terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Trigo em Portugal - what are we doing??

O trigo é o cereal mais produzido em todo o mundo. De acordo com dados da FAO de 2006, a produção mundial foi de 600 milhões de Toneladas, obtidos através de 220 milhões de hectares, o que dá um retorno de aproximadamente 3 toneladas por hectare. A importância deste cereal deve-se em grande parte à sua adaptabilidade agronómica a diferentes condições, facilidade de armazenamento, níveis nutricionais e a capacidade de elaborar diversos produtos através da farinha produzida dos seus grãos.

A massa que é produzida que através da farinha de trigo possui a capacidade única de levedar e fazer, entre outros produtos, o pão, que é a base da alimentação mundial desde há muitos séculos. Para além do pão podem ser feitos produtos através do trigo, tais como noodles, esparguete, bolachas, biscoitos, cereais e papas de pequeno almoço, croissants, pizzas e comida animal.

Existem dois tipos de trigo:

- Triticum Aestivum ou trigo mole,

- Triticum Durum ou trigo duro.

A caracteristica mais importante quando o trigo é colhido é o seu nível de proteina. O trigo duro é usado somente para fazer esparguete e o seu nível de proteína é bastante alto, à volta dos 15%.

O trigo mole pode ter diversos níveis de proteina e dependendo desses niveis, irão ser efectuados diferentes produtos. Se tiver um nível de proteina abaixo dos 8% é usado como comida animal. Se fôr à volta dos 9% vai para as áreas de pastelaria, bolachas e biscoitos. Para fazer pão é necessário um nivel á volta dos 12%.

Mas podemos controlar estes níveis enquanto produzimos este cereal?

A quantidade final de proteina no trigo é influenciada pelas condições de crescimento tais como a fertilidade do solo, a chuva, a temperatura e as condições de armazenamento e transporte dos grãos de cereal.

Obviamente que há variedades de trigo mole mais propensas para obter determinados níveis de proteina, mas no geral estas são afectadas pelas condições de crescimento da planta, que por sua vez também podem ser influenciadas, com um custo associado claro. Mas no geral, até colherem o trigo, os produtores ainda não sabem ao certo qual vai ser o output em termos de proteina.

É por este motivo que os diferentes países trocam entre si diferentes tipos de trigo: porque o seu clima não lhes permite atingir determinados tipos de proteina e como tal precisam de importar. O trigo inglês é muito bom para fazer bolos e especialmente bolachas (quem nunca comeu as famosas Walkers), enquanto em Itália por exemplo estão reunidas as condições perfeitas para fazer um trigo próprio para esparguete, daí esta comida ser bastante famosa na região.

Tal como outro cereal qualquer, seja ele cevada, arroz ou aveia, o trigo é produzido através de sementes que são embriões transformados para resistir a doenças e proporcionar um determinado nível de produção. Ou seja, o produtor selecciona a variedade que quer crescer, e escolhe-a segundo o seu potencial e condições do seu terreno em termos de solo, temperaturas e irrigação.

Por exemplo, um produtor pode escolher a variedade X de trigo mole e sabe que em laboratório o seu potencial são 15 toneladas por hectare. Mas para chegar a estas 15 toneladas é necessário determinada quantidade de àgua ou fertilizante que tem um custo obviamente. Ou seja, o segredo da produção deste cereal não é atingir o potencial máximo da variedade a qualquer custo, mas sim controlar a conta de exploração para obter o máximo proveito marginal. Quando o produtor pensa em colocar mais um 1 kg de fertilizante ou pesticida, ou 1 litro de água, ou mais 1 saco de sementes, deve ter em conta se esse custo lhe vai trazer mais proveitos marginais ou não. Se não trouxer não vale a pena colocar.

Nesta lógica de inputs vs outputs os países com maiores toneladas por hectare são a Inglaterra, Holanda, Bélgica e Suécia com cerca de 9, enquanto Portugal, Grécia, Espanha e Marrocos anda à volta das 2, isto devido às condições de crescimento.

De facto em Portugal as condições de crescimento parecem não estar reunidas, embora isso também não seja desculpa para a nossa fraca produtividade num cereal desta importância. É um facto que os nossos solos são na sua maioria ácidos e possuem pouca matéria orgânica. Para além disso a chuva não cai em quantidade suficiente nas alturas mais criticas para a planta. Mas para um país que pretendia ser o celeiro da Europa, penso que neste momento somos mais a vergonha da Europa.

Em 2010 produzimos cerca de 80.000 toneladas de cereais segundo dados do Eurostat. Só para se ter uma noção este número foi igual à produção do Luxemburgo no mesmo período!! Também no mesmo ano, Espanha, um país com condições agronómicas semelhantes às de Portugal, embora em algumas àreas bastante melhor, produziu 6.000.000 de toneladas, ou seja 75 vezes mais..

