quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Galinhas - como funciona a produção e o mercado?

A carne proveniente das aves é muito apreciada nos diversos países espalhados pelos cinco continentes. Refiro-me concretamente a galinhas, patos, perús, gansos, etc.. ou seja aquelas espécies que foram domesticadas pelo homem com vista ao aproveitamento da carne, ovos ou penas para as almofadas ou casacos Duffy!

A carne destes animais é mais barata, fácil de cozinhar, há muitas receitas para aplicar, existem também bastantes espécies e partes distintas dos animais e para além disso têm um elevado valor nutritivo com baixos níveis de gordura e colestrol associados.

Em termos de produção mundial o maior produtor são os EUA com cerca de 32% da produção total, logo seguido da China com 24% e UE com 16%. Na União Europeia a produção tem estabilizado ao longo dos últimos 40 anos e trata-se de uma àrea auto-suficiente. No entanto, em termos mundiais, a produção passou de 15 milhões de toneladas em 1960 para cerca de 70 milhões no início deste século. Este salto na produção, bastante impulsionado pela India e China, foi superior às taxas de crescimento verificadas na carne de porco e vaca. Na Europa os maiores produtores são o França, o Reino Unido e Itália, contabilizando entre si mais de 50% da produção Europeia.

A produção de ovos ou carne de galinha está normalmente associada a sistemas bastantes intensivos, à semelhança do porco. São àreas não subsidiadas, o que traz à palavra eficiência um significado ainda mais importante. Trata-se de um mercado tão eficiente que normalmente a cadeia de valor está debaixo da alçada de uma só organização: desde o nascimento, criação, abate, processamento, embalamento dos animais passando pela criação de marcas, estratégia de marketing e negociação com os retalhistas, há muitas empresas que tratam de tudo, o que não é normal nos mercados actuais, pois com a crescente especialização e globalização há àreas que compesa mais serem operadas por terceiros, muitas vezes a milhares de kilometros.

Mas o que são estes sistemas intensivos de produção?

São sistemas onde se procura maximizar a rentabilidade do animal. Tratam-se de instalações indoor, onde através do agrupamento dos animais pela fase de produção (idade, peso, gravidez, regime alimentar), é possível uma gestão mais eficaz da alimentação, cuidados veterinários e transporte dos animais. Normalmente os animais encontram-se em gaiolas se estivermos a falar de produção de ovos, ou então se fôr produção de carne, estamos a falar de àreas circunscritas onde se encontram centenas de animais em contacto uns com os outros mas onde tem de haver um minimo de espaço por animal, é como que uma jaula mas maior. Na cabeça do consumidor estes regimes intensivos estão mais associados aos porcos e às galinhas do que às vacas e às ovelhas. Também na cabeça do consumidor, tais aglomerados de animais, são significado de problemas de bem estar para os animais e facilitam a propagação de doenças, como por exemplo a recente gripe das aves, que na Ásia ainda não está totalmente erradicada.

Nestes sistemas intensivos, e isto funciona para qualquer espécie de carne que consumimos, o objectivo é que o animal cresça o mais rapidamente possível para que tenha o mínimo de custos associados. Tal como nas outras espécies animais que já vimos neste blog, a alimentação é sempre o custo mais elevado, portanto quanto menos tempo eles permanecerem vivos, mais barato será o custo de produção. Nas galinhas têm-se feito avanços monumentais em termos da eficiência.

Através de uma alimentação baseada em cereais e concentrados e através do progresso no conhecimento genético dos animais, é possivel hoje em dia mandar-se uma galinha para o matadouro 34 dias após o seu nascimento. Em 1950 falavamos de 85 dias. Ou seja, para uma galinha atingir os 1,80 kgs necessários para estar em conformidade com os gostos do consumidor e exigências dos retalhistas, é necessário pouco mais que um mês...

