Mais uma vez consegui ver o Monte Evereste antes de aterrar
em Kathmandu.
Olhar para os Himalaias, através da janela do avião, e tentar
identificar as diferentes montanhas da cordilheira mais alta do mundo, já se tornou
um dos meus passatempos preferidos. No meio de tantos picos nevados, descobrir o Evereste é fácil. Para além de ser a montanha mais alta do mundo, a sua proximidade com Lothse e o vale côncavo que se forma entre ambos, fazem desta zona um alvo fácil de identificar. E a partir daí, é olhar para lados, e descobrir outros picos famosos: Nuptse, Cho Oyu, Makalu ou Kangchenjunga. Arrepia-me ver estas montanhas ao vivo. Locais de aventuras, glória e tragédia.
No passado dia 17 de Maio de 2018, viajei com a Ghazal para Kathmandu. Foi a primeira viagem ao Nepal do nosso filhote! Ainda na barriga da mãe, mas já com 22 semanas!
Para mim, no entanto, foi a 13ª vez que aterrei em Kathmandu
nos últimos 3 anos, contando claro, com uma vez que cheguei a pé.
Sempre que o avião toca a pista do aeroporto de Tribhuvan, uma sensação de euforia
percorre-me a espinha.
Estamos em casa.
O objetivo principal da nossa viagem é continuar a acompanhar
os projetos solidários em que estamos envolvidos. O nosso movimento Dreams of Kathmandu, está mais ativo que
nunca e este ano de 2018, planeamos distribuir cerca de 15.000 € nas diversas
áreas em que estamos envolvidos.
Não deixem de visitar todos os pormenores em https://dreamsofkathmandu.blogspot.com/
Dreams of Kathmandu
é a nossa visão de apoio sustentável ao Nepal e o motivo para continuarmos a
visitar o país até ao fim das nossas vidas. Não queremos virar as costas aos
nossos amigos. Queremos vê-los crescer e crescer com eles. Para nós, Pedro e
Ghazal, é também um legado que queremos deixar aos nossos descendentes.
Dreams of Kathmandu
é olhar as pessoas olhos nos olhos e com amizade. É não ter medo de fazer e
cumprir promessas. É aplicar 100% dos donativos recolhidos, sempre com
transparência, honestidade e detalhe. Não somos nenhuma ONG nem temos parcerias
institucionais. Tudo o que fazemos é pelo bem-estar das pessoas. A nossa
dedicação é incondicional e a verdade não é negociável.
Ficamos instalados no Hotel Dwarikas, o nosso "ninho" no Nepal.
Sempre que entro neste local, não consigo afastar do meu espírito,
uma sensação de humildade e estupefação. É como se estivesse a entrar noutra
dimensão, onde o espaço e o tempo têm vontade própria.
Desde logo somos recebidos de forma calorosa pelo staff que nos oferece um khada, o cachecol nepalês, símbolo de
boas vindas. No Hotel Dwarikas o ar cheira a flores, velas e gengibre. As
paredes, janelas e o chão são feitos de tijolo vermelho, madeiras negras e
granitos. Há arvores, arbustos e plantas de várias espécies, muitas enroladas em
estátuas e edifícios do hotel, como se estivéssemos numa cidade perdida da
América do Sul. Há lianas, macacos e pássaros. Há água fresca a jorrar de
fontes e nenúfares verde esmeralda. Há tributos a várias religiões na forma de símbolos,
janelas ou altares, principalmente Budistas e Hindus. Hóspedes de várias nacionalidades
convivem de forma calma e pacífica. Os empregados sorriem e vestem trajes das
várias regiões do Nepal. Há reuniões de embaixadores e agentes de trekking vêm ao hotel encontrar-se com clientes. Sacos gigantes de várias cores, da marca North Face, acumulam-se na entrada, provavelmente acabados de chegar
de uma expedição dos Himalaias.
Numa mesa do canto, quase impercetível, Sangita Shreshta bebe
um chá e fuma um cigarro Karelia slim
de menthol.
Ela é a arquiteta e visionária deste espaço. Cruelmente bela,
elegante e sempre vestida de acordo com as cores ditadas pelos astros, ela coordena
a orquestra do seu império familiar. Um império assente em princípios e
valores, mais que nos prédios que a rodeiam. À sua frente está um isqueiro, um
telefone portátil e alguns papeis para assinar. À volta da mesa, empregados de
vários departamentos do hotel, fazem fila de forma reverente à espera da sua
vez para falar. Ninguém se atreve a interromper. Um misto de medo e respeito
impera no ar. Sangita é a Cleópatra num país onde os homens ainda dominam.