Em termos de consumo, precisamos de 1.100.000 toneladas por ano em Portugal, o que significa que estamos neste momento com um grau de dependência externa de mais de 90%.

Precisamos plantar mais hectares deste cereal vital para a alimentação e reduzir a nossa dependência das exportações, pois com o aumento dos preços que se têm verificado nos últimos anos, para além de se tornar mais rentavel produzir internamente, torna-se mais caro importar. Com o aumento da procura deste cereal para alimentar animais (que por sua vez vão alimentar as classes médias dos paises em desenvolvimento como a China), temos de ter um maior grau de autosuficiência pois vai haver muitos paises a guardar as colheitas para consumo interno.

Porque não há um plano interno para se produzir estas 1.100.000 toneladas dando incentivos aos produtores e garantido emprego e uma produção nacional?

Porque não existe (pelo menos não encontrei nas minhas pesquisas), uma associação nacional que estimule as boas práticas de produção, discuta estes números, exponha novas técnicas agronómicas (variedades a cultivar, nitrogénio a aplicar, etc..) e envolva ao mesmo tempo retalhistas, traders e agricultores? Será que o Pingo Doce ou a Nestlé não ficariam mais satisfeitos em comprar algo que é produzido em Portugal e onde até poderiam visitar os campos? Mas se for mais barato comprar à China qual é o incentivo?

Em conclusão, o trigo é uma fonte de comida bastante importante por causa das suas características únicas e nível de nutrientes. Portugal deve incrementar a sua produção interna de forma a tornar-se mais autosuficiente e deste modo evitar a incerteza futura dos mercados em termos de preço e produção. No entanto este é um grande desafio para o país pois parece que as condições naturais não estão reunidas.

A próxima vez que comerem um pão com queijo... think about it!!

Regards,

9 comentários:

  1. Muito bom primo!

    Se calhar nem conseguiamos produzir as 80.000 ton de cereais se PT não recebesse ajudas...

    A Espanha produz 75 vezes mais que nós, mas a sua produtividade (por ha) será muito mais elevada que a nossa? e não esquecer que a Espanha tem 7 vezes a nossa SAU

    Quanto ao Pingo Doce e etc acho que sabes melhor que eu que o que interessa é o lucro...

    Beijinhos e Parabéns pela licença de condução de tractores!

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  2. Deve ser por o trigo italiano devido ao clima ser bom é para esparguete que enquanto lá estive não provei um único bolo de pastelaria que não fosse praticamente intragável!

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  3. Escândalo Nacional.Em 1929,Portugal ultrapassou 1.000.000 Toneladas e com pouca maquinaria.Agora nem consegue produzir metade com tanta máquina.Vergonhoso,um insulto.Este País despreza a Agricultura,só pode...

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  4. Sou Brasileiro e estou lendo estes comentários. Lembram muito os Brasileiros que não acreditam no país(fatalistas), apesar de todas as evidências indicarem que hoje, o país filho de Portugal, é uma referência em diversos setores da economia e sociedade. Vejo nestes comentários um pouco da origem do pessimismo que temos por aqui.

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  5. Essa pergunta pode não ser muito oportuna, mas sou brasileira e gostaria de saber onde posso ver campos de trigo em Portugal e qual o mês da colheita. Obrigada

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    1. Enquanto se puser o interesse económico à frente da necessidade nunca iremos a lado nenhum. É verdade que não se podem pôr de lado os custos de produção que à partida inibem ou mesmo impedem os agricultores de optarem pela produção de trigo. Mas neste caso, o Estado, que dispersa subsídios para coisas menos importantes, por que não atende a esta situação? Também é verdade que para os importadores o que conta é o lucro, mesmo que nos impinjam produtos de duvidosa qualidade - peixe, carne, leite. De que serve a regulamentação legal, se é que existe? Mas para um povo que não quer saber o que come e o que bebe, tudo serve. Importa é encher a pança! Cada povo tem o que merece...

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  7. Existe uma anedota de um vendedor de sementes de Coimbra a vender no Alentejo.Tentava vender a um lavrador que tinha as terras por lavrar,escusando-se o homem de querer comprar a escusas de nada vingar nessa terra crestada pelo sol.Nem trigo,nem milho,nem cevada nem centeio.Nsda...entâo o vendedor arguiu,mas se ele lavrasse a terra e semeasse,nâo daria nada? O agricultor aceitando,diese...Pois,se semear...dá.Boa noite.

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  8. Portugal nunca será auto suficiente na produção de trigo, derivado das condições do terreno e clima. E já chegou uma campanha do trigo para prejudicar o país. Portugal deve produzir o que tem mais condições para produzir.

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