terça-feira, 1 de novembro de 2011

Agricultura - Um negócio como qualquer outro!

Ter um negócio agrícola é um negócio como outro qualquer em termos dos pressupostos básicos da Gestão Moderna.

Os chavões da eficácia (atingir os objectivos), e da eficiência (utilização óptima de recursos), aplicam-se a esta área da mesma forma que se aplicam a uma fábrica de automóveis ou a uma loja de sapatos.

Em termos de estratégia o objectivo é, como em qualquer negócio, ganhar vantagens competitivas de longo prazo que permitam que o negócio seja sustentável. Neste campo convém referir que os produtores agrícolas não olham uns para os outros como concorrentes a abater como vemos nas empresas de serviços ou nas marcas que estão nas prateleiras dos supermercados. A cooperação, colaboração e a partilha de resultados, técnicas e recursos é vista na maioria dos casos com bons olhos e pode significar grandes ganhos de eficiência.

Os resultados medem-se em termos do retorno proporcionado pelo investimento. Na agricultura existem os custos fixos associados à maquinaria e recursos humanos e depois temos os variáveis associados à compra de sementes, fertilizantes, pesticidas, água, combustíveis para transporte e por fim os custos de armazenamento. A lógica é a mesma: minimizar custos e tentar obter o máximo retorno possível em termos de quantidades produzidas. Os preços são estabelecidos pelo mercado segundo os mecanismos normais de procura e oferta. E tal como já foi referido neste blog a tendência do aumento da procura de comida vai fazer aumentar os preços e tornar o mercado mais atractivo.

O know how e as técnicas implementadas na agricultura influenciam em grande escala o retorno proporcionado pelos recursos utilizados. A conjugação de vários factores tecnológicos com a experiência do produtor significa níveis de competitividade superiores e determina a sobrevivência futura no negócio.

O clima e as doenças são dois factores que não se podem esquecer na agricultura e representam as maiores ameaças. O clima é o grande responsável pelo crescimento das plantas e determina se o ano vai ter boas ou más colheitas. O estudo desta área em termos históricos de precipitação ou geadas por exemplo, o uso de seguros, a escolha de colheitas e sementes mais resistentes, a monitorização constante dos campos e escolher os timings certos para plantar e colher são essenciais para minimizar os riscos associados a esta área.

E tal como em todos os negócios existe uma envolvente composta pelo Estado que limita e regula a acção dos produtores. No caso da Europa temos também a PAC – Política Agrícola Comum, que no futuro será estudada ao pormenor neste blog. Temos também os concorrentes que estimulam melhores práticas, fornecedores, uns mais baratos que outros, produtos complementares ou substitutos e consumidores que tal como em qualquer mercado devem ser ouvidos e estudados.

Os estudos de mercado podem ter um papel importante nesta área e influenciar aquilo que se faz nos campos. Nos últimos anos tem-se assistido por exemplo, a uma proliferação do segmento orgânico, isto é, plantações que não usam fertilizantes nem pesticidas. O orgânico produz menos toneladas por hectare mas como o seu valor é superior aos olhos do consumidor, este paga mais por estes produtos e muitos agricultores optaram por se envolver nesta área.

Quais são então alguns exemplos dos riscos do negócio e os factores a ter em conta, para além do clima, das doenças e outros já mencionados? E como podemos superá-los e torná-los em vantagens competitivas?

Se tivermos como objectivo produzir 50 toneladas de cereais por ano ou de um vegetal como brócolos, temos de reunir à nossa volta os recursos necessários para o fazer. Podemos optar por comprar sementes mais baratas ou usar o grão da colheita anterior. Mas sabemos que se comprarmos sementes a um fornecedor especializado estas vêm livres de doenças e terão com certeza um potencial de germinação superior. Uma semente má pode danificar a colheita à partida.

Em relação aos solos, podemos plantar as sementes e fertilizá-los consoante o crescimento e observação dos mesmos. Mas se contratarmos um especialista em análise de solos ou tivermos um laboratório instalado na quinta, podemos recolher amostras dos diversos tipos de solo no mesmo terreno. Muitas vezes o mesmo terreno pode ter 4 ou 5 diferentes tipos de solo e pode haver uns cantos mais pobres que outros.

Com um tractor ou uma moto 4 que tenha incorporado um sistema de GPS, podemos mapear os terrenos em termos de nutrientes que se encontram depositados em cada metro quadrado do solo. Isto permite usar os recursos de forma eficiente e com margens de erro muito reduzidas. Em determinada zona do terreno podem ser necessárias 100 sementes e noutra cerca de 350. Noutro espaço do terreno pode ser necessário colocar 150 kgs de fertilizante e noutro pode não ser preciso nada! Este tipo de gestão do terreno permite cortar nos custos, obter mais quantidade e qualidade de produto e gerir os solos de forma mais sustentável pois o impacto ambiental do uso de fertilizantes é mais controlado.

Algo muito na moda também hoje em dia, é o uso de empresas de outsourcing para fazer as plantações e as colheitas. Se outros o podem fazer mais barato porque não contratar estas empresas e evitar custos de mão-de-obra e maquinaria? O proprietário é apenas responsável pela compra das sementes, fertilizantes e pesticidas.

A diversificação também deverá ser objecto de análise por parte de um gestor agrícola. Nos negócios a especialização e a máxima “foca-te naquilo que sabes fazer” é muito importante, mas na agricultura convém diversificar para não se colocar todos os ovos no mesmo cesto. Diferentes tipos de cultura, alguns animais e mesmo opções de lazer como o tiro ou turismo rural deverão ser rentabilizadas para maximizar os ganhos.

Por fim a dimensão. Termos um terreno maior ou mais árvores de fruto, etc.. permite espalhar os custos fixos e isto traz vantagens competitivas em termos de resultados, poder negocial e de investimento no futuro.

Muitos outros exemplos de minimização de risco e maximização de lucro poderiam ser aqui mencionados em relação aos negócios agrícolas. Todos os dias novas lições e best practices podem ser assimiladas e implementadas. Á semelhança de outras áreas de negócio é um mundo em constante mudança. Acima de tudo é necessário ter em conta a utilização de técnicas sustentáveis para os solos e a aquisição de equipamentos e know how que permitam diminuir custos.

Em conclusão, o conceito de risco está presente na agricultura como em todos os negócios e o conhecimento dos mercados e técnicas mais inovadoras pode significar melhores resultados e mais sustentabilidade no longo prazo. Um dos grandes desafios para os gestores agrícolas é sem dúvida gerar mais valor acrescentado para os seus negócios com a subida na cadeia de valor. Isto pode ser feito incorporando equipamentos de embalagem e transformação nas suas quintas e evoluir de um puro conceito de produção para um pensamento de Marketing e Comercialização. Alguns bons exemplos em Portugal são a Vitacress ou a Carnalentejana!

Para começar um negócio basta ter a terra e a vontade. Nos primeiros tempos, é aconselhável fazer investimentos pequenos para ver se tudo corre bem e depois sim começar a crescer!

Think about it!!

Best regards,

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