sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Vietname dá e Vietname tira.

"Não se compra coisas com o estômago vazio". Dizia o Tiago Casais.

Certo dia também afirmou: "O amanhã prepara-se amanhã!"

Eu e o Lourenco ouviamos e abanávamos a cabeça em sinal de aprovacão.

Filosofias de vida.

O André Mateus, Junior para os amigos, também proferiu muitas frases vencedoras durante os 15 dias no Vietname:

" Tenho uma densidade capilar invejável."

" Ja perdi a luta contra o meu corpo há muitos anos."

Ou a minha preferida: "O Facebook nunca viu o Sporting ser campeão."

Foi neste espírito de descoberta filosófica que 4 amigos se reuniram para descer o Vietname entre os dias 5 e 20 de Fevereiro de 2015.

Desde Hanoi ate Ho Chi Min.

Do inverno do Norte até aos trópicos do Sul.

De comboio e autocarro.

De mochila às costas.

2.000 kilómetros pelo meio de arrozais cor de esmeralda. Pessoas com chapéus bicudos. Cidades cuja banda sonora era um buzinar constante.

O grupo era improvável.

4 velhos na casa dos 30, Todos nascidos em anos diferentes e com muito pouco em comum. Desde a altura em cms passando pela personalidade. Algo podia correr mal. A segunda guerra do Vietname estava prestes a eclodir.

Mas nada disso aconteceu. O grupo funcionou às mil maravilhas. Todos nos completamos.

Todos tivemos o nosso papel.

O todo foi maior que a soma das partes.

Mas então... afinal que país é este? Quem é e o que é o Vietname?



Actualmente o pais tem 90 milhões de pessoas. O crescimento demográfico é galopante e os casais não podem ter mais de 2 filhos senão tem que pagar pesadas multas ou podem mesmo ser despedidos do emprego.

80% da populacão é budista.

A dicotomia Norte-Sul é igual a Portugal. No Norte trabalha-se. No Sul perguiça-se. No Norte ganha-se 100 e gasta-se 50. No Sul ganha-se 100 e gasta-se 200. No Norte faz frio. No Sul faz calor.

O herói nacional chama-se Ho Chi Min, líder do Partido Comunista e do Governo Vietnamita entre as décadas de 30 e 60 do século XX. Era ele que estava responsável pelo Governo quando o país ganhou independência à Franca no pós Segunda Guerra Mundial. Foi também ele que liderou a resistência contra os Americanos na Guerra do Vietname.

A moeda oficial é o Dong. Parece o nome de uma personagem do Tintin. Com 1 euro compram-se 24.000 Dongs. O Vietname foi o primeiro país do mundo que visitei onde não existem moedas. Apenas notas.

Com 100.000 Dongs, cerca de 4 euros, come-se uma refeicão deliciosa. Com 100.000 Dongs também se dorme num hotel/hostel digno. O duche pode eventualmente ser frio. Também pode acontecer a porta da casa de banho não abrir. As vezes o quarto pode cheirar mal e estar cheio de mosquitos.

E é precisamente por este motivo e mais alguns que o título deste post é "Vietname dá e Vietname tira"...

O Vietname deu-nos comidas maravilhosas. Noodles e spring rolls. Bun Cha e Pho Bo. Molho picante delicioso. Arroz. Vegetais. Fruta. Sopas e caldos. Espetadas. Rebentos de soja. Sinal mais para a comida Vietnamita.

O Vietname deu-nos motas e bicicletas.

Vou tentar explicar. Não há uma única rua ou estrada no Vietname que não tenha dezenas, centenas ou milhares de motas. O único sítio onde não há motas é dentro das casas das pessoas e mesmo assim já faltou mais! Só em Hanoi, a capital do país, há cerca de 4 milhões de motas!?

Quando decidimos alugar motas foi como entrar num Grande Prémio de Moto GP. Estradas apinhadas de motas e nós os quatro a deambular no alcatrão em busca de um espaço.

Imaginem a sensação sensorial de estar parados num semàforo. E quando a luz passava a verde, dezenas de motas aceleravam ao mesmo tempo. Nesse exacto momento parecia que estávamos na grelha de partida em Gerez de La Frontera!

O Vietname deu-nos o espectáculo da natureza. Rios. Deltas. Montanhas. As grutas em Dong Hoi. Cavernas gigantes que serviram de hospital durante a guerra. Estalactites de cortar a respiracão. Em Halong Bay vimos as centenas de ilhas montanhosas que inspiraram o filme Avatar. Talvez esperasse um pouco mais mas valeu a pena visitar.

O Vietname deu-nos também o espectáculo do caos urbano. Milhares de pessoas em constante movimento. Cada bocado de passeio é ocupado por um comerciante. Uma imensidão de barulhos, cheiros e cores. A ásia no seu esplendor.

O Vietname deu-nos a cidade proibida de Hue. Os mercados e as casas amerelas de Hoi An. E o misticismo de Saigão. Emocionámo-nos no museu da guerra quando percebemos que os Alemães não foram os únicos a fazer um Holocausto.

Os Americanos também o fizeram no Vietname... Está tudo documentado para quem se quiser informar. Ainda agora a escrever estas palavras me emociono. Todos os 4 sentimos o mesmo.

Mas o Vietname não dá apenas... também tira... Ainda é um pais rude. Talvez o possa comparar à Bolivia na América do Sul. Foi duro andar pelo país de mochila as costas. Ainda é tudo muito selvagem. O que no fundo também e bom para sentir a verdadeira aventura mas não facilita as coisas...

As pessoas só falam com os estrangeiros por causa de dinheiro. Venham cá falar de racismo... A agressividade comercial e negocial deste povo é muito superior ao Norte de Africa por exemplo.

São totalmente direccionados para sacar o máximo de dinheiro custe o que custar. Nem que para isso tenham de mentir ou enganar.

Um taxista não da informacões se não quisermos usar os seus serviços.

Nas estacões de comboio pediamos informacões nos guichets e olhavam para nós com desprezo fazendo gestos com a mão para nos afastarmos. Nestas alturas olhavamos uns para os outros e diziamos: "Pah este pessoal está-se a passar!"

A poluicão nas cidades é sufocante. Os níveis de dióxido de carbono são intoxicantes. Os locals andam de máscara na cara. Parece que há cirurgiões por todo o lado.

As condicões climatéricas são difíceis e diversas. Frio e calor.

Ha poucas pessoas a falar Inglês. Ninguém sabe dar indicacoes. Safe-se quem puder!

Péssimo café. Isto apesar de logo seguir ao arroz, o café ser a segunda matéria prima que mais produzem.

Há casas de banho onde só se entra se tivermos visto para o Ruanda ou treino de austronauta na NASA para não nos mexermos sem tocar em nada. Locais simplesmente nojentos...

As praias não são nada de especial. Viva a Costa Alentejana! Em Hoi An ainda demos um mergulho. Mas em Nha Trang a praia cheirava a merda. E a Russo. Sacrificamos um carneiro e prometemos nunca mais lá voltar nesta vida.

E assim se passaram 15 dias no Vietname.

O balanço é positivo. A Asia é um misterio por descobrir. Não é em duas semanas que se pode compreender a mentalidade e cultura destes povos milenares. Mas espero lá chegar.

Next: Cambodja!

Think about it!



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