Quando nos vê, levanta-se e trata-nos com carinho e afeto.
Para mim é uma grande lição lidar com uma pessoa que tanto conquistou, mas sabe
manter a sua humildade. Em breve juntam-se a nós, a sua mãe, Ambica Shreshta e
o filho mais velho, o meu bom amigo Vijay Einhaus. Mais duas gerações que
marcam presença nos corredores do hotel. Nos próximos dias vamos rir, comer e
conviver.
Estamos em casa.
Sempre que vamos ao Nepal não temos mãos a medir. Desta vez deveríamos
ter algum cuidado devido à gravidez da Ghazal, mas até isso foi impossível. Desde
manhã à noite desdobramo-nos em encontros, visitas, reuniões ou compras de bens
para os nossos projetos.
A nossa rotina diária começa com o pequeno almoço. Depois voltamos
ao quarto e enchemos a mochila com aquilo que vamos precisar para o resto do
dia: água, comida, casacos de chuva, carteira e máquina fotográfica.
Kathmandu é uma cidade dura. Os dias são longos e cansativos.
Há muito pó e humidade no ar. A pele e o cabelo rapidamente ficam oleosos. O frio
alterna com o calor. O trânsito é caótico. As estradas estão cheias de buracos.
As casas de banho são um simples buraco no chão e cheiram muito mal. Há cães e
vacas por todo o lado.
Apesar de todos estes obstáculos, próprios de um país do
terceiro mundo, a experiência fala mais alto e sabemos movimentar-nos. Obviamente
que no final do dia estamos estoirados, mas sempre felizes e com o sentimento
de missão cumprida. Temos amigos por todo o lado desde Bakhtapur até Patan,
Jorpati, Thaiba, Thamel ou Changun. Toda a gente nos cumprimenta com um sorriso.
Conhecemos taxistas de confiança, bons sítios para comer e as melhores estradas
para circular. Em Kathmandu até já tenho o meu barbeiro, médico ou local onde troco
dinheiro com taxas mais favoráveis.
Estamos em casa.
Passamos os dias a visitar os nossos projetos.
Vamos a Bistagaon e passamos tempo com a Babita, Bablu,
Ruska, o General e o Sameer. As crianças estão tão grandes! Estamos a ajudar algumas
famílias na construção de casas permanentes e a pagar bolsas de estudo a
crianças.
Visitamos os nossos amigos do Campo Esperança. O campo já
não existe, mas as crianças continuam a ir à escola em Kathmandu ou nas vilas
em Tatopani. Este ano estamos a pagar bolsas de estudo, despesas médicas e alimentação.
Visitamos as vilas na região de Tatopani onde as casas do
projeto Our Dream Village já começaram
a ser construídas! Com a caminhada que fiz pela India, estamos a pagar uma
destas casas e através de Fundação Vox Populi vamos financiar mais 12.
Visitamos as 14 crianças que estamos a apoiar na Sharadas Shelter em Patan. Em 2018 ajudámos
a arranjar camas, colchões, sapatos, mochilas e uniformes escolares.
Vamos a Thaiba e visitamos as 7 crianças orfãs que o Tej e a
sua esposa acolhem em casa. Estamos a ajudar com material e escolar e mobília nova
como armários, mesas e cadeiras.
E por fim também ajudamos os funcionários do Grupo Dwarikas.
O staff do grupo são como família para
nós e muitos precisam de um “empurrão”, principalmente no que toca à construção
da sua habitação.
Mais uma vez, tudo está relatado no site https://dreamsofkathmandu.blogspot.com/
Registem-se recebam as novidades!
Foi mais uma grande aventura no Nepal e já estamos com saudades.
Voltamos de coração cheio e com a certeza de estar no bom caminho. Para o ano
estaremos de volta, mas mantemos o contacto semanal, muitas vezes diário, com os
nossos amigos e projetos. Na minha cabeça, novas aventuras também se vão
formando na área do trekking. Fui mordido
pelo bicho do montanhismo! A Ghazal também gostava de visitar o sul do país,
nomeadamente o parque natural de Chitwan onde há tigres, elefantes e
rinocerontes. Tanto por fazer neste país plantado à beira dos Himalaias. You will not change Nepal, but Nepal will
change you!
P.S. No Nepal para se levar uma injeção é só ir a uma
farmácia e o processo desenrola-se ali mesmo a céu aberto!!
Estamos em casa.
Estamos em casa.
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