quinta-feira, 22 de março de 2018

Pelas estradas da Índia.

Faz por estes dias 1 ano, que terminei a minha caminhada de 1200 kms pelas estradas da Índia e Nepal.

Uma jornada solidária para recolher fundos para o Campo Esperança em Kathmandu, e ao mesmo tempo uma grande aventura que me trouxe recordações inesquecíveis.

No entanto, algumas dessas memórias, (em especial da Índia), como que me "perseguem" e continuam bem vivas na minha mente. Imagens de pessoas sem nada... famílias sem casa a deambular pelas ruas. Crianças a trabalhar ou a viver no meio do lixo. No livro sobre a caminhada, "O meu caminho para Karthmandu", escrevi o seguinte texto sobre aquilo que vi na Índia:

"Na Índia, há pessoas a beber água de locais que eu não ousaria tocar com as mãos. E há famílias inteiras a dormir em sítios onde eu não iria sequer à casa de banho.

Há milhões de pessoas e vacas a andar de um lado para o outro, rodeadas de lixo e fumo... num caos que se encaixa e flui na perfeição, como se fosse uma orquestra a tocar numa lixeira.

Há homens de cócoras, com os dentes vermelhos, a mascar tabaco e a cuspir no chão. Mulheres de vestes coloridas carregam água e forragens. Crianças nuas e sujas a brincar por toda a parte. As pessoas são todas afáveis.

É um país onde tudo o que existe, coabita naturalmente. Tudo se revela de forma pacífica no seu meio. Uma árvore, um cão ou uma pessoa nascem e morrem segundo as leis naturais da vida.

O ar cheira a queimadas, especiarias, dejetos humanos, terra, gasolina, plástico, madeira, frutas e flores. O som é de buzinas, geradores e música Hindi tocada alto e bom som, para honrar os deuses.

Esses deuses são Hindus, Muçulmanos e Singhs. Apesar da divisão sangrenta ocorrida em 1947, que na altura deu origem ao Paquistão e ao Bangladesh, ainda há muita diversidade religiosa no país e pode ser observada nas diferentes vestes e templos.

Os heróis nacionais são Ghandi e Nehru. A moeda é a rupia, sendo que 100 rupias correspondem a 1,4€. Há 1,2 biliões de pessoas, metade das quais a viver em extrema pobreza.

Uma dessas pessoas é esta senhora que aparece na foto abaixo. Encontrei-a na rua e ofereci-lhe a minha camisola. Um olhar marcante.

A poucos dias de sair da Índia e entrar no Nepal, não posso negar o profundo impacto que este país está a ter na minha forma de ver o mundo. Tanta beleza e tanta miséria juntos. Tanta intensidade e naturalidade. Tanto barulho e tanto silêncio."

Aqui ficam algumas das fotos das pessoas com quem me cruzei e que provavelmente lá continuam no mesmo sítio.























Nenhum comentário:

Postar um comentário