domingo, 6 de novembro de 2011

Vacas - Esse animal fantástico!

Uma das aulas que tenho aqui no curso de Agricultura é Animal Production.

Apenas hoje faço a primeira abordagem pois é de facto a àrea mais complexa que estou a estudar e requer um estudo bastante detalhado. Neste texto será feita uma abordagem simples e superficial, pois em cada tópico mencionado há muitos pormenores e variáveis a ter em conta.

Enjoy!

O Gado Bovino começou por ser domesticado pelo homem durante o período neolítico, ou seja há cerca de 5.000-11.000 anos atrás. A sua domesticação, bem como de outros animais como os porcos, ovelhas e galinhas mudou a história e o destino da humanidade. O facto de constituir uma fonte de proteina regular permitiu o crescimento e desenvolvimento da espécie humana em termos fisiológicos e constituiu um forte incentivo à sedentarização.

Focando no Gado Bovino, tratam-se mamíferos, artiodáctilos (têm um número par de dedos nas patas) e ruminantes (têm 4 estomâgos e conseguem ingerir comida que mais tarde retorna à boca para ser mastigada).

O seu nome Binomial é Bos Taurus que por sua vez se divide em duas sub-espécies: O Bos Taurus Taurus, que são de origem Europeia e o Bos Taurus Indicus de origem Asiática.


    Fig 1 - Uma Holstein, tipico exemplar de Bos Taurus Taurus


Fig 2- Bos Taurus Indicus, uma tipica vaca de origem asiática


Têm cornos, e não chifres, pois são ósseos, em par, ocos, permanentes e não se ramificam como os veados por exemplo.

E já agora, para quem não sabe a diferença entre um boi e um touro, é que o primeiro é castrado, enquanto o segundo mantém os seus testiculos intactos e como tal em condições de se reproduzir.

O Gado Bovino tem uma grande importância económica na Agricultura e Pecuária. Os objectivos da sua produção são para carne, leite e derivados e reprodução. Existem outros fins como a Tourada em Portugal e Espanha ou a veneração em algumas regiões da India.

A ligação entre os animais e as colheitas numa quinta pode ser vista de um ponto de vista de eficiência. É que os animais produzem os dejectos que são utilizados para fertilizar os campos e enriquecê-los de Nitrogénio (poupança na compra de fertilizantes), enquanto que uma colheita de cereais pode servir para alimentar os animais, poupando-se deste modo na compra de rações.

A sua criação é hoje em dia alvo das técnicas mais modernas e especializadas. Em alguns paises como o UK as vacas são criadas em pastagens de relva. Noutros como os EUA, as vacas passam o tempo todo da sua vida dentro de armazéns onde são alimentadas e dadas à luz. Estudos comprovam que ambas as soluções são pacificas no que diz respeito à saude e bem-estar dos animais e não produzem efeitos secundários na constituição ou sabor dos produtos que consumimos nas nossas mesas. Uma dieta de erva é supostamente mais barata para o gado bovino e chega para as suas necessidades em termos de nutrientes. Mas em países onde as pastagens de erva não abundam, pois é necessário um clima bastante húmido, a alimentação é feita à base de cereais.

Mas voltando à sua importância económica, o gado bovino, tornou-se com o passar dos anos, e como em qualquer outro produto ou negócio, alvo das melhores práticas de gestão com o objectivo de identificar os factores criticos de sucesso que posssam levar às rentabilidades mais elevadas.

O custo mais elevado para manter uma manada é a alimentação. A nutrição de um animal depende da fase de vida em que o animal se encontra. Se uma vaca está grávida, se está em crescimento ou se é um vitelo destinado para o matadouro.. é importante ter em conta estas questões quando se está a delinear a estratégia de nutrição. Neste último caso em particular, quanto menos dias se mantiver o vitelo na manada melhor, pois vai consumir menos comida e poupa-se nos custos. Mas para um vitelo atingir o peso ideal em digamos um ano, e ir para o matadouro, tem que ter um bom rácio de conversão de comida em músculo e aqui entramos no campo das caracteristicas genéticas.

O estudo e a aplicação da genética nos animais, veio revolucionar o mercado alimentar da carne e do leite em termos dos seus pressupostos e características, pois hoje em dia consegue-se aumentar as taxas de retorno (litros de leite, manteiga, queijo ou kgs de carne por animal), se houver uma selecção ponderada dos animais para reprodução, baseada nas suas características genéticas.

Se o objectivo da nossa manada fôr a produção de carne, é importante escolher um touro para reprodução que tenha um peso aos 200 e 400 dias mais elevado que a média da manada, uma grande àrea do Eye Muscle (aquela parte que vai do pescoço até ao rabo da vaca e onde se encontra a melhor carne, o lombo por exemplo) e uma boa constituição muscular em oposição à gordura. No gado bovino estes são os traços hereditários mais fortes. Em contrapartida, a fertilidade, por exemplo, não é hereditária, ou seja um filho de um bom touro reprodutor não vai necessariamente herdar esta característica.

