quarta-feira, 6 de junho de 2018

Nepal 2018 - Estamos em casa.


Mais uma vez consegui ver o Monte Evereste antes de aterrar em Kathmandu.
Olhar para os Himalaias, através da janela do avião, e tentar identificar as diferentes montanhas da cordilheira mais alta do mundo, já se tornou um dos meus passatempos preferidos.

No meio de tantos picos nevados, descobrir o Evereste é fácil. Para além de ser a montanha mais alta do mundo, a sua proximidade com Lothse e o vale côncavo que se forma entre ambos, fazem desta zona um alvo fácil de identificar. E a partir daí, é olhar para lados, e descobrir outros picos famosos: Nuptse, Cho Oyu, Makalu ou Kangchenjunga. Arrepia-me ver estas montanhas ao vivo. Locais de aventuras, glória e tragédia.  

No passado dia 17 de Maio de 2018, viajei com a Ghazal para Kathmandu. Foi a primeira viagem ao Nepal do nosso filhote! Ainda na barriga da mãe, mas já com 22 semanas!


Para mim, no entanto, foi a 13ª vez que aterrei em Kathmandu nos últimos 3 anos, contando claro, com uma vez que cheguei a pé.
Sempre que o avião toca a pista do aeroporto de Tribhuvan, uma sensação de euforia percorre-me a espinha. 
Estamos em casa.
O objetivo principal da nossa viagem é continuar a acompanhar os projetos solidários em que estamos envolvidos. O nosso movimento Dreams of Kathmandu, está mais ativo que nunca e este ano de 2018, planeamos distribuir cerca de 15.000 € nas diversas áreas em que estamos envolvidos. 
Não deixem de visitar todos os pormenores em https://dreamsofkathmandu.blogspot.com/
Dreams of Kathmandu é a nossa visão de apoio sustentável ao Nepal e o motivo para continuarmos a visitar o país até ao fim das nossas vidas. Não queremos virar as costas aos nossos amigos. Queremos vê-los crescer e crescer com eles. Para nós, Pedro e Ghazal, é também um legado que queremos deixar aos nossos descendentes. 
Dreams of Kathmandu é olhar as pessoas olhos nos olhos e com amizade. É não ter medo de fazer e cumprir promessas. É aplicar 100% dos donativos recolhidos, sempre com transparência, honestidade e detalhe. Não somos nenhuma ONG nem temos parcerias institucionais. Tudo o que fazemos é pelo bem-estar das pessoas. A nossa dedicação é incondicional e a verdade não é negociável.
Ficamos instalados no Hotel Dwarikas, o nosso "ninho" no Nepal. 
Sempre que entro neste local, não consigo afastar do meu espírito, uma sensação de humildade e estupefação. É como se estivesse a entrar noutra dimensão, onde o espaço e o tempo têm vontade própria. 
Desde logo somos recebidos de forma calorosa pelo staff que nos oferece um khada, o cachecol nepalês, símbolo de boas vindas. No Hotel Dwarikas o ar cheira a flores, velas e gengibre. As paredes, janelas e o chão são feitos de tijolo vermelho, madeiras negras e granitos. Há arvores, arbustos e plantas de várias espécies, muitas enroladas em estátuas e edifícios do hotel, como se estivéssemos numa cidade perdida da América do Sul. Há lianas, macacos e pássaros. Há água fresca a jorrar de fontes e nenúfares verde esmeralda. Há tributos a várias religiões na forma de símbolos, janelas ou altares, principalmente Budistas e Hindus. Hóspedes de várias nacionalidades convivem de forma calma e pacífica. Os empregados sorriem e vestem trajes das várias regiões do Nepal. Há reuniões de embaixadores e agentes de trekking vêm ao hotel encontrar-se com clientes. Sacos gigantes de várias cores, da marca North Face, acumulam-se na entrada, provavelmente acabados de chegar de uma expedição dos Himalaias.






Numa mesa do canto, quase impercetível, Sangita Shreshta bebe um chá e fuma um cigarro Karelia slim de menthol.
Ela é a arquiteta e visionária deste espaço. Cruelmente bela, elegante e sempre vestida de acordo com as cores ditadas pelos astros, ela coordena a orquestra do seu império familiar. Um império assente em princípios e valores, mais que nos prédios que a rodeiam. À sua frente está um isqueiro, um telefone portátil e alguns papeis para assinar. À volta da mesa, empregados de vários departamentos do hotel, fazem fila de forma reverente à espera da sua vez para falar. Ninguém se atreve a interromper. Um misto de medo e respeito impera no ar. Sangita é a Cleópatra num país onde os homens ainda dominam.