Até na produção de ovos, os avanços foram extraordinários. Em 1960, a produção nestes sistemas intensivos, era de 208 ovos por galinha/ano. Hoje em dia, já estamos a falar de 311 ovos por galinha/ano, o que significa quase 1 ovo por dia! E em termos de inputs a gestão também evoluiu bastante: há 50 anos atrás eram necessários 3,4 kgs de comida para fazer um ovo, sendo que hoje em dia este valor baixou para 2,2kgs.

Mas voltando ao bem estar dos animais, o que está a ser feito nesta àrea?

A nova legislação da UE para os sistemas intensivos tem estado bastante em foco pois em 2012 entrou em vigor uma nova lei que obriga os produtores de ovos a substituirem as antigas gaiolas de produção de ovos, que tinham 450 cm2 (o espaço de uma folha A4), por gaiolas maiores com 750 cm2, onde exista espaço para um ninho e onde as galinhas possam de certa forma expressar melhor os seus comportamentos naturais. Muitos países ainda não adoptaram estas novas medidas e poderão ser penalizados por isso, Portugal é um exemplo. Alguns produtores serão forçados a abandonar o negócio porque a aquisição de novos equipamentos não será comportável do ponto de vista financeiro. Isto também poderá trazer penalizações em termos de competitividade nas exportações europeias, pois nos EUA por exemplo, continuam a existir as antigas gaiolas e cerca de 80 a 90% dos animais habitam neste sistema.

Mas será isto suficiente para o bem estar dos animais?

As associações de defesa dos animais encaram estas mudanças como pura demagogia. Aumentar o espaço em 300 cm2 não é de perto nem de longe suficiente para garantir a saúde e bem estar dos animais.

Mas o mercado tem estado atento a este facto, e prova disso é o sucesso do segmento free range. Tratam-se de galinhas que têm uma capoeira e acesso livre aos campos. No UK os ovos deste segmento já atingiram uma quota de mercado de 50%. Trata-se de uma maneira de aumentar o welfare dos animais e muitos supermercados como o Sainsburys e Marks & Spencer já só vendem ovos deste género. O preço a pagar é no entanto alto. Com este sistema chamado extensivo (ao invés do intensivo), os animais crescem de forma mais lenta, tendo por isso mais custos de alimentação e para além disso a sua gestão diária exige mais recursos humanos. Todos estes custos são passados para o consumidor que paga um premium por estes produtos. Em consulta ao site do Continente, encontrei diferenças por Kilo que chegam aos 2,5 € entre o frango de campo e o convencional. Muitos consumidores afirmarão que o frango free range é com certeza mais saboroso mas será que as suas carteiras comportam este esforço?

Muitos produtores contestam esta forma de criar as galinhas. Alguns afirmam que é um desperdicio de espaço que podia estar a ser semeado e alguns estudos até já demonstraram que em muitos casos as galinhas passam a maior parte do tempo dentro das capoeiras. De qualquer maneira, este é claramente um caso em que os produtores vão ter que adaptar os standarts da indústria aos requisitos dos mercados e dos retalhistas, pois o free range é um segmento em crescimento, precisamente devido à maior atenção por parte do consumidor no bem estar dos animais.

Em conclusão, mais uma vez o mercado mostrou-nos que o bem estar dos animais não é negociável! O segmento das aves está a crescer na alimentação mundial e é necessário aprender a melhorar o bem estar dos mesmos. Tem que se arranjar formas de baixar os custos no free range para que não haja uma grande penalização na carteira dos consumidores. Desta forma, haverá mais produtores interessados em entrar no negócio e de forma mais sustentável.

Da próxima vez que comerem um ovo estrelado...think about it!

Regards,

2 comentários:

  1. Compreendo e desejo o melhoramento das condições dos animais... Mas lá vão uma série de produtores ter de abrir falência!
    Será que não se atinge um equilíbrio? Os produtores ganham mais dívidas que lucros. Empresas a falir tb não é bom, até porque aumenta a dependência da exportação.

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