quarta-feira, 14 de março de 2012

O mundo como eu o vejo no RAC!

Terminados os exames deste trimestre, tempo para um pouco de descanso, ir a Londres e também Portugal passar a páscoa! Altura para escrever sobre a maneira como vejo as pessoas e a sociedade que me rodeiam aqui em Inglaterra, um tema que já queria escrever há algum tempo.

Inglaterra é um dos países mais poderosos do mundo em todas as esferas. Foi aqui que se iniciou a revolução industrial e foi também aqui que nasceram alguns dos mais brilhantes cientistas, escritores, desportistas, pensadores e artistas da nossa história. Em tempos foram um império e sobreviveram de forma corajosa aos ataques alemães na Segunda Guerra Mundial.



Todo o trajecto histórico deste país está patente no dia a dia. Há um orgulho em ser Inglês inexplicável, o chamado orgulho nas origens e no passado.

Em Portugal temos orgulho no Vasco da Gama, Viriato, Afonso Henriques e noutras façanhas passadas como as protagonizadas por Eusébio. Temos orgulho nas nossas praias, comida e alguns casos de sucesso empresarial. Mas lá no fundo sabemos que podemos ser melhores e temos capacidades para o ser, basta olhar para Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Saramago, Durão Barroso, António Damásio e outras personagens que através do seu trabalho, esforço e personalidade conseguiram uma projecção e uma recompensa  que não seria possivel apenas em Portugal.

Quando estive na Argentina em 2008, lembro-me que todos os dias na televisão, passavam imagens do Maradona quando este conquistou o campeonato do mundo em 1986 no México, motivo de grande orgulho para todos os Argentinos juntamente com Eva Péron, Carlos Gardel e Che Guevara.

Tal como os Argentinos porque há esta sensação de que Portugal e os Portugueses vivem no passado? E no fundo, qual é a utilidade disto?

Em Inglaterra evoca-se o passado para viver o presente e reforçar o futuro. A memória não serve apenas para vaidade e a história e os ensinamentos dai retirados estão enraizados de forma profunda neste povo. Em Portugal, apenas nos lembramos das coisas boas e mesmo assim temos muita dificuldade em aprender com elas.

Mas esta vaidade pode ser vista muitas vezes de forma arrogante. Os Ingleses pensam que são óptimos em tudo, no desporto, na economia, na pompa e circunstância, na agricultura, nas tradições, na história, etc.. mas que mal é que isto tem se tiver um impacto positivo no bem estar das pessoas e na sociedade? Que mal é que isto tem se as coisas de facto funcionam e andam para a frente?

Mas a minha questão vai mais além disto...Como é que este país funciona na prática? Como é que é possivel? Quem vive aqui tem que se perguntar isto...

O alcool é um dos pilares da sociedade. Aqui no RAC e mesmo em Londres, é tradição sair do trabalho e ir beber cerveja nos pubs. Nas gerações mais jovens o alcool é o catalizador para comportamentos que não se podem ter durante o dia. É uma forma de se libertarem e terem conversas que não conseguem ter de forma sóbria. Os Ingleses são timidos e bem comportados durante o dia... e a disparidade a que se assiste quando consomem alcool é impressionante!

Apesar de estarmos a falar de pessoas novas, entre os 20 e os 30 anos, as coisas que acontecem aqui no RAC são extraordinárias. Adoram pôr-se nus em locais publicos., aliás o nudismo nos bares é claramente uma tendência. Adoram cair para o chão e rebolar e não há noite em que saia que não fique encharcado em cerveja.

Gostam de ir ao WC na rua (pensavam que eramos só nós?), no outro dia vi dois miudos a fazê-lo na porta de uma igreja. Gostam de gritar e falar alto. Elas vivem para maquilhagem e para os bronzeados falsos. Será que não se apercebem que a cor do pescoço é diferente da cor da cara? Mas depois vestem-se horrivelmente mal com calças de fatos de treino e meias de cor berrantes. Não sou nenhum critico de moda mas há conjuntos que não fazem sentido! A melhor parte na roupa é mesmo a falta dela. Quando estão temperaturas negativas e se vê pessoal de t-shirt e elas com vestidos curtos e saltos altos, a andar desordenadamente como se estivessem a pisar uvas, está tudo explicado, como é possivel?



Neste momento estão a ser as corridas de cavalos em Cheltenham, as mais famosas do mundo. Ontem recebemos um mail da universidade a incentivar para irmos a correr para as casas de apostas e meter dinheiro nos cavalos!! Sim, recordo que estamos em Inglaterra.

Esta mesmo universidade envia mails a dizer que há surtos de doenças sexuais no campus e que os jovens devem usar persevativos. Gosto desta frontalidade mas não deixa de ser estranho, imaginem o que seria isto acontecer na Universidade Católica ou no ISCTE?