Na genética dos mamíferos, os pais passam cada um 50% das suas características aos filhos e em média 50% são machos e o resto fêmeas. Fazendo então um simples exemplo. Consideremos que dentro da mesma manada da mesma espécie cresceram 100 vitelos num ano e a sua média de peso aos 400 dias foi de 350 kgs. Se tivermos um vitelo com 380 kgs, ou seja, mais 30 kgs é provável que os seus filhos tenham mais 15 kgs aos 400 dias, pois temos que dividir por 2. Isto pode-se aplicar às diversas características do animal e como tal aumentar a sua produtividade.

Um animal que atinga um peso mais elevado mais cedo pode significar elevados ganhos de custos em termos de alimentação como já foi mencionado. Aqui estamos a usar como exemplo o peso aos 400 dias, mas hoje em dia já se estudam características mais complexas de cada animal como a qualidade da carne. Através da identificação dos genes que ditam se os musculos são tenros, vermelhos ou têm gordura consegue-se reproduzir animais menos "defeituosos", mais saudáveis e em conformidade com as necessidades do mercado.

É importante referir que há cerca de 50 anos estas técnicas começaram a ser aplicadas com o objectivo puramente económico de aumentar as taxas de retorno. Hoje em dia com a legislação existente e as preocupações dos consumidores, a máxima a utilizar é fazer uso dos recursos genéticos existentes para beneficiar os animais, as pessoas e o planeta de forma mais sustentável. A selecção dos animais para reprodução e o estudo da sua genética pode reduzir os seus problemas de abortos, dificuldades de partos, artrites, ossos frágeis, dificuldades de locomoção, temperamento, etc.. bastando para isso cruzar os animais com outros que tenham esta ou aquela característica mais positiva. Ou seja, nem sempre a selecção é efectuada para se aumentar a produtividade, muitas das vezes faz-se a escolha baseada em critérios de melhorar o bem estar e saúde dos animais.

Numa vaca leiteira por exemplo, é muito importante a observação do tamanho das pernas. Se tiverem pernas pequenas, quando as tetas crescerem muito ao final de alguns anos, já não se consegue tirar mais leite das vacas pois aquelas vão bater no chão. É importante também ver os ligamentos das tetas e convém terem os mamilos grandes e virados para fora de forma a que as máquinas de tirar o leite consigam fazer o seu trabalho sem entrarem bolsas de ar e os vitelos consigam mamar melhor.

É importante referir também que a genética é cumulativa e permanente, ou seja as características melhoradas numa geração vêm-se juntar aquelas que já vinham detrás e mantêm-se durante toda a vida do animal.

Para além de tudo isto, conseguir maiores retornos e produtividades dos animais poderia significar uma redução nas manadas e consequentemente diminuir os gases metano e dióxido de carbono que emanam das suas fezes. Mas com o crescente aumento da população mundial, será bastante dificil conseguir fazê-lo e é muito provável que o número de animais continue a aumentar.

As espécies mais comuns de vacas ocidentais são as Angus, as Charolais, Holstein e as Hereford. Todas têm origens e características diferentes. Umas são melhores para a produção de leite como as Holstein e outras para carne como as Angus. Todas têm tamanhos, pesos, temperamentos e necessidades específicas mas qualquer uma delas requer um cuidado e acompanhamento diários em termos de alimentação e bem estar.

Em conclusão, as vacas são um animal fantástico. Fazem parte da vida e da paisagem pacata do campo e são uma grande fonte de rendimento e de alimentação para o homem. O melhoramento das espécies, através do estudo da genética, é bastante benéfico para a economia, para a saúde dos animais, pessoas e também para um mundo mais sustentável. No entanto, e tal como já foi referido neste blog é necessário que haja uma grande sensibilidade para transmitir estas questões aos consumidores. É também necessário que haja muita legislação para travar investigadores ou organizações sem escrúpulos que não respeitem as regras do jogo da produção e da natureza.

Da próxima vez que comerem um bife na Portugália... Think about it!!

Best Regards,

5 comentários:

  1. Muito bom grande Queirós!!! Nunca te imaginei a falar assim de vacas... Abraço grande com saudades... Força nisso...

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  2. Caro sobrinho
    Gostei muito da tua redacção.
    Quando andava na escola da D. Lia também fazia muitas redacções sobre A Vaca, mas a tua está mais bonita.
    Essa coisa de mudarem o nome ao boi quando o capam é que não me agrada muito. Capá-lo e ainda por cima mudar-lhe o nome é demasiado. Na minha terra, mesmo sem tomates, continuava a ser boi.
    Continua a aprender coisas bonitas. Quando souberes o que é um Varrasco conto-te uma história.
    Um abraço do
    Tio Velho

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  3. Um Varrasco é um porquinho! roinc roinc

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