terça-feira, 9 de abril de 2019

Every Kid Deserves a Home - Reflexões sobre uma nova aventura



Uma manhã em Teerão

São 8 da manhã e ligo a Vespa. O destino são as aulas de Persa na Universidade de Teerão. Dá-me a sensação que quanto mais aprendo, cada vez sei menos. Está um frio de rachar e o trânsito é caótico. A capital do Irão é uma das maiores cidades do mundo e há milhões de pessoas a caminho dos seus empregos ou a deixar os filhos na escola.

(fogo está mesmo frio, que bela ideia comprar a mota hein bravo mais um dia de aulas será que algum dia vou conseguir falar persa como deve ser?)

Entro na autoestrada e observo as montanhas cheias de neve que guardam o extremo norte de Teerão. Parecem a muralha de um castelo. Gosto de olhar em meu redor e pensar naquilo que me trouxe aqui. Nos caminhos da vida e nas escolhas que fazemos. Como tudo é tão imprevisível. Passamos a vida a planear e a controlar, mas no fundo, o passado e o futuro não nos pertencem, apenas o presente e o agora.

(cuidado nesta descida há algum gelo epah olha-me este tipo em sentido contrário vai levar com uma buzinadela acorda senhor como será que se diz “buzinadela” em persa?)




A Ghazal e o pequeno Vicente ainda estavam a dormir quando saí de casa. Às vezes, a Ghazal acorda com o barulho da máquina do café e vem à sala despedir-se. Muitas vezes já tenho o capacete posto e beijamo-nos através da viseira. Conforta-me saber que a minha família está em segurança.

(é amanhã ou depois de amanhã o médico do Vicente? esqueci-me de comprar as gotas para as cólicas, a Ghazal vai-me matar)


Em sentido contrário, assusta-me pensar que nem todas famílias no mundo podem ter este sentimento de proteção. Uma casa quente ou comida no frigorífico. Aquilo que damos como garantido, é uma incerteza para outros mais frágeis. Podemos virar a cara ao mundo que nos rodeia e viver de consciência tranquila? Vem-me à mente o Nepal.

(nesta altura do ano em Kathmandu está tanto frio os miúdos devem sofrer a lavar cara de manhã com a água gelada será que hoje têm pequeno almoço?)

Começo a rebobinar tudo o que está por fazer. É necessário comprar materiais para as construções das vilas nas montanhas. É preciso pagar dentistas e consultas médicas. O novo ano letivo está prestes a começar e é necessário comprar uniformes e livros escolares. Entretanto querem despejar dois orfanatos que tenho estado a apoiar nos últimos dois anos.

(onde vou arranjar os fundos para as rendas dos orfanatos? e se eu desistir do Nepal? toda a gente vai compreender tenho tantos planos novos e se trouxesse o negócio dos pasteis de nata para o Irão? tem juízo pedro agora vais ser pasteleiro queres ver nem sabes dizer “massa folhada” em persa)

Todos os dias nos últimos 4 anos, lá vem o Nepal desaguar na minha mente. O mais fácil seria ignorar o chamamento. É tão longe e já passou tanto tempo. Ninguém se lembra. O melhor seria esconder-me atrás da obra feita ou de algumas bolhas nos pés. Não posso cair nessa armadilha. Ainda há muito por fazer. É uma questão de ética e princípios. Somos o que fazemos, não o que dizemos.

O projeto Dreams of Kathmandu foi criado por mim e pela minha mulher, Ghazal, para dar resposta a estas perguntas. Queremos concretizar os sonhos dos nossos amigos nepaleses, aplicando a 100% os fundos que recebemos. Uma vez por ano viajamos para o Nepal de modo a acompanhar os projetos. Podem consultar tudo em https://dreamsofkathmandu.blogspot.com/ 


Chego à Universidade e estaciono a mota num canto da garagem. O segurança é meu amigo e cumprimenta-me efusivamente. Pensa que sou primo do Carlos Queirós. Ele é muito simpático, mas tenho receio de lhe dizer olá. O senhor tem tanta eletricidade estática que quando lhe aperto a mão, ele dá choques elétricos.

(olha lá vem ele todo contente a abanar a cabeça vou fingir que estou ao telemóvel salam estou sim? olá então tudo bem onde é que estás? sim sim claro já aí vou como é que será que se diz “electricidade estática” em persa)

Ao subir as escadas para a última aula do trimestre, já sinto um misto de excitamento e alegria. Está na hora de voltar ao Nepal e viver mais uma grande aventura.

(espero que o Japonês não se sente ao meu lado, já tentei tudo e não consigo comunicar com ele o que vale é que já vêm aí os exames e se fizesse mais um fund raising para o Nepal nas férias? mas já nem tenho facebook)

Uma aventura solidária

No dia 25 de Abril de 2019, data do 4º aniversário do terramoto que assolou o Nepal, vou subir ao topo do Island Peak, uma das montanhas dos Himalaias no Nepal com cerca de 6200 metros. O trekking demorará cerca de 15 dias através das montanhas dos Himalaias, passando pelo Evereste Base Camp a 5364 metros.

A aproximação ao pico final, com 6200 metros, consiste numa parede quase vertical de 150 metros de altura seguido de um desfiladeiro muito estreito com precipícios à esquerda e à direita. Podem perceber a magnitude do desafio no link https://www.youtube.com/watch?v=-DGDLIumpYg&t=5s 





O objetivo principal desta escalada é fazer uma recolha de fundos para dar uma casa nova às 15 crianças do Sharadas Shelter for Children, um orfanato no centro de Kathmandu destruído após o terramoto. Para completar o novo edifício onde vão morar, são necessários 3000€. 




Every Kid Deserves a Home. Este é o nome da campanha que estou a lançar. O nome de todos os doadores será escrito numa das paredes do orfanato.

Se sentirem que vale a pena ajudar e seguir esta aventura podem fazê-lo através do IBAN PT50 003300000098021915378 ou no link https://www.gofundme.com/every-kid-deserves-a-home

Neste link irei fazer relatos diários desta grande epopeia que se inicia já no dia 11 de abril com a chegada a Kathmandu.

Se puderem também partilhar este mesmo link com os vossos amigos, família e nas redes sociais seria uma grande ajuda.

Com gratidão e abraços,

Think about it!

(pronto já está lançada a campanha devo estar louco mas sei que vou conseguir chegar lá cima e ajudar os miúdos “louco” em Persa diz-se divone)

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