sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Óleo - Para que te quero!!

O óleo é hoje em dia uma das commodities mais procuradas a nível mundial muito devido ao facto de poder ser usado para múltiplas funções: bio-diesel, óleo de cozinha, shampoos, gel de banho, fins industriais etc..

O seu preço está directamente ligado ao preço do petróleo, pois funciona como produto substituto para a produção de combustiveis. Com o aumento da escassez dos combustiveis fósseis e a consequente subida dos preços, esta tem sido uma colheita cada vez adoptada pelos agricultores nas suas quintas. No Reino Unido por exemplo, em apenas 20 anos as colheitas destinadas à produção de óleo já ocupam o segundo lugar com cerca de 600.000 hectares de terra, logo atrás do trigo!

Mas em termos alimentares o seu sucesso caminha lado a lado com o sucesso das batatas fritas e com o facto de as gorduras animais como a banha de porco terem passado de moda e serem consideradas nocivas para a saúde. Outra gordura de excelência é obviamente o azeite mas devido ao seu preço e escassez em algumas regiões do mundo, é essencialmente usado como tempero para muitos tipos de comida.

Durante as recentes visitas do meu Pai e do meu amigo Miguel Cal Ferreira demos alguns passeios no campo e uma das colheitas que mais captou a atenção e curiosidade destes visitantes atentos foi a Oilseed Rape. É principalmente nesta colheita que me vou focar mas também serão abordadas outras colheitas que permitem extrair óleo.

Em termos mundiais, os hectares destinados à produção de culturas de onde se extrai óleo, são dominados pelos grãos de soja. Dados de 2009 revelam que esta colheita ocupa 53% do total das plantações, 15% vem da Oilseed Rape, 10% da linhaça, 9% do amendoim, 8% de girassóis e 3% de palmeiras, sendo os restantes 1% de diversas origens como o recente óleo de jatropha que também será abordado neste texto.

O óleo também pode ser feito através do milho, mas esta origem não conta para as contas mencionadas acima pois o seu uso é principalmente para cereais. O óleo de palma, apesar de ocupar apenas 3% em termos de hectares é o óleo mais produzido no mundo com cerca de 33% do total da produção, logo seguido do óleo de soja com 30%.

Para os mais atentos, surge a questão, mas se a planta da soja é tão rica em proteinas e os vegetarianos a usam para o Tofu por exemplo, como podemos fazer óleo da mesma, sabendo que este é constituido por 100% gordura? A soja é de facto a colheita vegetal que produz mais proteinas por hectare e é também considerada a fonte alimentar mais rica em proteinas pois contém o maior número de aminoácidos essenciais para a nutrição humana. Mas estes grãos de soja são tão versáteis que contêm então 40% de proteinas e 20% de óleo e através do processamento e transformação pode-se extrair ambas as "substâncias".

O mix de outras colheitas em termos de proteinas/óleo é distinto. As sementes do girassol por exemplo têm 44% de óleo mas apenas 28% de proteina. As sementes da oilseed rape tem 42% de óleo e 35% de proteinas. A palmeira não produz proteinas.

Em termos nutricionais, o óleo é uma fonte importante de nutrientes benéficos para a saúde nomeadamente ácidos gordos ômega 3, ômega 6 ou mesmo ômega 9 consoante as misturas de sementes que se façam. O ômega auxilia na diminuição do colestrol mau ao mesmo tempo que favorece o desenvolvimento de colestrol bom. Para além disso é um bom anti-depressivo, ajuda na circulação e ajuda a combater determinados tipos de cancro. Ciêntistas na Gronelândia observaram uma incidência particularmente baixa de doenças cardiovasculares entre os esquimós, apesar da sua alimentação conter alto teor de gordura. O motivo é a sua alimentação que consiste em peixes ricos em ácidos gordos ômega 3.

Focando então na Oilseed Rape. O que é esta planta? A sua designação em Latim é Brassica Napus. Segundo uma pesquisa na internet o seu nome em Português é Colza.