Nesta semana está também a decorrer a campanha para a Associação de Estudantes do próximo ano. Pensaria eu que para além do habitual barulho e posters, pudesse haver de facto algumas promessas políticas como música nos intervalos e um campeonato de futebol. Nada disso! O segredo da campanha são posters com o máximo de nudismo possível!




Noutros sitios como nos subúrbios das cidades, floresce uma classe adolescente criminosa e deliquente, como ficou patente nos distrúrbios causados no verão passado em Londres e noutras cidades.

Nas cidades Inglesas, vivem pessoas de todos os cantos do mundo: desde Chineses a Africanos passando por Paquistaneses a Brasileiros, todos tentando integrar-se na sociedade e educando os filhos da melhor maneira possível.

Na Europa, querem-se proteger do Euro e das políticas comuns, com medo de entrar num barco que  parece que se está a afundar!

Daqui a minha pergunta: como pode isto funcionar?

Como pode um povo ser tão extremo e bárbaro nos seus comportamentos e ao mesmo tempo ser tão civilizado e funcionar? Como pode a minha universidade ser tão selvagem e ao mesmo tempo ser uma escola com tudo TOP desde as instalações e professores até às actividades desportivas? E o que é que se passa aqui que faz com que estas pessoas se tornem adultos civilizados e integrem uma das sociedades mais fortes do mundo em termos de identidade e cultura?

A minha resposta é aquela que dei no inicio deste texto: Em Inglaterra evoca-se o passado para viver o presente e reforçar o futuro. Há um sentimento de confiança em algo invisivel. Algo que diz aos jovens e às pessoas que tudo vai correr bem e funcionar com base nas referências que têm e nas instituições que os regem. Os jovens sabem que há um tempo para se divertir, um tempo para viajar, um tempo para os copos e também um tempo para trabalharem e terem uma familia. Sabem que fazem parte de um todo e que há um espaço para eles nesse todo.

Eu acredito neste sistema e identifico-me apesar de haver muita coisas que estão erradas claro. Há loucura e coisas más, mas há produtividade e orgulho nas tradições. E esse sentimento de que as coisas vão FUNCIONAR e correr bem existe de facto... isto anda no ar! É como se o departamento de Marketing de Deus para Inglaterra tivesse um bom gestor e o de Portugal nem por isso!

Para além de me rir e muito com tudo o que se passa, e de já ter feito bons amigos, estou inserido num sistema de ensino muito eficiente e profissional. Os professores são claros e objectivos. Não faltam e não chegam tarde às aulas. Também não ficam a debitar matéria para além do toque como se alguém ainda estivesse a ouvir. A iteracção entre as aulas práticas e teóricas é extraordinária. Enfim, um sistema de ensino pragmático que motiva e prepara para o futuro.

Noutras àreas também se vê este bom funcionamento: os policias andam sem pistolas, os transportes púbicos chegam a horas, eliminaram o hooliganismo, lutam contra o racismo e nos estádios há avisos a dizer que quem disser asneiras será convidado a abandonar as instalações.



Quando vemos uma foto do Big Ben, para além de vermos as horas, pensamos em civismo, força, confiança, resistência, democracia, oportunidades e muitos outros sentimentos que formam a tal força invisivel do funcionamento eficaz e eficiente de Inglaterra!


O que podemos nós fazer para que as pessoas olhem para uma foto da Torre de Belém e pensem assim também?

Think about it...

Best regards, 

2 comentários:

  1. Um bom retrato dos ingleses
    Um observador perspicaz
    Parabéns
    Luis

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  2. Estou a perceber que nada mudou desde o meu primeiro contacto com essa sociedade.
    És certeiro em mto do que relatas, principalmente no comportamento juvenil com o álcool e o nudismo. Na tua universidade também existe venda de álcool com um bar de convívio? Começam a beber assim que saem das aulas, só perdem tempo nos preparativos de maquilhagem e vestes, ou seja: trocam o que trazem vestido por roupas minimalistas, como se fosse normal vestir camisa de alças, mini-saia e sandália de enfiar no dedo e caminhar na neve, suportando as baixas temperaturas.

    Quanto ao não universitário, Inglaterra é um país com algumas disparidades regionais, conforme andas pelo norte, centro ou sul, campo ou cidade. Mas na essencia são assim educados, trabalhadores mas completamente doidos e têm no álcool o seu combustivel.

    Londres não é uma cidade inglesa, é do mundo. Muitas nacionalidades por metro quadrado. Ainda hoje o que me surpreende é a ausência de INGLESES no comércio tradicional - restauração e retalho. Perguntei-me se todos andavam a passar por mim nos lambourguinis, Alfa-Romeus e outros carros de luxo que por lá vi.

    PS: A comida é que não presta para nada!

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