprio Evereste. Picos nevados que parecem deuses
de barbas brancas sentados a ver o tempo passar. Locais de conquistas e glória ou
heróis improváveis como Edmund Hillary e Tenzing Norgay Sherpa. Mas também
locais de tragédia onde muitas vidas já foram colhidas. A taxa de morte
daqueles que tentam escalar o Evereste é de cerca de 5%. Ou seja, 1 em cada 20
montanhistas morrem. Posso afirmar com segurança que há locais mais atrativos para
fazer turismo…
Foi uma experiência única e que nunca irei esquecer. E certamente
para repetir. Na minha mente, gostava agora de escalar algo acima dos 6.000
metros. É o próximo objetivo. Houve momentos em que tive algumas dificuldades
na aclimatização e respiração. Algumas dores de cabeça, fadiga e falta de sono.
Ao todo perdi 7 kgs em 12 dias. Mas verdade seja dita, rapidamente o corpo se
habituou e até parecia que estava em casa! Portugal é um país de mar e
marinheiros… mas não sei porquê sinto-me mais à vontade nas montanhas. Quando
era criança sempre gostei mais de ir à Serra da Estrela do que ao Algarve.
Por isso… até já Himalaias e até já Nepal, vemo-nos para o
ano!
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