Uma manhã em Teerão
São 8 da manhã e ligo a Vespa. O destino são as aulas de
Persa na Universidade de Teerão. Dá-me a sensação que quanto mais aprendo, cada
vez sei menos. Está um frio de rachar e o trânsito é caótico. A capital do Irão
é uma das maiores cidades do mundo e há milhões de pessoas a caminho dos seus
empregos ou a deixar os filhos na escola.
(fogo está mesmo frio,
que bela ideia comprar a mota hein bravo mais um dia de aulas será que algum
dia vou conseguir falar persa como deve ser?)
Entro na autoestrada e observo as montanhas cheias de neve que
guardam o extremo norte de Teerão. Parecem a muralha de um castelo. Gosto de olhar
em meu redor e pensar naquilo que me trouxe aqui. Nos caminhos da vida e nas
escolhas que fazemos. Como tudo é tão imprevisível. Passamos a vida a planear e
a controlar, mas no fundo, o passado e o futuro não nos pertencem, apenas o
presente e o agora.
(cuidado nesta descida
há algum gelo epah olha-me este tipo em sentido contrário vai levar com uma
buzinadela acorda senhor como será que se diz “buzinadela” em persa?)
A Ghazal e o pequeno Vicente ainda estavam a dormir quando
saí de casa. Às vezes, a Ghazal acorda com o barulho da máquina do café e vem à
sala despedir-se. Muitas vezes já tenho o capacete posto e beijamo-nos através
da viseira. Conforta-me saber que a minha família está em segurança.
(é amanhã ou depois de
amanhã o médico do Vicente? esqueci-me de comprar as gotas para as cólicas, a
Ghazal vai-me matar)
Em sentido contrário, assusta-me pensar que nem todas
famílias no mundo podem ter este sentimento de proteção. Uma casa quente ou
comida no frigorífico. Aquilo que damos como garantido, é uma incerteza para
outros mais frágeis. Podemos virar a cara ao mundo que nos rodeia e viver de
consciência tranquila? Vem-me à mente o Nepal.
(nesta altura do ano
em Kathmandu está tanto frio os miúdos devem sofrer a lavar cara de manhã com a
água gelada será que hoje têm pequeno almoço?)
Começo a rebobinar tudo o que está por fazer. É necessário
comprar materiais para as construções das vilas nas montanhas. É preciso pagar
dentistas e consultas médicas. O novo ano letivo está prestes a começar e é
necessário comprar uniformes e livros escolares. Entretanto querem despejar
dois orfanatos que tenho estado a apoiar nos últimos dois anos.
(onde vou arranjar os
fundos para as rendas dos orfanatos? e se eu desistir do Nepal? toda a gente
vai compreender tenho tantos planos novos e se trouxesse o negócio dos pasteis
de nata para o Irão? tem juízo pedro agora vais ser pasteleiro queres ver nem sabes
dizer “massa folhada” em persa)
Todos os dias nos últimos 4 anos, lá vem o Nepal desaguar na
minha mente. O mais fácil seria ignorar o chamamento. É tão longe e já passou
tanto tempo. Ninguém se lembra. O melhor seria esconder-me atrás da obra feita
ou de algumas bolhas nos pés. Não posso cair nessa armadilha. Ainda há muito
por fazer. É uma questão de ética e princípios. Somos o que fazemos, não o que
dizemos.
O projeto Dreams of
Kathmandu foi criado por mim e pela minha mulher, Ghazal, para dar resposta
a estas perguntas. Queremos concretizar os sonhos dos nossos amigos nepaleses,
aplicando a 100% os fundos que recebemos. Uma vez por ano viajamos para o Nepal
de modo a acompanhar os projetos. Podem consultar tudo em https://dreamsofkathmandu.blogspot.com/
Chego à Universidade e estaciono a mota num canto da
garagem. O segurança é meu amigo e cumprimenta-me efusivamente. Pensa que sou
primo do Carlos Queirós. Ele é muito simpático, mas tenho receio de lhe dizer
olá. O senhor tem tanta eletricidade estática que quando lhe aperto a mão, ele
dá choques elétricos.
(olha lá vem ele todo
contente a abanar a cabeça vou fingir que estou ao telemóvel salam estou sim? olá
então tudo bem onde é que estás? sim sim claro já aí vou como é que será que se
diz “electricidade estática” em persa)
Ao subir as escadas para a última aula do trimestre, já sinto
um misto de excitamento e alegria. Está na hora de voltar ao Nepal e viver mais
uma grande aventura.
(espero que o Japonês
não se sente ao meu lado, já tentei tudo e não consigo comunicar com ele o que
vale é que já vêm aí os exames e se fizesse mais um fund raising para o Nepal
nas férias? mas já nem tenho facebook)
Uma aventura
solidária
No dia 25 de Abril de 2019, data do 4º aniversário do
terramoto que assolou o Nepal, vou subir ao topo do Island Peak, uma das montanhas dos Himalaias no Nepal com cerca de
6200 metros. O trekking demorará cerca de 15 dias através das montanhas dos
Himalaias, passando pelo Evereste Base Camp a 5364 metros.
A aproximação ao pico final, com 6200 metros, consiste numa
parede quase vertical de 150 metros de altura seguido de um desfiladeiro muito estreito
com precipícios à esquerda e à direita. Podem perceber a magnitude do desafio
no link https://www.youtube.com/watch?v=-DGDLIumpYg&t=5s
O objetivo principal desta escalada é fazer uma recolha de
fundos para dar uma casa nova às 15 crianças do Sharadas Shelter for Children, um orfanato no centro de Kathmandu destruído
após o terramoto. Para completar o novo edifício onde vão morar, são
necessários 3000€.
Every Kid Deserves a Home. Este é o nome da campanha que estou a lançar. O nome de todos
os doadores será escrito numa das paredes do orfanato.
Se sentirem que vale a pena ajudar e seguir esta aventura
podem fazê-lo através do IBAN PT50 003300000098021915378 ou no link https://www.gofundme.com/every-kid-deserves-a-home
Neste link irei fazer relatos diários desta grande epopeia
que se inicia já no dia 11 de abril com a chegada a Kathmandu.
Se puderem também partilhar este mesmo link com os vossos
amigos, família e nas redes sociais seria uma grande ajuda.
Com gratidão e abraços,
Think about it!
(pronto já está
lançada a campanha devo estar louco mas sei que vou conseguir chegar lá cima e
ajudar os miúdos “louco” em Persa diz-se divone)
Boa Pedro. Apoio mt mais esta loucura.
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