Para além de ser uma planta cada vez mais atractiva em termos de mercado, em termos agronómicos também se tornou um sucesso pois é uma excelente cultura de "quebra". Na agricultura a rotação de culturas é essencial para enriquecer os solos e acabar com determinadas pragas num certo terreno. Numa cultura intensiva de cereais por exemplo, os agricultores faziam rotação entre os diversos tipos de cereais e muitas vezes isto esgotava os solos e não permitia a extinção e o tratamento de determinadas pragas. Com o aumento da rentabilidade desta planta oleaginosa, já se torna rentável não produzir apenas cereais e contribui-se para o melhoramento dos solos e tratamento de doenças. Para além disso quando se volta a plantar os cereais consegue-se mais toneladas por Hectare!


Fig 1- Fases de crescimento da Colza.


Fig 2 - Fase 4 na Primavera, quando a planta já está em flor e os campos ficam amarelos.

Existem diferentes variedades deste tipo de planta que dão origem a diferentes tipos de óleo. Consoante a quantidade de ácido erúcico nas sementes, o óleo é usado para fins alimentares, combustiveis ou fins industriais. Quanto menor a quantidade deste ácido, melhor para a alimentação humana. As variedades mais comuns são o Double Low (00) ou o HOLL ( High Oleic + Low Linolenic), que é usado actualmente pelo Macdonald's para fritar batatas e nuggets, devido ao facto de poder ser usado mais vezes e manter as suas caratcteristicas intactas.

Em termos de plantação propriamente dita, as sementes deverão ser colocadas 2 cm debaixo da terra e deverão ser cultivadas entre agosto e setembro. A sua colheita faz-se em Julho do ano seguinte e é muito importante que as sementes não tenham um nível de humidade superior a 9%. Muitas vezes tem que se secar as colheitas para atingir o valor ideal. O número de sementes a colocar é de 80 a 120 por metro quadrado. Precisa de bastante fertilizante, nomeadamente Nitrogénio. O montante depende da quantidade deste que já se encontra no solo mas em média serão necessários entre 150-200 kgs, metade a ser aplicado no final de Fevereiro e metade no inicio de Abril.

Duas das variedades de óleo mais badaladas actualemente são o óleo de palma e de jatropha. Estes dois tipos de óleo, vêm do fruto de àrvores plantadas em regiões tropicais, sendo que o primeiro vem das palmeiras como o nome indica. Sendo um tipo de óleo muito eficiente em termos de plantação, ou seja dá bastantes toneladas por hectare, grandes polémicas têm surgido devido à destruição massiva de florestas tropicais. Os maiores produtores mundiais são a Indonésia e a Malásia, logo seguido da região da América do Sul. Grandes multinacionais como a Unilever tem milhares de hectares contratados nestas zonas para produzir o óleo de palma essencial para a produção de cosméticos, além de financiarem a abertura de estradas e de fábricas de transformação locais. É necessário alertar os consumidores para estas questões e obrigar estas empresas a práticas mais sustentáveis.

Aqui surge mais uma vez o dilema... A China Airlines por exemplo já usa óleo de palma nos seus combustiveis e orgulha-se do facto de não usar combustiveis fósseis para levantar os seus aviões e ser assim mais amiga do ambiente. Mas a outra face revela que para tal está a destruir as florestas tropicais que são essenciais para o equilibrio dos ecosistemas, produção de água através da chuva e muito importante: estamos a destruir organismos nas florestas que ainda não foram explorados e poderiam contribuir para medicamentos ou novas formas de alimentação humana.

Em conclusão, o óleo já é uma das indústrias mais importantes a nível mundial, principalmente no campo alimentar, produção de energia, medicamentos e artigos de higiene pessoal e caseira. Há várias formas de obter o óleo mas deveria haver mais preocupações ambientais sobretudo nas zonas tropicais onde se produz óleo de palma sem escrúpulos. Segundo um estudo da Unilever realizado em 2011 a procura dos diferentes tipos de óleo em 2008 foi de 38 milhões de toneladas, em 2020 será de 44 milhões e em 2050 de 80 milhões!! Como vamos suportar esta procura sabendo que precisamos da terra para alimentar uma população em crescimento?

Think about it!!

Best regards,

Um comentário:

  1. Muito elucidativo
    Gostei de ver os campos de colza em Cirencester.
    Hei-de voltar na primavera para a festa da flor!

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