Quando nos vê, levanta-se e trata-nos com carinho e afeto. Para mim é uma grande lição lidar com uma pessoa que tanto conquistou, mas sabe manter a sua humildade. Em breve juntam-se a nós, a sua mãe, Ambica Shreshta e o filho mais velho, o meu bom amigo Vijay Einhaus. Mais duas gerações que marcam presença nos corredores do hotel. Nos próximos dias vamos rir, comer e conviver. 
Estamos em casa.
Sempre que vamos ao Nepal não temos mãos a medir. Desta vez deveríamos ter algum cuidado devido à gravidez da Ghazal, mas até isso foi impossível. Desde manhã à noite desdobramo-nos em encontros, visitas, reuniões ou compras de bens para os nossos projetos.
A nossa rotina diária começa com o pequeno almoço. Depois voltamos ao quarto e enchemos a mochila com aquilo que vamos precisar para o resto do dia: água, comida, casacos de chuva, carteira e máquina fotográfica. 
Kathmandu é uma cidade dura. Os dias são longos e cansativos. Há muito pó e humidade no ar. A pele e o cabelo rapidamente ficam oleosos. O frio alterna com o calor. O trânsito é caótico. As estradas estão cheias de buracos. As casas de banho são um simples buraco no chão e cheiram muito mal. Há cães e vacas por todo o lado.
Apesar de todos estes obstáculos, próprios de um país do terceiro mundo, a experiência fala mais alto e sabemos movimentar-nos. Obviamente que no final do dia estamos estoirados, mas sempre felizes e com o sentimento de missão cumprida. Temos amigos por todo o lado desde Bakhtapur até Patan, Jorpati, Thaiba, Thamel ou Changun. Toda a gente nos cumprimenta com um sorriso. Conhecemos taxistas de confiança, bons sítios para comer e as melhores estradas para circular. Em Kathmandu até já tenho o meu barbeiro, médico ou local onde troco dinheiro com taxas mais favoráveis. 
Estamos em casa.
Passamos os dias a visitar os nossos projetos.
Vamos a Bistagaon e passamos tempo com a Babita, Bablu, Ruska, o General e o Sameer. As crianças estão tão grandes! Estamos a ajudar algumas famílias na construção de casas permanentes e a pagar bolsas de estudo a crianças.






Visitamos os nossos amigos do Campo Esperança. O campo já não existe, mas as crianças continuam a ir à escola em Kathmandu ou nas vilas em Tatopani. Este ano estamos a pagar bolsas de estudo, despesas médicas e alimentação.






Visitamos as vilas na região de Tatopani onde as casas do projeto Our Dream Village já começaram a ser construídas! Com a caminhada que fiz pela India, estamos a pagar uma destas casas e através de Fundação Vox Populi vamos financiar mais 12.








Visitamos as 14 crianças que estamos a apoiar na Sharadas Shelter em Patan. Em 2018 ajudámos a arranjar camas, colchões, sapatos, mochilas e uniformes escolares.








Vamos a Thaiba e visitamos as 7 crianças orfãs que o Tej e a sua esposa acolhem em casa. Estamos a ajudar com material e escolar e mobília nova como armários, mesas e cadeiras.





E por fim também ajudamos os funcionários do Grupo Dwarikas. O staff do grupo são como família para nós e muitos precisam de um “empurrão”, principalmente no que toca à construção da sua habitação.



Mais uma vez, tudo está relatado no site https://dreamsofkathmandu.blogspot.com/
Registem-se recebam as novidades!
Foi mais uma grande aventura no Nepal e já estamos com saudades. Voltamos de coração cheio e com a certeza de estar no bom caminho. Para o ano estaremos de volta, mas mantemos o contacto semanal, muitas vezes diário, com os nossos amigos e projetos. Na minha cabeça, novas aventuras também se vão formando na área do trekking. Fui mordido pelo bicho do montanhismo! A Ghazal também gostava de visitar o sul do país, nomeadamente o parque natural de Chitwan onde há tigres, elefantes e rinocerontes. Tanto por fazer neste país plantado à beira dos Himalaias. You will not change Nepal, but Nepal will change you!

P.S. No Nepal para se levar uma injeção é só ir a uma farmácia e o processo desenrola-se ali mesmo a céu aberto!!

Estamos em casa.

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